03.06.2018
CURA E CONSAGRAÇÃO
João 5.1-15
1Depois disso, Jesus voltou a Jerusalém para uma das festas religiosas dos judeus. 2Dentro da cidade, junto à porta das Ovelhas, ficava o tanque de Betesda, com cinco pátios cobertos. 3Ficavam ali cegos, mancos e paralíticos, uma multidão de enfermos, [esperando um movimento da água, 4pois um anjo do Senhor descia de vez em quando e agitava a água. O primeiro que entrava no tanque após a água ser agitada era curado de qualquer enfermidade que tivesse.] 5Um dos homens ali estava doente havia 38 anos. 6Quando Jesus o viu e soube que estava enfermo por tanto tempo, perguntou-lhe: “Você gostaria de ser curado?”. 7O homem respondeu: “Não consigo, senhor, pois não tenho quem me coloque no tanque quando a água se agita. Alguém sempre chega antes de mim”. 8Jesus lhe disse: “Levante-se, pegue sua maca e ande!”. 9No mesmo instante, o homem ficou curado. Ele pegou sua maca e começou a andar. Uma vez que esse milagre aconteceu no sábado, 10os líderes judeus disseram ao homem que havia sido curado: “Hoje é sábado! A lei não permite que você carregue essa maca!”. 11Mas ele respondeu: “O homem que me curou disse: ‘Pegue sua maca e ande’”. 12“Quem foi que lhe disse uma coisa dessas?”, perguntaram eles. 13O homem não sabia, pois Jesus havia desaparecido no meio da multidão. 14Mais tarde, Jesus o encontrou no templo e lhe disse: “Agora você está curado; deixe de pecar, para que nada pior lhe aconteça”. 15O homem foi até os líderes judeus e lhes disse que tinha sido Jesus quem o havia curado.
Divertindo-nos até a morte
Como você gasta seu tempo livre? No que você emprega suas horas longe dos compromissos com estudos ou trabalho? A televisão ainda é o principal meio de comunicação no Brasil, seguida do rádio; mas nós já passamos mais tempo navegando na internet do que na frente da TV ou nas ondas do rádio: média de 5 a 6 horas diárias conectados, online. Na dieta digital do brasileiro, os recordistas de horas gastas na Rede Mundial de Computadores são os sistemas de mensagens instantâneas(WhatsApp, etc.), as redes sociais(Facebook, Instagram etc.) e os games.
Quando não estão online, geralmente as pessoas estão diante de alguma tela, consumindo os programas disponíveis nos canais abertos ou nos pacotes de assinatura de TV à cabo ou nos serviços de streaming contratados para filmes, séries, etc. É tempo demais com diversão! É muito tempo investido apenas em si mesmo!
Divertindo-nos até a morte: discurso público na era do espetáculo(1985, apenas em inglês: Amusing Ourselves to Death: Public Discourse in the Age of Show Business) é um livro perceptivo, mas inquietante, escrito por Neil Postman (já falecido, 1931-2003), ex-professor-presidente do Departamento de Comunicação e Artes da Universidadede Nova Iorque. Ele argumenta que a televisão nos tem mutilado a capacidade de pensar e reduzido a nossa aptidão para a verdadeira comunicação (imaginem como estamos agora — 33 anos após o lançamento do livro, com o atropelamento que sofremos pelo mundo digital!).
Postman assegura que, ao invés de nos tornar a mais bem informada e erudita de todas as gerações da história, a televisão (e acrescentaríamos: a mídia e a internet) tem inundado nossa mente com informações irrelevantes, triviais e sem significado; tem também condicionado nosso coração apenas ao entretenimento, tornando obsoletas outras formas de interação humana (contato pessoal, cuidado do próximo, diálogo, reflexão, pregação, aula ou palestra, etc.). Ou seja: estamos desperdiçando tempo e vida dando gargalhada (à caminho da morte, literalmente), “emburrecendo-nos”, vivendo cada vez mais para nós mesmos, tornando-nos num tipo de pessoa totalmente oposta ao ideal de Deus para o ser humano (i.e., curvada em si mesma, como disse Martinho Lutero).
O teatro da condição humana
O texto de hoje nos mostra, primeiramente, o teatro da condição humana: entregues a nós mesmos, estamos todos entretidos (escravisados, na verdade) com o pecado; não conseguimos (mesmo que desejássemos!) largá-lo por nada nem ninguém.
Olhe para o texto e veja. Note que é mencionada umafesta religiosa dos judeus acontecendo em Jerusalém (v. 1). João, porém, em vez de falar da festa (tanto que nem sabemos que festa era aquela), resolveu descrever a “Casa de Misericórdia de Jerusalém” ou o “HUJE (Hospital de Urgências de Jerusalém)” — na verdade, lugar onde “uma multidão de enfermos”vivia esperando por um milagre (vv. 1-3). Observe (vv. 1-4):
1Depois disso (depois de um período de tempo desde os últimos acontecimentos narrados até aqui em João), Jesus voltou a Jerusalém para uma das festas religiosas dos judeus. 2Dentro da cidade, junto à porta das Ovelhas, ficava o tanque de Betesda, com cinco pátios cobertos. 3Ficavam ali cegos, mancos e paralíticos, uma multidão de enfermos, [esperando um movimento da água, 4pois um anjo do Senhor descia de vez em quando e agitava a água. O primeiro que entrava no tanque após a água ser agitada era curado de qualquer enfermidade que tivesse.]
A festa foi citada apenas para contrastar os dois mundos tão distintos em que se encontra o ser humano (aliás, João parece gostar de tecer sua narrativa fazendo contrastes do estado das coisas e das pessoas com as festas dos judeus — além desta [Jo 5.1], houve a Festa da Páscoa[2.13; 6.4; 11.55], a Festa dos Tabernáculos[colheita de uvas e olivas, 7.2] e a Festa da Dedicação[celebração da vitória sobre Antíoco Epifânio dos sírios, 10.22]). João não é festeiro; ele não se importa com festas. De fato, o que faz (Jo 5.1-4) é mostrar a miséria em que vivia toda aquela gente; ele não fala da festa dos judeus. Por quê?
O apóstolo quer nos fazer enxergar os fatos da perspectiva de Jesus; intenciona nos revelar que o Salvador do mundo (Jo 4.42) não olha para a vida da perspectiva que nós gostamos de olhar (entretenimento). Foi por isso que ele não enfatizou a festa; não falou do esplendor e da beleza daquela tradição; não teceu detalhes sobre a multidão festeira; não mostrou as variedades nem as opções gastronômicas; não narrou os tarjes nem as tendências da moda; não contou da música. Não, não! Nada disso!
João, ao contrário, mostrou-nos a realidade como ela de fato é: a humanidade, tendo desprezado o Senhor da glória, tornou-se carente da glória de Deus (Rm 3.23), passou a viver em estado de miséria. João nos mostra a festa pelas lentes de Jesus. É como se o apóstolo estivesse nos dizendo algo mais ou menos assim (vv. 2-4):
Ah é! Quer ver a festa (v. 1)? Olhe para dentro da cidade, junto à porta das Ovelhas, lá no tanque de Betesda, com cinco pátios cobertos. Veja ali cegos, mancos e paralíticos, uma multidão de enfermos. Atente-se para o que eles acreditam. Eles esperam, supersticiosamente, por um movimento da água, um anjo do Senhor descer de vez em quando e agitar a água. Assim, eles creem, o primeiro que entrar no tanque após a água ser agitada será curado de qualquer enfermidade que tiver.
Jesus enxerga a miséria humana: escassez, dor, tristeza, injustiça, superstição, impotência, decepção, desilusão (e muito mais) na humanidade que foi destituída da glória de Deus por causa do pecado (Rm 3.23). E João quer que nós também enxerguemos a miséria humana: “Olhe! Esqueça a festa. Veja o fiasco. Esqueça a festa. Olhe para o fracasso da humanidade sem Deus no mundo.”O que se vê?
1. A marginalização do ser humano (vv. 1-3)
João quer que vejamos a marginalização do ser humano; ou seja: em um contexto de festa (no qual vive a sociedade), os diferentes, os enfermos, enfim, os necessitados são sempre marginalizados. Afinal, a religião não os acolhe, o estado não os ajuda e a sociedade não consegue conviver com essa gente: o entretenimento descarta os enfermos.
É preciso ver que longe da graça de Deus a humanidade é perversa, pois exclui, marginaliza, despreza e abandona o que não é interessante nem divertido; longe da graça de Deus, o estado não consegue ajudar, a religião não consegue amparar e a sociedade (as pessoas) não consegue amar (e nem quer amar!). Definitivamente, sem a graça de Cristo abundando no coração do homem, a marginalização é fato consumado. Olhe para o texto. Olhe ao seu redor. Olhe para o seu coração. Olhe para o seu comportamento. Veja a desgraçada marginalização do ser humano: todos entretidos na festa, enquanto os enfermos jaziam e jazem largados nas filas da miséria humana.
2. A enfermidade da raça humana (v. 3)
Agora, em segundo lugar, veja a enfermidade da raça humana. No versículo 3, vemos João definindo aquela gente como “uma multidão de enfermos”.
3Ficavam ali cegos, mancos e paralíticos, uma multidão de enfermos, esperando um movimento da água,
“Enfermos”, do grego: impotente, incapaz,inválido, fraco, doente. “Enfermos” como? Eram todos “cegos, mancos e paralíticos”, uma “multidão” deles, todos jogados ali, à beira da morte. Por que João se atenta para todos esses detalhes? Ele estava dizendo que todos lá nas “festas religiosas dos judeus” (v. 1) eram como aquela “multidão de enfermos”: “cegos, mancos e paralíticos”(v. 3). Isolavam-se dos doentes, mas eram todos doentes! Como assim, João? Eles serviam a Deus com zelo, mas sem entendimento (Rm 10.2). João afirma que o ser humano, sem a graça de Deus, é enfermo, impotente, incapaz, fraco, doente.
Primeiro, é cego: não vê sua perdição à parte de Deus, não reconhece seu estado, não vê sua ruína, não vê que seu propósito maior na vida é glorificar a Deus com toda a força de seu coração, não consegue enxergar a destruição eterna que o aguarda por viver longe de Deus. Enfim, a mente e o coração não enxergam sua necessidade de graça; não enxergam “a glória de Deus, na face de Cristo”(2Co 4.6, ARA); não enxergam “a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus”(2Co 4.4, ARA). Estão cegos.
Segundo, é manco: não consegue andar nos caminhos de Deus, pois despreza a lei de Deus, debocha dela, deturpa ela; segue numa direção que, ao final, levará à destruição; incapaz de seguir uma linha certa; seus passos os levam à ruína; seus passos o afastam de Deus. Mesmo que tente sozinho, mancando, o ser humano anda e cai para longe de Deus.
Terceiro, é paralítico(grego:mãos paralisadas; confira: Mt 12.10 e Lc 6.6): totalmente incapaz de trabalhar para Deus de forma a glorificar a Deus; incapaz de fazer o que agrada a Deus. Enfim, sem a graça de Deus, a humanidade está enferma, depravada.
3. A superstição religiosa (vv. 3-4)
Marginalizado e enfermo, o ser humano busca socorro na superstição religiosa:
3Ficavam ali cegos, mancos e paralíticos, uma multidão de enfermos, [esperando um movimento da água, 4pois um anjo do Senhor descia de vez em quando e agitava a água. O primeiro que entrava no tanque após a água ser agitada era curado de qualquer enfermidade que tivesse.]
“A multidão de enfermos”ficava esperando pelo que não tinha fundamento. Crendice popular. Eram todos supersticiosos. Observe o texto entre colchetes nos versos 3 e 4 — isto na NVT, pois na ARA os colchetes estão apenas no verso 4; NVI e ARC não colocam colchetes. O que significam os colchetes no texto?
O texto entre colchetes não aparece nos manuscritos originais mais antigos do Novo Testamento. Parece-nos, portanto, que se trata de uma nota explicativa adicionada, posteriormente, por algum copista do texto sagrado com o propósito de esclarecer o versículo 7, onde se tem a fala do paralítico curado, choramingando para Jesus:
7O homem respondeu: “Não consigo, senhor, pois não tenho quem me coloque no tanque quando a água se agita. Alguém sempre chega antes de mim”.
O texto entre colchetes no verso 4 oferece-nos a explicação supersticiosa que tomava conta do imaginário popular da época de Jesus. Arqueólogos, no entanto, revelam que o que fazia a água se mexer era um lençol d’água que passava no fundo do tanque. O tanque era um buraco cavado em uma rocha. Era assim que se abria poços naquela região: cavavam nas rochas. Por falta de água, cavavam poços em lugares onde a água da chuva pudesse ser represada, criando uma espécie de caixa d’água para os tempos de seca.
Ao que tudo indica, explicam os estudiosos, ao cavarem o poço, deram com um lençol d’água no fundo, e sempre que jorrava com mais força e pressão, a água agitava o poço. Daí, então, que surgiu o mito de que um anjo descia e agitava as águas. O verso 4, portanto, é uma nota de esclarecimento para o verso 7, mas que ao mesmo tempo nos informa a respeito daquilo que o povo cria como explicação para a água se mexer.
Observe que o texto (v. 7) não aponta qualquer cura concreta; ou seja, aquela “multidão de enfermos”vivia alimentada por um mito, por uma superstição religiosa. Afinal, mesmo que alguém pudesse ter sido curado, a cura não teria passado da graça de Deus em ação (parece que não houve milagre por lá; veja Jo 9.32-33, onde o cego de nascença, defendendo a divindade de Jesus, destacou nunca ter havido tal tipo de milagre sem a graça de Deus). Porém, na cabeça e no coração daquela gente, a esperança estava no mito supersticioso de que um anjo descia e agitava as águas do poço que os curavam.
A humanidade, sempre, desde sempre, marginalizada e enferma pelo pecado, busca e vive de mitos ou superstições religiosas: falsos profetas; falsas esperanças; falsas religiões; torna-se escrava de suas crendices impotentes para socorrê-la. Vive presa ao poço. Não consegue sair do poço de sofrimento. Superstição e crendices escravizam.
4. A vida desperdiçada (v. 5)
Miserável e enfermo pelo pecado, escravo de suas superstições, mitos e crendices, o ser humano desperdiça sua vida nos poços de falsas esperanças desta vida sem Deus:
5Um dos homens ali estava doente havia 38 anos.
38 anos! Esse homem gastou toda sua vida com a enfermidade. 38 anos! Como pôde ser?
Vítima do pecado, impotente pelo pecado, cego pelo pecado, apegou-se a um tipo de vida e de esperança que o fez desperdiçar a vida. Viveu de alegrias passageiras (apenas enquanto durava o movimento das águas) e se consumiu pela desgraça que o acompanhava (vivia lamentando, v. 7).
Assim caminha a humanidade ainda hoje: desperdiçando sua vida em falsas esperanças e prazeres passageiros; alienando-se com mitos, superstições, crendices (tanto religiosas como cientificamente, tecnologicamente sofisticadas) e falsas esperanças. Quando se vê, perdeu-se 38 anos, 48 anos, 58 anos… perdeu-se a vida, desperdiçou-se a vida consigo mesmo neste mudo de prazeres sem Deus. Sem a graça de Cristo a humanidade vive na miséria, desperdiça sua vida, caminha sem Deus no mundo.
5. O coração bloqueado (vv. 6-7)
Neste teatro da condição humana, o Senhor Jesus também viu um bando de gente centrada em si mesma e, por isso, vitimizada, descontente, com o coração bloqueado:
6Quando Jesus o viu e soube que estava enfermo por tanto tempo, perguntou-lhe: “Você gostaria de ser curado?”. 7O homem respondeu: “Não consigo, senhor, pois não tenho quem me coloque no tanque quando a água se agita. Alguém sempre chega antes de mim”.
“Você gostaria de ser curado?”(v. 6), como assim, Jesus? Por que a pergunta?
Cura para o pecado passa, necessariamente, pelo reconhecimento do estado miserável em que se vive — fruto do pecado que nos matou (espiritualmente) e nos mata aos pouco (moral e fisicamente). Jesus quer ouvir simou nãodo pecador. O paralítico, porém, vomita um monte de lamentos, revelando que seu coração estava bloqueado para Deus. Ele só queria cura para o corpo. Não queria cura para o coração.
Sobre a resposta que o paralítico dá a Jesus (v. 7), D. A. Carson anota que se trata de uma “resposta rabugenta de um homem velho e não muito perceptivo que pensava estar respondendo a uma pergunta estúpida”. É o coração do homem bloqueado pelo pecado, impenetrável para a cura, indiferente para a nova vida que Jesus quer nos dar.
Observe o verso 7. Em vez de dar a resposta certa à pergunta de Jesus (simou não), ele começa a reclamar (e nada como uma boa reclamação — boas desculpas — para se manter o coração trancado para os outros e, principalmente, para a graça de Deus!):
Ele deveria simplesmente ter reconhecido sua doença e ter dito assim: “Sim, senhor, quero ser curado, pois não aguento mais esta vida miserável! Quero ser curado e glorificar a Deus!”, mas, não, ele apenas despejou em Jesus seu descontentamento pela incapacidade pessoal; descontentamento com as pessoas, as circunstâncias e a própria sorte.
Aquele paralítico não queria cura para o coração, apenas para o corpo. Ainda pior do que isto (i.e., não querer cura para o coração): ele não tinha a menor noção de quem era a pessoa com quem ele estava conversando e de como poderia obter salvação.
Primeiro, note o substantivo (v. 7), acertadamente, com letra minúscula (na NVT): “senhor” (grego: kyrie). D. A. Carson esclarece: “kyrie significa não mais que um simples “senhor”(as versões KJ e ESV em inglês, traduzem em “Sir”); ou seja: assim como a mulher samaritana, no início de sua conversa com Jesus (em Jo 4.11 e 15 ela usakyrie), esse paralítico ainda não sabia que Jesus é Deus encarnado. Se soubesse, não teria usado um simples “senhor” (grego: kyrie), mas “Senhor” (grego: kyrios).
Segundo, note que ao ser abordado pelos fariseus, o paralítico, que carregava a maca em dia de sábado (quebrando a lei, segundo os fariseus ensinavam), culpou Jesus por estar carregando-a, tentando evitar dificuldades com as autoridades judaicas (vv. 9-11):
9No mesmo instante, o homem ficou curado. Ele pegou sua maca e começou a andar. Uma vez que esse milagre aconteceu no sábado, 10os líderes judeus disseram ao homem que havia sido curado: “Hoje é sábado! A lei não permite que você carregue essa maca!”. 11Mas ele respondeu: “O homem que me curou disse: ‘Pegue sua maca e ande’”.
Terceiro, observe a insensibilidade, a incredulidade deste homem. Mesmo após ser curado, não procurou saber o nome de Jesus (v. 11); e uma vez que descobriu o nome dele, denunciou Jesus às autoridades, agiu como Judas Iscariotes (v. 15). Veja (vv. 12-16):
12“Quem foi que lhe disse uma coisa dessas?” [“Pegue sua maca e ande”], perguntaram eles. 13O homem não sabia, pois Jesus havia desaparecido no meio da multidão. 14Mais tarde, Jesus o encontrou no templo e lhe disse: “Agora você está curado; deixe de pecar, para que nada pior lhe aconteça”. 15O homem foi até os líderes judeus e lhes disse que tinha sido Jesus quem o havia curado. 16Então os líderes judeus começaram a perseguir Jesus por não respeitar as regras do sábado.
Esse homem não estava dando crédito ou glória a Jesus pelo milagre (como D. A. Carson argumentou tão bem eu seu comentário do texto). Na verdade, o paralítico curado está entregando Jesus às autoridades, pois não queria ter problemas com elas. Desejava agora viver a vida como bem entendia; queria agora “aproveitar” a vida pelos anos “perdidos” com a paralisia; queria “desfrutar” da cura para si mesmo e não para a glória de Deus. É a dureza do coração humano. É o coração bloqueado para a graça de Deus.
Jesus, no entanto, o advertiu: pior do que passar a vida paralítico, fisicamente; pior do que não ter o corpo curado; pior do que ser perseguido e morto pelos fariseus… é você desperdiçar a vida no pecado, vivendo para si mesmo e para os prazeres sem Deus:
14Mais tarde, Jesus o encontrou no templo e lhe disse: “Agora você está curado; deixe de pecar, para que nada pior lhe aconteça”. 15O homem foi até os líderes judeus e lhes disse que tinha sido Jesus quem o havia curado.
Pobre homem! Foi derramado graça sobre graça na vida dele (graça: ele foi curado; sobre graça: Jesus se apresentou a ele, foi atrás dele e se revelou a ele e o advertiu); graça sobre graça na vida dele, mas ele preferiu se livrar de Jesus e das autoridades judaicas (vv. 15-16) para poder viver em paz sua vida de homem curado, gastando-a consigo mesmo e com seus prazeres sem Deus. É a dureza do coração humano. É o bloqueio do coração para o amor de Deus Pai, para a graça salvadora de Jesus Cristo e para as consolações do Espírito Santo de Deus. É pecado imperdoável. É o mesmo pecado de Judas Iscariotes.
Cura e consagração
Semana que vem, Deus permitindo, voltaremos aqui. Olharemos para Jesus, para o teatro da glória de Deus. Hoje, porém, foi preciso nos concentrarmos neste teatro da condição humana, ou seja: Jesus veio para os que eram seus, mas os seus não o receberam (como Senhor e Salvador do mundo); receberam-no como um poderoso curandeiro, como um mestre sábio, um marido de aluguel que conserta nossos problemas para vivermos do jeito que desejarmos… não como Deus que se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e verdade, para buscar e salvar o pecador.
Esse paralítico foi curado, mas parece que não se salvou. Por que, meu Deus, por quê? Ele amou mais as trevas do que a luz. Ele preferiu a glória dos homens à glória de Deus. Ele quis manter a vida (longe dos problemas com os fariseus; longe de envolvimento com Jesus Cristo) para desfrutar a vida do seu jeito. Só que ele perdeu a vida. Mesmo curado da paralisia, ele perdeu a vida, perdeu a vida eterna! Ganhou saúde e desperdiçou a vida no pecado das trevas sem Cristo, no altar da idolatria da glória dos homens (Jo 5.44). Que pena! Que perda! Perda eterna. Uma lástima!
Este é o teatro da condição humana. Que papel você ocupa nele? Esse paralítico curado desperdiçou a vida, primeiro, nas consequências do pecado (enfermo) e, depois, nos prazeres do coração sem Deus, amante das trevas sem Cristo (Jo 5.14-15).
14Mais tarde, Jesus o encontrou no templo e lhe disse: “Agora você está curado; deixe de pecar, para que nada pior lhe aconteça”. 15O homem foi até os líderes judeus e lhes disse que tinha sido Jesus quem o havia curado.
Quão diferente de outro que também foi curado por Jesus: o cego de nascença (João 9). Interrogado, pressionado e ameaçado pelos líderes religiosos, ele não temeu pela própria vida, amou mais a glória de Deus que a dos homens, amou mais a luz de Jesus do que as trevas desse mundo sem Deus; confessou que Jesus era seu Deus e Salvador (Jo 9.32-38):
32“Ninguém jamais ouviu que os olhos de um cego de nascença tivessem sido abertos. 33Se esse homem não fosse de Deus, não poderia fazer coisa alguma”. 34Diante disso, eles responderam: “Você nasceu cheio de pecado; como tem a ousadia de nos ensinar?” E o expulsaram. 35Jesus ouviu que o haviam expulsado, e, ao encontrá-lo, disse: “Você crê no Filho do homem?” 36Perguntou o homem: “Quem é ele, Senhor, para que eu nele creia?” 37Disse Jesus: “Você já o tem visto. É aquele que está falando com você”. 38Então o homem disse: “Senhor, eu creio”. E o adorou.
E você? Como você tem empregado sua vida? Como tem investido sua saúde, juventude, vigor, aposentadoria e dinheiro? O paralítico curado continuou vivendo para si mesmo, não entendeu que há sim coisa pior para acontecer do que ser doente nesta vida (Jo 5.14), pior que ser perseguido pela fé que professamos, pior que não “aproveitar” a vida. Mas, o quê? Adiante, no mesmo capítulo 5, Jesus declarou (Jo 5.24-25):
24“Eu lhes asseguro: Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna e não será condenado, mas já passou da morte para a vida. 25Eu lhes afirmo que está chegando a hora, e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e aqueles que a ouvirem, viverão.
Pior do que viver doente nesta vida é ser condenado eternamente após a morte.
Jesus curou o homem paralítico para que ele vivesse uma vida consagrada a Deus, uma vida de santidade e, no final, revivesse para ver o reino de Deus (Jo 5.14 e 3.3; Hb 12.14). O paralítico curado, no entanto, escolheu desperdiçar sua cura, desperdiçou sua vida, entregando Jesus para os fariseus. Preferiu não se envolver com Jesus. Preferiu não ter problemas que o “atrapalhassem” de “recuperar” os 38 anos perdidos com a paralisia infantil. Que pena! Que perda!
E você? Você tem consagrado sua vida a quê? A quem? Você vive para Jesus ou para a glória dos homens? Como você tem vivido? Não tema viver para Jesus. Quando todos te abandonarem e te perseguirem, Jesus te acolherá (Jo 5.14; 9.35, ele nunca te abandonará (Jo 14.18), mas caminhará com você até o final (Mt 28.20).
Lembre-se de que há, sim, coisa muito, muito pior do que doenças e viver sem cura, isto é:a condenação eterna. Portanto, arrependa-sede seu pecado (viver para si memo; desperdiçar tempo, vida e saúde no pecado) ecreiana obra de Jesus (a morte do justo no lugar do injusto); receba a curade Jesus para sua alma e consagre sua vidapara a glória de Deus.
Não tema. Creia e sua alma viverá. Não seja louco. Não desperdice sua vida consigo mesmo, nos prazeres desta vida passageira. Não viva sem Deus no mundo.
Consagre sua vida a si mesmo e no final você a perderáeternamente nos tormentos do inferno. Agora, consagre sua vida a Jesus pela fé, viva para ele e para o próximo, e você ganhará vida eterna no final.
Somos curados do pecado para vivermos consagrados para a glória de Deus.
S.D.G. L.B.Peixoto
Mais episódios da série
Evangelho de João
Mais episódios da série Evangelho de João
Mais Sermões
6 de dezembro, 2020
13 de agosto, 2017
14 de abril, 2024
5 de outubro, 2016
Mais Séries
Cura e Consagração
Pr. Leandro B. Peixoto