14.08.2016
CORAÇÃO DE PAI
Colossenses 4.12-13
12 Epafras, que é um de vocês e servo de Cristo Jesus, envia saudações. Ele está sempre batalhando por vocês em oração, para que, como pessoas maduras e plenamente convictas, continuem firmes em toda a vontade de Deus. 13 Dele dou testemunho de que se esforça muito por vocês e pelos que estão em Laodicéia e em Hierápolis.
A ridicularização do sexo masculino
No meado do ano passado, eu fiquei estarrecido com o lançamento de um comercial de televisão. A propaganda da Bombril, cujo tema é “Os produtos que evoluíram com as mulheres”, passou dos limites do bom senso.
Em versão bem-humorada, Ivete Sangalo, Mônica Iozzi e Dani Calabresa defendem que toda mulher nasceu para brilhar, afinal, elas arrasam no trabalho, em casa, faz sucesso o dia todo. “Toda mulher é uma diva!” Os homens? “Todo homem é diva(gar)!”, define Calabresa.
A busca pela igualdade dos sexos, através da diminuição e da ridicularização do homem, não vem de hoje. É uma questão antiga. Há tempos que o sexo masculino é quase sempre pintado como “banana”, “devagar”, “trapalhão”, “medroso”, “mole”, “indefeso”, “lascivo”, “irresponsável”, “inconveniente” etc.
Em março de 2014, por exemplo, a Nissin apresentou três comerciais de lançamento do novo Miojo Light. Os filmes eram “Piscina”, “Bebê” e “Namorado”. Todos eles mostravam como os homens, mesmo sem querer, às vezes acabam atrapalhando a vida das mulheres. Noutra propaganda da mesma campanha, diz-se que o problema está no Cromossomo Y.
Nós damos risada, mas é degradante.
Piscina | A propaganda mostra que a mulher está se aconchegando na cadeira de piscina para ler sua revista, quando o filho e, depois dele, o pai gritam e correm para dar uma “bomba” n’água, molhando todos ao redor.
Bebê | O filme mostra todo o trabalho de fazer seu bebê dormir sendo jogado no lixo quando o homem chega do futebol e grita: “Querida, cheguei!”. Pronto! O bebê acorda e começa a berrar de novo.
Namorado | O comercial mostra a vergonha da filha ao ver seu namorado conhecendo seu pai com o zíper da calça aberto; depois o da mãe e o da filha ao verem o zíper da calça do pai também aberto.
Todos os três comerciais terminam do mesmo jeito: “Sua vida não é light, mas o seu miojo é”. Não é light, por quê? Porque existem homens na vida delas!
Se os nossos filhos precisam de heróis e de modelos, como é que esse tipo de publicidade, que bem expressa o pensamento do nosso tempo, ajuda a formar uma consciência adequada da masculinidade, do papel do homem e da figura do pai? Sim, há problemas na masculinidade e na feminilidade de cada geração que precisam ser reconhecidos, confessados e mudados. No entanto, tais problemas jamais deverão ser expostos de forma jocosa, como forma de se definir o que realmente significa ser homem, ser masculino e ser pai, por exemplo.
Coração de pai
Pensando nisso, hoje que é Dia dos Pais, convido vocês para olharmos para o que chamaremos de coração de pai. Como é (ou como deve ser) um pai? Que tipo de pai os filhos precisam? Que tipo de homem fará diferença para a glória de Deus na sociedade de hoje e de amanhã? Epafras será o nosso modelo.
Por que Epafras?
Epafras era um pastor. O pastor fundador das igrejas em Colosso, Laodicéia e Hierápolis. Paulo, como vimos hoje cedo, falando de algumas características ou atitudes pessoais enquanto pastor, disse que todo pastor precisa ter um coração de pai. Assim ele se expressou:
1Ts 2.11-12 | 11 Pois vocês sabem que tratamos cada um como um pai trata seus filhos, 12 exortando, consolando e dando testemunho, para que vocês vivam de maneira digna de Deus, que os chamou para o seu Reino e glória.
Epafras, portanto, pode servir como modelo de coração de pai para essa geração tão confusa e tão carente de modelos masculinos.
Epafras ensina que coração de pai 1 supera a apatia, 2 sofre agonia e 3 sente alegria.
1. Coração de pai supera a apatia
Uma das coisas que mais se critica nas conversas do cotidiano, nas propagandas da televisão e do rádio, e até em sermões de pastores evangélicos, é a apatia do sexo masculino. Dizem, mais ou menos assim:
Homem não toma iniciativa, não resolve nada, não faz nada, é mole e preguiçoso;
Homem só pensa em si mesmo, em pescaria, em futebol, em churrasco, em cerveja e em mulher; só gosta de besteira, não leva nada a sério
Homem só pensa em ganhar dinheiro, vive para o trabalho, é ausente; “Eu sou o homem e a mulher dessa casa!”.
Infelizmente, em muitos casos, essa é a pura verdade. Mas, não deve ser assim. Olhando para Epafras, nós descobrimos que coração de pai, coração de homem, deve superar a apatia. Como nós percebemos isso?
Warren W. Wiersbe, em seu comentário da carta aos Colossenses, nos dá conta de que Epafras aceitou a Cristo através do ministério de Paulo em Éfeso (At 19.10). Depois ele voltou para casa com o intuito de compartilhar as boas-novas da salvação. Foi assim que, depois de ter organizado a igreja em sua cidade natal (Colosso), trabalhou para a organização das igrejas em Laodicéia e em Hierápolis (CI 4.13). Ele foi um missionário para o seu próprio povo.
Depois de estabelecidas, as igrejas sob seus cuidados, especialmente a de Colosso, passaram a sofrer com influências do judaísmo e do misticismo popular. A questão estava se tornando tão séria dentro da igreja que alguns praticavam longos jejuns com o fim de passarem por experiências místicas, através de visões de anjos que depois eram compartilhadas com orgulho entre os fiéis (Cl 2.16-19).
Alguém precisava agir e agir rapidamente. Algo precisava ser feito. Mas, quem? O que fazer? É quando Epafras resolve deixar o seu conforto, a sua segurança, a sua rotina e partir para se encontrar com Paulo na prisão em Roma. Ele precisava de orientações sobre o que estava acontecendo e como proceder. Ninguém melhor do que Paulo para ajudá-lo. Epafras, então, vai à Roma.
Lá em Roma, visitando Paulo, Epafras, aparentemente, caiu vítima da hostilidade dos romanos contra o apóstolo e foi lançado com ele na prisão. Tíquico é quem vai levar a carta de Roma aos Colossenses (Cl 4.7). Escrevendo a Filemom, Paulo testemunhou dizendo:
Fm 23 | Epafras, meu companheiro de prisão por causa de Cristo Jesus, envia-lhe saudações,
Foi na prisão que Paulo testemunhou que a cela deles ficava perfumada com o incenso suave da oração de Epafras pelos Colossenses. Observe, mais uma vez.
Cl 4.12-13 | 12 Epafras, que é um de vocês e servo de Cristo Jesus, envia saudações. Ele está sempre batalhando por vocês em oração, para que, como pessoas maduras e plenamente convictas, continuem firmes em toda a vontade de Deus. 13 Dele dou testemunho de que se esforça muito por vocês e pelos que estão em Laodicéia e em Hierápolis.
O coração de Epafras superou a apatia.
Superou a apatia quando, ao ser exposto ao evangelho da graça, arrependeu-se do pecado e abandonou a velha vida para viver, pela fé, a vida de Jesus Cristo, tornando-se servo dele (“servo de Jesus Cristo” – Cl 4.12).
Devemos superar a apatia de viver para nós mesmos, passando a viver para Jesus Cristo; negar a nós mesmos, tomar a cruz e seguir a Jesus.
Superou a apatia quando, ao voltar para casa, depois de exposto ao evangelho da graça em Éfeso, esforçou-se para ver a graça de Jesus atingir familiares, amigos, cidade e região (“se esforça muito por vocês” – Cl 4.13).
Devemos superar a apatia quando nos fechamos em nosso mundinho particular, no próprio conforto, dentro dos nossos limites de segurança.
Precisamos nos envolver com os outros, servindo, testemunhando e anunciando o amor de Jesus com palavras e posturas.
Superou a apatia quando, ao perceber que passava por problemas maiores do que ele conseguiria resolver sozinho, buscou a ajuda de Paulo em Roma, colocando em risco sua própria vida.
Devemos superar a apatia de não querermos nos envolver para resolver problemas e solucionar conflitos. Precisamos buscando formas sábias e concretas de ajudar, mesmo que custe caro.
Coração de pai supera a apatia. Ele é servo de Cristo.
2. Coração de pai sofre agonia
Uma das provas de que a Bíblia é sim um livro divino, não invenção de homens, é que ela não pinta um quadro onde tudo é perfeito, sem dores e sem problemas. A Palavra de Deus revela tudo com todos os detalhes, ela mostra as rugas e as verrugas, sem Photoshop.
Em nosso texto, por exemplo, Paulo expõe o coração de Epafras com todas as suas agonias; ele o faz revelando esse homem “agonizando-se” em oração.
Cl 4.12| Epafras (…) está sempre batalhando por vocês em oração, para que, como pessoas maduras e plenamente convictas, continuem firmes em toda a vontade de Deus.
O verbo “batalhar” (NVI) ou “esforçar” (ARA) vem de uma palavra grega que significa, literalmente, “agonizar” (gr. agōnizomai). Epafras sofria agonias, angústias e aflições. Por quê?
Quando ele olhava para os seus filhos na fé, ele notava três coisas que o faziam sofrer: a imaturidade, a insegurança e a instabilidade espirituais daquela gente. O que, então, ele faz? Ele ora por eles. Ele se agoniza, ele batalha, ele se esforça em oração para que
Cl 4.12 | como pessoas maduras e plenamente convictas, continuem firmes em toda a vontade de Deus.
Epafras nos ensina uma lição preciosa. Quando superarmos a apatia e nos envolvermos com amor na vida das pessoas, nós sofreremos agonias – a imaturidade, a insegurança e a instabilidade daqueles que mais amamos (principalmente de nossos filhos), em momentos, nos fará em agonia. O que fazer nessa ora? Orar. Foi assim que Epafras, a exemplo de Jesus no Getsêmani, agiu. Veja Jesus:
Lc 22.44 | E, estando em agonia, orava mais intensamente. E aconteceu que o seu suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra…
Agonias, angústias, frustrações, enfim, o sofrimento que os relacionamentos proporcionam, não podem nos tornar cada vez mais ensimesmados, insensíveis, raivosos, impacientes, indiferentes, vingativos, agindo a ferro e fogo, na força e no grito.
Sofrimentos angustiantes devem nos fazer orar. Epafras orou. Jesus também orou. Paulo ensina que deve ser assim… Devemos orar.
1Tm 2.8 | Quero, pois, que os homens orem em todo lugar, levantando mãos santas, sem ira e sem discussões.
Quando angustiado, quando agonizado, quando frustrado, quando sofrendo, em vez de agirmos intempestivamente, impacientemente, iradamente, nós devemos orar. Orar mais.
Coração de pai sofre agonia. Por isso ele ora e ora muito.
3. Coração de pai sente alegria
Nem tudo é agonia no coração de pai. Coração de pai também sente alegria. Note como, de forma sutil, mas real, Paulo expressa esse fato em Epafras.
Cl 4.12 | 12 Epafras, que é um de vocês e servo de Cristo Jesus, envia saudações.
“Saudações” vem do grego: “aspazomai”. A raiz grega é “spasmóz”, de onde vem nossa palavra “espasmo” (i.e. contração súbita, de duração variável, de musculatura, acompanhada de dor). “Aspazomai” também pode significar abraço forte, aperto forte de mão ou beijo. Na forma escrita, expressa alegria e êxtase pela vida de quem se está saudando.
Epafras sentia grande alegria pela vida dos Colossenses. Afinal, eram seus filhos na fé, seus discípulos amados. Tal alegria era demonstrada em palavras (“saudações”, “aspazomai”) e em posturas.
Cl 4.12-13 | 12 Epafras, que é um de vocês e servo de Cristo Jesus, envia saudações. Ele está sempre batalhando por vocês em oração, para que, como pessoas maduras e plenamente convictas, continuem firmes em toda a vontade de Deus. 13 Dele dou testemunho de que se esforça muito [trabalha muito duro] por vocês e pelos que estão em Laodicéia e em Hierápolis.
Vemos aqui que a alegria se traduz em palavras gentis, em orações fervorosas e em muito trabalho duro pelo outro.
É bonito ver aqui a alegria de Epafras ao dizer que aqueles seus filhos eram um com ele; melhor, ele era um com eles. Era prazeroso sentir-se um com aqueles irmãos. Isso o alegrava. Fazia-o orar e trabalhar duro por eles.
Coração de pai se alegra. Por isso ele trabalha duro pelos seus.
Coração de pai
Pois bem, em tempos quando a masculinidade é ridicularizada e a paternidade é renegada, precisamos de homens como Epafras, carecemos de uma masculinidade que tenha coração de pai. Isso nos leva a três aplicações finais.
Supere a apatia. Torne-se um servo de Jesus Cristo.
Sublime a agonia. Transforme seu sofrimento em escola de oração.
Sinta a alegria. Transmita seu regozijo em palavras e em trabalho pelo outro.
Imagine uma família com homens assim; filhos com pais assim; igrejas com membros assim; cidades e culturas com cidadãos assim! Tudo seria diferente.
É claro que mesmo assim todos nos ridicularizarão, mas se tiverem que nos ridicularizar, e sempre o farão, que seja por fazermos o bem, o que é certo (1Pe 3.13-17), nunca pelos nossos erros nem pela negligência – como hoje acontece.
Portanto…
Homens, cultivem coração de pai.
Meninas, queiram homens com coração de pai.
Servos de Cristo.
Homens de oração.
Alegres com palavras e trabalho.
Que Deus nos abençoe com coração de pai.
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