05.04.2020
Joel 3.1-21
1“No tempo em que essas coisas acontecerem, quando eu restaurar Judá e Jerusalém, 2reunirei todas as nações no vale de Josafá. Ali eu as julgarei por terem maltratado Israel, minha propriedade, por terem espalhado meu povo entre as nações e repartido minha terra. 3Fizeram um sorteio para decidir quem de meu povo seria seu escravo. Deram meninos em troca de prostitutas e venderam meninas por vinho para se embriagar. 4“O que vocês têm contra mim, Tiro, Sidom e cidades da Filístia? Estão tentando se vingar de mim? Se essa é sua intenção, tomem cuidado! Eu as atacarei sem demora e lhes darei o que merecem por suas ações. 5Roubaram minha prata, meu ouro e meus tesouros preciosos e os levaram para seus templos. 6Venderam aos gregos os habitantes de Judá e Jerusalém, para que os levassem para longe de sua terra natal. 7“Mas eu os trarei de volta de todos os lugares para onde os venderam, e darei a vocês o que merecem. 8Venderei seus filhos e filhas aos habitantes de Judá, e eles os venderão ao povo da Arábia, uma nação distante. Eu, o SENHOR, falei!” 9Anunciem às nações de toda parte: “Preparem-se para a guerra! Convoquem seus melhores guerreiros; que todos os seus soldados avancem para a batalha. 10Forjem seus arados para fazer espadas e transformem suas podadeiras em lanças; treinem até os mais fracos para serem guerreiros. 11Venham depressa, nações de toda parte; reúnam-se no vale!”. E agora, ó SENHOR, convoca teus guerreiros! 12“Que as nações se mobilizem para a guerra e marchem para o vale de Josafá! Ali eu, o SENHOR, me sentarei para julgar todas elas. 13Lancem a foice, pois a colheita está madura. Venham e pisem as uvas, pois o tanque de prensar está cheio. Os tonéis transbordam com a perversidade das nações.” 14Multidões e multidões esperam no vale da decisão, onde o dia do SENHOR chegará em breve. 15O sol e a lua escurecerão, e as estrelas deixarão de brilhar. 16A voz do SENHOR rugirá desde Sião e trovejará desde Jerusalém; os céus e a terra tremerão. Mas o SENHOR será refúgio para seu povo, uma fortaleza para o povo de Israel. 17“Então vocês saberão que eu, o SENHOR, seu Deus, habito em Sião, meu santo monte. Jerusalém será santa, e exércitos estrangeiros não voltarão a conquistá-la. 18Naquele dia, vinho doce gotejará dos montes, e leite fluirá das colinas. Água encherá o leito dos riachos de Judá; uma fonte brotará do templo do SENHOR e regará o vale das Acácias. 19O Egito, porém, se transformará numa terra desolada, e Edom se tornará um deserto, pois atacaram o povo de Judá e mataram inocentes em sua terra. 20“Judá, porém, ficará cheia de gente para sempre, e Jerusalém permanecerá por todas as gerações. 21Perdoarei os crimes de meu povo, que ainda não perdoei [melhor (NAA): “Eu vingarei o sangue deles, que ainda não foi vingado.”; e eu, o SENHOR, habitarei em Sião.”
RASTRO DE SANGUE
A marcha da humanidade, desde a queda do primeiro casal e a entrada do pecado no Éden, vem deixando para traz um enorme rastro de sangue. O primeiro incidente de que se tem registro foi o assassinato, cruel e premeditado, que um homem cometeu contra o próprio irmão. Gênesis 4.8-9:
8Caim sugeriu a seu irmão: “Vamos ao campo”. E, enquanto estavam lá, Caim atacou seu irmão Abel e o matou [Como? Degola? Gravata no pescoço e facadas no peito? Punhal nas costelas? Fica por conta da nossa imaginação!]. 9Então o SENHOR perguntou a Caim: “Onde está seu irmão? Onde está Abel?”. “Não sei”, respondeu Caim. “Por acaso sou responsável por meu irmão?” 10Então Deus disse: “O que você fez? Ouça! O sangue de seu irmão clama a mim da terra! 11O próprio solo, que bebeu o sangue de seu irmão, sangue que você derramou, amaldiçoa você.
O que se vê, desde então? Inveja. Ódio. Crueldade. Cinismo. Maldição. O mal havia entrado no mundo, e desde que o sangue de Abel encharcou a terra, pessoas passaram a pecar contra o próximo com a maior naturalidade. Você conhece ou se recorda da história de Lameque, descendente de Caim — do mesmo sangue ruim de Caim! — , na sequência deste mesmo capítulo do Gênesis? Refresque sua memória, versículos 19-24:
19Lameque se casou com duas mulheres. A primeira se chamava Ada, e a segunda, Zilá. 20Ada deu à luz Jabal; ele foi o precursor dos que criam rebanhos e moram em tendas. 21Seu irmão se chamava Jubal, o precursor dos que tocam harpa e flauta. 22Zilá, a outra mulher de Lameque, deu à luz um filho chamado Tubalcaim, que se tornou mestre em criar ferramentas de bronze e ferro. Tubalcaim teve uma irmã chamada Naamá. 23Certo dia, Lameque disse a suas mulheres: “Ada e Zilá, ouçam minha voz; escutem o que vou dizer, mulheres de Lameque. Matei um homem que me atacou, um rapaz que me feriu. 24Se aquele que matar Caim será castigado sete vezes [Gn 4.15], quem me matar será castigado setenta e sete vezes!”.
Note três coisas:
PRIMEIRO, a quebra do plano de Deus para o casamento. Não havia mais essa de “o homem deixa pai e mãe e se une à sua mulher, e os dois se tornam um só.” (Gn 2.24). Lameque simplesmente decidiu que casaria “com duas mulheres”. Ponto. A queda trouxe a perversão do casamento e da família.
SEGUNDO, a banalização da vida humana. Passou-se a matar por muito pouco, a ponto de Lameque se gabar, dizendo: “Matei um homem que me atacou [feriu, contundiu], um rapaz que me feriu [pisou, chutou, bateu]”. A queda trouxe a morte.
TERCEIRO, o abuso doméstico tornou-se corriqueiro. Lameque virou-se para as suas duas mulheres e trovejou: “Matei dois homens por muito pouco. Se aquele que matar Caim será castigado sete vezes, quem me matar será castigado setenta e sete vezes! Portanto, cuidado comigo. Prestem atenção, hein!”. A queda trouxe maldade para os relacionamentos.
Por que Lameque era capaz de agir daquela forma?
As palavras daquele patriarca, carregadas de orgulho e sentimento de vingança, revelam que ele havia tomado para si o lugar de Deus na vida dele: “Eu me viro! Eu me protejo! Se aquele que matar Caim será castigado sete vezes, há!, quem me matar será castigado setenta e sete vezes! Comigo ninguém pode! Cuidado comigo! Ouçam minha voz; escutem o que vou dizer, mulheres de Lameque.” Assumindo o trono da própria existência, o ser humano perverteu o casamento e a família, adoeceu os relacionamentos e elevou-se acima de tudo e de todos, inclusive de Deus. Os resultados podem ser checados nas páginas da história: rastro de sangue.
Quantas pessoas, no rastro de sangue da história, não se engajaram em atos, menores ou maiores, contra o ser humano, contra seu próximo criado a imagem e semelhança de Deus? O que não faltam são relatos de crueldade em cima crueldade, pilhas e pilhas de maldade, de um crime contra uma pessoa aos crimes contra a humanidade. Pense, por exemplo, nos genocídios — que, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), são os extermínios deliberados, parciais ou totais, de comunidades, grupos étnicos, raciais ou religiosos, e que motivados por razões étnicas, militares, religiosas ou culturais; ou ainda: hecatombes — na Antiguidade, era o sacrifício de cem bois aos deuses na Grécia e que, por extensão, passou a denotar o massacre de um grande número de pessoas; mortandade, carnificina provocada ou motivada por alguma pessoa.
Desde o COVID-19, temos ouvido especialistas de todas as parte alertarem para possível “hecatombe” provocada pela doença, especialmente em países da África, onde se diz não haver meios ou recursos para enfrentar a pandemia. Há quem diga que esse vírus foi criado na China ou que, no mínimo, o Partido Comunista Chinês, por não ter dado informações rápidas, precisas e verdadeiras sobre a extensão das contaminações pelo novo coronavírus, agiu de forma a disseminar a contaminação.
E SE foi? Não estou dizendo que acredito nestas teorias (nem que desacredito). Estou apenas dizendo: E se o governo comunista chinês (não o povo chinês, mas o governo comunista chinês) é mesmo o responsável? Ficará tudo impune? Teremos que ir para a guerra, aliando-nos a outras nações contra a China? Quantos milhares de pessoas não têm debatido sobre estes pontos nos últimos dias e meses!
A revista Superinteressante fez uma lista dos 10 maiores genocídios da história. O maior deles teria sido provocado pelo líder comunista Mao Zedong (1893-1976). Ocorreu na China e no Tibete, de 1958 a 1969, totalizando entre 45 e 70 milhões de mortes. Ocorreu que, de 1958 a 1962, Zedong liderou o “Grande Salto Adiante”, uma reformulação econômica que pretendia transformar a China em uma potência industrial — mas que, no fim, provocou um colapso que levou pelo menos 40 milhões de pessoas a morrer de fome. Entre 1966 e 1969, houve uma nova perseguição: a chamada “Revolução Cultural” caçou minorias, seguidores de qualquer religião e cidadãos delatados por questionar o regime. O país ficou cheio de campos de concentração, e as famílias eram obrigadas a pagar pela bala usada para matar os condenados. Quem pagou por isso?
Talvez o genocídio mais conhecido seja o que varreu a Europa, de 1939 a 1945, totalizando entre 17 e 20 milhões de mortos. Estamos falando de quando o mundo descobriu o horror dos campos de concentração nazistas — a palavra genocídio nem existia. Nunca antes, nem depois, um governo organizou uma infraestrutura tão eficiente em matar pessoas. A Alemanha de Hitler exterminou 6 milhões de judeus e 10,5 milhões de eslavos. Diz-se que também perseguiu gays, ciganos, romenos e sérvios. Quem pagou por esses crimes?
Poderíamos falar ainda do genocídio provocado por Gengis Khan, que exterminou todos os que não aceitassem sua ideia de uma grande confederação mongol. Homens mais altos que uma roda de madeira eram mortos. Mulheres, idosos e crianças viravam escravos. Vilas inteiras eram incendiadas. Khan eliminou todo mundo que encontrou pelo caminho — incluindo chineses, coreanos e afegãos. Tudo isso aconteceu na Ásia e no Leste Europeu, no século XIII, deixando 40 milhões de mortos. Quem pagou por isso?
O que dizer de Josef Stalin (1930-1940), na União Soviética: 20 a 25 milhões de mortos; do mongol Tamerlão (1336-1405), na Ásia Central: 17 milhões de mortos; do rei belga Leopoldo II (1835-1909) que massacrou a população do Congo Belga e a escravizou para trabalhar na extração de borracha: 5 a 8 milhões de mortes na década de 1890; de Saddam Hussein, no Iraque: cerca de 2 milhões de mortos. E tantos, tantos outros conflitos, hecatombes, genocídios e crueldades, de povos inteiros dizimados a pessoas individualmente feridas, da escravidão e subjugação em maça de um povo ao abuso ou escravidão infantil, dos horrores de guerras injustas ao crime sem desfecho. Quem pagará por tudo isso? E quanto aos que se safaram, sem responder pelos seus crimes? Alguém pagará por todas essas maldades?
Quanta gente sofrendo, na mente e no corpo, com as feridas deixadas por um tirano, genocida, assassino, criminoso, terrorista ou abusador que nunca precisou ou jamais foi pego para responder pelo pecado que cometeu! Quem, afinal, pagará por todas as atrocidades jamais cometidas e que, certamente, ainda serão cometidas na história do mundo ou na sua história pessoal — de Caim a Hitler, de Lameque ao pai que abusou da filha ou o irmão que abusou da irmã, de Judas ao marido que traiu a esposa, foi embora e a deixou na miséria financeira, ferida e com filhos ainda mais machucados? Quantas histórias de dor, e de justiça que nunca foi feita!
Será que um dia alguém pagará pelos crimes que cometeu?
Há justiça no mundo?
Alguém, algum dia, prestará contas? Como? A quem?
Joel 3 nos ajuda a fazer sentido do rastro de sangue na história.
VINGANÇA PELO SANGUE
Não obstante a tantas injustiças cometidas no mundo e na história, apesar da sede de vingança que todo ser humano carrega latente no peito, esse capítulo final da profecia de Joel poderá fazer alguns ficarem de cabelo em pé. Quer ver?
Ouça, mais uma vez, Joel 3.1-2:
1No tempo em que essas coisas acontecerem, quando eu restaurar Judá e Jerusalém, 2reunirei todas as nações no vale de Josafá. Ali eu as julgarei por terem maltratado Israel, minha propriedade, por terem espalhado meu povo entre as nações e repartido minha terra.
Agora, o verso 14: “Multidões e multidões esperam no vale da decisão, onde o dia do SENHOR chegará em breve.” E o verso 21 (NAA): “Eu vingarei o sangue deles, que ainda não foi vingado. E o Senhor habitará em Sião.”
A ideia de Deus reunir multidões e multidões, fazendo-as esperar pela sentença final do justo juiz que sente indignação todos os dias por causa do pecado (Sl 7.11); a realidade de um Deus que chegará em breve para julgar as nações que ele mesmo ajuntou para o juízo final, vingando-se, definitivamente, de todos quantos maltrataram seu povo, sua propriedade exclusiva, é questionada por muita gente. A razão é óbvia: Ora, se há um juiz sobre tudo e sobre todos, que julga segundo as suas leis e age de acordo com os seus próprios decretos, eu terei que me submeter a ele; por outro lado, se as regras são minhas, e de ninguém mais, eu me submeto apenas ao meus desejos e vontades, a tudo quanto eu julgar como certo; em todo caso, seja o tal juiz neutro.
Não é assim que as pessoas pensam sobre Deus?
— “Não! Deus não é de vingança! Vingança é coisa de homens! Deus é amor! Deus é perdão!”, dizem os “ingênuos” de coração.
No entanto, toda maldade que vemos e sofremos no mundo só fará sentido no final se houver um justo julgamento, vingança pela maldade, punição na mesma medida ou na mesma proporção das atrocidades dos pecados cometidos. Pergunte, por exemplo, aos pais que tiveram uma filha brutalmente abusada e, na sequência, cruelmente assassinada. O que eles desejariam? “Justiça!”, eles dirão. De fato, todo crime, todo pecado merece justiça — justiça na mesma proporção do tamanho da atrocidade. Um juiz que sentenciasse serviços sociais prestados à comunidade a um Adolf Hitler, por exemplo, seria tido como injusto. Não é verdade?
O único capaz de julgar com imparcialidade e vingar ou punir na medida ou na dosimetria correta é o SENHOR Deus todo poderoso, o Criador do céu e da terra, o justo juiz (Sl 7.8; 9.8). Deus é tão justo que, diferentemente da justiça comum, ele começa o julgamento pela sua própria casa. 1Pedro 4.17:
Pois chegou a hora do julgamento, que deve começar pela casa de Deus. E, se o julgamento começa conosco, que destino terrível aguarda aqueles que nunca obedeceram às boas-novas de Deus!
O livro de Joel é uma advertência contundente, uma demonstração vívida de que Deus julga e julgará, e se preciso for, começando pela sua própria casa, e a praga de gafanhotos que Deus enviou contra seu próprio povo estava lá para deixar bem claro essa realidade. Deus é imparcial, e não poupará nem mesmo o próprio povo.
Deus, sendo justo e imparcial, não deixará de também julgar as nações do mundo. Pois não pode haver restauração definitiva do povo de Deus sem um dia de acerto de contas com os inimigos que contribuíram tão generosamente para o sofrimento dessa gente. Assim, da mesma forma que as multidões de gafanhotos levaram julgamento ao povo santo, agora multidões de pessoas passariam pelo julgamento do Deus santo. Primeiro, os gafanhotos produziram uma escassez de colheitas, mas agora as nações formavam uma colheita de multidões. Mais uma vez o sol e a lua haviam escurecido, mas agora Judá não passaria mais por julgamento. Finalmente havia chegado a hora de as nações do mundo prestarem contas a Deus.
Há pelo menos duas lições neste ponto:
PRIMEIRA LIÇÃO: O povo de Deus não será poupado de julgamento. Há também rigor para aqueles que clamam pelo nome do SENHOR — ou seja, quando a terra sofre, eles poderão sofrer juntamente com os demais; quando a terra é ferida, eles também poderão ser feridos com todos os outros; nem sempre o povo de Deus será poupado do sofrimento e da disciplina do SENHOR. Hebreus 12.11-13:
11Nenhuma disciplina é agradável no momento em que é aplicada; ao contrário, é dolorosa. Mais tarde, porém, produz uma colheita de vida justa e de paz para os que assim são corrigidos. 12Portanto, revigorem suas mãos cansadas e seus joelhos enfraquecidos. 13Façam caminhos retos para seus pés a fim de que os mancos não caiam, mas sejam fortalecidos.
SEGUNDA LIÇÃO: O povo de Deus não poderá desistir ou desanimar quando, sob castigos ou disciplinas amorosas e temporais, sentirem tardar a intervenção do SENHOR, colocando um ponto final em tudo e trazendo justiça definitivamente. Há de se esperar até que o SENHOR complete seu plano de estabelecer salvação, para então trazer a justiça entre todos os povos, tribos, línguas e nações. Mateus 24.9-14:
9“Então vocês serão presos, perseguidos e mortos. Por minha causa, serão odiados em todo o mundo. 10Muitos se afastarão de mim, e trairão e odiarão uns aos outros. 11Falsos profetas surgirão em grande número e enganarão muitos. 12O pecado aumentará e o amor de muitos esfriará, 13mas quem se mantiver firme até o fim será salvo. 14As boas-novas a respeito do reino serão anunciadas em todo o mundo, para que todas as nações as ouçam; então, virá o fim.
Com o fim virá o dia do SENHOR — o fim será o dia do SENHOR, que é o tema do capítulo final de Joel: o julgamento das nações ocorrerá com a vinda do dia do Senhor (3.1-21). Há três realidades para as quais eu desejo chamar sua atenção a seguir: o cenário do dia do juízo do SENHOR (vs. 1-8); a convocação para o dia do juízo do SENHOR (vs. 9-17); as consequências do dia do juízo do SENHOR (vs. 18-21).
O CENÁRIO DO DIA DO JUÍZO DO SENHOR
1“No tempo em que essas coisas acontecerem, quando eu restaurar Judá e Jerusalém, 2reunirei todas as nações no vale de Josafá.
Chegou a hora de os inimigos do povo de Deus serem, finalmente, julgados. Serão reunidos de “todas as nações no vale de Josafá”. O próprio Deus os reunirá. Não é como o Salmo 2, no qual as nações se reúnem em oposição ao SENHOR e ao seu Ungido, pois aqui em Joel, as nações se reúnem em santa e soberana convocação.
O SENHOR Jesus falou claramente do dia em que Deus reunirá todas as nações para julgamento, quando “ele separará as pessoas como um pastor separa as ovelhas dos bodes” (Mt 25.32). Naquele dia, Deus enviará seus anjos como ceifadores, e eles reunirão as nações dos quatro cantos da terra.
Estamos familiarizados com essa dramática cena de julgamento, mas Joel fala mais especificamente de um vale — o “vale de Josafá” — como o lugar onde todas as nações do mundo serão reunidas. A frase significa literalmente “o vale onde o SENHOR julgará”. Nenhum lugar em particular na Palestina é conhecido como o “Vale de Josafá”, mas esse nome distinto pode estar se referindo a algum ponto específico da história passada de Israel. Por exemplo: 2Crônicas 20.26 narra sobre o “vale de Beracá”, dos dias de Josafá, quando Deus deu ao povo, naquele local, vitória sobre os moabitas e os amonitas.
Quando Deus levou julgamento sobre as nações nos dias de Josafá, aquele lugar se tornou como uma fonte de bênção para o povo de Deus. O efeito daquele julgamento sobre os moabitas e os amonitas proporcionou o retorno da alegria para o povo do SENHOR. Eles foram a Jerusalém com seus instrumentos musicais e se alegraram diante do SENHOR no templo (2Cr 20.28). Joel parece usar aquele incidente para atestar que a alegria foi perdida quando o SENHOR castigou seu próprio povo com a praga dos gafanhotos, mas depois que o julgamento recaiu sobre as nações opressoras, a plenitude da alegria retornou (3.18).
Por que as nações deveriam ser julgadas?
Observe, primeiro, a base para o julgamento de Deus sobre as nações, Joel 3.2-3:
2reunirei todas as nações no vale de Josafá. Ali eu as julgarei por terem maltratado Israel, minha propriedade, por terem espalhado meu povo entre as nações e repartido minha terra. 3Fizeram um sorteio para decidir quem de meu povo seria seu escravo. Deram meninos em troca de prostitutas e venderam meninas por vinho para se embriagar.
Maus-tratos à nação, escravidão, prostituição, além de corrupção, aliciamento e prostituição de menores. O que esses pecados, além de horríveis e si mesmos, revelam sobre o coração do pecador que será julgado por Deus? Um: Ódio pela verdade proclamada no evangelho anunciado pelo povo de Deus. Dois: Prazer acima da dignidade humana. Três: tornar o outro subserviente aos próprios desejos. Mas não para por aqui.
Observe, em segundo lugar, a consistência moral do julgamento do SENHOR sobre as nações. Veja como os versículos seguintes relatam que o julgamento e o castigo serão despejados na mesma proporção do tamanho do pecado, ou seja, da mesma forma que procuraram destruir a fé do povo de Deus, todos eles serão destruídos; da mesma forma que venderam os filhos de Judá como escravos, também experimentarão a dor de testemunhar o seus próprios filhos sendo vendidos como escravos; da mesma forma que os filhos apaixonados da terra de Israel foram vendidos para os povos do mar, o povo costeiro que ama o mar será vendido aos habitantes do deserto da Arábia. Embora incidentes históricos específicos possam ser citados sobre a escravização desses povos, essa descrição do profeta é melhor compreendida figurativamente, como um lembrete vívido da minuciosidade e da proporcionalidade dos justos julgamentos que o SENHOR executará sobre seus inimigos. Versículos 4-8:
4“O que vocês têm contra mim, Tiro, Sidom e cidades da Filístia? Estão tentando se vingar de mim? Se essa é sua intenção, tomem cuidado! Eu as atacarei sem demora e lhes darei o que merecem por suas ações. 5Roubaram minha prata, meu ouro e meus tesouros preciosos e os levaram para seus templos. 6Venderam aos gregos os habitantes de Judá e Jerusalém, para que os levassem para longe de sua terra natal. 7“Mas eu os trarei de volta de todos os lugares para onde os venderam, e darei a vocês o que merecem. 8Venderei seus filhos e filhas aos habitantes de Judá, e eles os venderão ao povo da Arábia, uma nação distante. Eu, o SENHOR, falei!”
Este, pois, é o cenário do julgamento de Deus. Haverá base e fundamentos morais para tudo o que o SENHOR fizer.
A CONVOCAÇÃO PARA O DIA DO JUÍZO DO SENHOR
A segunda seção deste capítulo final de Joel é uma convocação. Tratará da inevitabilidade do julgamento de Deus. A imagem é poética, mais do que tentativa de revelar fatos concretos. Joel pretende descrever a ironia dos poderes humanos quando insurgidos contra Deus e o tamanho da destruição que cairá sobre todos que se recusam a se render ao SENHOR. Portanto, não se prenda aos detalhes. Veja a imagem como um todo. Note, primeiro, as ironias: não têm sequer armas adequadas para lutar nem homens treinados o bastante para o combate contra Deus. Versos 9-12:
9Anunciem às nações de toda parte: “Preparem-se para a guerra! Convoquem seus melhores guerreiros; que todos os seus soldados avancem para a batalha. 10Forjem seus arados para fazer espadas e transformem suas podadeiras em lanças; treinem até os mais fracos para serem guerreiros. 11Venham depressa, nações de toda parte; reúnam-se no vale!”. E agora, ó SENHOR, convoca teus guerreiros! 12“Que as nações se mobilizem para a guerra e marchem para o vale de Josafá! Ali eu, o SENHOR, me sentarei para julgar todas elas.
A seguir, espante-se com a tragédia de se tentar viver em oposição ao SENHOR. Atenção! As imagens a seguir são apocalípticas. Versos 13-17:
13Lancem a foice, pois a colheita está madura. Venham e pisem as uvas, pois o tanque de prensar está cheio. Os tonéis transbordam com a perversidade das nações.” 14Multidões e multidões esperam no vale da decisão, onde o dia do SENHOR chegará em breve. 15O sol e a lua escurecerão, e as estrelas deixarão de brilhar. 16A voz do SENHOR rugirá desde Sião e trovejará desde Jerusalém; os céus e a terra tremerão. Mas o SENHOR será refúgio para seu povo, uma fortaleza para o povo de Israel. 17“Então vocês saberão que eu, o SENHOR, seu Deus, habito em Sião, meu santo monte. Jerusalém será santa, e exércitos estrangeiros não voltarão a conquistá-la.
A intenção por detrás desta convocação para o julgamento é aterrorizar o incrédulo. Ele terá que prestar contas por tudo o que fez de errado contra qualquer ser humano criado a imagem e semelhança de Deus, especialmente contra o SENHOR, o seu Ungido e o povo da herança do SENHOR. Mas para o crente em Cristo, o vale da decisão judicial de Deus foi transformado em uma porta de esperança. Quem confia no SENHOR para sua salvação já está absolvido de seus pecados e aguarda, com expectativa, sua entrada na glória.
Deus é conhecido por seu povo como o SENHOR, seu Deus, aquele que os salva. O fato de o SENHOR habitar mais uma vez em Sião explica por que finalmente se tornou inviolável. Os israelitas atribuíram erroneamente invencibilidade ao local em si, mas agora que a pessoa do SENHOR da Aliança estará lá para sempre, o povo pode ter certeza de que sua cidade nunca mais cairá para os estrangeiros. A cidade do SENHOR será inabalável e a última seção de Joel, que virá a seguir (vs. 18-21), falará sobre essa expectativa de glória.
AS CONSEQUÊNCIAS DO DIA DO JUÍZO DO SENHOR
Joel falará agora sobre os efeitos gloriosos do julgamento de Deus no que diz respeito ao seu povo santo. Note que assim como o céu límpido e claro brilha com frescor após uma noite de temporal, o mundo retorna à sua beleza imaculada após a conclusão dos julgamentos do SENHOR. O paraíso retorna. Só que agora o jardim frutífero estará fundido com as perfeições da cidade celestial, a nova Jerusalém que foi preparada pelo SENHOR como a morada eterna de seu povo. Versos 18-21:
18Naquele dia, vinho doce gotejará dos montes, e leite fluirá das colinas. Água encherá o leito dos riachos de Judá; uma fonte brotará do templo do SENHOR e regará o vale das Acácias. 19O Egito, porém, se transformará numa terra desolada, e Edom se tornará um deserto, pois atacaram o povo de Judá e mataram inocentes em sua terra. 20“Judá, porém, ficará cheia de gente para sempre, e Jerusalém permanecerá por todas as gerações. 21Perdoarei os crimes de meu povo, que ainda não perdoei [melhor (NAA): “Eu vingarei o sangue deles, que ainda não foi vingado.”; e eu, o SENHOR, habitarei em Sião.”
Percebeu?
Em seu grand finale, Joel descreveu a restauração luxuriante de uma terra que havia sido devastada por gafanhotos enviados pelo próprio Deus por causa do pecado. Devastação deu lugar a montanhas gotejando vinho doce, proporcionando muito mais prazer do que meras rações diárias para a sobrevivência. As colinas jorram leite, o que assume pastagens verdejantes para inúmeros rebanhos de gado pastarem a vontade. O SENHOR realmente restaurou os anos que os gafanhotos comeram! A terra, como uma representação completa do paraíso restaurado, ressurgiu das sombras do julgamento divino. Mais uma vez, é uma terra que mana leite e mel.
O salmista fala de um rio que alegra a cidade de Jerusalém (Sl 46.4). No entanto, quem já visitou a terra sabe que não há nenhum rio correndo próximo de Jerusalém. O salmista e o profeta usam as imagens do paraíso. Eles descrevem a restauração dos rios que regavam o jardim do Éden (Gn 2.9-14; Ap 22.1-2).
Para Joel, esse rio que dá vida flui de dentro do templo, a casa de Deus. Essa mesma imagem de um rio que flui do templo é desenvolvida na profecia de Ezequiel (Ez 47.1-12; cf. tratamento semelhante em Zc 14.8). O que estão dizendo os profetas é que o próprio SENHOR será a fonte suprema de todas as bênçãos que fluem por toda a eternidade para o seu povo, como é reforçado pelo fato de que a água da vida em Apocalipse flui do trono de Deus e do Cordeiro (Ap 22.1). Referência ao “vale das Acácias” (Jl 3.18) pode ser compreendido como alusão à madeira usada para a construção do tabernáculo como a morada de Deus (cf. Êx 25.10; 26.15; 27.1; 30.1).
Ademais, os inimigos do SENHOR serão devastados, mas o povo do SENHOR habitará com ele em segurança para sempre. O sangue do povo de Deus será vingado e o SENHOR habitará com seu povo em Sião por todo a eternidade (Jl 3.21).
No entanto, há quem veja no verso 21 não uma alusão à vingança de Deus pelo sangue de seu povo, mas o perdão definitivo pela culpa do próprio povo de Deus. Assim, com a culpa e a condenação definitivamente removidos, a consciência nunca mais incomodará o povo de Deus. Afinal, todas as poluições do pecado do povo de Deus foram agora purificadas, de modo que não há possibilidade de repetição dos castigos que algum dia lhe sobrevieram, como, por exemplo, a praga de gafanhotos. Assim como Cristo em seus sofrimentos pelos pecados de seu povo declarou: “Está consumado” (Jo 19.30), também, no final, o povo de Deus será libertado de julgamentos punitivos de uma vez por todas. Desde que os julgamentos do grande dia do SENHOR foram concluídos, não restará mais medo de julgamento. A partir de então, o SENHOR habitará em Sião.
CORAÇÃO ALIVIADO: O DIA DA SENTENÇA
Joel recebeu a mensagem do SENHOR na forma de um ciclo:
Joel 1.1-20. O dia do gafanhoto quebrou o coração do povo, era o julgamento começando pela casa de Deus, começando agora nesta vida. O arrependimento, porém, significou esperança de restauração para o povo de Deus.
Joel 2.1-17. O dia do SENHOR rasgou o coração do povo, era a advertência de Deus, chamando o povo ao arrependimento. O sofrimento nesta vida é trombeta de Deus soando o alarme, dizendo que ainda há tempo para a restauração.
Joel 2.18-32. O dia da restauração alegrou o coração do povo, pois eles virão que os anos que o gafanhoto comeu o SENHOR cuida de restaurar muito além do que pedimos ou pensamos; e não apenas materialmente, mas principalmente espiritualmente, com o derramamento do Espírito Santo sobre todo aquele que invocar o nome do SENHOR.
Joel 3.1-21. O dia da sentença aliviou o coração do povo, pois naquele dia os iníquos serão totalmente destruídos e os justos permanecerão justificados para sempre na presença do SENHOR. Esta mensagem apresenta grande esperança para o povo de Deus, além de enviar um aviso a todas as nações da terra, um aviso que deve ser atendido: arrependam-se enquanto há tempo.
Povo de Deus! O SENHOR julgará com justiça. A justiça dos homens poderá falhar e na maioria das vezes ela falha, mas o SENHOR virá para julgar com justiça — do tirano ao abusador; do criminoso ao ditador. Alivie seu coração, portanto, e espere pelo SENHOR. Refugie-se no SENHOR para a sua salvação e a esperança de seu coração.
A imagem de Deus habitando para sempre com seu povo me faz lembrar de uma história contada por James Montgomery Boice:
Anos atrás, na Califórnia, havia um fazendeiro que cultivava lavouras de grãos. As locomotivas daqueles dias queimavam carvão e madeira, e muitas vezes acontecia que, quando os trens passavam pelos trilhos que cortavam os campos das lavouras, faíscas das labaredas que propulsionavam os motores a vapor espirravam na plantação e incendiava todo o campo. O fazendeiro estava ciente disso. Então ele nunca tirava os olhos dos trens e dos campos.
Um dia, quando os grãos estavam maduros e prontos para a colheita, passou um trem. Pouco tempo depois, o fazendeiro viu que o pior havia acontecido. Ao longe, surgia uma nuvem de fumaça. O fazendeiro sabia que seu campo estava queimando e que, a menos que se movesse rapidamente, o fogo logo varreria os campos e destruiria toda a sua colheita. Ele correu na direção das labaredas. No meio do caminho, ele parou e iniciou outro incêndio que acabou produzindo um muro de fogo em sua área cultivada. O fogo de lá rugiu, avançou na direção do paredão de fogo de cá e com rapidez o alcançou, mas se consumiu e se apagou.
Metade da colheita agrícola foi destruída. O homem começou a caminhar cabisbaixo pelos campos queimados, perguntando-se por que aquilo tudo tinha acontecido com ele. Que propósito Deus poderia ter? Enquanto andava pelas cinzas, pensando nessas coisas, notou o corpo carbonizado de uma galinha que fora apanhada naquele inferno de chamas. O fazendeiro chutou-o e, quando o fez, cinco pintinhos saíram correndo debaixo da carcaça da mãe.
A Bíblia nos diz que a ira de Deus é fogo consumidor. No entanto, ela jamais toca aqueles que estão reunidos e encobertos debaixo das asas do Senhor Jesus Cristo (Mt 23.37). Há refúgio no SENHOR.
A ira completa de Deus é revelada em dois pontos da história: no julgamento final, descrito por Joel e por outros autores bíblicos, e na cruz de Cristo, onde ela já foi derramada como propiciação no sangue de Cristo para todo aquele que nele crer (Rm 3.25; Hb 2.17; 1Jo 2.1-2; Jo 3.16). Se você esperar até o julgamento final, você o enfrentará sozinho e será condenado pelo SENHOR. Se você se refugiar em Cristo agora, com arrependimento e fé, Cristo já terá enfrentado o seu julgamento por você. A Bíblia é clara ao dizer: “Agora, portanto, já não há nenhuma condenação para os que estão em Cristo Jesus.” (Rm 8.1). Que alívio isto traz ao coração do crente!
S.D.G. L.B.Peixoto
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