20.12.2020
[Gálatas 2.19-20] 19Pois, quando procurei viver por meio da lei, ela me condenou. Portanto, morri para a lei a fim de viver para Deus. 20Fui crucificado com Cristo; assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. Portanto, vivo neste corpo terreno pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim.
O VELHO MUNDO
A trilogia O Senhor dos Anéis é uma maravilha! J. R. R. Tolkien é, incontestavelmente, um gênio da literatura mundial. Você deveria ler e reler suas obras, especialmente O Senhor dos Anéis (3 volumes) e O Hobbit. No volume 1 de O Senhor dos Anéis (A Sociedade do Anel) o segundo capítulo é decisivo para se entender o fio da meada de toda a história. Revivendo “A Sombra do Passado” (esse é o título do capítulo 2), Gandalf narra a Frodo a história do Um Anel de Sauron, o Senhor do Escuro. Esse personagem do mal havia criado em segredo um outro anel, o Um Anel, na Montanha da Perdição em Mordor, para controlar o poder dos demais anéis forjados pelos elfos. A história é fascinante! Procure conhecê-la. Descrevendo aqueles dias de trevas, Gandalf contou a Frodo que
naquele tempo também havia tristeza, e uma escuridão crescente, mas houve pessoas valorosas e feitos que não foram totalmente em vão.
Nossos dias são de tristeza e de uma escuridão crescente – quem tem olhos para ver enxergará; quem tem coração sentirá. Espantoso, no entanto, não é tanto o estado no qual nós nos encontramos, mas a ausência de pessoas valorosas e seus feitos que jamais serão totalmente em vão. — Onde estão os homens e as mulheres de Deus neste velho mundo de tristeza e escuridão crescente em que vivemos? — A sensação que se tem é de que tornaram-se insípidos, sem brilho e sem sabor, para nada mais prestam, “senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens” (Mt 5.13, ARA).
Nosso velho mundo de tristeza e dor está bem pintado pela pena hábil do grande apóstolo Paulo em suas 13 cartas do Novo Testamento. Por exemplo, Romanos 1.28-32:
28Uma vez que [os homens pecadores] consideraram que conhecer a Deus era algo inútil, o próprio Deus os entregou a um inútil modo de pensar, deixando que fizessem coisas que jamais deveriam ser feitas. 29A vida deles se encheu de toda espécie de perversidade, pecado, ganância, ódio, inveja, homicídio, discórdia, engano, malícia e fofocas. 30Espalham calúnias, odeiam a Deus, são insolentes, orgulhosos e arrogantes. Inventam novas maneiras de pecar e desobedecem a seus pais. 31Não têm entendimento, quebram suas promessas, não mostram afeição nem misericórdia. 32Sabem que, de acordo com a justiça de Deus, quem pratica essas coisas merece morrer, mas ainda assim continuam a praticá-las. E, o que é pior, incentivam outros a também fazê-lo.
O problema deste mundo não se resume ao que nós fazemos. A raiz do nosso mal é o que nós, pecadores, somos por natureza: gente que não ama a glória de Deus (Rm 1.21), gente entregue a si mesma, aos “desejos pecaminosos de seu coração” (Rm 1.24) – portanto, gente sem alma, coração ou piedade –, gente sem o Espírito, sem a vida que é a luz dos homens (Jo 1.4). “Como resultado”, disse Paulo, “praticaram entre si coisas desprezíveis e degradantes com o próprio corpo” (Rm 1.24). O mesmo apóstolo, descrevendo o homem natural, aquele que não tem o Espírito Santo – portanto, carnal –, escreveu em Gálatas 5.19-21:
19Quando [homens e mulheres pecadores] seguem os desejos da natureza humana, os resultados são extremamente claros: imoralidade sexual, impureza, sensualidade, 20idolatria, feitiçaria, hostilidade, discórdias, ciúmes, acessos de raiva, ambições egoístas, dissensões, divisões, 21inveja, bebedeiras, festanças desregradas e outros pecados semelhantes.
Correspondendo-se com Timóteo, com a intensão de orientar aquele jovem pastor na arte de pastorear o rebanho de Cristo a ele confiado na cidade de Éfeso, Paulo descreveu o estado deste velho mundo em 2Timóteo 3.1-5:
1Saiba que nos últimos dias haverá tempos muito difíceis.2Porque as pessoas só amarão a si mesmas e ao dinheiro. Serão arrogantes e orgulhosas, zombarão de Deus, desobedecerão a seus pais e serão ingratas e profanas. 3Não terão afeição nem perdoarão; caluniarão outros e não terão autocontrole. Serão cruéis e odiarão o que é bom, 4trairão os amigos, serão imprudentes e cheias de si e amarão os prazeres em vez de amar a Deus. 5Serão religiosas apenas na aparência, mas rejeitarão o poder capaz de lhes dar a verdadeira devoção. Fique longe de gente assim!
Com efeito, “naquele tempo também havia tristeza, e uma escuridão crescente, mas houve pessoas valorosas e feitos que não foram totalmente em vão.” Sobre a gente dessa raça valorosa e realizadora de grandes feitos, Hebreus 11.36-38 nos conta que:
36Alguns foram alvo de zombaria e açoites, e outros, acorrentados em prisões. 37Alguns morreram apedrejados, outros foram serrados ao meio, e outros ainda, mortos à espada. Alguns andavam vestidos com peles de ovelhas e cabras, necessitados, afligidos e maltratados. 38Este mundo não era digno deles. Vagaram por desertos e montes, escondendo-se em cavernas e buracos na terra.
O mundo em que vivemos, contrário do que pensam e pregam alguns, não tem nada de novo, antes, é o mesmo velho mundo adoecido e arruinado pelo pecado de sempre – mundo este que não é sequer digno dos santos homens e mulheres de Deus.
Pedro, o apóstolo, por exemplo, escrevendo de Roma, capital do Império Romano, denominou-a “Babilônia” (1Pe 5.13). Embora a Babilônia estivesse em ruínas já havia séculos (desde cerca de 539 a.C.), a referência que Pedro faz a ela ressoa com o Antigo Testamento, onde “Babilônia” representa um centro de poder terreno em oposição a Deus (cf. Is 13–14 e Jr 50–51). Portanto, a descrição que o apóstolo faz de Roma (chamando-a de Babilônia) servia para, dentre outros, destacar o estado de degradação do velho mundo de seu tempo, o velho mundo do pecado desde a queda de Adão e Eva.
Nas Escrituras, com efeito, Babilônia é a imagem do estado depravado do mundo em que vivemos – isto é: o mundo fascinado pela prosperidade, movido pela cobiça das pessoas e dos povos, e atolado na depravação moral sem qualquer constrangimento (cf. Ap 17–18). Ouça, por exemplo, o apóstolo João em Apocalipse 17.5: “Babilônia, a Grande, a Mãe das Prostitutas e das Abominações da Terra”. O texto apocalíptico prossegue para dizer que, no final dos tempos, esse velho mundo do pecado (a Babilônia) será destruído totalmente (Ap 18.21): “Assim, Babilônia, a grande cidade, será derrubada com violência e nunca mais será encontrada!” Pode-se concluir, portanto, com a mais absoluta certeza bíblica: não há nada de novo neste velho mundo que, sim!, um dia será julgado com justiça por Deus e destruído para sempre.
Em que pese todo avanço nas mais diversas áreas do saber, das ciências, do bem-estar e das relações humanas, as novas descobertas, conquistas e tudo o mais (fruto do cristianismo bíblico, diga-se de passagem)… em que pese toda a sofisticação, conforto e bem-estar de que gozamos (em relação aos que viveram nos séculos passados), nosso mundo não é novo, não está evoluindo para melhor; ao contrário, ele é muito, muito velho e deteriorado – haja vista nosso estado de entropia (o grau de desordem deste sistema em que vivemos). Novo mundo, portanto, ainda não é este, mas será aquele que o SENHOR mesmo fará descer de sua presença no fim desta era. Apocalipse 21.1-2:
1Então vi um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra já não existiam, e o mar também não mais existia. 2E vi a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, como uma noiva belamente vestida para seu marido.
ESSA ARGUMENTAÇÃO TEOLÓGICA É IMPORTANTE, posto que por se acreditar e se alardear que estamos evoluindo cada vez mais para melhor, dizem: a mensagem do cristianismo, a mensagem da Bíblia também precisa ser atualizada para atender às novas demandas deste “novo mundo”. Entretanto, não é isto o que dize a Escritura. De fato, não precisamos de cartas (atualizadas pelos homens) para o novo mundo. Nosso mundo não é novo e a nossa necessidade gritante é de cartas (inspiradas por Deus) para o velho mundo – cartas do novo mundo de Deus para as velhas necessidades de todo mundo.
Já nos dias do cristão batista John Bunyan (século XVII) a sociedade tentava viver o cristianismo de uma forma que se julgava mais sábia segundo o novo mundo. Em O Peregrino, uma alegoria da vida cristã escrita por Bunyan, nós ouvimos falar da vila distante chamada Moralidade, onde o seu mais ilustre habitante é
um cavalheiro cujo nome é Legalidade [homem da lei e de bons costumes], homem muito sensato (e de reputação muito ilibada) que tem a capacidade de ajudar a aliviar os homens dos fardos que carregam nos ombros, como o seu [, Cristão]. Pelo que sei [disse o Sábio-segundo-o-mundo], ele [Legalidade] já fez isso muito bem.
Bunyan conseguiu descrever com habilidade o que desde sempre se tenta fazer com o cristianismo: por julgá-lo escândalo e loucura, arranca-se dele o poder regenerador do evangelho de Cristo que nos salva e nos liberta do pecado, e o transforma em um conjunto de regras ou leis ou novos ensinos que apenas nos ajudarão a viver de modo mais “civilizado” – como se a maior necessidade do ser humano fosse civilidade (e não regeneração); e ainda, como se fosse possível viver civilizadamente sem o milagre do novo nascimento produzido pelo Espírito Santo (a regeneração) por meio do evangelho bíblico. Desse modo “atualizado para o novo mundo”, o cristianismo não passa de uma filosofia de vida que visa tão somente a aliviar o fardo e a atenuar os problemas das pessoas. Ouça o que Sábio-segundo-o-mundo disse a Cristão em O Peregrino:
— Além disso — continuou o sábio — ele [Legalidade] sabe curar aqueles que se acham com a mente um tanto perturbada por conta dos fardos que carregam. É a ele, como disse, que você deve procurar. Ele vai ajudá-lo prontamente. Sua casa não fica a mais de um quilômetro e meio daqui, e se ele mesmo não estiver em casa, seu filho, um jovem muito bonito, chamado Urbanidade [Civilidade], é tão perito nisso (a propósito) quanto o próprio idoso pai. Garanto-lhe que ali você poderá encontrar alívio de seu fardo.
— E digo mais — acrescentou ainda —, se você não estiver disposto a voltar para sua antiga casa [na Cidade da Destruição], como de fato eu não desejaria que você fizesse, poderá mandar buscar sua esposa e seus filhos e instalar-se nessa vila. Nela, há hoje casas vazias, e você pode conseguir uma delas por preço razoável. Ali você também encontrará mantimentos bons e baratos, mas o que tornará sua vida mais feliz é que, com certeza, encontrará vizinhos sinceros, confiáveis e educados.
Foi isso o que fizeram com o cristianismo: transformaram-no em bons-costumes, moralismo e legalismo, quando não em liberalismo, a fim de se criar civilidade! Esse tipo de mentalidade é fruto da ideia de que, na medida em que evolui a sociedade, o cristianismo precisa ir se atualizando para este novo mundo mais bem “educado”. Agora, atualizar o cristianismo para o novo mundo nada mais é do que arrancar o conceito de pecado, depravação e necessidade de salvação. Resultado: em vez de civilidade, o que se descobre, de fato, é um retorno ao barbarismo, posto que o evangelho do novo mundo arranca do evangelho bíblico a possibilidade da salvação e transformação do indivíduo.
Ouça como Evangelista desmascarou esse tipo de cristianismo para Cristão em O Peregrino:
Sábio-segundo-o-mundo é adversário, e o sr. Legalidade, impostor; e quanto ao seu filho Urbanidade [Civilidade], não obstante a sua falsa aparência sorridente, não passa de um hipócrita que não pode ajudá-lo. Creia-me: nada há em todas essas bobagens que você ouviu desse estúpido, a não ser o intento de afastá-lo de sua salvação, desviando-o do caminho no qual coloquei você.
Nosso velho mundo precisa das cartas do novo mundo, das cartas de Paulo, o apóstolo, a fim de nos redimir e de nos transformar para, daí sim, vivermos diferentemente, como filhos de Deus justificados e santificados em Jesus Cristo. 1Coríntios 6.9-11:
9Vocês não sabem que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não se enganem: aqueles que se envolvem em imoralidade sexual, adoram ídolos, cometem adultério, se entregam a práticas homossexuais, 10são ladrões, avarentos, bêbados, insultam as pessoas ou exploram os outros não herdarão o reino de Deus. 11Alguns de vocês eram assim, mas foram purificados e santificados, declarados justos diante de Deus no nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito de nosso Deus.
Portanto, a maior necessidade deste mundo, do velho mundo do pecado em que vivemos, não é de atualização da mensagem do cristianismo para se aliviar o fardo das pessoas, deixando-as permanecer no pecado. O que mais se precisa hoje, e sempre, é da reafirmação da mensagem do evangelho bíblico que regenera, salva, produz transformação profunda e eterna no indivíduo e na sociedade.
O velho mundo precisa do evangelho inalterado de Cristo, uma vez que apenas o novo homem em Cristo, fruto do evangelho imutável de Deus, será realmente capaz de viver de uma forma civilizada, educada e verdadeiramente amorosa. Gálatas 5.22-26:
22Mas o Espírito produz este fruto: amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, 23mansidão e domínio próprio. Não há lei contra essas coisas! 24Aqueles que pertencem a Cristo Jesus crucificaram as paixões e os desejos de sua natureza humana. 25Uma vez que vivemos pelo Espírito, sigamos a direção do Espírito em todas as áreas de nossa vida. 26Não nos tornemos orgulhosos, provocando e invejando uns aos outros.
O cristianismo bíblico, portanto, não é intolerante, mas CHEIO DE GRAÇA E DE VERDADE. Cheio de graça porque é apenas pela graça, por meio da fé que o indivíduo nasce de novo para uma nova vida em Cristo – e essa transformação é sim possível (e o cristão que realmente tem esse entendimento trata com graça o seu próximo, por entender que no estado natural o homem está morto no pecado). Cheio de verdade porque sem arrependimento e confissão de pecado ninguém encontrará o perdão e a transformação de Deus (e o cristão, com graça, fala a verdade bíblica para o próximo).
Isto nos traz a esta série de mensagens que ora iniciamos.
S.D.G. L.B.Peixoto
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Pr. Leandro B. Peixoto