23.04.2023
Gênesis 1.26-31 26Então Deus disse: “Façamos o ser humano à nossa imagem; ele será semelhante a nós. Dominará sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos, sobre todos os animais selvagens da terra e sobre os animais que rastejam pelo chão”. 27Assim, Deus criou os seres humanos à sua própria imagem, à imagem de Deus os criou; homem e mulher os criou. 28Então Deus os abençoou e disse: “Sejam férteis e multipliquem-se. Encham e governem a terra. Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que rastejam pelo chão”. 29Então Deus disse: “Vejam! Eu lhes dou todas as plantas com sementes em toda a terra e todas as árvores frutíferas, para que lhes sirvam de alimento. 30E dou todas as plantas verdes como alimento a todos os seres vivos: aos animais selvagens, às aves do céu e aos animais que rastejam pelo chão”. E assim aconteceu. 31Então Deus olhou para tudo que havia feito e viu que era muito bom. A noite passou e veio a manhã, encerrando o sexto dia.
Diferentemente das visões de mundo ou das ideologias seculares, a cosmovisão judaico-cristã explica a origem do homem pela doutrina da criação. Conforme o relato bíblico, nos dois primeiros capítulos do livro de Gênesis, a raça humana inteira descendeu de um único casal, criado imediatamente (sem processo evolutivo) por Deus mesmo (o autor da vida); e o ser humano criado por Deus é a coroa da criação e vice-regente de Deus sobre a criação (Gn 1.26-31; 2.7-23).
O que na Bíblia se diz a respeito da origem do homem?
Quais são as implicações dessa visão de mundo ou cosmovisão judaico-cristã?
Eis o texto [atenção aos destaques]:
Gênesis 1.26-27 26Então Deus disse: “Façamos o ser humano à nossa imagem; ele será semelhante a nós. Dominará sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos, sobre todos os animais selvagens da terra e sobre os animais que rastejam pelo chão”. 27Assim, Deus criou os seres humanos à sua própria imagem, à imagem de Deus os criou; homem e mulher os criou.
O FIM PARA O QUAL DEUS CRIOU O HOMEM. Interessante que quando Paulo vai usar este texto para corrigir um problema nos cultos da igreja em Corinto, o apóstolo o emprega nestes termos, dizendo que o homem “foi criado à imagem de Deus e reflete [não a semelhança, mas] a glória de Deus” (1Co 11.7). — O que se pode deduzir? — O homem, o ser humano, foi criado para refletir a glória de Deus, seu Criador; a semelhança do homem com Deus diz respeito a que ele, o ser humano, criado à imagem de Deus, reflete a glória de Deus. Não apenas reflete, mas o ser humano foi criado para a glória de Deus: Isaías 43.7 “Tragam todos que me reconhecem como seu Deus, pois eu os criei para minha glória; fui eu quem os formou’”.
A DIGNIDADE DA ESPÉCIE HUMANA. Moisés escreveu que Deus mesmo fez o homem; Deus o criou à sua própria imagem, conforme a sua semelhança ou glória. Veja que imagem e semelhança são sinônimos: no versículo 26 (narrativa histórica) aparece imagem e semelhança; e no versículo 27 (paralelismo poético) aparece imagem e imagem, não aparece imagem e semelhança. Portanto, são sinônimos: imagem e semelhança. Pois bem, Deus mesmo cria e faz o homem. Deus o cria do pó da terra (Gn 2.7); Deus cria o homem de material que já havia sido previamente criado por Deus mesmo. Daí que há sim alguma semelhança orgânica, inorgânica e até biológica e anatômica entre homens e animais. Mas é somente isto: semelhança. O homem, de fato, é de outro “gênero”; o homem é do gênero divino (em contraste com gênero animal); o homem foi criado à imagem e semelhança, refletindo a glória do Criador — Veja, até este ponto da narrativa de Gênesis o que se leu foi:
Gênesis 1.11 [Dia 3] Então Deus disse: “Produza a terra vegetação: toda espécie de plantas com sementes e árvores que dão frutos com sementes. As sementes produzirão plantas e árvores, cada uma conforme a sua espécie”.
Gênesis 1.21 [Dia 5] Deus criou os grandes animais marinhos e todos os seres vivos que se movem em grande número pelas águas, bem como uma grande variedade de aves, cada um conforme a sua espécie.
Gênesis 1.24-25 [Dia 6] 24Então Deus disse: “Produza a terra grande variedade de animais, cada um conforme a sua espécie: animais domésticos, animais que rastejam pelo chão e animais selvagens”. E assim aconteceu. 25Deus criou grande variedade de animais selvagens, animais domésticos e animais que rastejam pelo chão, cada um conforme a sua espécie. E Deus viu que isso era bom.
A partir deste ponto – digamos: da metade do sexto dia em diante – o que se lê é:
Gênesis 1.26-27 26Então Deus disse: “Façamos o ser humano à nossa imagem; ele será semelhante a nós [e não conforme alguma espécie vegetal ou mesmo animal]. Dominará sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos, sobre todos os animais selvagens da terra e sobre os animais que rastejam pelo chão”. 27Assim, Deus criou os seres humanos à sua própria imagem, à imagem de Deus os criou; homem e mulher os criou.
Ou seja: o homem não é da espécie vegetal nem da espécie animal; o homem, por assim dizer, — cuidado com as minhas palavras, não deturpem minhas palavras, mas — o homem é do “gênero” de Deus (ele não é do gênero animal, tampouco do vegetal). O homem não é uma espécie de animal (apesar de semelhanças biológicas), não é animal racional (apesar de ser sim racional). O homem é da espécie humana (gênero humano, gênero criado à imagem, conforme a semelhança ou a glória de Deus.
VEJA BEM: o homem não é Deus, mas foi feito à imagem e conforme a semelhança de Deus. O ser humano, portanto, é de espécie única na criação; ele é o ápice da criação; é o reflexo mais próximo da indescritível e absolutamente distinta glória de Deus – a ponto de se ler assim sobre o Filho eterno de Deus na forma humana:
João 1.14 Assim, a Palavra se tornou ser humano, carne e osso, e habitou entre nós. Ele era cheio de graça e verdade. E vimos sua glória, a glória do Filho único do Pai.
Hebreus 1.3-4 3O Filho irradia a glória de Deus, expressa de forma exata o que Deus é e, com sua palavra poderosa, sustenta todas as coisas. Depois de nos purificar de nossos pecados, sentou-se no lugar de honra à direita do Deus majestoso no céu, 4o que revela que o Filho é muito superior aos anjos, e o nome que ele herdou, superior ao nome deles.
Colossenses 1.15 O Filho é a imagem do Deus invisível e é supremo sobre toda a criação.
Deus criou o homem para a sua glória (o seu prazer) e para refletir a sua glória (o seu plano glorioso e a projeção de sua glória). Deus criou o homem à sua imagem, conforme a sua semelhança. Ou seja: [1.] aprendemos aqui do fim para o qual Deus criou o homem: a glória de Deus; [2.] aprendemos da forma como o homem deve viver: refletindo a glória de Deus; [3.] aprendemos da dignidade do ser humano: feito e criado (pelas próprias mãos do Criador) à imagem e conforme a semelhança ou a glória de Deus. O homem, portanto, não é do tipo animal, é de tipo único: criado à imagem, conforme a semelhança de Deus. Mas tem mais.
A HETEROSSEXUALIDADE DO SER HUMANO. Agora o óbvio, mas não tão óbvio assim para muita gente neste tempo: Gênesis 1.27 — “Assim, Deus criou os seres humanos à sua própria imagem, à imagem de Deus os criou; homem [cromossomo XY] e mulher [cromossomo XX] os criou.” Ora, de outro modo, como se veria acontecer o que vem a seguir: Gênesis 1.28 — “Então Deus os abençoou e disse: ‘Sejam férteis e multipliquem-se’.” Macho e fêmea. Masculino e feminino. Homem e mulher. XY e XX. Esse é o desenho original; e sempre que se (trans)forma este desenho, deforma-se o reflexo da glória de Deus; destrói-se a singularidade de cada gênero – o que física, biológica, hormonal e mentalmente ou espiritualmente falando é uma agressão a si próprio, posto que se ataca a própria essência do ser que foi criado à imagem e semelhança do seu Criador.
A CAPACIDADE DO SER HUMANO. Moisés repete duas vezes as mesmas palavras de Deus. Primeiro, em Gênesis 1.26 — Dominará [o homem] sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos, sobre todos os animais selvagens da terra e sobre os animais que rastejam pelo chão”. Depois, em Gênesis 1.28 — “Então Deus os abençoou e disse: ‘Sejam férteis e multipliquem-se. Encham [homem e mulher em procriação] e governem [juntos, homem e mulher] a terra. Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que rastejam pelo chão”.
NOTA: governar e dominar não são sinônimos de explorar para destruir; somos colocados sobre a criação não como seus donos (o dono é Deus); somos colocados sobre a criação como seus mordomos (mordomos de Deus na criação).
DE VOLTA AO PONTO: O que se aprende da capacidade do ser humano? Ora, gente, nada deste mandato cultural de Deus ao homem (vs. 26 e 28) seria possível de ser cumprido se não houvesse, primeiro, a bênção de Deus sobre ele (Deus os abençoou: v. 28); e, intrinsecamente no homem e na mulher, refletindo a imagem de Deus, também não houvesse: cognição e raciocino para se apreender, processar e aplicar a revelação divida (v. 28): sejam… multipliquem-se… encham… governem… dominem.
Além disso, seria impossível se cumprir o mandato cultural divino se não houvesse no homem atributos conferidos de Deus a ele; por exemplo: bondade, moralidade, justiça, inteligência, autoridade, dignidade e superioridade em relação ao mundo vegetal e animal; ainda: capacidade de governo e senso de estética e de organização; domínio e gestão; e sabedoria para se aplicar a palavra de Deus, no poder do Espírito, tal como se viu Deus mesmo aplicar a palavra diariamente na Criação. É nesse nível mesmo a capacidade do homem. Veja:
Gênesis 2.19-20 19O SENHOR Deus formou da terra todos os animais selvagens e todas as aves do céu. Trouxe-os ao homem para ver como os chamaria, e o homem escolheu um nome para cada um deles. 20Deu nome a todos os animais domésticos, a todas as aves do céu e a todos os animais selvagens.
A DEPENDÊNCIA DO SER HUMANO. Capaz, porém dependente. Com efeito, após o mandato cultural (1.26 e 28), Moisés emendou, falando da total dependência que o homem tem do seu Criador – dependência de revelação e de provisão:
Gênesis 1.29-31 29Então Deus disse: “Vejam! Eu lhes dou todas as plantas com sementes em toda a terra e todas as árvores frutíferas, para que lhes sirvam de alimento. 30E dou todas as plantas verdes como alimento a todos os seres vivos: aos animais selvagens, às aves do céu e aos animais que rastejam pelo chão”. E assim aconteceu. 31Então Deus olhou para tudo que havia feito e viu que era muito bom. A noite passou e veio a manhã, encerrando o sexto dia.
Percebeu?
O homem depende de Deus para a sua provisão mais básica: subsistência. Precisa do Criador para ter o que comer; e precisa de Deus para o revelar o que é bom ou mau; próprio ou impróprio; certo ou errado; pecaminoso ou piedoso… o ser humano depende de Deus para a alimentação e a revelação, desde o início de tudo, mesmo antes do pecado entrar no mundo. De fato, expandindo o sexto dia, Moisés nos relatou a dependência que o homem tem de seu Deus e Criador: primeiro, material (física: produtos da terra) e também a dependência revelacional (espiritual, moral: palavras do céu):
Gênesis 2.4-9 4[…] Quando o SENHOR Deus criou a terra e os céus, 5 nenhuma planta silvestre nem grãos haviam brotado na terra, pois o SENHOR Deus ainda não tinha mandado chuva para regar a terra, e não havia quem a cultivasse. 6Mas do solo brotava água, que regava toda a terra. 7Então o SENHOR Deus formou o homem do pó da terra. Soprou o fôlego da vida em suas narinas, e o homem se tornou ser vivo. 8O SENHOR Deus plantou um jardim no Éden, para os lados do leste, e ali colocou o homem que havia criado. 9O SENHOR Deus fez brotar do solo árvores de todas as espécies, árvores lindas que produziam frutos deliciosos. No meio do jardim, colocou a árvore da vida e a árvore do conhecimento do bem e do mal.
Moisés prossegue e acrescenta alguns detalhes sobre o Éden – sua geografia, fertilidade e esplendor – e emenda:
Gênesis 2.15-17 15O SENHOR Deus colocou o homem no jardim do Éden para cultivá-lo e tomar conta dele, 16mas o SENHOR Deus lhe ordenou: “Coma à vontade dos frutos de todas as árvores do jardim, 17exceto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Se você comer desse fruto, com certeza morrerá”.
O homem é dependente do Criador, física e revelacionalmente; o homem depende de Deus, o Criador para obter o pão de cada dia e a palavra que vem do céu. E o homem só encontra prazer no viver quando se relaciona pessoalmente com o Criador: antes da queda, Adão e Eva se relacionavam com Deus, o SENHOR, que caminhava diariamente com eles quando no jardim soprava a brisa do entardecer (Gn 3.8).
A ESPIRITUALIDADE DO SER HUMANO. O homem foi sim criado do pó da terra, mas há algo mais no ser humano, algo que o torna absolutamente distinto de todas as outras criaturas. — Gênesis 2.7 “Então o SENHOR Deus formou o homem do pó da terra. Soprou o fôlego da vida em suas narinas, e o homem se tornou ser vivo.” — Deus criou o homem, as próprias mãos de Deus deu forma ao material, ao corpo do ser humano em todas as suas partes e órgãos e tudo; e Deus mesmo soprou o imaterial no ser humano: vida física, mental e espiritual, tornando-o à sua imagem e semelhante à sua glória. O homem é um ser espiritual e, portanto, uma vez criado, uma vez gerado no ventre materno, ele passa a ser eterno.
Pois bem, este é o ser humano: maravilhosamente criado à imagem de Deus, semelhante à glória de seu Deus Criador. Criado para refletir a glória de Deus. Digno, acima de todas as espécies criadas, acima até dos anjos. Criados heterossexuais, homem e mulher, e deste modo com a capacidade de multiplicar e encher a terra, governá-la e dominá-la, aplicando diariamente, pelo poder do Espírito, a palavra de Deus criadora. O ser humano não é apenas um ser natural (do pó da terra). Ele é também um ser espiritual (tem nele o sopro de vida, alma ou espírito). Uma vez criado, o ser humano é eterno.
O SER HUMANO FOI CRIADO BOM, muito bom; foi criado perfeito, compartilhando qualidades (ou atributos) da parte de Deus, aqueles atributos e qualidade que são comunicáveis ao homem. São vinte os atributos que Wayne Grudem lista em sua Teologia Sistemática. Atributo do ser: espiritualidade. Atributos mentais: conhecimento (ou onisciência), sabedoria e veracidade (ou fidelidade). Atributos morais: bondade, amor misericórdia, santidade, paz (ou ordem), retidão (ou justiça), ciúme/zelo, ira. Atributos de propósitos: vontade, liberdade, onipotência (ou poder e soberania). Atributos de síntese: perfeição, bem-aventurança, beleza e glória. Esses são os atributos comunicáveis de Deus, aquelas qualidades dele próprio e com as quais ele nos criou.
MAS O HOMEM CAIU NO PECADO. E essa imagem de Deus no ser humano foi trincada e até despedaçada em muitos aspectos. Não desapareceu por completo, mas desfigurou em grande parte. Daí todos os males e angústias que sofremos: no corpo, na alma, em casa e na sociedade. A solução não é revolução, desconstrução ou (trans)formação. A solução é regeneração e conversão; salvação e santificação. A solução é a restauração da imagem e semelhança da glória de Deus no homem; a solução é a restauração ao estado original do homem – e isto envolve alma e corpo, reconciliação com Deus por meio de Cristo e santificação progressiva – tudo pela graça e por meio da fé.
Efésios 4.20-24 20Mas não foi isso que vocês aprenderam de Cristo. 21Uma vez que ouviram falar de Jesus e foram ensinados sobre a verdade que vem dele, 22livrem-se de sua antiga natureza e de seu velho modo de viver, corrompido pelos desejos impuros e pelo engano. 23Deixem que o Espírito renove seus pensamentos e atitudes 24e revistam-se de sua nova natureza, criada para ser verdadeiramente justa e santa como Deus.
Colossenses 3.10 Revistam-se da nova natureza e sejam renovados à medida que aprendem a conhecer seu Criador e se tornam semelhantes a ele.
Não é de (trans)formação que você precisa. Você necessita de regeneração e restauração; salvação e santificação. Você precisa de Jesus Cristo, e em Cristo voltar para o plano original de Deus: 1Pedro 3.18 — “Pois Cristo também sofreu por nossos pecados, de uma vez por todas. Embora nunca tenha pecado, morreu pelos pecadores a fim de conduzi-los a Deus.”
Uma vez em Cristo – convertido, justificado —, somente pela graça e por meio da fé somente, você começa o processo de santificação, a verdadeira transformação, 2Coríntios 3.18 “Portanto, todos nós, dos quais o véu foi removido, podemos ver e refletir a glória do Senhor, e o Senhor, que é o Espírito, nos transforma gradativamente à sua imagem gloriosa, deixando-nos cada vez mais parecidos com ele.” E nesse processo você vai restaurando as qualidade originais da criatura que havia se deformado no pecado:
[1.] Começa a viver para a glória de Deus e não a sua própria.
[2.] Passa a olhar com dignidade e santidade para o próximo, também criado à imagem e conforme a semelhança gloriosa do Criador.
[3.] Volta aos padrões da sexualidade antes da queda: homem e mulher; prazer sexual na aliança do casamento.
[4.] Apropria-se de sua capacidade humana – ser humano criado à imagem e semelhança gloriosa de Deus – para cumprir o mandato cultural e, sobretudo, a grande comissão de Jesus.
[5.] Desfruta – e desfruta plenamente! – de sua dependência de Deus, e se regozija no fato de que não é autossuficiente: come do que vem da mão de Deus e vive pelo que sai da boca de Deus; e diariamente anda com Deus; com os olhos voltados para o grande dia, quando ele, Cristo, virá para restaurar o jardim na terra e a comunhão plena com ele, como era lá no início de tudo, antes do pecado, lá no paraíso.
ESSA RESTAURAÇÃO, CONTUDO, NÃO É INDOLOR. Em “A viagem do Peregrino da Alvorada”, um dos volumes de As Crônicas de Nárnia, C. S. Lewis narrou com brilhantismo a transformação real pela qual passou Eustáquio, o primo chato de Pedro, Susana, Edmundo e Lúcia.
Eustáquio tinha prazer em ser desagradável, não perdendo uma única oportunidade de zombar e desprezar quem estivesse ao redor, principalmente, seus primos. Durante as férias que estavam passando juntos: Edmundo, Lúcia e Eustáquio pararam por um tempo para observar um quadro que retratava um barco navegando. De repente, todo o cenário foi ganhando vida e, quando os três se deram conta, estavam no mundo fantástico de Nárnia. Edmundo e Lúcia ficaram bastante contentes. Eustáquio, por outro lado, apenas reclamava e irritava todos os que estavam próximos.
Após uma sucessão de fatos, Eustáquio decide caminhar por uma região desconhecida, sem ninguém por perto. Em sua autossuficiência, o garoto se perde. Até que ele encontra um dragão… Morto!, para o seu alívio.
Uma forte chuva se inicia e, para se proteger do frio, Eustáquio entra na caverna do falecido dragão. Lá, ele se depara com um amontoado de itens preciosos. Impressionado com o tesouro, começa a imaginar o que poderia fazer com tudo aquilo. Para começar, escolhe um bracelete e passa a usá-lo. Cansado de tantas emoções, adormece.
Grande é a sua surpresa e desespero quando, ao acordar, percebe que virou um dragão! Até então intelectual, zombador e sem sentimento, Eustáquio cai em prantos ao pensar que dali em diante viveria separado da humanidade, como um monstro. Até saudades de Edmundo e de Lúcia ele sentiu. Como narrou Lewis, “Um poderoso dragão debulhando-se em lágrimas ao luar, num vale deserto, é uma cena rara de ver e ouvir.”
Após a sua (trans)formação, Eustáquio mudou significativamente de temperamento. Era notável para todos. Antes mal-humorado, agora buscava ajudar no que fosse preciso: aquecendo os amigos, levando um pequeno grupo para voar nas suas costas e trazendo provisões necessárias para a viagem que estavam fazendo.
Mesmo diferente, Eustáquio não podia deixar de se sentir incomodado pela sua condição. Até que o imponderável acontece! O dragão se encontra com o soberano Aslam. O leão dá a ordem para que Eustáquio tire a roupa, o que o garoto compreendeu ser uma referência às suas escamas. Eustáquio começa o processo, mas é surpreendido ao perceber que, ao retirar uma camada das escamas, logo uma nova surgia embaixo da primeira. Nesse momento Aslam fala: “Eu tiro a sua pele”. Para descrever o que aconteceu depois, as palavras do garoto são as melhores:
Tinha muito medo daquelas garras, mas, ao mesmo tempo, estava louco para ver-me livre daquilo. Por isso me deitei de costas e deixei que ele tirasse a minha pele. A primeira unhada que me deu foi tão funda que julguei ter me atingido o coração. E quando começou a tirar-me a pele senti a pior dor da minha vida. A única coisa que me fazia aguentar era o prazer de sentir que me tirava a pele. É como quem tira um espinho de um lugar dolorido. Dói pra valer, mas é bom ver o espinho sair.
[Gostei muito do insight de Raíssa Martins] Aslam é o Jesus Cristo de Nárnia. Nós somos Eustáquio. Temos ouvido constantemente que Jesus, Deus é amor. De fato, ele é. Mas o nosso SENHOR também é fogo consumidor. Não importa o quanto algo possa estar intrinsecamente ligado ao nosso coração, se está tomando o lugar de Deus, se está nos afastando da identidade projetada por Deus para nós… Bom, as garras de Aslam entrarão em ação. E que bom que entrarão! Ficaremos aterrorizados ao antecipar os efeitos das garras chegando aos lugares mais profundos de nossa alma e desejaremos fugir, mas, depois de todo o processo, perceberemos que foi o melhor que nos aconteceu.
Você tem tentado retirar sucessivas camadas de escamas da sua vida? Vestiu-se de dragão? É dragão e não consegue se livras dessas escamas? Deixe que Cristo mesmo as remova até que reste apenas a imagem dele mesmo em você. Era isso que Paulo tinha em mente, quando escreveu [releia]:
Efésios 4.20-24 20Mas não foi isso que vocês aprenderam de Cristo. 21Uma vez que ouviram falar de Jesus e foram ensinados sobre a verdade que vem dele, 22livrem-se de sua antiga natureza e de seu velho modo de viver, corrompido pelos desejos impuros e pelo engano. 23Deixem que o Espírito renove seus pensamentos e atitudes 24e revistam-se de sua nova natureza, criada para ser verdadeiramente justa e santa como Deus.
Colossenses 3.10 Revistam-se da nova natureza e sejam renovados à medida que aprendem a conhecer seu Criador e se tornam semelhantes a ele.
Criou Deus o homem para que o homem reflita a imagem gloriosa, atingindo a completa estatura do homem perfeito: Jesus Cristo (Ef 4.13).
S.D.G. L.B.Peixoto
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