25.08.2024
Atos 25.1-22 (NVT)
Paulo diante de Festo
1Três dias depois que Festo chegou a Cesareia para assumir suas novas responsabilidades no governo da província, partiu para Jerusalém, 2onde os principais sacerdotes e outros líderes judeus se reuniram com ele e lhe apresentaram as acusações contra Paulo. 3Pediram a Festo, como favor, que transferisse Paulo para Jerusalém, pois planejavam armar uma emboscada para matá-lo no caminho. 4Festo respondeu que Paulo estava em Cesareia e que ele próprio voltaria para lá em breve. 5“Alguns de vocês que têm autoridade voltem comigo”, disse ele. “Se Paulo tiver feito algo de errado, vocês poderão apresentar suas acusações.”
6Oito ou dez dias depois, Festo voltou a Cesareia e, no dia seguinte, convocou o tribunal e mandou que trouxessem Paulo. 7Quando Paulo chegou, os líderes judeus vindos de Jerusalém se juntaram ao seu redor e fizeram várias acusações graves que não podiam provar.
8Paulo se defendeu: “Não sou culpado de nenhum crime contra as leis judaicas, nem contra o templo, nem contra o governo romano”.
9Então Festo, querendo agradar aos judeus, perguntou: “Você está disposto a ir a Jerusalém e ali ser julgado diante de mim?”.
10Paulo respondeu: “Este é um tribunal oficial romano, portanto devo ser julgado aqui mesmo. O senhor sabe muito bem que não fiz nenhum mal aos judeus. 11Se fiz algo para merecer a pena de morte, não me recuso a morrer. Mas, se sou inocente, ninguém tem o direito de me entregar a estes homens. Eu apelo para César”.
12Festo consultou seus conselheiros e, por fim, respondeu: “Muito bem, você apelou para César, então irá para César”.
13Alguns dias depois, o rei Agripa chegou com sua irmã, Berenice, para visitar Festo. 14Durante a estada deles, que durou vários dias, Festo discutiu o caso de Paulo com o rei. “Tenho aqui um prisioneiro que Félix deixou para mim”, disse ele. 15“Quando estive em Jerusalém, os principais sacerdotes e líderes judeus apresentaram acusações contra ele e pediram que eu o condenasse. 16Eu lhes disse que a lei romana não condena ninguém sem julgamento. O acusado deve ter a oportunidade de confrontar seus acusadores e se defender.
17“Quando eles vieram aqui para o julgamento, não me demorei. Convoquei o tribunal logo no dia seguinte e mandei chamar Paulo. 18Os judeus, porém, não o acusaram de nenhum dos crimes que eu esperava. 19Ao contrário, era algo relacionado à sua religião e a um morto chamado Jesus, que Paulo insiste que está vivo. 20Sem saber como investigar essas questões, perguntei a Paulo se estava disposto a ir a Jerusalém e ali ser julgado por essas acusações, 21mas ele apelou ao imperador para que julgue seu caso. Por isso, ordenei que fosse mantido sob custódia até eu tomar as providências necessárias para enviá-lo a César.”
22Então Agripa disse a Festo: “Gostaria de ouvir esse homem pessoalmente”.
E Festo respondeu: “Amanhã poderá ouvi-lo!”.
No primeiro olhar, a providência de Deus pode nos parecer ineficaz. Por exemplo: por que colocar John Bunyan, um dos melhores pregadores do século XVII, na prisão por longos doze anos? Para se ter uma ideia, aquele que talvez tenha sido o maior gigante entre os gigantes teólogos puritanos ingleses, John Owen, certa vez disse ao rei Carlos II que trocaria com prazer todo o seu conhecimento teológico pelo poder de Bunyan de pregar. Então, meu Deus, por que manter Bunyan na prisão?
A resposta, de nossa perspectiva mais de três séculos e meio depois, é óbvia: sem a prisão, não haveria O Peregrino. De fato, durante o tempo que esteve preso, Bunyan escreveu Oração no Espírito, A Ressurreição da Cidade Santa, Graça Abundante ao Principal dos Pecadores (autobiografia), O Peregrino, Defesa da Doutrina da Justificação e Contra o Bispo Fowler (média de um livro a cada dois anos). O Peregrino ainda é classificado como um dos mais importantes clássicos em toda a literatura cristã.
Quando se pensa no apóstolo Paulo, a mesma indagação poderia ser feita: por que a mão da Providência colocaria na prisão o cristão mais útil e produtivo do mundo naquela época? Aos olhos humanos, aos olhos de quem estava ali, ao vivo e a cores, enquanto Paulo e a infante Igreja de Cristo militavam para o avanço do evangelho, poderia se contra-argumentar com o Senhor, nestes termos: “Ora, Deus, isto não é justo! No mínimo, não é produtivo. Por que deixar Paulo na prisão? Estes dois anos de cadeia em Cesareia [At 24.27] poderiam estar sendo usados para Paulo continuar sua atividade missionária e chegar logo a Roma e, de lá, ir para a Espanha (quem sabe até à região que hoje é Portugal); e, daquele extremo ocidente europeu, Paulo poderia descer rapidamente para o norte da África e fazer o caminho de retorno por lá (através do que hoje são Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia e Egito). Ora, Senhor, isso não teria sido mais eficaz para o evangelho? Em vez de ficar preso, o apóstolo poderia ter pavimentado o caminho para o plantio de igrejas ao longo de toda a costa norte-africana ou feito incursões mais ao leste, não é verdade, Senhor? Se não para o Ocidente, mandasse então Paulo para o Oriente! Imagine! Paulo já estaria na Índia, no Nepal ou até mesmo na China a essa altura. Aliás, ele já poderia ter dado a volta ao mundo. Isso não teria sido um uso mais eficiente desse homem tão brilhante do que simplesmente mantê-lo na prisão por tanto tempo?”
Gente, não é verdade! Aos nossos olhos, sim.
Frequentemente nos pegamos questionando a providência de Deus, imaginando se o seu controle soberano sobre nossas vidas (ou sobre a vida dos outros) é tão bem empregado quanto poderia ser. Nós quase sempre murmuramos: “Ah! O que poderia ter sido se não tivesse sido assim ou assado!?” Sinceramente, às vezes chegamos à conclusão de que estamos experimentando não a melhor, mas a segunda melhor provisão de Deus, o “plano B” de Deus para nossas vidas. Não é mesmo? Pense: quantas vezes você já não se pegou, diante de uma situação – qualquer tipo de situação – dizendo: “Que desperdício! Não é justo! Por que eu? Por que ele? Por que ela? Por que não o outro? Por que não aquele ou aquela? Por que tão novo? Por que desse jeito? Por que tanto sofrimento?” Não é assim, gente? Não é desse modo que costumamos reagir aos misteriosos (e tantas vezes dolorosos) caminhos pelos quais a mão da Providência nos conduz?
Como seria bom se nos agarrássemos ao lampejo de fé de William Cowper (1731–1800) quando escreveu aquele que talvez seja o seu poema mais conhecido: Deus Se Move por Caminhos Misteriosos. Esta é a última estrofe:
“Não julgue o Senhor por seu próprio fraco senso
Confie nele por sua graça
Por trás de uma Providência carrancuda
Encontra-se uma face sorridente.
Seu propósito se cumprirá rapidamente,
Será revelado a qualquer momento
Os brotos no caminho têm um gosto amargo
Mas doces serão as flores”
Interessante que Paulo mesmo parece nunca ter questionado a mão da Providência. Atribulado, sim!, porém não angustiado; perplexo, de fato!, porém não desanimado; perseguido, ora, o tempo todo, porém não desamparado; abatido, muitas vezes, porém não destruído. Esse era o seu testemunho andando sob a boa mão da Providência.
Os planos de Deus são muitas vezes inexplicáveis para nós. Entretanto, ao olhar para o próprio testemunho de Paulo, descobre-se que o que a mão da Providência estava fazendo com ele era podá-lo, limpá-lo, tal como se faz com a parreira ou videira para que ela dê ainda mais frutos. O próprio Senhor Jesus disse que o Pai age assim com todos aqueles que ele ama. Leia João 15.1-2 (NVT): “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. Todo ramo que, estando em mim, não dá fruto, Ele corta. [AGORA OUÇA:] Todo ramo que dá fruto, Ele poda, para que produza ainda mais.” Viu, meu povo?
Paulo estava sendo meticulosamente podado, limpado ou, se preferirem, disciplinado. Esse processo doloroso, no entanto, não era porque o apóstolo tivesse feito algo de errado, especificamente, ou cometido qualquer pecado específico. Temos a mania de associar disciplina ou poda com castigo, punição ou mão pesada de Deus, o que não é verdade. Jesus nos teria dito que Paulo estava sendo podado ou disciplinado para ser ainda mais frutífero. E Deus estava agindo assim não porque seja caprichoso ou cruel, mas, conforme se lê na explicação do próprio Jesus em João 15.8 (NVT): “Quando vocês produzem muitos frutos, trazem grande glória a meu Pai e demonstram que são meus discípulos de verdade.”
Sim, a boa mão da Providência disciplina, ela poda os filhos que o Pai ama; e o faz para que os filhos sejam ainda mais frutíferos, de modo que tudo redunde em grande glória para Deus, e para que se demonstre que são realmente filhos(as), discípulos(as) de verdade. Ou seja, sob poda, sob disciplina, o filho de verdade, o discípulo de verdade, não se ressente ou se amarga para murchar e morrer; antes, frutifica, adoça-se e glorifica a Deus.
Provérbios 3.11-12 (NVT)
11Meu filho, não rejeite a disciplina do SENHOR;
não desanime quando ele o corrigir.
12Pois o SENHOR corrige quem ele ama,
assim como o pai corrige o filho a quem ele quer bem.
O autor de Hebreus entendeu muito bem como age a mão da Providência em favor dos filhos de Deus e nos encorajou com estas palavras:
Hebreus 12.7-13 (NVT)
7Enquanto suportam essa disciplina de Deus, lembrem-se de que ele os trata como filhos. Quem já ouviu falar de um filho que nunca foi disciplinado pelo pai? 8Se Deus não os disciplina como faz com todos os seus filhos, significa que vocês não são filhos de verdade, mas ilegítimos. 9Uma vez que respeitávamos nossos pais terrenos que nos disciplinavam, não devemos nos submeter ainda mais à disciplina do Pai de nosso espírito e, assim, obter vida?
10Pois nossos pais nos disciplinaram por alguns anos como julgaram melhor, mas a disciplina de Deus é sempre para o nosso bem, a fim de que participemos de sua santidade. 11Nenhuma disciplina é agradável no momento em que é aplicada; ao contrário, é dolorosa. Mais tarde, porém, produz uma colheita de vida justa e de paz para os que assim são corrigidos.
12Portanto, revigorem suas mãos cansadas e seus joelhos enfraquecidos. 13Façam caminhos retos para seus pés a fim de que os mancos não caiam, mas sejam fortalecidos.
Ora,
o cristianismo já estava sendo considerado por Roma como estando fora do guarda-chuva do judaísmo e, portanto, fora da proteção da lei (fora do collegium licitum, da faculdade jurídica). Portanto, ao ir a Roma, Paulo estava buscando uma oportunidade em nome da igreja cristã para argumentar pela proteção do cristianismo sob a lei romana, dizendo a um imperador gentio que o cristianismo é o cumprimento profético do judaísmo (veja Atos 25.19).
A poda pela qual Paulo estava passando, portanto, servia para que ele frutificasse no sentido de estabelecer justiça para os cristãos; seu caso, no mínimo, geraria jurisprudência. Embora Paulo não tenha sido tratado com justiça no fim de sua vida, com o passar dos anos, o cristianismo obteve seu lugar ao sol.
Pois bem, até aqui vimos que a mão da Providência se move por caminhos misteriosos, muitas vezes para podar ramos infrutíferos de nossa vida, fazendo-nos ainda mais frutíferos para a glória de Deus. Isso comprovará que você é realmente um filho de Deus, um discípulo verdadeiro do Senhor Jesus Cristo, e lhe dará segurança. Resumindo: a mão da Providência sempre tem um propósito (dois lados de uma mesma moeda): a glória de Deus e o nosso bem. E, embora seja inicialmente desconfortável, doloroso ou incompreensível, o benefício da santidade supera a dor.
Agora, com esses pensamentos sobre disciplina ou poda como pano de fundo, chegamos ao texto de Atos 25.1-22. Neste texto, quero direcionar você para as formas de disciplina aplicadas pelo Senhor ao apóstolo Paulo; pretendo que você veja como Deus poda seus filhos para que eles deem ainda mais frutos.
IMPORTANTE: jamais se esqueça de que Deus fez tudo isso não para punir o apóstolo Paulo, mas para podá-lo e torná-lo uma testemunha ainda mais frutífera de Cristo.
São estas as ferramentas que podaram o apóstolo: adiamento prolongado, falsas acusações, exploração injusta e incerteza contínua. Ah, como isso dói! Esperar. Mentiras. Injustiça. Insegurança. — Não é, gente? — Como essas coisas cortam o coração da gente! São ferramentas para nos podar. Veja:
Adiamento Prolongado
Mesmo sabendo que Paulo era inocente, o governador Félix não o soltou. Então, por dois longos anos, o apóstolo ficou “girando os polegares” na prisão, conversando com Félix de vez em quando, mas principalmente apenas esperando o tempo passar.
Atos 24.25-27 (NVT)
25[…] “Pode ir, por enquanto. Quando for mais conveniente, mandarei chamá-lo outra vez”. 26Félix também esperava que Paulo lhe oferecesse dinheiro, de modo que mandava buscá-lo com frequência e conversava com ele.
27Assim se passaram dois anos, e Félix foi sucedido por Pórcio Festo. E, uma vez que Félix desejava obter a simpatia dos judeus, manteve Paulo na prisão.
Para Paulo, esse adiamento prolongado deve ter sido frustrante. Ele era um homem movido pela paixão de fazer discípulos de todas as nações. Em consonância com essa paixão, Deus havia prometido enviá-lo a Roma (At 23.11), mas aqui estava ele, encalhado em Cesareia… na prisão… esperando…
Nem a mudança de líder de governo o ajudou.
Ocorreu que, revoltados com a atitude de Félix, os judeus criaram tumulto em Cesareia e, sob o protesto deles, o imperador Nero recolheu Félix em desgraça para a cidade de Roma. Festo foi colocado em seu lugar. Atos 25.1 (NVT): “Festo chegou a Cesareia para assumir suas novas responsabilidades no governo da província.”
A história conta que a chegada do governador Festo para substituir Félix foi recebida como uma mudança bem-vinda pelos judeus. Só que foi temporária. Seus sucessores foram o vilão Lúcio Albino (62–64 d.C.) e, depois, o totalmente corrupto Géssio Floro, que roubou grandes quantidades de prata do templo em Jerusalém (64–66 d.C.), culminando na revolta dos judeus e no massacre dos romanos em 70 d.C. O momento, portanto, não era nada propício para o novo governador da província – Festo.
Não se sabe muito sobre Festo antes de sua chegada a Cesareia (provavelmente de navio) no final de 59 d.C. ou início de 60 d.C. Seu governo duraria apenas dois anos (ele morreu em 62 d.C.) e seria repleto de dificuldades resultantes da má administração de seu predecessor (que deixou os judeus em revolta). A direção desta região do mundo estava irreversivelmente caminhando para a guerra desastrosa de 66–70 d.C., quando a Décima Legião Romana, sob a liderança militar do General Tito, chegou para lidar com o “problema judaico”, destruindo Jerusalém e seu templo.
Festo assumiu o cargo com a missão específica – dada por Nero – de, antes de qualquer coisa, apaziguar os judeus em revolta. E ele foi rápido, muito rápido, só que não para aplicar a justiça, mas para tentar dar um jeitinho. Atos 25.1-2 (NVT): “Três dias depois que Festo chegou a Cesareia para assumir suas novas responsabilidades no governo da província, partiu para Jerusalém, onde os principais sacerdotes e outros líderes judeus se reuniram com ele e lhe apresentaram as acusações contra Paulo.”
Tic-tac… tic-tac… tic-tac… E o tempo passava com o adiamento prolongado do caso de Paulo. Ora, meu povo, no passado recente, Paulo havia sido a principal testemunha em movimento de Deus, mas agora ele estava preso em um atoleiro de burocracia e politicagem romanas. À medida que os dias, meses e anos se arrastavam, os pensamentos de Paulo devem ter girado em indagações recorrentes: “Senhor, como chegarei a Roma e pregarei ao mundo se não consigo sair de Cesareia? Ou eu não vou mais para Roma, Senhor!? O Senhor me deixou de lado por algum motivo? Qual?”
Na verdade, Deus estava planejando usar Paulo de maneiras ainda maiores, mas, antes, o Senhor precisava podar o seu apóstolo, tinha que discipliná-lo para lhe ensinar lições, por exemplo, sobre paciência, contentamento e humildade. Deus estava fazendo crescer em Paulo o fruto do Espírito (Gl 5.22-23): “amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio.” Paulo estava sendo podado para frutificar, e uma das ferramentas era esse adiamento prolongado.
Falsas Acusações
Em Jerusalém, Festo emprestou seus ouvidos à ladainha do Sinédrio, que tentava justificar que o julgamento de Paulo não era de jurisprudência romana, e sim judaica. Só que não, e Festo sabia disso. Então, os líderes apelaram para o “jeitinho”, revelando a verdadeira intenção por trás de tanta citação de código penal canônico. Leia:
Atos 25.1-3 (NVT)
1Três dias depois que Festo chegou a Cesareia para assumir suas novas responsabilidades no governo da província, partiu para Jerusalém, 2onde os principais sacerdotes e outros líderes judeus se reuniram com ele e lhe apresentaram as acusações contra Paulo. 3Pediram a Festo, como favor, que transferisse Paulo para Jerusalém, pois planejavam armar uma emboscada para matá-lo no caminho.
Dois anos se passaram desde a fuga de Paulo de Jerusalém e sua defesa diante de Félix em Cesareia, mas esses líderes judeus ainda estavam amargamente determinados a ver o apóstolo morto. Ainda que tivessem que quebrar o quinto mandamento do santo Decálogo de Moisés: “Não matarás” (Êx 20.13). Vejam como a religião sem Cristo – qualquer religião – está propensa a se tornar um movimento revolucionário conduzido por justiceiros.
Festo, por sua vez, sem saber de seus planos perversos, os convida para Cesareia, para mais uma vez apresentarem suas acusações contra Paulo. Ora, o Sinédrio entra rapidinho por essa porta aberta para eles, esperando que, no final, Festo concorde em ordenar que Paulo volte para Jerusalém (e caia na armadilha deles). Leia:
Atos 25.4-5 (NVT)
4Festo respondeu que Paulo estava em Cesareia e que ele próprio voltaria para lá em breve. 5“Alguns de vocês que têm autoridade voltem comigo”, disse ele. “Se Paulo tiver feito algo de errado, vocês poderão apresentar suas acusações.”
De volta a Cesareia, Festo reabre o processo que havia sido impetrado pelo Sinédrio e convoca um Paulo absolutamente surpreso por ter que lidar novamente com uma etapa já vencida – ou seja, ele deveria ser julgado em Roma, não em Jerusalém. O resultado: os abutres caíram, mais uma vez, sobre a carne de Paulo, acusando-o falsamente. Paulo, no entanto, jamais baixa a guarda e repete sua defesa, a mesma que havia feito diante de Félix: não sou culpado de 1heresia, 2profanação ou 3insurreição. O texto:
Atos 25.6-8 (NVT)
6Oito ou dez dias depois, Festo voltou a Cesareia e, no dia seguinte, convocou o tribunal e mandou que trouxessem Paulo. 7Quando Paulo chegou, os líderes judeus vindos de Jerusalém se juntaram ao seu redor e fizeram várias acusações graves que não podiam provar.
8Paulo se defendeu: “Não sou culpado de nenhum crime contra as leis judaicas, nem contra o templo, nem contra o governo romano”.
Paulo estava sendo podado pela ferramenta das falsas acusações.
Exploração Injusta
Havia mais. Enquanto Paulo fazia sua defesa intransigente, ele provavelmente já podia perceber, pelo olhar no rosto de Festo, que suas chances de libertação estavam, novamente, evaporando. O novo governador já estava flertando com uma maneira de usar Paulo para sua própria vantagem. Atos 25.9 (NVT): “Então Festo, querendo agradar aos judeus, perguntou: ‘Você está disposto a ir a Jerusalém e ali ser julgado diante de mim?’”
Assim como o inescrupuloso Félix, Festo estava jogando um jogo político – tomando Paulo como seu trunfo. “Vocês querem Paulo? Eu lhes darei Paulo”, ele estava dizendo aos judeus, “mas vocês ficarão me devendo uma!” Festo não se importava com os fatos do caso, os autos processuais ou com Paulo como pessoa; ele estava interessado apenas em promover sua carreira. Era uma exploração injusta. Como resultado, Paulo sentiu as lâminas afiadas da tesoura de poda cortarem ele novamente – a disciplina da exploração injusta. Mas, por meio dessa experiência, Paulo aperfeiçoou sua coragem, como evidenciado por sua sustentação oral a Festo:
Atos 25.10-11 (NVT)
10Paulo respondeu: “Este é um tribunal oficial romano, portanto devo ser julgado aqui mesmo. O senhor sabe muito bem que não fiz nenhum mal aos judeus. 11Se fiz algo para merecer a pena de morte, não me recuso a morrer. Mas, se sou inocente, ninguém tem o direito de me entregar a estes homens. Eu apelo para César”.
Como cidadão romano, Paulo tinha o direito de pedir que César decidisse seu caso. Então, confrontando bravamente o governador e confundindo os judeus, Paulo retrucou e jogou seu trunfo sobre a mesa, forçando Festo a repensar seu plano. Atos 25.12 (NVT): “Festo consultou seus conselheiros e, por fim, respondeu: ‘Muito bem, você apelou para César, então irá para César.’” Com essas palavras e o golpe do martelo, o julgamento de Paulo perante Festo terminou. O apóstolo, no entanto, continuava sob custódia, incerto sobre as implicações de seu apelo a César. Seria a próxima tesourada.
Incerteza Contínua
Nem mesmo a chegada do governador da região romana localizada ao nordeste da Palestina foi capaz de trazer alguma palavra concreta para o coração perplexo e a alma abatida de Paulo, sob tão feroz perseguição. Muito pelo contrário, as atitudes despreparadas do governador Festo e a mera formalidade do rei Agripa revelaram que a incerteza continuava para Paulo. Leia:
Atos 25.13-22 (NVT)
13Alguns dias depois, o rei Agripa chegou com sua irmã, Berenice, para visitar Festo. 14Durante a estada deles, que durou vários dias, Festo discutiu o caso de Paulo com o rei. “Tenho aqui um prisioneiro que Félix deixou para mim”, disse ele. 15“Quando estive em Jerusalém, os principais sacerdotes e líderes judeus apresentaram acusações contra ele e pediram que eu o condenasse. 16Eu lhes disse que a lei romana não condena ninguém sem julgamento. O acusado deve ter a oportunidade de confrontar seus acusadores e se defender.
17“Quando eles vieram aqui para o julgamento, não me demorei. Convoquei o tribunal logo no dia seguinte e mandei chamar Paulo. 18Os judeus, porém, não o acusaram de nenhum dos crimes que eu esperava. 19Ao contrário, era algo relacionado à sua religião e a um morto chamado Jesus, que Paulo insiste que está vivo. 20Sem saber como investigar essas questões, perguntei a Paulo se estava disposto a ir a Jerusalém e ali ser julgado por essas acusações, 21mas ele apelou ao imperador para que julgue seu caso. Por isso, ordenei que fosse mantido sob custódia até eu tomar as providências necessárias para enviá-lo a César.”
22Então Agripa disse a Festo: “Gostaria de ouvir esse homem pessoalmente”.
E Festo respondeu: “Amanhã poderá ouvi-lo!”.
Não é interessante a forma como Festo se refere ao Jesus de Paulo? Ele diz que a questão toda, versículo 19, “era algo relacionado à sua religião e a um morto chamado Jesus, que Paulo insiste que está vivo.” Ou seja, Festo estava completamente ignorante do cristianismo e da pessoa de Jesus Cristo, mas estava tendo participação direta na decisão quanto ao destino de Paulo. Como ele seria capaz de decidir sobre o caso de Paulo com razoável sabedoria? E que tipo de justiça Paulo poderia esperar de pessoas tão moralmente corruptas como Agripa e Berenice?
Para se ter uma ideia, Agripa tinha duas irmãs, Drusila e Berenice. Drusila foi esposa de Félix (At 24.24). Berenice, por sua vez, foi casada com o antecessor de Agripa (que também era tio dela e de Agripa), o rei Herodes de Cálcis. Após a morte do marido (seu tio Herodes de Cálcis!), Berenice passou a viver uma relação incestuosa com o próprio irmão, Herodes Agripa II, o mesmo que desejou ouvir Paulo pessoalmente (At 25.22). Esse era o tipo de gente que tinha o caso de Paulo nas mãos! Agora imagine a incerteza da situação de Paulo. Ele não tinha qualquer controle sobre a precisão das informações que estavam sendo dadas sobre ele, e não tinha voz em qualquer das decisões tomadas sobre ele. Em vez disso, como um tipo de bobo da corte, Paulo seria chamado para atuar conforme o capricho e a conveniência de seus captores.
Honestamente, como é fácil, em momentos como esse, duvidar de nosso valor e mérito aos olhos de Deus! No entanto, durante toda essa disciplina, durante toda essa poda chamada incerteza contínua, Paulo se manteve firme em sua fé – como veremos na próxima mensagem – dando testemunho, calçado em seu firme e confiável Senhor.
Recebendo a Poda do Pai
A maioria de nós pode se identificar com a dor de Paulo durante essa provação, porque cada um de nós – em maior ou menor grau – já suportou tempos de longa espera, falsas acusações, exploração injusta ou incerteza contínua. Nós já provamos esses sabores: espera, mentira, injustiça, incerteza. Não é verdade?
O que fazer?
Precisamos apenas lembrar que essas provações, uma vez que estamos unidos a Cristo pela fé, são parte do processo de poda de Deus (é a disciplina do Pai que nos ama e nos quer frutificando em abundância para a glória dele e para o nosso bem). É bom lembrar que esse processo de poda ou disciplina traz consigo três fatos encorajadores.
A POSTURA CHAVE para lidar com as circunstâncias de poda ou disciplina é ter uma visão correta de Deus. Algumas pessoas, como escreveu C. S. Lewis, veem o “Pai no céu como um Vovô no céu.” E como seria Deus, em vez de Pai, “meu Vovô no céu”? Lewis explicou que Deus seria “uma benevolência senil que, como eles dizem, ‘gosta de ver os jovens se divertindo, e cujo plano para o universo é simplesmente que se possa dizer verdadeiramente, no final de cada dia: ‘todos se divertiram.’” Portanto, disciplina e tempos difíceis são chocantes para pessoas que têm essa visão de Deus: não a de um Pai amoroso, mas a de um Vovô bobão. Pessoas assim se sentem enganadas e com raiva porque não estão obtendo a felicidade que acham que Deus lhes deve.
Outros podem pender para o extremo oposto e ver Deus como uma professora carrancuda, pronta para colocá-los de castigo se desviarem um milímetro do caminho reto e estreito. Para essas pessoas, as dificuldades na vida são esperadas e suportadas com amarga tolerância – até chegarmos ao céu.
Que essa não seja a sua atitude. Lembre-se das palavras de Jesus:
João 15.1-2, 8 (NVT)
1“Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. 2Todo ramo que, estando em mim, não dá fruto, ele corta. Todo ramo que dá fruto, ele poda, para que produza ainda mais. […] 8Quando vocês produzem muitos frutos, trazem grande glória a meu Pai e demonstram que são meus discípulos de verdade.
S.D.G. L.B.Peixoto
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