05.04.2020
Joel 2.18-32
18Então o SENHOR teve compaixão de seu povo e com zelo guardou sua terra. 19O SENHOR respondeu: “Vejam! Eu lhes envio cereal, vinho novo e azeite, suficientes para saciá-los. Vocês não serão mais objeto de zombaria entre as nações vizinhas. 20Expulsarei esses exércitos que vêm do norte e os enviarei para uma terra seca e desolada. Os que estão na vanguarda serão empurrados para o mar Morto, e os da retaguarda, para o Mediterrâneo. O mau cheiro dos corpos em decomposição se espalhará sobre a terra”. Certamente o SENHOR tem feito grandes coisas! 21Não tema, ó terra; alegre-se e exulte, pois o SENHOR tem feito grandes coisas. 22Não tenham medo, animais do campo, pois os pastos do deserto ficarão verdes. As árvores voltarão a dar frutos, as figueiras e as videiras ficarão carregadas. 23Alegrem-se, vocês que habitam em Sião! Exultem no SENHOR, seu Deus! Pois ele envia as chuvas na medida certa; as chuvas de outono voltarão a cair, e também as chuvas de primavera. 24As eiras voltarão a se encher de trigo, e os tanques de prensar transbordarão de vinho novo e azeite. 25“Eu lhes devolverei o que perderam por causa dos gafanhotos migradores, dos saltadores, dos destruidores e dos cortadores; enviei esse grande exército devastador contra vocês. 26Vocês voltarão a ter alimento até se saciar e louvarão o SENHOR, seu Deus, que realiza esses milagres em seu favor; nunca mais meu povo será envergonhado. 27Então vocês saberão que estou no meio de Israel, que sou o SENHOR, seu Deus, e não há nenhum outro; nunca mais meu povo será envergonhado.” 28“Então, depois que eu tiver feito essas coisas, derramarei meu Espírito sobre todo tipo de pessoa. Seus filhos e suas filhas profetizarão; os velhos terão sonhos, e os jovens terão visões. 29Naqueles dias, derramarei meu Espírito até mesmo sobre servos e servas. 30Farei maravilhas nos céus e na terra: sangue e fogo, e colunas de fumaça. 31O sol se escurecerá, a lua se tornará vermelha como sangue antes que chegue o grande e terrível dia do SENHOR. 32Mas todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo, pois alguns no monte Sião, em Jerusalém, escaparão, como o SENHOR prometeu. Estarão entre os sobreviventes que o SENHOR chamou.”
A BOA HORA DE DEUS
We Shall Fight on the Beaches — Lutaremos nas Praias! Este é um título comum dado ao discurso proferido pelo então Primeiro-Ministro Britânico, Winston Churchill, para a Câmara dos Comuns do Parlamento do Reino Unido em 4 de junho de 1940. Para muitos soldados britânicos, aquele foi o dia da sobrevivência. Encurralados na cidade portuária de Dunquerque, no norte da França, mais de 300 mil combatentes conseguiram retornar à Inglaterra em barcos, graças à ordem pessoal de Hitler para que se recuasse a ofensiva nazista.
A Batalha de Dunquerque, que durou de 25 de maio a 4 de junho daquele ano, foi uma das mais convulsivas da Segunda Guerra Mundial. Aquele desfecho até hoje divide historiadores: por que Hitler não massacrou as tropas aliadas enquanto havia tempo? Não se sabe ao certo, mas o que ficou registrado para a posteridade foi o discurso de Churchill, motivando os britânicos a continuar na luta, fosse nos mares, nas ruas, praias ou colinas. O pronunciamento é considerado uma das mais belas peças de oratória de todos os tempos e a parte final talvez seja a mais conhecida do discurso. Conta-se que enquanto o ouvia vociferar com eloquência, a Câmara dos Comuns trovejava em alvoroço diante de tamanha esperteza retórica. Eis o trecho final da fala de Churchill:
Eu próprio tenho plena confiança que se todos cumprirem seus deveres, se nada for negligenciado, e se as melhores providências forem tomadas, como está sendo feito, deveremos nos provar capazes mais uma vez de defender a nossa ilha natal, de superar a tempestade da guerra, e de sobreviver à ameaça de tirania, se necessário por anos, se necessário sozinhos. De qualquer maneira, isso é o que tentaremos fazer. Esta é a determinação do Governo de Sua Majestade — de cada homem dele. Esta é a vontade do Parlamento e da nação. O Império Britânico e a República Francesa, unidos em sua causa e em sua necessidade, defenderá até à morte seu solo nativo, auxiliando um ao outro como bons camaradas até o máximo de sua força.
Muito embora grandes extensões da Europa e antigos e famosos Estados tenham caído ou possam cair nos punhos da Gestapo e de todo o odioso aparato do domínio nazista, nós não devemos enfraquecer ou fracassar. Iremos até ao fim. Lutaremos na França. Lutaremos nos mares e oceanos, lutaremos com confiança crescente e força crescente no ar, defenderemos nossa ilha, qualquer que seja o custo. Lutaremos nas praias, lutaremos nos terrenos de desembarque, lutaremos nos campos e nas ruas, lutaremos nas colinas; nunca nos renderemos, e se — o que eu não acredito nem por um momento — , esta ilha, ou uma grande porção dela fosse subjugada e passasse fome, então nosso Império de além-mar, armado e guardado pela Frota Britânica, prosseguiria com a luta, até que, na boa hora de Deus, o Novo Mundo, com toda a sua força e poder, daria um passo em frente para o resgate e libertação do Velho.
Churchill nutria esperança de que “na boa hora de Deus” o aliado “Império de além-mar” entraria em combate para mudar decisivamente o equilíbrio da balança do poder em favor daqueles que lutavam contra as tropas de Hitler. Assim aconteceu e, como expressou Churchill, o “Velho Mundo” foi “resgatado” e “libertado”.
Frequentemente, em campanhas — sejam campanhas militares, como na Segunda Guerra Mundial, ou campanhas políticas e até publicitárias — , quando se sente estar com problemas, muda-se as estratégias em busca de resgate. Isso acontece o tempo todo, em todas as esferas, desde aquelas mudanças dramáticas em campanhas presidenciais até às empresas que mudam suas estratégias publicitárias, inclusive abandonando novos produtos que parecem estar com problemas. Faz-se de tudo na esperança de salvar a reputação ou a participação de mercado. Em nível pessoal, quando os recursos chegam ao limite e não vemos mais solução, esperamos que “na boa hora de Deus” chegue o resgate e possamos ser salvos do problema.
O que você faz quando se vê com problemas?
Em 1915, por ocasião da Primeira Guerra Mundial, George Henry Powell, com o pseudônimo de “George Asaf”, compôs uma marchinha que serviu de consolo para boa parte da população que estava sofrendo com os problema da guerra. Uma tradução livre de uma estrofe da marcha ficaria assim:
Para que se preocupar? Nunca valeu a pena preocupar. Então coloque os seus problemas em seu saco velho de viagem e sorria, sorria, sorria.
Seria cômico se não fosse trágico! Pense bem: O mundo estava em guerra e o máximo que as pessoas conseguiam ouvir de conselho era:
Não se preocupe! Não vale a pena preocupar. Ensaque os problemas. Siga com a vida. Ah, não se esqueça: sorria, sorria, sorria!
Não mudou muita coisas de lá para cá. Infelizmente, não será difícil verificar que aquele é o mesmo tipo de mensagem oferecida em todos os lugares, dos programas de televisão aos púlpitos de igrejas contemporâneos:
Não se preocupe! Não vale a pena preocupar. Engula, enfrente, ensaque os problemas. Siga com a vida. Ah, não se esqueça: sorria, sorria, sorria!
De novo, seria cômico se não fosse trágico! Mas é isto o que se prega e se busca.
O que você faz quando se vê com problemas?
É preciso dizer que, entre o discurso de Churchill em 1940 e a marchinha de Asaf em 1915, as palavras do Primeiro-Ministro Britânico são muito mais realistas no que diz respeito ao que devemos fazer quando nos vemos com problemas: esperar pela “boa hora de Deus”. Pense, por exemplo, na história (real) de uma mãe que telefonou para o pastor de uma igreja batista da cidade aonde a filha havia se mudado para trabalhar. A jovem tinha ficado doente alguns meses antes de se transferir, fez os exames e foi diagnosticada com tumor maligno. Agravando ainda mais a situação, a moça estava envolvida em uma igreja cujo pastor teria dito a ela que o tumor era fruto de falta de fé. Resultado: ambas estavam sendo espiritualmente atormentadas da forma mais cruel possível, ao mesmo tempo que a mãe amargava o sofrimento de ver a filha sofrendo fisicamente.
Não era aquela mensagem desumana que mãe e filha precisavam ouvir: “Ficou doente porque não tem fé.” Enquanto sofriam tanto, mãe e filha também não precisavam da “sopa rala de galinha” que se serve dizendo:
Não se preocupe! Não vale a pena preocupar. Engula, enfrente, empacote os problemas. Siga com a vida. Ah, não se esqueça: sorria, sorria, sorria!
Mãe e filha precisavam ouvir da restauração do SENHOR para que pudessem aprender a esperar pela “boa hora de Deus”. Não é verdade?
Você, com todos os seus problemas pessoais que se arrastam atormentado sua vida já faz muito tempo, talvez anos, e que agora se agravaram por causa da pandemia do COVID-19, precisa de comida sólida. Você certamente precisa muito mais do que acusações desumanas do tipo: você não tem fé!, pague um preço de oração!, tampouco de conselhos superficiais a respeito de como não se preocupar, ser forte, prosseguir com a vida e sorrir, sorrir, sorrir. Você (e eu e todos nós), face aos problemas, precisa (precisamos) aprender, pela palavra de Deus, a buscar e a esperar pela restauração do SENHOR, pela “boa hora de Deus”. É disso que trata o texto de Joel que lemos no início.
A RESTAURAÇÃO DO SENHOR
Desmentindo o teor de grande parte das mensagens em nome de Cristo que são pregadas em púlpitos de igrejas, a Bíblia Sagrada oferece algo muito superior a riquezas materiais ou mesmo a saúde física. O hino antigo, que hoje em boa parte, infelizmente, raramente se canta, captou bem o teor do evangelho bíblico ao colocar em versos que
Riquezas não preciso ter, mas sim celeste bem;
Nem falsa paz ou vão prazer, porquanto o crente tem.
Eterno gozo no Senhor, por desfrutar o Seu amor;
Com Cristo estou contente, Ele me satisfaz!
Com esse amor do Salvador, agora estou contente,
Agora estou contente!
[…]
Até que esteja lá no céu, aonde Cristo entrou;
E veja a face já sem véu, de quem me resgatou.
Desejo só aqui viver, de um modo que Lhe de prazer;
Com Cristo estou contente, Ele me satisfaz!
Com esse amor do Salvador, agora estou contente,
Agora estou contente!
Mais do que saúde, bens materiais e até mesmo a própria vida, a graça de Deus é melhor do que tudo nesta e na vida além. Davi, fugindo do próprio filho Absalão, refugiado e sofrendo muito no deserto de Judá, escreveu inspirado por Deus (Sl 63.3, ARA): “Porque a tua graça é melhor do que a vida; os meus lábios te louvam.” Com efeito, quando Deus restaura a vida de alguém é como um sonho, alegria de verdade brota do coração, enchendo a boca de riso e a língua de júbilo de louvor (Sl 126.1-3). Fé não é moeda de troca para se conquistar e manter uma vida boa, livre de problemas neste mundão de meu Deus. Fé (arrependimento e fé) é o que nos leva com o coração rasgado ao Deus de toda graça, e que está sempre pronto para nos restaurar e nos manter no caminho da restauração.
Nosso estudo no livro de Joel tem nos ensinado que o pior que nos pode acontecer não é o dia do gafanhoto, mas o dia do SENHOR sem que tenhamos experimentado a graciosa e maravilhosa restauração do SENHOR. De fato, o nosso maior problema não são os nossos problemas, mas o grande problema que o nosso pecado nos legou: fomos separados da glória de Deus (Rm 3.23). Como resultado, Paulo escreveu em Romanos 8.20-21,
toda a criação, não por vontade própria, foi submetida por Deus a uma existência fútil, na esperança de que, com os filhos de Deus, a criação seja gloriosamente liberta [restaurada] da decadência que a escraviza.
Todos os problemas que enfrentamos na vida: do joelho ralado ao coração quebrado, dos problemas de crianças às pandemias globais, todas as coisas más que nos acontecem, demonstra-nos Joel, é o toque da trombeta de Deus, o som do alarme da graça chamando todos (2.1,15), despertando todo mundo do sono profundo e da entorpecência do pecado (1.5), exortando-nos ao arrependimento, convocando-nos ao desespero pela cegueira do pecado (1.11), ao lamento, ao choro e ao pranto (1.5-14) de um coração rasgado que se refugiou na graça de Deus (2.12-13), aguardando com fé, esperança e cheios de amor pelo dia do SENHOR (2.17).
Tanto o dia do gafanhoto (Joel 1) como o dia do SENHOR (Joel 2.1-7) — ou seja: tanto o coração quebrado por causa dos nos nossos diversos problemas como o coração rasgado em arrependimento e fé em face do dia do juízo de Deus — , têm um propósito comum: fazer-nos enxergar que Deus é Deus no meio do seu povo (Joel 2.27).
Pois bem, a seguir, Joel revelará a resposta do SENHOR àqueles que se arrependem e se voltaram para ele com o coração rasgado; e como o dia da restauração do SENHOR alegra o coração de seu povo. Veremos que depois de enviar a amarga, mas amorosa disciplina da nuvem de gafanhotos (1.1-20), o SENHOR receberá o pecador que se voltou para ele com arrependimento e fé (2.1-17). Estudaremos, então, nesta segunda seção de Joel (2.18-32): o amanhecer da restauração (2.18-20); a alegria da restauração (2.21-23); a abundância da restauração (2.24-27); e o alcance da restauração (2.28-32).
O AMANHECER DA RESTAURAÇÃO
Joel 2.1-17 foi onde o SENHOR instruiu o seu povo sobre como se voltar para ele em face da amarga, mas amorosa disciplina à qual se estava sendo submetido. Aparentemente, a nação seguiu as instruções dadas, pois a forma da linguagem muda de imperativos verbais para uma narrativa histórica. O profeta não estará mais instando aos seus ouvintes que “despertem”, “chorem”, “lamentem”, “desesperem-se”, “vistam-se de panos de saco”, “convoquem jejum” e “rasguem o coração”. Em vez disso, Joel relatará que o SENHOR foi zeloso com sua terra e teve compaixão de seu povo. Tendo feito o que deveriam ter feito, o profeta passou a relatar o que o SENHOR lhes fez em resposta. Verso 18: “Então o SENHOR teve compaixão de seu povo e com zelo guardou sua terra.”
Deus mesmo tinha despejado os gafanhotos sobre a terra, mas agora ele estava graciosamente restaurando as perdas infligidas pela praga. Tendo o povo respondido à convocação do profeta, o SENHOR cuidou de promover uma restauração completa. Judá estava, finalmente, contemplando o amanhecer da restauração. Especificamente, quatro bênçãos são nomeadas: Deus responde à oração do povo; Deus satisfaz as necessidades do povo; Deus remove a vergonha do povo; e Deus destrói os inimigos do povo. Versos 19-20:
19O SENHOR respondeu: “Vejam! Eu lhes envio cereal, vinho novo e azeite, suficientes para saciá-los. Vocês não serão mais objeto de zombaria entre as nações vizinhas. 20Expulsarei esses exércitos que vêm do norte [de onde vinha e vieram gafanhoto e todos os inimigos de Israel: Síria, Assíria, Babilônia, Medo-persas, etc.] e os enviarei para uma terra seca e desolada. Os que estão na vanguarda serão empurrados para o mar Morto, e os da retaguarda, para o Mediterrâneo. O mau cheiro dos corpos em decomposição se espalhará sobre a terra”. Certamente o SENHOR tem feito grandes coisas!
Temos aqui um resumo de como Deus restaura seu povo; ele: [1.] coloca fé no coração e faz o povo orar com a certeza de que ele ouve as orações; [2.] satisfaz o coração com o suficiente; [3.] remove a vergonha imposta pelo pecado e pelo sofrimento; e [3.] destrói poderes que escravizam. Algo importante a se notar, porém, é que conquanto elimine o poder dos problemas ou do pecado sobre nós, o SENHOR nem sempre apaga completamente as suas consequências. Ouça, verso 20: “O mau cheiro dos corpos em decomposição se espalhará sobre a terra”.
O. Palmer Robertson comenta que da mesma forma que o Senhor enviou um forte vento em resposta à oração de Moisés no Egito, lançando a praga de gafanhotos ao Mar Vermelho, agora, em resposta às orações de seu povo em Judá, os gafanhotos que atormentavam a Palestina se afogavam tanto no Mar Morto como no Mediterrâneo (Êx 10.19). E assim como o Egito se encheu do mau cheiro de peixes e sapos apodrecendo no Nilo, a maldição lançada sobre os gafanhotos da Palestina incluiria também o mau cheiro do apodrecimento desses mesmos gafanhotos (Êx 7.21; 8.14; Jl 2.20).
Um testemunho antigo desse mesmo tipo de problema será encontrado no livro Cidade de Deus, no qual Agostinho relata que quando a África ainda era uma província romana, ela foi atacada por um número imenso de gafanhotos. Tendo comido tudo, folhas e frutas, uma nuvem gigantesca deles se afogou no mar. Em seguida, o gafanhotos foram trazidos e jogados mortos pela maré na costa africana, e a putrefação daqueles insetos sobre a areia infectou o ar de tal maneira que causou uma pestilência tão horrível que só no Reino de Massinissa (hoje: Argélia e parte da Tunísia) diz-se que 800 mil ou mais pessoas morreram. Em outras ocasiões, há relatos de que gafanhotos tenham sido empilhados em montes de quase um metro e meio de altura nas costas do Mar Vermelho.
O amanhecer da graça traz consigo restauração: fé e oração; satisfação no coração com o suficiente, o pão nosso de cada dia; remoção da vergonha imposta pelo pecado e pelo sofrimento; e destruição dos poderes que nos escravizam. No entanto, há consequências que poderemos carregar conosco por muito tempo, senão para sempre. Mas mesmo assim será possível dizer como Joel: “Certamente o SENHOR tem feito grandes coisas!” (v. 20), já “que todas as coisas cooperam para o bem [a santificação] daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.” (Rm 8.28, ARA).
A ALEGRIA DA RESTAURAÇÃO
O amanhecer da restauração, trazendo consigo todas as bênçãos do recomeço promovidas pelo SENHOR, promove em nós alegria completa — alegria que vence o medo. Verso 21-23:
21Não tema, ó terra; alegre-se e exulte, pois o SENHOR tem feito grandes coisas. 22Não tenham medo, animais do campo, pois os pastos do deserto ficarão verdes. As árvores voltarão a dar frutos, as figueiras e as videiras ficarão carregadas. 23Alegrem-se, vocês que habitam em Sião! Exultem no SENHOR, seu Deus! Pois ele envia as chuvas na medida certa; as chuvas de outono voltarão a cair, e também as chuvas de primavera.
Terra, animais do campo e o povo de Deus — todos alegres e exultantes, cada um louvando ao SENHOR do seu próprio jeito. A terra produzindo os seus frutos, os animais pastando e produzindo lã e leite, e o povo de Deus proclamando a bondade de Deus que provê tudo o de que precisamos na medida certa e no tempo certo. As chuvas do início do outono — de setembro a outubro — amoleciam o solo após a estação seca do verão, permitindo cultivo e plantio; enquanto as chuvas posteriores da primavera proporcionavam o amadurecimento das plantações da primavera e do verão. O povo restaurado de Deus sempre terá motivos para se alegrar.
Pelo que o SENHOR faz, em resposta ao arrependimento, alegre-se, crente! Não mergulhe em depressão por seus pecados e perdas passados. Não tema as consequências de falhas anteriores. Não presuma que uma restauração completa seja boa demais para ser verdadeira. Alegre-se de todo o coração pela capacidade do SENHOR de restaurar sua vida pela graça.
A ABUNDÂNCIA DA RESTAURAÇÃO
Bênção!, você poderá dizer. A mera possibilidade de restauração completa de perdas devido ao pecado é suficiente o bastante. Só que não! A graça do Senhor é maior, muito maior do que tudo o que pedimos ou pensamos (Ef 3.20). A restauração prometida por Deus leva a nossa fé ao seu limite máximo. Assim, não somente o SENHOR fará com que a terra estéril produza novamente; ele não apenas reviverá os ciclos da natureza, para que os animais do campo tenham o suficiente para comer: a graça do SENHOR fará ainda mais abundantemente. Deus restaurará os anos que os gafanhotos comeram. Essa promessa impressiona a nossa imaginação. Versos 24-27:
24As eiras voltarão a se encher de trigo, e os tanques de prensar transbordarão de vinho novo e azeite. 25“Eu lhes devolverei o que perderam por causa dos gafanhotos migradores, dos saltadores, dos destruidores e dos cortadores; enviei esse grande exército devastador contra vocês. 26Vocês voltarão a ter alimento até se saciar e louvarão o SENHOR, seu Deus, que realiza esses milagres em seu favor; nunca mais meu povo será envergonhado [como o pecado, e os anos perdidos no pecado, as coisas e chances perdidas pelo erro nos envergonham!]. 27Então vocês saberão que estou no meio de Israel, que sou o SENHOR, seu Deus, e não há nenhum outro; nunca mais meu povo será envergonhado.”
Charles H. Spurgeon, em 30 de maio de 1886, pregou sobre Joel 2.25: “Eu lhes devolverei o que perderam por causa dos gafanhotos”. O título do sermão era: “Verdade mais estranha que ficção”. Assim iniciou o “Príncipe dos pregadores”:
Os anos PERDIDOS nunca podem ser restaurados literalmente. O tempo, uma vez passado, foi-se para sempre. Que ninguém cometa algum erro sobre isto, ou brinque com o momento presente sob a noção de que a hora que voou voltará para ele, pois não voltará. Jamais voltará! Assim como não chamará de volta o vento… não encherá novamente a nuvem esvaziada pela chuva… não colocará de volta na aljava as flechas disparadas pelo arqueiro nem trará de volta a seu curso o rio que escorreu em direção ao mar… como alguém poderá imaginar que os anos que se passaram de uma vez possam ser a nós restaurados!
Ocorrerá imediatamente a você que os gafanhotos não comeram os anos: os gafanhotos comeram os frutos do trabalho dos anos, as colheitas dos campos; de modo que o significado da restauração dos anos deve ser a restauração daqueles frutos e das colheitas que os gafanhotos consumiram. Você não pode ter seu tempo de volta; mas há uma maneira estranha e maravilhosa pela qual Deus pode lhe devolver as bênçãos desperdiçadas, os frutos não amadurecidos dos anos sobre os quais você lamentou. Os frutos dos anos perdidos ainda podem ser seus. É uma pena que eles tenham sido comidos pelos gafanhotos de sua loucura e negligência; mas, se tiverem sido, não fique sem esperança em relação a eles. “Todas as coisas são possíveis ao que crer.” Existe um poder que está além de todas as coisas e pode fazer grandes maravilhas. Quem pode fazer o gafanhoto devorador restaurar sua presa? Nenhum homem, por sabedoria ou poder, pode recuperar o que foi totalmente destruído. Somente Deus pode fazer por você o que parece impossível; e aqui está a promessa de sua graça: “Restaurarei a você os anos que os gafanhotos comeram”.
Ao dar a seu povo arrependido colheitas maiores do que a terra poderia produzir naturalmente, Deus retribuiria à Judá, por assim dizer, tudo o que teriam conquistado se os gafanhotos nunca tivessem chegado; e Deus, dando a você uma graça maior no presente e no futuro, pode tornar a vida — que até aqui foi arruinada e devorada pelos gafanhotos, a lagarta e o verme mais pálido do pecado, do ego e de Satanás — em uma vida que ainda será completa, abençoada e útil, para seu louvor e glória. É uma grande surpresa; mas o SENHOR é um Deus de maravilhas, e no reino de sua graça milagres são coisas comuns.
Você lamenta os anos perdidos da sua vida? Você se lembra com amargura na alma dos anos perdidos da juventude, quando ainda não servia ao SENHOR? Foram vinte, trinta, quarenta, cinquenta ou sessenta anos antes de você se humilhar em arrependimento diante do seu Criador? O Senhor restaura os anos que o gafanhoto comeu — todos eles.
Você passou vários anos vivendo em carnalidade e mornidão, fazendo apenas o que lhe pediu o coração? Você cometeu vários erros graves em sua vida? Você tomou algumas decisões precipitadas das quais agora se arrepende? Você costuma remoer com pesar, tristeza e vergonha essas decisões e os efeitos que elas tiveram na sua vida?
Você abandonou os estudos? Você fez uma escolha precipitada no casamento? Você falhou em reconhecer a pessoa certa para você? Você já passou por um divórcio ou um aborto? Você concebeu um filho fora do casamento? Você tomou uma má decisão comercial? Você perdeu muito dinheiro impensada ou irresponsavelmente? Você perdeu a oportunidade de investimento de uma vida? Você mudou sua família quando deveria ter ficado onde estava? Você não teve fé para sair quando a oportunidade bateu à porta? Você não comprou a casa quando o mercado estava propício? Você se endividou? Você se rebelou contra seus pais quando era adolescente? Você cometeu um crime moral em um ponto da sua vida, um crime que te assombra até hoje? Você vive em terror mortal de que alguém a qualquer momento descobrirá os erros do seu passado?
Escute as palavras de Joel. Aplique-as à sua vida. Deus restaura os anos que o gafanhoto comeu. Ele devolve o que você perdeu e muito mais — veja o exemplo de Jó, por exemplo: “O SENHOR abençoou Jó na segunda parte de sua vida ainda mais que na primeira.” (Jó 42.12-16). Viver com tristeza é pecado para o cristão. Esse tipo de tristeza, a tristeza do mundo produz morte. Viver com tristeza não tem nada a ver com o arrependimento divino que leva à vida e à restauração. Viver com tristeza significa que você se recusa a crer na verdade gloriosa de que Deus restaura os anos que o gafanhoto comeu.
Você reflete sobre suas falhas do passado? Como a hiena roendo um osso podre, você deixa seus pensamentos se alimentarem morbidamente dos seus pecados do passado? Não insulte a gloriosa redenção que Cristo conquistou. Creia nele. Comece a se alegrar com fé. Olhe diretamente nos olhos de seus pecados, leve-os para a cruz de Cristo e não ouça mais as acusações de Satanás. Confie plenamente no poder de Deus para restaurar de forma abundante os anos que os gafanhotos do pecado comeram na sua vida.
Aqueles que provaram da restauração do SENHOR, ficarão satisfeitos (v. 26), louvarão o SENHOR (v. 26), viverão livres da vergonha do pecado e do passado (vs. 26-27) e nutrirão íntima comunhão com o seu Deus e Salvador Jesus Cristo, Deus conosco (v. 27). Ouça, mais uma vez, versículos 24-27:
24As eiras voltarão a se encher de trigo, e os tanques de prensar transbordarão de vinho novo e azeite. 25“Eu lhes devolverei o que perderam por causa dos gafanhotos […]; enviei esse grande exército devastador contra vocês. 26Vocês voltarão a ter alimento até se saciar e louvarão o SENHOR, seu Deus, que realiza esses milagres em seu favor; nunca mais meu povo será envergonhado. 27Então vocês saberão que estou no meio de Israel, que sou o SENHOR, seu Deus, e não há nenhum outro; nunca mais meu povo será envergonhado.”
Ah! A abundância da restauração do SENHOR!
O ALCANCE DA RESTAURAÇÃO
Deus restaura os anos que os gafanhotos comeram. Tudo o que você pode ter perdido em termos de bênção no passado, o Senhor poderá restaurar. O crente não vai perder nada. Espere pacientemente no Senhor e você poderá ver como ele é capaz de restaurar os anos que os gafanhotos comeram.
Essa restauração dos anos perdidos pode parecer a maior bênção que Deus poderia dar. Afinal, o que mais você poderia pedir do que o impossível de ter tudo restaurado? O que mais Deus poderia fazer por você do que devolver todas as coisas que você perdeu no passado? Joel, no entanto, traz para você as boas novas de uma bênção ainda maior. Ele profetiza sobre um clímax na obra redentora de Deus que excede a restauração dos anos que o gafanhoto comeu.
Deus promete que, com a chegada do grande dia do SENHOR, ele derramará seu Espírito sobre pessoas de todas as nações do mundo. Essa é a maior bênção que ele pode dar aos homens. Pelo Espírito, ele os liga intimamente e inseparavelmente a ele, e fornece-lhes poder ilimitado para servi-lo e glorificá-lo.
A ordem das bênçãos previstas no livro de Joel atende à necessidade da humanidade caída. Não apenas no reino material, mas também no reino do espírito, Deus derrama suas bênçãos de redenção. Primeiro, o produto da terra é multiplicado (vs. 24-27); então o Espírito do Senhor é derramado. Versos 28-32:
28“Então, depois que eu tiver feito essas coisas, derramarei meu Espírito sobre todo tipo de pessoa. Seus filhos e suas filhas profetizarão; os velhos terão sonhos, e os jovens terão visões. 29Naqueles dias, derramarei meu Espírito até mesmo sobre servos e servas. 30Farei maravilhas nos céus e na terra: sangue e fogo, e colunas de fumaça. 31O sol se escurecerá, a lua se tornará vermelha como sangue antes que chegue o grande e terrível dia do SENHOR. 32Mas todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo, pois alguns no monte Sião, em Jerusalém, escaparão, como o SENHOR prometeu. Estarão entre os sobreviventes que o SENHOR chamou.
Até aqui, Joel tinha enfatizado apenas a restauração de um Israel arrependido. Deste ponto em diante, ele profetiza a abrangência universal da obra de restauração de Deus. Essas boas-novas anunciam a operação do poder de Deus para a salvação de todos que crêem, primeiro no judeu e também no grego.
Trata-se, portanto, de um convite do evangelho dirigido a você, seja quem for. Deus derrama seu Espírito sobre jovens e idosos, homens e mulheres, ricos e pobres, judeus e gentios. Portanto, hoje mesmo, responda à operação do Espírito dele em seu coração. Hoje é o dia da salvação, hoje é o dia do SENHOR.
CORAÇÃO ALEGRE: O DIA DA RESTAURAÇÃO
Nossos problemas não são para serem ensacados e sairmos por ai com eles nas costas, sorrindo, sorrindo, sorrindo como se não fossem nada, agindo como se fôssemos fortes e capazes de superar tudo e qualquer coisa. Problemas revelam a realidade do pecado que nos separou de Deus, fazendo-nos encarar o dia do SENHOR e a necessidade que temos de restauração. Joel 2.31-32:
31O sol se escurecerá, a lua se tornará vermelha como sangue antes que chegue o grande e terrível dia do SENHOR. 32Mas todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo, pois alguns no monte Sião, em Jerusalém, escaparão, como o SENHOR prometeu. Estarão entre os sobreviventes que o SENHOR chamou.
Pode ser que hoje, aqui e agora, seja “a boa hora de Deus” para a sua vida. Invoque o nome do SENHOR e seja salvo. Arrependa-se e creia em Cristo para a sua restauração. Receba o Espírito Santo com fé. Alegre-se com a tão grande restauração do SENHOR. A voz do SENHOR chama os que são dele à salvação.
Não deixe de observar: Há neste último verso do capítulo 2 de Joel, na parte final do verso, o fundamento, a grande certeza, a garantia da nossa restauração: Deus mesmo chama eficazmente os seus para a salvação — “Mas todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo, pois alguns no monte Sião, em Jerusalém, escaparão, como o SENHOR prometeu. Estarão entre os sobreviventes que o SENHOR chamou.” (v. 32).
Contrário do que ocorreu com faraó e a maioria dos egípcios (Êx 11.10), pragas, pestes e problemas não endurecem o coração dos eleitos. Antes, apesar de amargos, servem bem nas mãos da amorosa providência do SENHOR, chamado seu povo para a salvação. Mateus 11.27-30:
27“Meu Pai me confiou todas as coisas. Ninguém conhece verdadeiramente o Filho, a não ser o Pai, e ninguém conhece verdadeiramente o Pai, a não ser o Filho e aqueles a quem o Filho escolhe revelá-lo. 28“Venham a mim todos vocês que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. 29Tomem sobre vocês o meu jugo. Deixem que eu lhes ensine, pois sou manso e humilde de coração, e encontrarão descanso para a alma. 30Meu jugo é fácil de carregar, e o fardo que lhes dou é leve”.
“Ao SENHOR pertence a salvação!”, declarou o profeta Jonas (2.9). Joel acrescentou: “Estarão entre os sobreviventes que o SENHOR chamou.” (v. 32).
Para ser salvo, Deus terá que te resgatar. Você terá que invocar o nome do SENHOR. Mas são os que Deus chama, “aqueles a quem o Filho escolhe revelá-lo”, que invocarão o nome do SENHOR. Salvação é graça do começo ao fim (cf. Rm 8.29-30).
Até o século XIX, os evangélicos costumavam falar da obra de restauração de Deus na vida do pecador em termos de salvação. Já nas primeira décadas do século XX, passaram a falar em conversão. Atualmente, resumiram tudo ao termo compromisso. Não pense que é tudo apenas uma questão de semântica. Restauração é obra de salvação, de resgate. Sim, restauração produzirá conversão e também compromisso. No entanto, se o SENHOR não vier em resgate, chamando de forma eficaz o pecador, salvando-o do afogamento do pecado, ele jamais se converterá ou se comprometerá a qualquer coisa, muito menos a Cristo Jesus, o SENHOR.
Pense no sujeito que está afogando. Ele não sabe nadar. Esgotaram-se todas as suas forças em vans tentativas de se manter emerso e respirando. Essa pessoa não consegue por si só assumir o compromisso ou tomar a decisão de não se afogar, tampouco será capaz de se converter daquela situação e mudar de caminho. Ele está se afogando! Como poderá sobreviver? (Joel 2.11). Precisará de resgate. Salvação. Salva-vidas. Nesse caso, não há nada que ele possa fazer, mas invocar e gritar: Socorro, SENHOR! (Joel 1.19). “Todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo, pois alguns no monte Sião, em Jerusalém, escaparão, como o SENHOR prometeu. Estarão entre os sobreviventes que o SENHOR chamou.” (Joel 2.32).
Invoque o nome do SENHOR. Arrependa-se e creia. Olhe firmemente para Jesus, estenda sua mão para ele, Autor e Consumador da nossa fé (Hebreus 12.2). Regozije-se. Alegre seu coração. É chegado o dia da restauração, “a boa hora de Deus” para a sua vida.
S.D.G. L.B.Peixoto
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