29.12.2024
Hebreus 1.1-14 (NVT)
1Por muito tempo Deus falou várias vezes e de diversas maneiras a nossos antepassados por meio dos profetas. 2E agora, nestes últimos dias, ele nos falou por meio do Filho, o qual ele 3O Filho irradia a glória de Deus, expressa de forma exata quem Deus é e, com sua palavra poderosa, sustenta todas as coisas. Depois de nos purificar de nossos pecados, sentou-se no lugar de honra à direita do Deus majestoso no céu, 4o que revela que o Filho é muito superior aos anjos, e o nome que ele herdou, superior ao nome deles.
5Pois Deus nunca disse a nenhum anjo:
“Você é meu Filho;
hoje eu o gerei [Ou hoje eu o revelo como meu Filho.]”.
Ou ainda:
“Eu serei seu Pai,
e ele será meu Filho”.
6E, quando ele trouxe seu Filho supremo [Ou Primogênito] ao mundo, disse:
“Que todos os anjos de Deus o adorem”.
7A respeito dos anjos, ele diz:
“Ele envia seus anjos como os ventos,
e seus servos, como chamas de fogo”.
8Mas ao Filho ele diz:
“Teu trono, ó Deus, permanece para todo o sempre;
tu governas com cetro de justiça.
9Amas a justiça e odeias o mal;
por isso, Deus, o teu Deus, te ungiu.
Derramou sobre ti o óleo da alegria,
mais que sobre qualquer outro”.
10E diz também:
“No princípio, Senhor, lançaste os fundamentos da terra,
e com tuas mãos formaste os céus.
11Eles deixarão de existir, mas tu permanecerás para sempre;
eles se desgastarão, como roupa velha.
12Tu os desdobrarás como um manto
e te desfarás deles como roupa velha.
Tu, porém, és sempre o mesmo;
teus dias jamais terão fim”.
13E ele nunca disse a nenhum de seus anjos:
“Sente-se no lugar de honra à minha direita,
até que eu humilhe seus inimigos
e os ponha debaixo de seus pés”.
14Portanto, os anjos são apenas servos, espíritos enviados para cuidar daqueles que herdarão a salvação.
“Não há nada novo debaixo do sol”! Com essas palavras, Salomão capturou a essência da repetição no mundo natural. Ele descreveu a eterna rotina das estações e ciclos que regem a criação. A terra, o sol, o vento, os rios e os mares seguem em círculos intermináveis, sem produzir algo verdadeiramente “novo” (Ec 1.9, ARA). Tudo parece igual, um ciclo que se repete sem fim (Ec 1.4-11, ARA). Sob a ótica puramente humana, parece faltar direção ou propósito: a terra permanece sempre a mesma (Ec 1.4, ARA).
A repetição não é exclusividade do mundo natural. Ela também marca a história do cristianismo. Ciclos intermináveis de erros, falsidades e heresias se repetem ao longo dos séculos, ressurgindo como ecos de tempos passados. Um exemplo notável é o tema dos anjos, que frequentemente volta à discussão, carregado de mal-entendidos e distorções.
A questão dos anjos parecia ter saído do controle nas igrejas às quais a carta aos Hebreus foi endereçada. Isso se torna claro pela atenção que o autor dedica ao assunto. Todo o restante do capítulo 1, a partir do versículo 4, e parte do capítulo 2 abordam diretamente o assunto dos anjos. Para se ter uma ideia, das 14 ocorrências do substantivo “anjos” em toda a carta, a grande maioria, 12 vezes, aparece concentrada nos capítulos 1 e 2, com apenas uma menção no capítulo 12 e outra no capítulo 13.
Essa ênfase revela a necessidade de esclarecer o tema. Então, a pergunta: Será que você tem uma compreensão correta sobre os anjos? Ao observar as diversas tradições ao nosso redor, percebe-se erros que, em muitos casos, chegam ao absurdo quando se trata desses seres celestiais.
Cada uma dessas distorções, seja por exagero ou por negação, desvia-se da verdade bíblica. A teologia reformada apresenta uma visão equilibrada, reconhecendo os anjos como seres espirituais criados por Deus, dotados de juízo moral, alta inteligência e grande poder, mas desprovidos de um corpo físico. Eles são servos de Deus, designados para cumprir sua vontade, jamais competindo com ele por glória ou adoração. Wayne Grudem escreveu assim:
Como os anjos são “espíritos” (Hb 1.14), ou seja, criaturas espirituais, eles geralmente não possuem corpos físicos (Lc 24.39: “espíritos não têm carne nem ossos”). Portanto, normalmente não podem ser vistos, a menos que Deus conceda uma habilidade especial para enxergá-los (Nm 22.31; 2Rs 6.17; Lc 2.13). Em suas atividades normais de guardar e proteger-nos (Sl 34.7; 91.11; Hb 1.14) e de unir-se a nós na adoração a Deus (Hb 12.22), eles permanecem invisíveis. Contudo, ocasionalmente, os anjos assumiram formas corporais para aparecer a diversas pessoas nas Escrituras (Mt 28.5; Hb 13.2). (p.. 579, GRUDEM, Teologia Sistemática, 2ª edição, Vida Nova).
(Aprofunde-se no tema : Wayne Grudem, Teologia Sistemática, 2ª edição, Capítulo 19: “Anjos — Quem são? Por que Deus os criou?”).
Por receio de cometer equívocos, muitos crentes relegam os anjos a meros elementos decorativos — adornos de cenas natalinas ou ilustrações em cartões. No entanto, os anjos são uma realidade espiritual viva, testemunhas do poder de Deus e agentes que operam sob suas ordens soberanas para o bem do seu povo.
Hebreus 1 foi escrito para nos revelar a verdade sobre os profetas (vs. 1-3), sobre os anjos (vs. 4-14) e, mais importante, para destacar a superioridade de Cristo em relação a ambos (isto é, os profetas e os anjos). Se você tiver olhos para perceber isso, verá que este texto é profundamente relevante para sua vida. Ele não apenas apresenta verdades gloriosas sobre o Senhor Jesus, que fortalecerão sua confiança e adoração, mas também ressalta (em Hebreus 1.14) que os anjos são enviados para servir a você, como cristão, ainda hoje. Além disso, este capítulo o incentivará a se apegar diligentemente à palavra de Deus, transmitida a nós por meio de profetas e apóstolos inspirados pelo próprio Deus. Essa Palavra nos guarda do erro e da indiferença espiritual, revelando Cristo como o foco de toda a revelação.
O ponto central está no versículo 3, onde se afirma que Cristo, após realizar uma purificação perfeita e definitiva pelos nossos pecados, e ressuscitar dos mortos, “sentou-se à direita do Deus majestoso no céu”. O versículo 4 complementa essa verdade ao afirmar que Cristo fez isso — ele se assentou à direita da Majestade —, “o que revela que o Filho é muito superior aos anjos, e o nome que ele herdou, superior ao nome deles.” Isso destaca que a obra redentora de Cristo e sua exaltação o colocam infinitamente acima de todas as criaturas, inclusive os anjos.
Cristo é superior aos profetas
Façamos uma breve revisão. Você deve se lembrar de que Hebreus foi escrito para judeus que enfrentavam grandes dificuldades ao tentar se agarrar à esperança cristã. Eles estavam sofrendo perseguições, assédio, confisco de suas propriedades e bens, inclusive a perda de familiares. Questionando se a fé em Cristo valia os sacrifícios que estavam fazendo, alguns começaram a se desviar, e outros, inclusive, abandonaram a fé completamente. Por isso, a principal intenção do autor de Hebreus era apontá-los para Cristo, assegurando-lhes que o Filho de Deus era digno de sua dedicação, mesmo que isso significasse a perda de tudo ou mesmo o martírio.
O autor dizia: “Cristo é superior. Não se desviem. Não abandonem a fé. Não abandonem Cristo. Ele é superior aos profetas.” Essa é a mensagem dos três primeiros versículos. E, agora, no versículo 4, ele reforça essa mensagem, demonstrando que Jesus também é superior aos anjos.
Cristo é superior aos anjos
Hebreus 1 acrescenta cor a alguns rabiscos incompletos que temos sobre os anjos. O versículo 7 os descreve como “ventos” e “chamas de fogo” de Deus — símbolos de sua rapidez e poder avassalador. Ainda no versículo 7, os anjos são chamados de “ministros” (ARA) ou “servos” (NVT), o mesmo termo usado mais adiante no versículo 14 (leitourgikos), onde são descritos como “espíritos ministradores” (ARA) ou “servos… espíritos enviados” (NVT) para cuidar (NVT) ou servir (ARA) — a palavra grega é diakonia. Ou seja: os anjos, esses adoradores de Deus (leitourgikos) são servos ou ministros (diakonos) do povo de Deus — garantindo que “herdarão a salvação” (Hb 1.14).
Os anjos prestam ao Senhor todo tipo de serviço concebível que possamos imaginar. Eles transmitem suas mensagens e cumprem sua vontade entre nós — advertindo ou avisando, protegendo, ajudando e resgatando-nos. Essas criaturas sobrenaturais não oferecem o tipo de serviço prestado de homem para homem. Pelo contrário, seu serviço vem do céu para a terra, originando-se diretamente do trono de Deus.
Mas, por mais notáveis que sejam esses seres sobrenaturais, eles ficam diminuídos quando comparados ao Filho eterno de Deus. Utilizando várias passagens do Antigo Testamento como pontos de referência, o autor demonstra — em quatro pontos — que Jesus está muito acima, ele é infinitamente superior a todos os seres angelicais juntos.
1) O nome de Cristo é superior ao dos anjos
Jesus é superior aos anjos por causa de seu relacionamento único com o Pai. Embora os anjos sejam servos de Deus, apenas Jesus é o Filho eterno de Deus:
3O Filho irradia a glória de Deus, expressa de forma exata quem Deus é e, com sua palavra poderosa, sustenta todas as coisas. Depois de nos purificar de nossos pecados, sentou-se no lugar de honra à direita do Deus majestoso no céu, 4o que revela que o Filho é muito superior aos anjos, e o nome que ele herdou, superior ao nome deles.
O ponto principal no versículo 4 é que Cristo é superior aos anjos. Agora, como Cristo é superior e quão superior Cristo é em relação aos anjos, é o que o restante do capítulo abordará.
Em resumo, o versículo 4 responde a isso com uma comparação: Cristo é (nas palavras da versão ARA) “tão superior aos anjos quanto herdou mais excelente nome do que eles.” Mas o que isso significa? Que nome Cristo herdou que demonstra ser ele tão maior ou tão mais elevado que os anjos?
Quando Cristo morreu, realizou a purificação dos pecados e triunfou sobre a morte e sobre Satanás (Hb 2.14). Ele foi entronizado como rei e se assentou à direita de Deus. No Antigo Testamento, quando um rei era entronizado, havia uma aclamação formal declarando que ele estava assumindo seu título e herança, que já eram seus por direito de nascimento. Uma das formas dessa aclamação era com as palavras de Deus: “Você é meu filho; hoje eu o gerei (Ou hoje eu o revelo como meu filho).” (Sl 2.7).
É por isso que o autor afirma, no versículo 5, em resposta à entronização de Cristo, o Filho eterno de Deus:
5Pois Deus nunca disse a nenhum anjo:
“Você é meu Filho;
hoje eu o gerei [Ou hoje eu o revelo como meu Filho.]”.
Ou ainda:
“Eu serei seu Pai,
e ele será meu Filho”.
Essa é uma citação do Salmo 2.7 e de 2Samuel 7.14. O objetivo de Hebreus 1.5 é revelar qual é o nome que é tão superior ao dos anjos. Esse nome é “Filho”.
Pois bem, perceba o raciocínio: O versículo 4 afirmou que Cristo herdou um nome superior ao dos anjos. Então, o versículo 5 acrescentou: “Pois Deus nunca disse a nenhum anjo: ‘Você é meu Filho; hoje eu o gerei [Ou hoje eu o revelo como meu Filho.]’.” Portanto, o nome superior é Filho de Deus.
Em Romanos 1.4 (NVT), Paulo afirmou a respeito de Cristo: “quando o poder do Espírito Santo o ressuscitou dos mortos, foi demonstrado que ele era o Filho de Deus. Ele é Jesus Cristo, nosso Senhor.”
Ora, meu povo, Cristo sempre foi o Filho de Deus, assim como sempre foi o herdeiro de todas as coisas (Hb 1.2). Contudo, ao realizar a purificação dos pecados e triunfar sobre a morte e Satanás, Cristo foi declarado Filho de Deus — (ARA) “foi designado Filho de Deus com poder” (Rm 1.4) — e herdeiro de todas as coisas em uma nova base e de uma nova maneira. Agora, Cristo reina como o Deus-homem Jesus Cristo — o Filho de Deus, não apenas por direito eterno (ou direito de criação), mas também pelo direito conquistado por sua vitória sobre o pecado e a morte (ou direito de redenção). Ele é o Filho de Deus em poder manifesto por meio da ressurreição.
O ponto central no versículo 5 é enfatizar que Deus nunca disse tal coisa a nenhum anjo. Nenhum anjo está assentado à direita de Deus como o Filho de Deus em poder. Anjo nenhum tem nome superior ao de Cristo, o Filho eterno de Deus.
2) Cristo é adorado pelos anjos
Há uma segunda razão pela qual Jesus é superior aos anjos (Hb 1.6):
6E, quando ele trouxe seu Filho supremo [Ou Primogênito] ao mundo, disse:
“Que todos os anjos de Deus o adorem”.
Assim que o Filho foi apresentado aos anjos, a resposta espontânea deles foi adoração. O ponto é claro: o superior é sempre adorado pelo inferior. Nunca lemos que o Filho adora os anjos, mas lemos que eles o adoram:
Apocalipse 5.11-12 (NVT)
11Então olhei novamente e ouvi as vozes de milhares e milhões de anjos ao redor do trono, e também dos seres vivos e dos anciãos. 12 Cantavam com forte voz:
“Digno é o Cordeiro que foi sacrificado
de receber poder e riqueza,
sabedoria e força,
honra, glória e louvor!”.
Portanto, sabemos que Jesus é superior aos anjos porque ele é o objeto de sua adoração. Adorar Jesus é uma questão crucial que distingue o cristianismo de outras religiões. Essa diferença separa o cristianismo do judaísmo, do islamismo e de seitas como o culto a César nos primeiros séculos, que condenava os cristãos à morte por se recusarem a adorar César. Também o diferencia de grupos como as Testemunhas de Jeová, que afirmam que Jesus é apenas um arcanjo. Todas essas crenças têm algo em comum: negam que Jesus deva ser adorado. E, de fato, essa posição seria compreensível — a menos que o Filho de Deus seja verdadeiramente Deus.
3) Cristo é Deus
Isso nos leva aos versículos 7-12, que afirmarão que Cristo é Deus. Em uma série de citações do Antigo Testamento, o autor apresentará uma das maiores declarações cristológicas registradas nas Escrituras (atrás apenas de João 1). Antes, porém, quem ou como são os anjos?
7A respeito dos anjos, ele [Deus] diz [Sl 104.4]:
“Ele envia seus anjos como os ventos,
e seus servos, como chamas de fogo”.
O autor descreve os anjos como o vento e o fogo de Deus, utilizando uma linguagem simbólica para expressar a rapidez, a invisibilidade e o poder desses seres celestiais. Contudo, observe, em contraste, o que é dito sobre o Filho:
8Mas ao Filho ele diz [Sl 45.6-7]:
“Teu trono, ó Deus, permanece para todo o sempre;
tu governas com cetro de justiça.
O versículo 8 claramente chamou de “Deus” a pessoa do Filho, e declarou que tudo o que ocorre na terra está sob a jurisdição do “seu reino” (ARA) ou “governo” (NVT).
Os anjos são meros ministros do reino celestial, enquanto Jesus é o monarca. Nenhum anjo jamais teve um trono, nem um reino. O Filho é superior porque Ele possui ambos. Essa superioridade é ainda mais enfatizada no versículo 9:
9Amas a justiça e odeias o mal;
por isso, Deus, o teu Deus, te ungiu.
Derramou sobre ti o óleo da alegria,
mais que sobre qualquer outro”.
Cristo é moralmente superior aos seus servos, os anjos, porque é absolutamente justo, sendo ele a própria justiça. E foi desse seu caráter justo e dessa alegria eterna que a criação teve origem:
10E diz também:
“No princípio, Senhor, lançaste os fundamentos da terra,
e com tuas mãos formaste os céus.
11Eles deixarão de existir, mas tu permanecerás para sempre;
eles se desgastarão, como roupa velha.
12Tu os desdobrarás como um manto
e te desfarás deles como roupa velha.
Tu, porém, és sempre o mesmo;
teus dias jamais terão fim”.
Os versículos 10-12 são, essencialmente, uma expansão do que foi afirmado no versículo 2, onde se declarou que Deus criou o universo por meio do Filho. Aqui, é enfatizado que isso significa que o Filho criou o mundo e que tudo o que pode ser dito a respeito de Deus Pai como Criador também pode ser dito a respeito do Filho, porque o Filho é Deus. Jesus Cristo é o Criador do universo. Ele é Deus, o “Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim.” Ele deve ser adorado.
Você tem esse senso de admiração, reverência, amor, confiança e alegria em Jesus Cristo? Ele é o seu Criador, Deus, Salvador, Mestre, Amigo e Tesouro? Você é fervoroso em relação a Cristo? Pensa nele e mantém comunhão constante com ele ao longo do dia? O ponto central de Hebreus 1 — e de toda a Bíblia — é nos conduzir a uma devoção apaixonada pela glória de Cristo como Revelador, Soberano, Redentor, Criador e Deus.
4) Os anjos são servos
Nos versículos 13-14, o autor apresenta um último contraste:
13E ele nunca disse a nenhum de seus anjos:
“Sente-se no lugar de honra à minha direita,
até que eu humilhe seus inimigos
e os ponha debaixo de seus pés”.
14Portanto, os anjos são apenas servos, espíritos enviados para cuidar daqueles que herdarão a salvação.
O autor retorna ao ponto central do versículo 3: Cristo, sendo Deus, está assentado à direita da Majestade como Rei do universo, Filho de Deus em poder, Herdeiro de todas as coisas. Lembre-se do versículo 8: “Teu trono, ó Deus, permanece para todo o sempre”. Esse assento à direita de Deus é o trono de Deus. Assim, no versículo 13, o autor volta a destacar o lugar triunfante do Filho: “Sente-se no lugar de honra à minha direita, até que eu humilhe seus inimigos e os ponha debaixo de seus pés”. Antes, neste mesmo versículo, havia afirmado: “Deus nunca disse isso a nenhum se seus anjo”.
Mas releia o que é dito sobre os anjos, para reforçar o contraste. O versículo 14 afirma: “Portanto, os anjos são apenas servos, espíritos enviados para cuidar daqueles que herdarão a salvação.” Ou seja: Os anjos não estão sentados; estão ministrando. Eles não governam; estão servindo. Não são exaltados; são subordinados. Embora os anjos prestem um serviço de valor inestimável em nosso favor, é o Filho que ocupa o lugar de mais alta autoridade. Somente ele é digno de adoração.
Reforçando: Qual é o contraste aqui? Jesus está sentado como Rei; os anjos são enviados como servos. Há apenas um Rei, mas há muitos anjos servos. Os anjos servem aos cristãos — aqueles que, pela fé e perseverança, estão herdando a promessa da salvação (Hb 6.12). Cristo é o Rei sobre a igreja; os anjos cumprem as ordens do Rei em favor da igreja. Assim, Cristo está infinitamente acima dos anjos, que são enviados como servos.
Como os anjos nos servem? John Piper sugere que a conexão entre os versículos 13 e 14 nos dá uma pista. O versículo 13 diz que, enquanto Cristo está assentado no trono, algo está acontecendo para colocar seus inimigos debaixo de seus pés, como um estrado.
13E ele nunca disse a nenhum de seus anjos:
“Sente-se no lugar de honra à minha direita,
até que eu humilhe seus inimigos
e os ponha debaixo de seus pés”.
14Portanto, os anjos são apenas servos, espíritos enviados para cuidar daqueles que herdarão a salvação.
O que é isso? Uma das coisas que ocorre é que os anjos estão sendo “enviados” para servir àqueles que hão de herdar a salvação. Em outras palavras, há inimigos da nossa salvação — forças que querem destruir a obra de Cristo e impedir os cristãos de herdarem a salvação (como demônios, doutrinas de demônios, ideias falsas, impulsos pecaminosos e pessoas ímpias). Nesse contexto, Deus cumpre dois objetivos por meio de seus anjos: 1) Deus os “envia” para nos servir, a fim de que perseveremos na fé e alcancemos a salvação; e 2) ao nos servirem, os inimigos de Deus são subjugados pelos anjos e feitos estrado para os pés de Cristo.
Concluindo, vamos recapitular o que aprendemos e encerrar com uma observação para fortalecer nossa fé.
Havia um pensamento equivocado sobre os anjos nessas igrejas (tal como hoje ainda há), especialmente em relação a Jesus. Talvez fosse algo semelhante ao erro das Testemunhas de Jeová, que consideram Jesus Cristo apenas como um arcanjo. A resposta do autor de Hebreus é clara:
Agora observe algo muito encorajador para a nossa fé na graça futura de Deus — como se dá o ministério de Deus para nós hoje, amanhã e pelo restante de nossas vidas. Do versículo 5 ao versículo 14, temos falado sobre a superioridade de Jesus em relação aos anjos. Isso pode nos levar a perguntar: Por que, então, Deus se preocupou em criar anjos? Qual é o propósito dos anjos?
A resposta dessa seção é verdadeiramente notável. Quando vemos os anjos em seu devido lugar, percebemos que seu papel é magnífico. Eles têm uma função em relação a Cristo e outra em relação ao povo de Cristo. Em relação a Cristo, o versículo 6 afirma que o papel dos anjos é adorá-lo. Em relação ao povo de Cristo, o versículo 14 declara que o papel dos anjos é servir e ajudar os cristãos a herdar a salvação. Isso significa — se me permite usar a linguagem piperiana — significa… que Deus criou os anjos para que seu Filho fosse glorificado e seu povo fosse satisfeito.
Quero que você saia daqui hoje com esta verdade ressoando em seu coração: Jesus Cristo é infinitamente superior aos anjos. Eles foram criados não para competir com Cristo, mas para adorá-lo e honrá-lo. E a principal maneira de fazerem isso na terra é nos servindo, para que permaneçamos firmes em Cristo, confiemos em Cristo, o amemos, o valorizemos e, finalmente, o alcancemos na plenitude de nossa salvação. Os anjos foram criados para a glória eterna de Cristo e para a nossa alegria eterna — objetivos que, como você bem sabe, não são contraditórios. Pois, nas palavras de John Piper, “Cristo é mais glorificado em nós quando estamos mais satisfeitos nele.”
O universo está cheio de ajudantes: os anjos. O Filho deseja que você se sinta encorajado e cheio de esperança. É por isso que este capítulo termina com esta promessa maravilhosa: os adoradores celestiais — todos eles — são enviados para servi-lo e conduzi-lo em segurança ao lar eterno.
Sobre o ministério dos anjos em nosso favor, o melhor que achei como interpretação segura foi o que escreveu João Calvino sobre Hebreus 1.14. Compartilho:
Desta passagem os fiéis podem extrair grande conforto, quando ouvem que as hostes celestiais são destinadas a seu serviço para que velem em defesa de sua salvação. E tal coisa certamente não é uma insignificante demonstração do amor de Deus por nós, já que estão trabalhando continuamente em nosso favor. Daqui emana uma extraordinária confirmação de nossa fé, de que nossa salvação se encontra fora de perigo, guardada por uma defesa de tão elevada categoria. Deus tem a máxima consideração possível por nossas fraquezas, ao conceder-nos tais auxiliares para, ao nosso lado, resistirem a Satanás, e para que exponham seu poder de todas as formas em nossa defesa!
Esta bênção é concedida particularmente aos seus eleitos. Portanto, para que os anjos sejam nossos auxiliares, devemos ser membros de Cristo. Evidentemente, é possível produzir evidência bíblica para o oposto, e daqui argumentar que os anjos são, às vezes, enviados por causa dos réprobos. Em Daniel [10.20] há menção dos anjos dos persas e dos gregos. Minha resposta, porém, é que esses réprobos são socorridos pela obra dos anjos a fim que Deus possa, dessa forma, levar a bom termo a salvação de seu povo. Os sucessos e as vitórias que obtiveram foram sempre em relação à Igreja, no tocante à sua meta propriamente dita. Também é certo que, como fomos banidos do reino de Deus em decorrência de nossos pecados, não podemos ter comunhão com os anjos, exceto através da reconciliação efetuada em Cristo; e isso pode ser visualizado na escada que o patriarca Jacó, em sua visão, viu posta.
S.D.G. L.B.Peixoto
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