15.12.2024
Hebreus 1.1-4 (NVT)
1Por muito tempo Deus falou várias vezes e de diversas maneiras a nossos antepassados por meio dos profetas. 2E agora, nestes últimos dias, ele nos falou por meio do Filho, o qual ele designou como herdeiro de todas as coisas e por meio de quem criou o universo. 3O Filho irradia a glória de Deus, expressa de forma exata quem Deus é e, com sua palavra poderosa, sustenta todas as coisas. Depois de nos purificar de nossos pecados, sentou-se no lugar de honra à direita do Deus majestoso no céu, 4o que revela que o Filho é muito superior aos anjos, e o nome que ele herdou, superior ao nome deles.
Na eternidade, cantaremos sem cessar, com uma alegria que jamais se esgotará e crescerá em intensidade a cada momento. Tudo isso por causa de uma manhã de domingo como esta — o primeiro domingo de Páscoa — quando o Salvador ressuscitou dos mortos. Ele é as primícias, o primeiro fruto de todos os que um dia ressuscitarão (1Co 15.20). Por isso celebramos, entoando: “Cantai que o Salvador chegou. // Acolha a terra o Rei. // Ó, vós, nações, a ele só // contentes vos rendei, contentes vos rendei, // oh, sim, contentes vos rendei!” Essa letra é uma paráfrase do Salmo 98, composta por Isaac Watts em 1719. Um hino que celebra com alegria o reinado do Salvador. Tal canto ecoa a vitória da ressurreição e a esperança que pulsa em nossos corações.
Mas não tome essa salvação como algo garantido, a não ser pela fé na mensagem de uma frase deste texto de Hebreus que lemos — no versículo 3: “Depois de nos purificar de nossos pecados”. É porque Cristo nos purificou de nossos pecados que podemos erguer nossas vozes e cantar: “Cantai que o Salvador chegou!” O Natal acha o seu sentido na Páscoa, na cruz e no túmulo vazios.
Na semana passada, refletimos sobre Hebreus 1.1-2, que diz: “Por muito tempo, Deus falou muitas vezes e de várias maneiras aos nossos antepassados por meio dos profetas. Mas, nestes últimos dias, Ele nos falou por meio do Filho.” Vimos que Deus sempre quis se comunicar de forma clara e intencional: primeiro, por meio dos profetas, antes da vinda de Jesus, e depois, de forma definitiva, por meio do próprio Filho. Essa mensagem nos lembra que Deus nunca ficou em silêncio, mas sempre buscou se revelar e alcançar o coração humano.
Podemos confiar?
O autor de Hebreus não apenas afirma que Deus falou por meio do Filho, mas vai além: declara que podemos confiar no Filho eterno de Deus. Por quê?
PRIMEIRO, podemos confiar no Filho porque ele é Deus — ele “irradia a glória de Deus, expressa de forma exata o que Deus é” (Hb 1.3). O Filho eterno existia com Deus, era Deus, e estava com Deus antes de vir à Terra na pessoa de Jesus de Nazaré. Ele não teve começo nem fim; é o Deus eterno que se manifestou em carne. E Deus, que é a própria verdade, não pode mentir (Tt 1.2).
SEGUNDO, podemos confiar no Filho porque ele é o dono do universo. Ele não apenas o criou com o Pai (1.2, 10-12), mas também sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder (1.3). Nada existe fora de sua autoridade e controle soberanos. Ele é todo-poderoso e, como dono, faz tudo conforme lhe apraz, sempre para a sua glória e para o bem dos que nele creem.
TERCEIRO, podemos confiar no Filho porque ele é o herdeiro de todas as coisas. Este direito é dele, tanto como Criador quanto como Redentor — pela conquista definitiva na obra da redenção (10.12-13). Ele não apenas sustenta o cosmos; ele o governa e o conduz de acordo com a sua vontade.
Essas verdades sobre o Filho nos chamam a depositar confiança total nele. Quem poderia ser mais digno de fé e obediência do que o próprio Filho de Deus, o Criador, Sustentador e Herdeiro de tudo? Daí que o autor, inspirado pelo Espírito, escreveu:
Hebreus 1.1-2 (NVT)
1Por muito tempo Deus falou várias vezes e de diversas maneiras a nossos antepassados por meio dos profetas. 2E agora, nestes últimos dias, ele nos falou por meio do Filho, o qual ele designou como herdeiro de todas as coisas e por meio de quem criou o universo. 3aO Filho irradia a glória de Deus, expressa de forma exata o que Deus é e, com sua palavra poderosa, sustenta todas as coisas. […]
Há outro tema que devemos abordar, antes de mergulharmos na frase que destacamos para esta manhã, no versículo 3b: “Depois de nos purificar de nossos pecados”.
A Palavra de Deus em seu Filho é tão decisiva e completa que não haverá uma terceira fase da fala de Deus na história. Ou seja: Deus não tem outra palavra a comunicar. É isso que significa Hebreus 1.2: “E agora, nestes últimos dias, ele nos falou por meio do Filho”. — O que isto significa?
Os últimos dias começaram com a vinda do Filho ao mundo. Desde então, vivemos nos últimos dias — o tempo final da história como a conhecemos, antes do estabelecimento completo e definitivo do reino de Deus, na segunda vinda do Filho.
Os últimos dias de uma guerra começam quando a batalha decisiva já foi travada ou a arma final foi lançada, garantindo a vitória cabal. Nesse ponto, todos sabem quem venceu. É apenas uma questão de tempo até que a vitória seja plenamente concretizada. A resistência pode durar algum tempo nos campos de batalha ou províncias, mas o golpe mortal já foi desferido, e o terreno estratégico foi conquistado, a capital foi retomada.
A vinda de Cristo, sua morte e ressurreição marcaram a batalha decisiva. O inimigo foi derrotado, e o reino de Deus garantido. Agora aguardamos o cumprimento pleno do plano de Deus, com o retorno de Cristo e o fim definitivo do mal, no estabelecimento do reino eterno.
Na cruz e na ressurreição, o Filho de Deus travou e venceu a batalha contra o pecado, a morte e o inferno. Como diz Paulo: “Cristo desarmou os governantes e as autoridades espirituais, envergonhando-os publicamente ao vencê-los na cruz” (Cl 2.15, NVT); e ainda: “Ó morte, onde está sua vitória? Ó morte, onde está seu aguilhão?” (1Co 15.55, NVT). Vivemos nos últimos dias, quando o triunfo de Cristo é proclamado a todas as nações, e aguardamos o dia em que seu reino será plenamente revelado.
O ponto do autor de Hebreus é claro: a palavra que Deus falou por meio do Filho é decisiva. Nesta era, não haverá palavra maior ou substituta, tampouco novidade. Esta é a Palavra de Deus: a pessoa de Jesus, o ensino de Jesus e a obra de Jesus.
PARA REFLETIR: Quando dizemos que não ouvimos Deus falar, quando ansiamos por sua voz e nos frustramos porque ele não fala como gostaríamos, o que estamos realmente dizendo? Será que estamos insinuando ter esgotado a palavra final e decisiva que Ele já revelou no Novo Testamento? Será que realmente absorvemos essa palavra? Ela já moldou quem somos, deu vida às nossas almas e direção aos nossos caminhos?
Ou será que a tratamos com superficialidade — lemos como se fosse um jornal, provamos dela como algo passageiro — e depois decidimos que queremos algo diferente, algo mais? Temo que somos mais culpados disso do que admitimos.
Deus nos chama a ouvir sua palavra final e decisiva. Ele nos convida a lê-la, memorizá-la, meditá-la, estudá-la, refletir sobre ela e mergulhar nela até que nos transforme completamente, saturando o centro do nosso ser.
O Espírito Santo
Se você perguntar: E quanto ao ministério do Espírito Santo hoje?
EM RESUMO, a paixão do Espírito Santo é focar toda a nossa atenção e afeto na Palavra final e decisiva, falada no Filho de Deus nestes últimos dias. Esse é o seu grande trabalho e o propósito de todos os seus dons.
Falando da anunciação dos apóstolo, os quais pregaram a tão grande salvação em Cristo, Hebreus 2.4 (NVT) registrou que “Deus confirmou a mensagem por meio de sinais, maravilhas e diversos milagres, e também por dons do Espírito Santo, conforme sua vontade.” Ou seja: Tudo converge para Cristo, a Palavra viva. Foi por isso que o Espírito inspirou as Escrituras (2Tm 3.16), e agora ilumina o crente na verdade bíblica (Jo 14.26). O Espírito glorifica a pessoa de Cristo, apontando para ele como o centro da revelação divina (Jo 16.14); ele convence o mundo do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8-11); o Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus (Rm 8.16); e ele nos capacita para testemunhar de Jesus Cristo ao mundo (At 1.8).
O Espírito Santo é o grande revelador de Cristo. Sem o Espírito, não poderíamos compreender plenamente quem Jesus é, nem experimentar a transformação que vem de conhecê-lo. É o Espírito que abre os ouvidos do coração para ouvir o que Deus falou por meio de Cristo nas páginas das Escrituras.
Pois bem, tendo visto que “Deus falou por meio de Cristo”, chegou o momento de escavarmos o tesouro contido nesta frase: “Cristo nos Purificou de Nossos Pecados”. Nós a extraímos de Hebreus 1.3. Leia, em contexto:
Hebreus 1.1-4 (NVT)
1Por muito tempo Deus falou várias vezes e de diversas maneiras a nossos antepassados por meio dos profetas. 2E agora, nestes últimos dias, ele nos falou por meio do Filho, o qual ele designou como herdeiro de todas as coisas e por meio de quem criou o universo. 3O Filho irradia a glória de Deus, expressa de forma exata quem Deus é e, com sua palavra poderosa, sustenta todas as coisas. Depois de nos purificar de nossos pecados, sentou-se no lugar de honra à direita do Deus majestoso no céu, 4o que revela que o Filho é muito superior aos anjos, e o nome que ele herdou, superior ao nome deles.
Vamos considerar esta frase do versículo 3 por alguns minutos antes de concluírmos esta mensagem: “Depois de nos purificar de nossos pecados”. Dividiremos essa frase em três partes, de cima para baixo, ou, em ordem reversa.
Refletiremos brevemente sobre cada uma dessas partes e, em seguida, nos dirigiremos juntos à mesa do Senhor.
I) “Ele” ou “Filho”
Comecemos com “Ele”. Nunca se esqueça de que estamos tratando de uma pessoa: o Filho. Uma pessoa viva, que entregou sua vida — ele ama, pensa, sente, decide e, ainda hoje, possui um corpo. Esse corpo foi retirado da cruz e, ao ressuscitar do túmulo, embora dotado de qualidades extraordinárias, foi reconhecido por seus seguidores. Eles puderam tocá-lo. Ele chegou a comer peixe para demonstrar que não era um fantasma. Há, portanto, uma pessoa completa com quem nos relacionaremos por toda a eternidade. Ele está vivo. Está à direita do Pai. Ele é pessoal. Prometeu jamais nos deixar ou abandonar. Prometeu estar conosco. Ele está presente neste templo agora, por meio do seu Espírito, ouvindo-me. Ele está mais próximo de você do que a pessoa ao seu lado. Ele é real. Ele é uma pessoa. Ele é um “Ele”. Ele está aqui. O Filho eterno de Deus.
Em Hebreus 1.1-4, há pelo menos sete verdades afirmadas sobre “Ele”:
1) Ele é real
Deus nos falou por meio do Filho (v. 1). Nunca se esqueça disso. Cultive um relacionamento com essa pessoa: o Filho, por meio de quem Deus fala conosco. Portanto, coloque Jesus no centro da sua vida. Relacione-se com ele. Muitos de nós nos tornamos cristãos por meio de uma abordagem evangelística que estava absolutamente correta ao perguntar: “Você tem um relacionamento pessoal com Jesus?” Essa é a pergunta certa. Às vezes, tratamos isso com superficialidade, mas estamos lidando com uma pessoa viva, presente e, simultaneamente, no céu. Ele pode fazer isso. Ele é glorioso. Veremos o quanto ele é glorioso, pois é a glória de sua pessoa que torna o sacrifício de sua vida tão incomensuravelmente valioso e pacificador.
2) Ele criou
Por meio dele Deus criou o universo (v. 2).
3) Ele é o resplendor da glória do Pai
O Filho irradia a glória de Deus […] (v. 3). Se você deseja conhecer a glória e a beleza moral da glória do Pai, leia os Evangelhos e contemple a pessoa de Jesus, pois ele é o resplendor — o brilho, o esplendor — da glória de Deus.
4) Ele é a expressão exata da natureza divina do Pai
O Filho […] expressa de forma exata quem Deus é (v. 3). Quem vê o Filho, vê o Pai, disse Jesus. O Filho e o Pai são um só.
5) Ele sustenta o universo
O Filho, com sua palavra poderosa, sustenta todas as coisas (v. 3). Tudo — pela palavra do seu poder. Hoje, essa pessoa é infinitamente poderosa. Ele sustenta todo o sistema solar, a Via Láctea e todas as demais galáxias, bem como cada molécula, cada pedaço de madeira e cada tijolo deste edifício. Ele mantém nossa carne, cabelo, pele, pulmões, tecidos, dentes e unhas existindo neste exato momento. Se ele parasse de pensar em você, você deixaria de existir. É dessa maneira que dependemos dele.
6) Ele se assentou à direita da Majestade
O Filho sentou-se no lugar de honra à direita do Deus majestoso no céu (v. 3). O ato de se assentar é um ato de entronização. Ele é o Rei do universo. Está à direita de Deus Pai e reina sobre todos os governos ou soberanos da Terra, do céu e até do inferno. Reina sobre o diabo, sobre o clima, sobre ataques cardíacos, câncer e doenças como o Parkinson. Ele reina hoje, e reinará para sempre e sempre.
7) Ele é superior aos anjos
O Filho é muito superior aos anjos, e o nome que ele herdou, superior ao nome deles (v. 4). Embora possa parecer um detalhe secundário, o restante do capítulo dedica-se a afirmar a total superioridade dessa pessoa em relação a todos os outros seres celestiais, exceto o Pai. Portanto, o ponto inicial é este: hoje estamos lidando com uma pessoa. Ele está vivo. Ele é real. Ele criou e sustenta o universo. Ele revela o Pai. E está no trono, à direita do Pai, reinando, intercedendo. Este é o “ele” que realizou a purificação.
II) “De Nossos Pecados”
Vamos começar abordando o fator pecado. Ele surge no final da nossa frase extraída de Hebreus 1.3 — “Depois de nos purificar de nossos pecados”. O pecado é uma realidade inegável. É uma força atuante no mundo. Ao lermos a carta aos Romanos, somos confrontados com o fato de que o pecado não é apenas uma sequência de ações isoladas que cometemos ocasionalmente. Não se limita a atos; é uma força ativa. Ele opera no coração, influencia a vontade e age no mundo. Ele domina. Ele exerce controle sobre cada ser humano. É algo terrível. Todos nesta sala estão contaminados por ele.
Alguns de nós já possuem um remédio atuando em suas vidas, um remédio que os conduzirá à glória. Talvez alguns aqui hoje ainda não tenham recebido esse remédio. Mas a verdade é que todos estamos infectados, como por uma doença. E essa doença é mortal. Todos nós enfrentaremos a morte física. Deus, em sua soberania, não removeu esse aspecto da maldição. Todos passaremos pela morte, a menos que Jesus retorne antes. Assim, o pecado é algo universal, terrível, semelhante a uma enfermidade.
O autor de Hebreus, adiante na carta, nos auxilia a compreender melhor o pecado — o que ele é e o quão terrível ele pode ser:
Hebreus 3.14-19 (NVT)
14Porque nos tornaremos participantes de Cristo, se de fato mantivermos firme até o fim a confiança que nele depositamos no início. 15Lembrem-se do que foi dito:
“Hoje, se ouvirem sua voz,
não endureçam o coração
como eles fizeram na rebelião”.
16E quem foram os que se rebelaram mesmo depois de terem ouvido? Não foram aqueles que saíram do Egito conduzidos por Moisés? 17E quem deixou Deus irado durante quarenta anos? Não foi o povo que pecou e cujos corpos ficaram no deserto? 18E a quem Deus se dirigiu quando jurou que jamais entrariam em seu descanso? Não foi ao povo que lhe desobedeceu? 19Vemos, portanto, que não puderam entrar no descanso por causa de sua incredulidade.
Aqui estão três aspectos fundamentais sobre o pecado que desejo que você observe, para que possa realmente compreendê-lo:
1) O pecado está enraizado na incredulidade
Hebreus 3.19: “não puderam entrar no descanso por causa de sua incredulidade.” Quero que você compreenda profundamente o que é o pecado. Todo pecado tem sua origem em uma falta de confiança em Deus. Se confiássemos plenamente na sabedoria, no amor e no poder de Deus, não nos oporíamos a ele de maneira tão deliberada e frequente como fazemos. Há uma incredulidade fundamental na raiz de todo pecado.
(John Piper) Ontem à noite, falei para um grupo de estudantes em uma universidade. Entre eles, havia algumas pessoas descrentes, e, após minha palestra, uma jovem me procurou para compartilhar sua situação. Ela perguntou se eu achava que ela era culpada. Respondi o que geralmente digo em casos assim: “Provavelmente você foi, ao menos em parte.” Expliquei que digo isso não para fazê-la se sentir pior, mas porque o evangelho não é uma mensagem que nega nossa culpa. Pelo contrário, o evangelho declara que há um removedor de culpa.
Se tentarmos aliviar nossa consciência dizendo: “Eu não sou culpado; não fiz nada errado; o problema não sou eu,” anulamos a essência do evangelho. O evangelho é para pessoas que reconhecem sua maldade, que sentem o peso de seus erros, que admitem sua responsabilidade nos relacionamentos quebrados e que compreendem a profundidade de suas decisões erradas. O passo mais sensato é confessar a Deus: “Sim, eu sou culpado.” E então ouvir sua resposta: “Eu providenciei a solução.”
2) A incredulidade gera a desobediência
Hebreus 3.18 afirma: “povo que lhe desobedeceu”. Saiba disso: O pecado manifesta-se em desobediência. Deus tem uma vontade clara, expressa em sua Palavra, e o pecado é uma rebelião deliberada contra essa vontade. Ao desobedecermos, colocamos nossa própria vontade acima da dele, declarando, de forma prática, que achamos que sabemos mais do que o Criador.
3) Deus está irado com o pecado
Hebreus 3.17-18: “E quem deixou Deus irado durante quarenta anos? Não foi o povo que pecou e cujos corpos ficaram no deserto? E a quem Deus se dirigiu quando jurou que jamais entrariam em seu descanso? Não foi ao povo que lhe desobedeceu?” Sim, Deus se ira com o pecador! Ele odeia pecados e também abomina pecadores impenitentes. Salmo 5.6 (NVT): “Tu destróis os mentirosos; o SENHOR detesta [ou abomina, ARA] assassinos e enganadores.”
Vivemos numa época em que é comum enfatizar que Deus é amor. Contudo, no passado, especialmente no século XVIII, era igualmente comum destacar que Deus é um Deus de ira contra o pecado. Um exemplo dessa ênfase é o sermão de Jonathan Edwards, “Pecadores nas mãos de um Deus irado”. — E aí, onde está a razão? — Ambas as verdades: o amor de Deus extendido para salvar (pecadores arrependidos) e sua ira contra o pecado (e o pecador impenitente). Essas duas realidades são absolutamente bíblicas e complementares.
No contexto atual, muitos de nós ouvimos frequentemente sobre o amor de Deus, mas raramente refletimos sobre sua ira contra o pecado. Deus odeia o pecado. Ele está irado com ele todos os dias, como nos lembra o salmista, em Salmos 2.4-6 (NVT): “Aquele que governa nos céus ri; o Senhor zomba deles. Então, em sua ira, ele os repreende e, com sua fúria, os aterroriza. Ele diz: ‘Estabeleci meu rei no trono em Sião, em meu santo monte’.”
Essa ira não é caprichosa, mas justa e santa, uma resposta inevitável diante da ofensa que o pecado representa contra a santidade divina.
(John Piper) Um artigo que li recentemente trouxe uma perspectiva valiosa sobre a cruz de Cristo. Ele argumentava que a cruz não é apenas a manifestação do amor de Deus, mas também da sua ira contra o pecado. Por quê? Porque foi a justa ira de Deus que levou seu Filho a sofrer e morrer. Se houvesse outra forma de lidar com o pecado, Deus certamente teria escolhido esse caminho.
A cruz, portanto, expressa duas verdades fundamentais: a ira justa de Deus contra o pecado e sua misericórdia incomparável para com os pecadores. Não podemos reduzir o evangelho a uma mensagem unidimensional. Precisamos encarar a verdade de que somos pecadores, e que Deus, em sua santidade, está irado com o pecado. O pecado é uma grande ofensa a ele.
Ainda assim, o Deus que está irado é o mesmo que providenciou o único caminho para remover essa culpa. Este é o evangelho: somos culpados, mas Deus, em sua graça infinita, fez provisão para nossa salvação por meio de Jesus Cristo.
O evangelho nos faz o convite: Hebreus 3
14Porque nos tornaremos participantes de Cristo, se de fato mantivermos firme até o fim a confiança que nele depositamos no início. 15Lembrem-se do que foi dito:
“Hoje, se ouvirem sua voz,
não endureçam o coração
como eles fizeram na rebelião”.
Mas jamais se esqueça da realidade do pecador: Hebreus 3
16E quem foram os que se rebelaram mesmo depois de terem ouvido? Não foram aqueles que saíram do Egito conduzidos por Moisés? 17E quem deixou Deus irado durante quarenta anos? Não foi o povo que pecou e cujos corpos ficaram no deserto? 18E a quem Deus se dirigiu quando jurou que jamais entrariam em seu descanso? Não foi ao povo que lhe desobedeceu? 19Vemos, portanto, que não puderam entrar no descanso por causa de sua incredulidade.
III) “Depois de nos Purificar”
Não perca o raciocínio que traçamos a partir de Hebreus 1.3:
Finalmente, chegamos ao evangelho encapsulado neste verbo: “purificar”. Hebreus 1.3 afirma: “Depois de nos purificar de nossos pecados.” Quero chamar a atenção para essas duas cláusulas: “Depois de (ou depois de ter feito, na ARA)” e “purificar (ou purificação, na ARA)”.
A principal ideia em “depois de ter feito” é que, do ponto de vista do autor de Hebreus, e a partir do fato de Cristo ter se assentado à direita de Deus (1.3c), a obra de purificar os pecados está completamente concluída. Essa verdade é essencial para nossa compreensão. “Depois de ter feito” indica algo que já ocorreu, está terminado. Não é “está fazendo”, não é “fará”, nem “na ceia do Senhor ele purifica” — não! Ele já fez e, então, assentou-se ao lado de Deus no trono do céu. Esse foi um ato único, decisivo, e está finalizado. O ato de Cristo se assentar simboliza honra e tributo à obra consumada. Quero que você sinta o peso dessa verdade nesta manhã.
A purificação foi realizada uma vez por todas. O sangue de Cristo foi derramado há 2.000 anos, num evento único, irrevogável e eficaz, abrangendo todos os seus pecados — até mesmo aquele que você vier a cometer no último dia de sua vida.
A purificação de cada pecado seu foi consumada há dois milênios. Este é o evangelho grandioso! Sim, essa mensagem pode ser mal interpretada, como Paulo encarou quando lhe perguntaram: “Então, vamos pecar para que a graça abunde?” Contudo, tanto Paulo quanto o autor de Hebreus estavam dispostos a lidar com essa questão porque a verdade permanece: Jesus (já!) realizou a purificação dos pecados. Está consumado. Um evento decisivo aconteceu na cruz, que lidou de uma vez por todas com os pecados. Não é algo repetido na ceia do Senhor.
Confirmações bíblicas
Vamos explorar algumas passagens para demonstrar que não estamos apenas escolhendo algo que gostamos de enfatizar, mas destacando algo que o autor de Hebreus valoriza profundamente. Quero que você perceba isso, pelos textos bíblicos. (Você também poderá considerar, depois, Hebreus 7.26-27; 9.11-12; 9.25-26).
Antes, porém, permita-me abrir um parêntese teologicamente controverso. Quero que você reflita sobre ele — não para resolvê-lo esta manhã, nesta mensagem, mas apenas para considerá-lo.
Um dos pontos centrais da teologia reformada é a ideia da expiação definitiva (ou limitada). Essa doutrina afirma que, quando Cristo morreu — na ação decisiva de remover o pecado — ele fez isso pelo seu povo, e não por todos. Isso não significa que Cristo não tenha morrido por todos de certa forma, isto é, para tornar a expiação disponível a todos que creem (cf. Jo 3.16). Mas, ao ler os textos a seguir, fica claro que eles não fazem sentido se aplicados a todos indiscriminadamente. O pecado não foi removido para todos. Não há redenção eterna para todos. A purificação não foi concluída de uma vez por todas para todos. Há uma aliança especial entre o Noivo e a noiva, pela qual uma obra eficaz foi realizada no Calvário. Essa obra, eficaz e completa, assegura que a noiva esteja totalmente limpa.
Reconheço que este é um tema controverso e não espero que você o compreenda ou aceite completamente de imediato. Mas quero que saiba onde eu me posiciono e por que amo esses textos: porque sou a noiva de Cristo. A aliança que ele fez comigo (e não com o mundo), ao custo do seu próprio sangue, para me tornar sua noiva, é algo de valor inestimável. O amor que ele tem por você e por mim, como povo da aliança, é precioso. Esse amor está fundamentado em uma remoção completa, eficaz e definitiva de nossos pecados, realizada de uma vez por todas na cruz — algo que não foi feito pelo mundo, mas pela noiva. Precisamos sentir o valor incomparável disso. Caso contrário, corremos o risco de pensar algo como: “Bem, talvez eu seja tão perdoável quanto qualquer outro no mundo, mas nada além disso.”
Este é o fim do parêntese, e recomendo que você continue estudando esse tema nos próximos anos: expiação definitiva (ou limitada). Agora, nossos textos…
Hebreus 9.27-28 (NVT) 27E, assim como cada pessoa está destinada a morrer uma só vez, e depois disso vem o julgamento, 28também Cristo foi oferecido como sacrifício uma só vez para tirar os pecados de muitos. Ele voltará, não para tratar de nossos pecados, mas para trazer salvação a todos que o aguardam com grande expectativa.
Os “muitos”, conforme descritos em passagens como Hebreus 9.28, referem-se claramente à noiva de Cristo — os crentes, você e eu. São aqueles que foram conhecidos de antemão, predestinados, chamados, justificados em união com Cristo pela fé e serão glorificados (Rm 8.29-30), fazendo parte do povo da aliança. Esses “muitos” não representam toda a humanidade indiscriminadamente, mas aqueles que pertencem ao povo redimido, os eleitos de Deus, para quem a obra de Cristo foi eficaz e completa.
Essa distinção ressalta o amor específico e intencional de Cristo por sua noiva, o que torna a salvação ainda mais preciosa para os que creem. Próximo texto…
Hebreus 10.10 (NVT) Pois a vontade de Deus era que fôssemos santificados pela oferta do corpo de Jesus Cristo, de uma vez por todas.
Sua santificação foi plenamente adquirida pela oferta de Cristo, realizada de uma vez por todas. Próximo…
Hebreus 10.11-12 (NVT) 11O sacerdote se apresenta todos os dias para realizar os serviços sagrados e oferece repetidamente os mesmos sacrifícios que nunca podem remover os pecados. 12Nosso Sumo Sacerdote, porém, ofereceu a si mesmo como único sacrifício pelos pecados, válido para sempre. Então, sentou-se no lugar de honra à direita de Deus […]
Uma única oferta. Uma vez por todas. Por todos os pecados. E está consumado. Agora, o último texto…
Hebreus 10.14 (NVT) Porque, mediante essa única oferta, ele tornou perfeitos para sempre os que estão sendo santificados.
Os tempos verbais aqui são fundamentais. “Tornou perfeitos” está no passado perfeito, indicando algo concluído e cujos efeitos permanecem. “Estão sendo santificados”, por sua vez, está no presente contínuo, indicando um processo em andamento. Essa é a beleza de Hebreus 10.14: Todos aqueles que, pela fé, foram unidos a Cristo, que receberam o Espírito Santo e que estão progressivamente vencendo o pecado já são considerados perfeitos diante de Deus por causa do sangue de Jesus. Está consumado. Se você está sendo aperfeiçoado dia após dia, já é perfeito aos olhos do Pai.
Embora ainda não seja moralmente perfeito aqui, o progresso na santificação e a vitória sobre o pecado evidenciam sua união com Cristo. Tudo o que Ele conquistou na cruz é seu por meio da nova aliança. O Pai o vê como plenamente aceito e aperfeiçoado no Amado.
Compreenda essa verdade e viva na alegria dessa vitória. Recomendo essa verdade a você esta noite: viva no triunfo da obra consumada de Cristo.
Cristo nos purificou de nossos pecados. É por isso que nós podemos celebrar, entoando: “Cantai que o Salvador chegou. // Acolha a terra o Rei. // Ó, vós, nações, a ele só // contentes vos rendei, contentes vos rendei, // oh, sim, contentes vos rendei!”
S.D.G. L.B.Peixoto
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Cristo nos purificou de nossos pecados
Pr. Leandro B. Peixoto