20.02.2022
[Lamentações 3.19-23] 19Como é amargo recordar meu sofrimento e meu desamparo! 20Lembro-me sempre destes dias terríveis enquanto lamento minha perda. 21Ainda ouso, porém, ter esperança quando me recordo disto: 22O amor do SENHOR não tem fim! Suas misericórdias são inesgotáveis. 23Grande é sua fidelidade; suas misericórdias se renovam cada manhã.
“Como criar negócios de sucesso?” “Construa um negócio digital do zero e mude a sua vida para sempre!” Esse é o ar que se respira nas mídias sociais. Pessoas aos milhares mergulharam nessa caça ao tesouro. Há muita gente ficando milionária só de criar plataformas e vender cursos, fazer palestras, abrir canal, página ou perfil na internet, promover alguma atividade que gere experiências didáticas, além, claro!, de escrever livros (curtinhos, de preferência!) com experiências, dicas, promessas ou lições que supostamente revelarão o segredo para se alcançar o sucesso – e ser muito feliz, mudar a vida para sempre. Se não houvesse tanta demanda não surgiria a toda a hora outro guru do marketing digital vendendo os seus segredos. É impressionante!
Mas sabe o que realmente me espanta?
Parece que ninguém quer aprender o segredo de saber sofrer. De fato, a gente foge do sofrimento, vira as costas para a realidade o tempo todo. As plataformas de filmes e séries em demanda, os filmes do cinema, as novelas de TV, as mídias sociais, os jogos ou video games e, agora, o metaverso nada mais são do que portas e janelas para outra vida – a vida dos seus sonhos e desejos; a vida que te oferece um escape desta vida aqui no universo que você não quer, que você não suporta, que você não tolera viver. Isso é letal, gente! Veja, por favor, não me interpretem mal, não estou demonizando essas coisas em si; não estou praguejando o marketing digital ou as masterclasses, estou alertando para os seus graves perigos. Escapismo e idolatria, por exemplo, são alguns desses problemas mortais.
Uma coisa é certa e eu não preciso te convencer disso, o sofrimento é real e a gente tem que saber lidar com ele, não adianta fugir do universo para o metaverso. Ou você pensa que dá? Acha mesmo que lá estará imune ao sofrimento? Acredita que, lá nesse mundinho seu, você poderá se reinventar? De jeito nenhum! Ninguém está imune. Você mesmo pode atestar isto: todos nós sofremos. O tédio, a decepção, a tristeza, a enfermidade, a perda e a dor chegam para todos nós, independentemente de idade ou de classe social. Ricos e pobres, crianças e adolescentes, jovens e velhos, todo mundo sofre neste universo de pecado. Então o meu espanto: por que ninguém quer achar o segredo de saber sofrer?! Eu fico espantado!
Aliás, o que se acha na internet, por exemplo, é o segredo para não sofrer (no amor!). Sabe qual é? [Quanto você me paga para eu te revelar? Quanto valeria minha MasterClass do segredo do amor sem sofrimento?] O segredo para não sofrer no amor é… amar a si mesmo; amar a si mesmo mais do que ama a outra pessoa; ou então, achar um amor verdadeiro. Gente do céu! Pode uma coisa dessa? Daí é que as pessoas – inclusive cristãs – passam a vida inteira consagradas ao amor a si mesmas e à procura de um amor de verdade. Mas qual é o amor de verdade? Ora, claro que esse amor de verdade é aquele que aprendeu a falar as múltiplas linguagens do amor com tanta fluência que te faça sentir único, única, achar-se o máximo neste universo: alguém que viva para proferir palavras de afirmação a você; que gaste todo o tempo de qualidade do mundo com você; que te encha de presentes; que viva empenhado(a) em atos de serviço a você; que saiba te dar aquele toque físico. — Percebeu? — Esse amor verdadeiro que se busca é do tipo que faz o mundo inteiro girar em torno de você. Porque se assim não for, você sofrerá no amor. É por isso que digo: o mundo está insano, meu Deus!
Um dos livros mais vendidos dos últimos anos traz o título: O Segredo. Publicado em 2006, na sequência de um documentário, é um texto de autoajuda, escrito pela australiana Rhonda Byrne, que defende uma premissa muito simples: pensar em coisas boas e de forma positiva atrai coisas boas. Consultei o índice para saber se havia lá algo sobre o segredo de saber sofrer. Afinal, para ser feliz, a gente tem que saber lidar com o sofrimento. Ou não? Parece que não, segundo a autora. Eis o que encontrei no conteúdo dessa obra que vendeu creca de 40 milhões de cópias no mundo todo (o índice do livro O Segredo): O Segredo Revelado; O Segredo Simplificado; Como Usar O Segredo; Exercícios Poderosos – e, por fim os segredos em si, – O Segredo para o Dinheiro, O Segredo para os Relacionamentos, O Segredo para a Saúde, O Segredo para o Mundo, O Segredo para Você e O Segredo para a Vida.
Percebeu? Nada de sofrimento!
Fiz uma busca no livro. Procurei pelo verbo “sofrer”. Achei o seguinte (p. 106): “Enquanto meus contadores continuavam a sofrer por causa dos números e a se concentrarem nisso, eu mantive minha mente concentrada em abundância e sucesso.” Afinal, não se esqueça, hein!?, o segredo é: “pensar em coisas boas e de forma positiva atrai coisas boas.” Outra “pérola” que encontrei no livro (p. 165): “Você só pode sofrer dano se suscitar o dano pela emissão de pensamentos e sentimentos negativos.”
Descontente, procurei pelo gerúndio, “sofrendo”. Eis o que apareceu (p. 137):
Digamos que haja duas pessoas, ambas sofrendo de algo, mas uma delas escolhe se concentrar na satisfação. Uma escolhe viver de possibilidade e esperança, se concentrando em todas as razões pelas quais ser feliz e grata. E há a segunda pessoa. O diagnóstico é o mesmo, mas a segunda escolhe se concentrar na doença, na dor, no “como sou infeliz”.
Não sei você, mas eu fique com a impressão de que o segredo para a vida feliz é meio que ignorar a dor e se concentrar nas coisas boas desta vida. Pensamento positivo. Se você é “evangélico”: confissão positiva de fé. O problema é que quando você está sofrendo é quase impossível achar graça nesta vida. Pelo menos para mim é assim. E pra você? Mas parece que tem gente que consegue, ou se ilude tentando!
Fiz a última busca no livro O Segredo, dessa vez pelo substantivo “sofrimento”. Deparei-me com o seguinte (p. 131):
O Universo é uma obra-prima de abundância. Quando você se abre para sentir a abundância do Universo, experimenta maravilha, contentamento, prazer e todas as grandes coisas que o Universo tem para você – saúde, prosperidade, harmonia. Mas quando você se fecha com pensamentos negativos, sente desconforto, sente as dores, sente o sofrimento, e sente como se cada dia fosse algo doloroso.
Para quem acha que nós estamos perdendo tempo com essas citações, permitam-me reler a última com algumas substituições, com palavras mais “evangélicas”:
O Universo DEUS é uma obra-prima de abundância. Quando você se abre para sentir a abundância do Universo DE DEUS, experimenta maravilha, contentamento, prazer e todas as grandes coisas que o Universo DEUS tem para você – saúde, prosperidade, harmonia. Mas quando você se fecha com pensamentos negativos NÃO TEM FÉ, NÃO DEPENDE DA GRAÇA, sente desconforto, sente as dores, sente o sofrimento, e sente como se cada dia fosse algo doloroso.
Agora o jargão do livro: “pensar em coisas boas TER FÉ e de forma positiva SEM DUVIDAR atrai coisas boas”.
Diante do exposto, tire suas próprias conclusões a respeito de qual tem sido a fonte dos “evangelhos” pregados nesta geração de evangélicos. Certamente que não tem sido a própria Bíblia Sagrada, por mais que a utilizem, a leiam ou a mencionem. A fonte tem sido a panaceia da autoajuda, a onipotência do marketing digital, o erro do paganismo, o abismo das filosofias e religiões orientais, não o evangelho da cruz de Cristo.
Minha busca pelo substantivo “sofrimento” me trouxe à segunda e última citação que achei no livro O Segredo. Está preparado? Então vamos lá (p. 145):
Criamos tudo o que focalizamos. Logo, se ficarmos furiosos com, por exemplo, uma guerra em curso ou com a adversidade ou o sofrimento, acrescentaremos nossa energia ao processo. Estamos nos intrometendo, e isso só cria resistência. [E como escreveu Carl Jung, fundador da psicologia analítica:] “Aquilo a que você resiste, persiste.”
Resumindo, gente: o segredo para saber sofrer é negar o sofrimento; é pensar em coisas boas e de forma positiva para atrair coisas boas. Tornando um pouco mais “evangélico” esse segredo, meu povo: o segredo para saber sofrer é ter fé o suficiente para não sofrer; é falar de coisa boa, prosperidade, felicidade e sucesso… bora reinar em vida!
Mas quando se olha para a Bíblia, não é bem assim. O sofrimento é real.
Em um de seus belos livros – Caminhando com Deus em meio à dor e ao sofrimento (editora Vida Nova) – Timothy Keller conclui com um Epílogo (p. 341-343), por sinal bastante útil e que já valeria o preço da obra. Ele escreveu (p. 341):
Vamos resumir o que aprendemos até aqui. Se conhecermos a teologia bíblica do sofrimento e nela engajarmos nosso coração e mente, quando a tristeza, a dor e a perda chegarem, não seremos pegos de surpresa e poderemos responder conforme as várias maneiras ensinadas pelas Escrituras.
Na sequência do texto, Keller resume essas maneiras em dez atitudes que, segundo ele, devemos tomar. Destaco a de número seis (p. 342):
Temos de ser disciplinados em nosso pensamento. Devemos meditar na verdade e alcançar a perspectiva que decorre da nossa lembrança de tudo o que Deus já fez e ainda fará por nós [a história da redenção]. Precisamos também desenvolver uma “autocomunhão”. Isso significa ouvir o coração, refletir e dialogar com ele. Significa exclamar: “Por que estás abatida, ó minha alma […]?” (Sl 42.5), “[…] não te esqueças de nenhum dos seus benefícios” (Sl 103.2). Não é forçar determinado sentimento, mas orientar os pensamentos até que, mais cedo ou mais tarde, o coração também se envolva. Muito do pensamento e da autocomunicação que devemos praticar diz respeito à esperança cristã. O céu, a ressurreição e o mundo futuro perfeito são motivos importantes de meditação quando lidamos com a morte – a nossa ou a de outras pessoas. Essa meditação é vital para todo tipo de sofrimento.
Timothy Keller está pontuando algo – comunicando-nos um segredo – muito útil se quisermos saber como lidar com o nosso próprio sofrimento ou com o sofrimento dos outros. Keller está apontando para a importância do pensamento e também da teologia quando estivermos no meio do sofrimento, seja merecido ou não o sofrimento. Portanto, eis como nós poderíamos resumir o segredo de saber sofrer: a esperança para a hora do sofrimento brota da reafirmação da verdade bíblica para a nossa própria alma.
Portanto:
Essas questões não são teóricas ou acadêmicas. Quando o sofrimento, a dor, a dificuldade ou o julgamento atingirem sua vida, essas questões farão parte da dinâmica de viver, de uma forma ou de outra. Em outras palavras, a dor de qualquer tipo forçará você a fazer perguntas realmente importantes e testará ou colocará à prova o que você realmente acredita sobre a vida e sobre Deus. É por isso que o sofrimento é tanto traumático quanto esclarecedor. O sofrimento, seja ele voluntário ou involuntário, é bastante revelador: demonstra quem você realmente é; revela o que você acredita sobre Deus; testa você em níveis muito profundos. Portanto, conquanto o sofrimento seja muito difícil e jamais desejável, ele não é totalmente ruim. Os apóstolos Paulo e Tiago sabiam disso:
Romanos 5.3-5 3Também nos alegramos ao enfrentar dificuldades e provações, pois sabemos que contribuem para desenvolvermos perseverança, 4e a perseverança produz caráter aprovado, e o caráter aprovado fortalece nossa esperança, 5e essa esperança não nos decepcionará, pois sabemos quanto Deus nos ama, uma vez que ele nos deu o Espírito Santo para nos encher o coração com seu amor.
Tiago 1.2-4 2Meus irmãos, considerem motivo de grande alegria sempre que passarem por qualquer tipo de provação, 3pois sabem que, quando sua fé é provada, a perseverança tem a oportunidade de crescer. 4E é necessário que ela cresça, pois quando estiver plenamente desenvolvida vocês serão maduros e completos, sem que nada lhes falte.
Nessas horas de dificuldades e de provações é que nos servirão os lamentos. Lamento é uma das coisas mais teologicamente ricas que um cristão pode fazer porque o sofrimento – por qualquer motivo – é um dos momentos mais teologicamente esclarecedores de nossa vida. Um lamento nos ajuda a dar voz à dor e a ancorar nossa vida nas verdades que cremos e professamos a respeito de Deus. O lamento é o combustível da alma que persevera para a salvação. Disse Jesus em Lucas 21.19 “É pela perseverança que obterão a vida.” Quem não lamenta biblicamente corre o risco de não prosseguir.
Você lamenta ou você murmura?
O que seu lamento tem revelado sobre Deus?
Ouça o que o lamento de Jeremias revelou sobre seu Deus:
Lamentações 3.22-23 (ARA) 22As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; 23renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade.
É provável que esses versículos sejam os mais conhecidos do livro inteiro. E talvez você não saiba que, como eu mesmo não sabia até estudar Lamentações 3, foram esses versículos, sobretudo o 23 que declara “Grande é a tua fidelidade”, que inspiraram o hino tão conhecido e apreciado de todos nós: “Tu És Fiel Senhor” (HCC 25), composto em 1923 por Thomas O. Chisholm [soa como chi.zm]. Apesar de não haver uma história dramática para a composição de “Tu És Fiel Senhor” (HCC 25), há no entanto, um comentário do autor que reflete como a fidelidade do Senhor que nos acompanha ao longo da vida o havia inspirado. Já no final da sua carreira, ao falar do poema do hino, Thomas O. Chisholm [soa como chi.zm] comentou que o seu salário nunca foi muito alto devido à sua saúde precária – que não o permitiu ser pastor como aspirava e teve que viver das poucas vendas de seguros. Mesmo assim ele jamais deixou de afirmar gratidão a Deus pela sua fidelidade, pois nunca nada lhe faltara e o cuidado de Deus foi-lhe demonstrado de diversas formas ao longo da vida.
A maioria das pessoas canta esse hino com o propósito de agradecer pelo que Deus fez, faz e fará. É tipicamente um hino de gratidão pelo cuidado e provisão do Senhor. E é verdade. Mas em Lamentações 3, “Grande é a tua fidelidade” (v. 23) foi dito quando Jeremias olhava para uma cidade destroçada, fumegante, destruída e saqueada. Em outras palavras, Jeremias não estava apenas refletindo em seu coração a respeito da fidelidade do Senhor; ele estava direcionando seu coração para o que é verdadeiro apesar do que seus olhos enxergavam e sentia o seu coração. Jeremias estava empunhando para si mesmo e ensinando a seu povo (a nós) o que é verdadeiro para que a esperança não acabasse; antes, para que crescesse, florescesse e frutificasse a esperança.
Jeremias está nos contado o seu segredo: o segredo de saber sofrer:
[Lamentações 3.19-23] 19Como é amargo recordar meu sofrimento e meu desamparo! 20Lembro-me sempre destes dias terríveis enquanto lamento minha perda. 21Ainda ouso, porém, ter esperança quando me recordo disto: 22O amor do SENHOR não tem fim! Suas misericórdias são inesgotáveis. 23Grande é sua fidelidade; suas misericórdias se renovam cada manhã.
Cerca de 20 ou 40 anos antes (626–600 a.C.) da invasão babilônica em si (586 a.C.), o profeta Habacuque foi um dos poucos que deu crédito à pregação de Jeremias. Os outros consideraram o aviso profético uma demonstração de antipatriotismo. Mas Habacuque creu na pregação de Jeremias e apresentou sua dúvida ou queixa a Deus:
Habacuque 1.12-13 12Ó SENHOR, meu Deus, meu Santo, tu que és eterno certamente não planejas nos exterminar! Ó SENHOR, nossa Rocha, enviaste os babilônios para nos disciplinar, como castigo por nossos pecados. 13Mas tu és puro e não suportas ver o mal e a opressão; permanecerás indiferente diante desses traiçoeiros? Ficarás calado enquanto os perversos engolem os que são mais justos que eles? […]
Habacuque 2.1 Subirei até minha torre de vigia e ficarei de guarda. Ali esperarei para ver o que ele diz, que resposta dará à minha queixa.
Na sequência, o Senhor apresenta seus argumentos a Habacuque, revelando o quanto Judá era pecadora e não esboçava a menor intenção de se arrepender e crer, não tinha o menor desejo de se converter de seus maus caminhos, e conclui dizendo ao profeta:
Habacuque 2.19-20 19Que aflição espera vocês que dizem a ídolos de madeira: ‘Despertem!’, e que dizem a imagens mudas de pedra: ‘Levantem-se!’. Acaso um ídolo pode lhes dizer o que fazer? Apesar de serem revestidos de ouro e prata, não há vida dentro deles. 20O SENHOR, porém, está em seu santo templo; toda a terra cale-se diante dele.”
Habacuque entra no seu quarto e em secreto ora ao SENHOR (em Habacuque 3), e conclui o seu livro profético com as seguintes palavras de lamento:
Habacuque 3.16-19 16Estremeci por dentro quando ouvi isso; meus lábios tremeram de medo. Minhas pernas vacilaram, e tremi de terror. Esperarei em silêncio pelo dia em que a calamidade virá sobre nossos invasores. 17Ainda que a figueira não floresça e não haja frutos nas videiras, ainda que a colheita de azeitonas não dê em nada e os campos fiquem vazios e improdutivos, ainda que os rebanhos morram nos campos e os currais fiquem vazios, 18mesmo assim me alegrarei no SENHOR; exultarei no Deus de minha salvação! 19O SENHOR Soberano é minha força! Ele torna meus pés firmes como os da corça, para que eu possa andar em lugares altos. (Ao regente do coral: Essa oração deve ser acompanhada por instrumentos de corda.)
O sofrimento revelou a mesma coisa no coração dos profetas Habacuque e Jeremias: seu amor era para o SENHOR; seu tesouro era o SENHOR; sua alegria era o Deus de sua salvação. Este era o segredo dos profetas: o amor, as misericórdias a fidelidade do SENHOR que não têm fim e que se renovam a cada manhã para nós pecadores que nada merecemos.
Voltaremos hoje à noite para o texto de Lamentações 3. Iremos desembrulhá-lo para aprender com Jeremias como nós podemos cultivar a esperança enquanto juntamos os cacos e tateamos na escuridão de nosso sofrimento. Por ora, que fique para você o segredo de saber sofrer dos profetas, em linhas gerais:
[1.] encare o sofrimento, não fuja dele:
Habacuque 1.2 Até quando, SENHOR, terei de pedir socorro? Tu, porém, não ouves. Clamo: “Há violência por toda parte!”, mas tu não vens salvar.
[2.] leve o sofrimento a Deus em oração, e espere:
Habacuque 2.1 Subirei até minha torre de vigia e ficarei de guarda. Ali esperarei para ver o que ele diz, que resposta dará à minha queixa.
[3.] sustente a sua fé pela palavra de Deus, e de ninguém mais:
Habacuque 3.1-2 1O profeta Habacuque entoou esta oração: 2Ouvi a teu respeito, SENHOR; estou maravilhado com tuas obras. Neste momento de tanta necessidade, ajuda-nos outra vez, como fizeste no passado. E, em tua ira, lembra-te de tua misericórdia.
[e o que vem a seguir – vs. 3-15 – são recordações, memórias dos grandes feitos de Deus na libertação do povo hebreu do Egito e o cuidado de Deus no deserto. Até que Habacuque conseguiu cantar com fé:]
Habacuque 3.17-19 17Ainda que […] ainda que […] ainda que […] 18mesmo assim me alegrarei no SENHOR; exultarei no Deus de minha salvação! 19O SENHOR Soberano é minha força! Ele torna meus pés firmes como os da corça, para que eu possa andar em lugares altos.
O segredo de saber sofrer, segundo Habacuque e Jeremias, é este: [1.] encare o sofrimento, não fuja dele; [2.] leve o sofrimento a Deus em oração, e espere; e [3.] sustente sua fé pela palavra de Deus, e de ninguém mais.
Foi assim mesmo que Jesus sofreu; e o seu sofrimento o ensinou – Hebreus 5.8: “Embora fosse Filho, aprendeu a obediência por meio de seu sofrimento.” Na medida em que se mantinha fiel ao Pai em cada tentação e em meio a cada sofrimento, além de provar que era homem perfeito, sem pecado, a capacidade moral humana de Jesus ia cada vez mais sendo fortalecida. E qual era o segredo de Jesus? O mesmo dos profetas: [1.] Jesus encarava o sofrimento, e não fugia dele; [2.] Jesus levava o sofrimento a Deus, em oração; e [3.] Jesus sustentava sua fé pela palavra de Deus, e de ninguém mais:
Mateus 4.4 Jesus, porém, respondeu: “As Escrituras dizem: ‘Uma pessoa não vive só de pão, mas de toda palavra que vem da boca de Deus’”.
Mateus 26.42 “Meu Pai! Se não for possível afastar de mim este cálice sem que eu o beba, faça-se a tua vontade”.
Mateus 27.46 Por volta das três da tarde, Jesus clamou em alta voz: “Eli, Eli, lamá sabactâni?”, que quer dizer: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”.
Agora, o pior de todos os sofrimentos possíveis somente Jesus padeceu para que você, se nele crer, não tenha de padecer, padecer eternamente. Jesus tomou sobre si a pena do nosso pecado para que você, se nele crer, seja justificado (perdoado) e santificado (transformado) de modo que nenhum sofrimento nesta vida possa lhe causar qualquer mal eterno, de modo que a sua perseverança lhe conduza à vida eterna.
O nosso sofrimento não nos redime, ele nos remete à união com Cristo pela fé.
De modo bem prático:
Mais perto quero estar, meu Deus, de ti
Inda que seja a dor que me una a ti!
Sempre hei de suplicar
Mais perto quero estar
Meu Deus, de ti!
Andando triste aqui, na solidão
Paz e descanso a mim teus braços dão
Sempre hei de suplicar
Mais perto quero estar
Meu Deus, de ti!
Minha alma cantará a ti, Senhor
Cheia de gratidão por teu amor
Sempre hei de suplicar
Mais perto quero estar
Meu Deus, de ti!
E quando a morte, enfim, me vier chamar
Com serafins nos céus irei morar
Então me alegrarei
Perto de ti, meu Rei
Meu Deus, de ti!
Como você tem a aprender com Jeremias! Eu tenho. Será que você não?
[Lamentações 3.19-23] 19Como é amargo recordar meu sofrimento e meu desamparo! 20Lembro-me sempre destes dias terríveis enquanto lamento minha perda. 21Ainda ouso, porém, ter esperança quando me recordo disto: 22O amor do SENHOR não tem fim! Suas misericórdias são inesgotáveis. 23Grande é sua fidelidade; suas misericórdias se renovam cada manhã.
Este é o segredo: saber sofrer. Sofer como quem tem esperança. Sobre como ousar ter esperança cultivando a esperança, venha hoje à noite, quando mergulhemos em Lamentações 3.
S.D.G. L.B.Peixoto
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