23.10.2022
[Atos 18.1-18a] 1Algum tempo depois, Paulo deixou Atenas e foi para Corinto. 2Ali encontrou um judeu chamado Áquila, natural do Ponto, que havia chegado recentemente da Itália com sua esposa, Priscila, depois que Cláudio César expulsou todos os judeus de Roma. 3Paulo foi morar e trabalhar com eles, pois eram fabricantes de tendas, como ele. 4Todos os sábados, Paulo ia à sinagoga e buscava convencer tanto judeus como gregos. 5Depois que Silas e Timóteo chegaram da Macedônia, Paulo se dedicou totalmente à pregação da palavra e testemunhava aos judeus que Jesus era o Cristo. 6Mas, quando eles se opuseram a Paulo e o insultaram, ele sacudiu o pó da roupa e disse: “Vocês são responsáveis por sua própria destruição! Eu sou inocente. De agora em diante, pregarei aos gentios”. 7Então saiu dali e foi à casa de Tício Justo, um gentio temente a Deus que morava ao lado da sinagoga. 8Crispo, o líder da sinagoga, e toda a sua família creram no Senhor. Muitos outros em Corinto também ouviram Paulo, creram e foram batizados. 9Certa noite, o Senhor falou a Paulo numa visão: “Não tenha medo! Continue a falar e não se cale, 10pois estou com você, e ninguém o atacará nem lhe fará mal, porque muita gente nesta cidade me pertence”. 11Então Paulo permaneceu ali um ano e meio, ensinando a palavra de Deus. 12Quando Gálio se tornou governador da Acaia, alguns judeus se levantaram contra Paulo e o levaram diante do governador para ser julgado. 13Eles o acusaram de convencer as pessoas a adorar a Deus de maneira contrária à lei judaica. 14Mas, assim que Paulo começou a apresentar sua defesa, Gálio se voltou para os acusadores e disse: “Ouçam, judeus! Se sua queixa envolvesse algum delito ou crime grave, eu teria motivo para aceitar o caso. 15Mas, como se trata apenas de uma questão de palavras e nomes e da sua lei, resolvam isso vocês mesmos. Recuso-me a julgar essas coisas”. 16E os expulsou do tribunal. 17A multidão agarrou Sóstenes, o novo líder da sinagoga, e o espancou ali mesmo, no tribunal. Gálio, no entanto, não se importou com isso. 18Paulo ainda permaneceu em Corinto por algum tempo. […]
A passagem bíblica que temos em tela reporta o ministério de Paulo em Corinto – a última cidade que ele evangelizou na sua segunda viagem missionária – antes de bater em retirada para Antioquia da Síria (à igreja que o havia enviado em missões). No retorno à Antioquia, Paulo passará por Cencreia, Éfeso e Jerusalém (At 18.18-23). Na sequência, o apóstolo iniciará sua terceira e última viagem missionária – e será em Éfeso o ponto de partida da última etapa missionária do apóstolo dos gentios (At 18.24ss.).
ANTES, PORÉM, AQUI EM ATOS 18.1-18A, Paulo ficará um ano e meio trabalhando em Corinto (At 18.11). Desde que iniciou a segunda viagem missionária, o apóstolo já havia anunciado o evangelho – você se recordará – em Filipos, Tessalônica e Bereia (todas essas cidades localizadas na província romana da Macedônia); depois o apóstolo pregou em Atenas (na Acaia) e, partindo de Atenas, Paulo chegou à cidade de Corinto – localizada a cerca de 74 km a sudoeste da cidade dos gigantes da filosofia.
CORINTO NÃO ERA COMO ATENAS. Na realidade, era diferente da maioria das cidades nas quais Paulo já havia trabalhado. No entanto, foi bastante receptiva ao evangelho e, talvez por isso, Paulo passou o primeiro longo período de sua carreira missionária em Corinto. Mais tarde, como veremos, o apóstolo passará um tempo igualmente longo em Éfeso, cerca de três anos (At 19.1ss.; 20.31).
Como era a cidade de Corinto?
James Montgomery Boice sugere três palavras para ajudar a lembrar como era Corinto. São fáceis de guardar, porque Corinto começa com a letra C e cada uma destas palavras também começa com a letra C – Corinto era Cosmopolita, Comercial e Carnal.
1. Cosmopolita. Corinto era uma cidade cosmopolita (um grande centro urbano), feita de uma mistura de pessoas e de raças. Sabe-se, por exemplo, que Atenas contava menos de 10 mil habitantes àquela época, Éfeso contava 500 mil e Corinto, em seu auge, chegou perto de 750 mil cidadãos (pouco mais de 200 mil livres e pouco mais de 500 mil escravos). Assim como Éfeso, Corinto era capital de província. Éfeso era a capital da província romana da Ásia Menor. Corinto era a capital da província romana da Acaia. Atenas era o centro cultural do mundo de Paulo (ela foi a casa de Sócrates, Platão, Aristóteles, Epicuro e Zenão). Éfeso, por sua vez, era o centro religioso do mundo greco-romano (a guardiã do templo de Ártemis, a mesma deusa que os romanos chamavam de Diana – cf. At 19.35). Corinto era o centro comercial, o que permitiu a enorme mistura de raças, pessoas e classes em um mesmo local – algo, então, praticamente novo para Paulo. Corinto, portanto, era cosmopolita – uma das capitais do mundo, por assim dizer. — EU GOSTO DE CORINTO NESSE ASPECTO, porque era muito parecida com as cidades que hoje conhecemos, os grandes centros urbanos da atualidade. Nossas cidades também têm uma grande mistura de pessoas, classes e raças – pessoas de todo o mundo estudando em nossas universidades, pessoas de várias raças, cada uma tentando manter suas próprias tradições étnicas, pessoas de diferentes classes da sociedade vivendo juntas. Corinto era cosmopolita, nós também somos. Há aqui, portanto, muito que aprender sobre missões urbanas.
2. Comercial. Além de cosmopolita, Corinto era uma cidade comercial. Toda cidade tem seus aspectos comerciais, é claro. Aliás, as cidades, geralmente, estão localizadas onde estão porque a localização foi e continua sendo de algum modo conveniente para o comércio ou a troca de mercadorias. Corinto, no entanto, era exclusivamente um lugar assim: comercial. Situava-se na estreita faixa de terra (o istmo) entre a parte superior e principal da Grécia: Atenas – o continente (ao norte) – e a Península do Peloponeso (ao sul): Esparta, Olímpia e outras cidades. Também havia uma rota marítima entre o Mar Egeu (ao oriente) e o Mar Adriático (ao ocidente). Só que a faixa de terra onde estava Corinto (o istmo) dividia esses dois mares.
É dito que Nero planejou construir um canal no local para facilitar a travessia de um mar para o outro (e vice-versa), mas ele não chegou a concretizar seu plano. Um canal de 21/25 metros de largura foi aberto em Corinto somente no século XIX (de 1881 a 1893). Pois bem, como era estreita a faixa de terra (o istmo sobre o qual estava construída a cidade) entre o Mar Egeu (ao oriente) e o Mar Adriático (ao ocidente), o tráfego de mercadorias também (além de norte a sul e sul a norte) cruzava Corinto nesta direção: de leste a oeste, de oeste a leste – cerca de 6 km no seu ponto mais estreito. Ou seja: pessoas e cargas eram desembarcadas em um lado da faixa de terra, digamos, na margem do Mar Egeu – atravessava Corinto até o outro lado – e eram embarcadas novamente lá na margem do Mar Adriático, e seguiam viagem. Tudo isso para se evitar uma viagem marítima perigosa de mais de 700 km, costeando o sul da península pela região de Esparta e Olímpia na Península do Peloponeso.
Hoje isso não é mais necessário, pois há um canal aberto que permite a navegação de um mar para o outro através do canal. Por exemplo, atualmente é possível navegar de Istambul (na Turquia) a Veneza (na Itália) e vice-versa, passando pelo canal que rasgou ao meio a faixa de terra – o istmo – que um dia abrigou a cidade de Corinto. Corinto era uma cidade comercial. Portanto, bastante estratégica.
3. Carnal. Além de cosmopolita e comercial, Corinto era também carnal. No mundo antigo, o adjetivo “coríntio” era sinônimo do comportamento mais pervertido imaginado. Corinto era um centro do culto da deusa do amor Afrodite. Afrodite era a mesma Vênus. Vênus era o nome romano e Afrodite era o nome grego. O templo de Afrodite em Corinto era uma das maravilhas arquitetônicas do mundo antigo, e em certa época chegou a abrigar – imaginem! – perto de 10 mil prostitutas cultuais. Falam que nos dias de Paulo havia pelo menos mil delas vivendo no templo. Essas prostitutas, para sobreviverem, faziam programas com marinheiros e outros comerciantes que passavam pela cidade.
Se você fosse chamado de “coríntio” no mundo antigo (e não fosse realmente de Corinto), você consideraria esse adjetivo um insulto enorme, um palavrão – algo como alguém te chamar de imoral, pervertido e outros nomes de baixo calão. Para se ter uma ideia do tipo de gente que morava em Corinto na época em que Paulo lá pregou o evangelho e plantou uma igreja, ouça o que ele próprio escreveu aos crentes naquela cidade, em sua primeira carta endereçada a eles:
1Coríntios 6.9-11 9Vocês não sabem que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não se enganem: aqueles que se envolvem em imoralidade sexual, adoram ídolos, cometem adultério, se entregam a práticas homossexuais, 10são ladrões, avarentos, bêbados, insultam as pessoas ou exploram os outros não herdarão o reino de Deus. 11Alguns de vocês eram assim, mas foram purificados e santificados, declarados justos diante de Deus no nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito de nosso Deus.
Ora, tem-se aqui não somente [1.] um perfil do tipo de cidadão que habitava a cosmopolita, comercial e carnal cidade de Corinto nos dias de Paulo, mas também [2.] um testemunho do poder do evangelho para salvar qualquer tipo de pecador e, através deles, formar uma igreja para a glória do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Deus permaneceu fiel à sua palavra e, como veremos na continuação desta mensagem, Deus permitindo, no primeiro domingo de novembro… Deus não apenas permaneceu fiel à sua palavra e fez prosperar a obra do evangelho, como também cuidou de confortar Paulo na tribulação.
Duas aplicações bem pontuais, antes de terminarmos:
1. Deus mesmo faz prosperar o evangelho em lugares difíceis. Portanto, como ele mesmo disse a Paulo, abrace com fé esta promessa e pregue, faça discípulos: Atos 18.9-11 — “Certa noite, o Senhor falou a Paulo numa visão: “Não tenha medo! Continue a falar e não se cale, 10pois estou com você, e ninguém o atacará nem lhe fará mal, porque muita gente nesta cidade me pertence”. 11Então Paulo permaneceu ali um ano e meio, ensinando a palavra de Deus.” — O resultado disso foi que pecadores dos piores tipos se converteram a Cristo e, em novidade de vida, compuseram a novel igreja naquela cidade cosmopolita, comercial e tão carnal (cf. 1Co 6.9-11). — Não há lugares difíceis nem pessoais impossíveis para Deus! PORTANTO: Não tenha medo! Não te cales! Pregue e faça discípulos.
2. Deus mesmo consola e conforta seus filhos no meio das piores tribulações. Quando lemos, por exemplo, o relato bíblico sobre a vida e o ministério de homens da estatura espiritual do apóstolo Paulo, podemos ser levados a imaginar que eles nunca se abatiam. Inda mais que, à medida que estudamos as viagens missionárias desse apóstolo dos gentios e conhecemos a sua ousadia, coragem, diligência, firmeza e determinação em anunciar o evangelho de Cristo – apesar das mais variadas e violentas oposições, dificuldades e perseguições – somos todos tentados a pensar que estamos diante de um homem inabalável: um super-homem. Essa ideia, porém, não corresponde à realidade.
Lemos em Atos 18.9 que Paulo teve medo e até considerou se calar (parar de pregar!) – tanto que, “Certa noite, o Senhor falou a Paulo numa visão: “Não tenha medo! Continue a falar e não se cale”. OU SEJA: apesar de suas grandes qualidades, oriundas de sua fidelidade e convicções teológicas, o apóstolo Paulo às vezes (ou muitas vezes) se abatia diante das oposições, tribulações e perseguições que sofreu – especialmente da parte de seu próprio povo – por causa do evangelho, como aconteceu em Corinto.
Entretanto, apesar de perplexo e abatido, apesar de tanta tribulação, Paulo nunca se sentiu desamparado, pois ele confiava no Deus soberano e gracioso que, segundo o próprio Paulo, conforta os desanimados e encoraja os temerosos (2Co 7.6). Por essas razões, ele pôde escrever à igreja de Corinto:
2Coríntios 4.7-14 7Agora nós mesmos somos como vasos frágeis de barro que contêm esse grande tesouro. Assim, fica evidente que esse grande poder vem de Deus, e não de nós. 8De todos os lados somos pressionados por aflições, mas não esmagados. Ficamos perplexos, mas não desesperados. 9Somos perseguidos, mas não abandonados. Somos derrubados, mas não destruídos. 10Pelo sofrimento, nosso corpo continua a participar da morte de Jesus, para que a vida de Jesus também se manifeste em nosso corpo. 11Sim, vivemos sob constante perigo de morte, porque servimos a Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste em nosso corpo mortal. 12Assim, enfrentamos a morte, mas isso resulta em vida para vocês. 13Continuamos a pregar porque temos o mesmo tipo de fé mencionada nas Escrituras: “Cri em Deus, por isso falei”. 14Sabemos que Deus, que ressuscitou o Senhor Jesus, também nos ressuscitará com Jesus e nos apresentará a ele junto com vocês.
Não tenha medo! Persevere. Pregue o evangelho. Faça discípulos de Jesus Cristo… Molde sua consciência pelas doutrina bíblicas, e viva, proclame, pratique sua fé… Perdoem-me a redundância!… Pratique sua fé com fidelidade… em todas as esferas da sociedade – da urna à universidade (e vice-versa), do culto à casa (e vice-versa), da solitude diante de Deus à sociedade dos homens (e vice-versa)… catequize seus filhos… seja fiel, fiel à Cristo, fiel à “a fé que, de uma vez por todas, foi confiada ao povo santo” (Jd 3). Este é o nosso chamado: Seja crente, verdadeiramente crente. Pense como crente. Viva como crente. Aja como crente.
No dia 6 de novembro, Deus permitindo, voltaremos a Paulo em Corinto, voltaremos a este texto de Atos – Atos 18.1-18a – e nos deteremos em dois pontos principais: [1.] por que Paulo estaria assim tão atribulado e desencorajada? [2.] de que modo Paulo foi encorajado e confortado pelo SENHOR? Então, faremos nossas aplicações sobre o modo como ele fez “missões urbanas” em Corinto, capital da província romana da Acaia.
S.D.G. L.B.Peixoto
Mais episódios da série
Atos dos Apóstolos
Mais episódios da série Atos dos Apóstolos
Mais Sermões
9 de agosto, 2020
9 de julho, 2017
27 de março, 2016
2 de abril, 2023
Mais Séries
Conforto na Tribulação – Parte 2
Pr. Leandro B. Peixoto