10.08.2016
Espiritualidade Olímpica
A CORRIDA DO OURO
1Coríntios 9.23-27
23 Faço tudo isso por causa do evangelho, para ser co-participante dele. 24 Vocês não sabem que de todos os que correm no estádio, apenas um ganha o prêmio? Corram de tal modo que alcancem o prêmio. 25 Todos os que competem nos jogos se submetem a um treinamento rigoroso, para obter uma coroa que logo perece; mas nós o fazemos para ganhar uma coroa que dura para sempre. 26 Sendo assim, não corro como quem corre sem alvo, e não luto como quem esmurra o ar. 27 Mas esmurro o meu corpo e faço dele meu escravo, para que, depois de ter pregado aos outros, eu mesmo não venha a ser reprovado.
Espiritualidade Olímpica
Na quarta-feira passada, nós iniciamos uma reflexão sobre Espiritualidade Olímpica. Naquela ocasião, aprendemos que, na corrida ou na luta da vida, o que está à prova é infinitamente mais valioso do que bronze, prata ou ouro; é a nossa salvação eterna. Portanto, o que se espera de nós, os crentes, é nada menos do que a disciplina, a concentração, a dedicação, a paixão, a vibração, o comprometimento, enfim, a perseverança apaixonada dos atletas, em busca do pódio olímpico.
No domingo passado, no culto da noite, observamos que a vida é um campo de provas, onde, na corrida para alcançar o prêmio, verifica-se se a fé que professamos é viva ou morta; testa-se e comprova-se a fonte de nossa fé e esperança – se é a graça de Deus em Jesus Cristo ou o quê.
Como nós devemos correr
Hoje, encerrando a série Espiritualidade Olímpica, olharemos para o texto de Paulo aos coríntios, buscando aprender como deve ser a corrida do ouro de um cristão cuja espiritualidade é olímpica.
Paulo é categórico ao revelar que a forma de se correr para ganhar é única.
1Co 9.24 | Vocês não sabem que de todos os que correm no estádio, apenas um ganha o prêmio? Corram de tal modo que alcancem o prêmio.
Um parêntese: o apóstolo não está dizendo que só haverá um crente vencedor. Ele está afirmando que só vencerá a corrida aqueles que correm como campeões. Aliás, Hebreus nos ensina que na corrida da fé uma das regras fundamentais é que ajudemos uns aos outros a terminar a corrida.
Hb 3.12-14 | 12 Cuidado, irmãos, para que nenhum de vocês tenha coração perverso e incrédulo, que se afaste do Deus vivo. 13 Ao contrário, encorajem-se uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama “hoje”, de modo que nenhum de vocês seja endurecido pelo engano do pecado, 14 pois passamos a ser participantes de Cristo, desde que, de fato, nos apeguemos até o fim à confiança que tivemos no princípio.
* Note: 1 Não podemos parar de correr, pois correndo é que damos provas de que estamos na prova para o prêmio; 2 precisamos uns dos outros na corrida da fé.
Pois bem, completar a corrida da fé é um projeto comunitário. Não dá para se viver sem a igreja, sem um relacionamento discipulador, sem um pequeno grupo de crentes que nos estimule e nos encoraje de modo a não sermos endurecidos pelo engano do pecado.
Apenas quem corre como um campeão é que levará o prêmio. Campeões não correm sozinhos, eles têm a quem prestar contas, com quem aprender, revezar e compartilhar as cargas, pois o que se requer de campeões é nada menos do que zelo, fervor e serviço, conforme está dito por Paulo em Romanos 12.11.
Agora, de forma bem prática, o que Paulo nos ensina sobre como correr para ganhar o prêmio? Vejamos.
1. Corra com todas as suas forças
1Co 9.24 | […] Corram de tal modo que alcancem o prêmio. [Corra com força.]
Quando Jonathan Edwards era um estudante na Universidade de Yale, quase 300 anos atrás, ele escreveu 70 resoluções para estimulá-lo a correr a prova da fé. Uma delas revela claramente o espírito de Paulo em 1Co 9.24. Edwards disse assim: “Resolvo viver com todas as minhas forças enquanto vida eu tiver”.
“Com todas as minhas forças”! Tal expressão é o resultado prático do grande mandamento de Jesus, que diz: “Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força” (Mc 12.30). Salomão havia entendido este princípio, quando ele disse assim: “O que as suas mãos tiverem que fazer, que o façam com toda a sua força, […]” (Ec 9.10).
O Novo Testamento está repleto deste princípio. Veja, por exemplo, os que seguem.
Lc 13.24 | Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, pois eu vos digo que muitos procurarão entrar e não poderão.
Jo 6.27 | Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna, a qual o Filho do Homem vos dará; porque Deus, o Pai, o confirmou […]
1Co 15.58 | Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão.
Ef 5.15-16 | Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, e sim como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus.
Gl 6.9 | E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos.
Tt 2.14 | O qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniquidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras.
Hb 6.11-12 | 11 Desejamos, porém, continue cada um de vós mostrando, até ao fim, a mesma diligência para a plena certeza da esperança; 12 para que não vos torneis indolentes (apáticos), mas imitadores daqueles que, pela fé e pela longanimidade, herdam as promessas.
1Pe 1.22 | […] amai-vos, de coração, uns aos outros ardentemente,
Esforce-se; trabalhe; seja firme, inabalável e abundante; seja sábio, redima o tempo; não se canse; seja zeloso; enfim, corra como correm os campeões. Quando sentir que lhe faltam as forças, ouça o conselho de Pedro.
1Pe 4.11 | Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus; se alguém serve, faça-o na força que Deus supre, para que, em todas as coisas, seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém!
Corra com todas as suas forças. Na força que Deus supre.
2. Corra com domínio próprio
1Co 9.25 | Todos os que *competem nos jogos se submetem a um **treinamento rigoroso, […]
* Competir vem do grego agonizar.
** Treinamento rigoroso vem da ideia grega de domínio próprio, continência, moderação ou comedimento.
Domínio próprio é fruto do Espírito (Gl 5.22-23), não é algo que fazemos com as nossas próprias forças. Geralmente, nós experimentamos o domínio próprio em termos de nossas próprias forças, mas Paulo nos ensina que “é Deus quem opera em nós o querer e o realizar, segundo a sua boa vontade” (Fl 2.13). Então, como acontece o domínio próprio como fruto do Espírito?
John Piper diz que
o poder espiritual do domínio próprio acontece quando nós cremos na promessa da Palavra de Deus, que diz que a nossa alegria surge da autonegação, quando cremos que o Espírito de Deus nos dará forças, quando procuramos a glória de Deus como resultado de nossa vitória.
Paulo está dizendo aos coríntios que nós ganharemos o prêmio se tivermos domínio próprio sobre aquelas motivações, impulsos e atitudes que tendem a nos roubar da vida de oração, da fome da Palavra de Deus, da paixão pela santidade, da comunhão, da fé, da esperança e da prática constante do amor.
O atleta campeão procura eliminar tudo aquilo que o rouba de seu desempenho máximo. É por isso que o crente sempre haverá de se perguntar: O que poderá acender o meu zelo e ardor por Deus? O que poderá intensificar a minha vida de oração e de leitura da Palavra de Deus? O que haverá de me motivar a amar como Cristo ama? O que haverá de me estimular na busca pela santidade? O que poderá aumentar a minha fé, esperança e amor? Aqui, o crente tomará nota dos impulsos, das motivações, das ações e dos hábitos que o impedem ou o inibem de tais práticas e terá controle sobre elas, até conseguir eliminá-las por completo de suas vidas.
Corra com domínio próprio. Na dependência do Espírito Santo.
3. Corra com consciência da severidade da prova
Note como Paulo expõe a consciência que ele tinha da severidade da prova.
1Co 9.26-27 | 26 Sendo assim, não corro como quem corre sem alvo, e não luto como quem esmurra o ar. 27 Mas esmurro o meu corpo e faço dele meu escravo, para que, depois de ter pregado aos outros, eu mesmo não venha a ser reprovado.
O corpo não é mau em si mesmo. Deus o criou e ele vai ressuscitá-lo dentre os mortos, glorificando-o para sempre. No entanto, o corpo é a base de operações para o pecado. O pecado usa o corpo para dar origem a muitos impulsos que são destrutivos para a vida espiritual.
Paulo diz que, para exercermos o domínio próprio, muitas vezes precisaremos agir como um boxeador, esmurrando o corpo, escravizando o corpo, colocando-o como servo e não como senhor nosso. Afinal, tantas vezes o corpo nos controla com seus impulsos, desejos, preguiça ou letargia.
Paulo sabia e também ensinava que “o corpo é para o Senhor” (1Co 6.13). Devemos, portanto, fazê-lo servir para a glória do Senhor. Precisamos ser severos com ele, da forma como Jesus colocou o assunto no Sermão do Monte.
Mt 5.29-30 | 29 Se o seu olho direito o fizer pecar, arranque-o e lance-o fora. É melhor perder uma parte do seu corpo do que ser todo ele lançado no inferno. 30 E se a sua mão direita o fizer pecar, corte-a e lance-a fora. É melhor perder uma parte do seu corpo do que ir todo ele para o inferno.
Tanto Jesus como Paulo estão dizendo a mesma coisa, ou seja: há impulsos em nossas vidas que precisam ser mortificados. A maneira de mortificá-los é proferindo golpes potentes, como no boxe; ou agindo de forma radical, como na amputação de um membro. Ou seja: 1 pare de nutrir a carne (arrance seu olho); 2 reaja radicalmente a cada sugestão do pecado (ampute sua mão; esmurre o seu corpo); 3 alimente-se do Espírito, pois é só pelo Espírito que conseguiremos mortificar os feitos do corpo – Rm 8.13 (faça do corpo seu escravo).
Em resumo: diga não ao pecado, transforme seus hábitos e alimente sua alma de forma saudável. Corra com consciência da severidade da prova.
Espiritualidade olímpica
Quantos já ouviram falar de Gabrielle Andersen?
Ela é uma atleta suíça. Hoje, uma senhora de 71 anos que mora com o marido nos Estados Unidos. Mas um dia ela foi protagonista de uma das mais famosas cenas dos Jogos Olímpicos modernos.
Em 1984, Gabrielle Andersen correu a maratona das Olimpíadas de Los Angeles. (A maratona é uma corrida de 42 km de distância.) Caminhando para o final da prova, a atleta, que tinha 39 anos, chegou cambaleando, fraca e desidratada, e completou a prova para delírio da plateia, que no Coliseu de Los Angeles viu em seu esforço uma prova irrefutável do espírito olímpico. Ouça como ela narrou aquela experiência inesquecível.
A prova começou próximo à costa, então, o calor não estava tão forte. Mas a partir do momento em que começamos a correr mais pra dentro da cidade e as horas se passaram, o tempo foi ficando mais quente. O pior foi correr na autoestrada porque não havia sombra. Faltando entre cinco a oito quilômetros para a linha de chegada, eu não estava me sentindo tão mal ainda, só sentia um pouco de calor e sede.
Pelas regras da maratona, naquela época, só havia quatro postos de abastecimento de água. E eu perdi o último deles, acho que foi Km 32, e não havia outro depois. Lembro que já chegando perto do fim, há uns dois quilômetros da linha de chegada, eu comecei a precisar de água.
Quando eu deixei a rua e entrei no túnel que levava ao interior do estádio, imediatamente senti o frescor da sombra. E apesar de já estar bem mal eu pensei: “Ok. A linha de chegada não é tão longe”. Mas quando eu entrei na pista, o sol quente voltou e ele cozinhava o estádio. O maior problema era a dor nas pernas, estava com muitas cãibras por causa da desidratação e não conseguia caminhar em linha reta, ficar ereta, nem ao menos falar eu conseguia. Mas eu também sabia que se parasse e sentasse não teria forças pra voltar e continuar.
O médico ao lado da pista me perguntou se eu estava bem e se eu ainda queria continuar. Só balancei a cabeça indicando que sim. Pensava: “Essa é a minha única olimpíada, tenho trinta e nove anos, não terei outra oportunidade como essa”. Já perto do fim o barulho no estádio era inacreditável com as pessoas torcendo, aplaudindo. Era um barulho muito alto e aquilo me animou bastante. Quando eu vi a linha de chegada eu pensei: “Oh, acabou!”
Esse é o espírito de um atleta olímpico e deve ser também o do cristão. Ele, mesmo cambaleando, doendo e quase parando, sempre deverá se lembrar:
“Essa é a minha única vida, tenho poucos anos nesta terra, não terei outra oportunidade como essa”.
Com essa mentalidade ele deve prosseguir, buscando graça, força e poder no Espírito de Deus, olhando sempre para a linha de chegada. Quando, finalmente, aquele dia chegar e o Senhor em seus braços nos receber, ouviremos dele:
“Venham, benditos de meu Pai! Recebam como herança o Reino que lhes foi preparado desde a criação do mundo” (Mt 25.34)
Então, nós diremos:
“Oh, acabou! Graças a Deus, acabou!”
Portanto, não pare,
O autor de Hebreus nos diz assim:
Hb 12.1-4 | 1 Portanto, também nós, uma vez que estamos rodeados por tão grande nuvem de testemunhas, livremo-nos de tudo o que nos atrapalha e do pecado que nos envolve, e corramos com perseverança a corrida que nos é proposta, 2 tendo os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé. Ele, pela alegria que lhe fora proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha, e assentou-se à direita do trono de Deus. 3 Pensem bem naquele que suportou tal oposição dos pecadores contra si mesmo, para que vocês não se cansem nem desanimem. 4 Na luta contra o pecado, vocês ainda não resistiram até o ponto de derramar o próprio sangue.
Corra para alcançar o prêmio.
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