31.03.2024
1Coríntios 11.23-34 (NVT)
23Pois eu lhes transmiti aquilo que recebi do Senhor. Na noite em que o Senhor Jesus foi traído, ele tomou o pão, 24agradeceu a Deus, partiu-o e disse: “Este é meu corpo, que é entregue por vocês. Façam isto em memória de mim”. 25Da mesma forma, depois da ceia, tomou o cálice e disse: “Este cálice é a nova aliança, confirmada com meu sangue. Façam isto em memória de mim, sempre que o beberem”. 26Porque cada vez que vocês comem desse pão e bebem desse cálice, anunciam a morte do Senhor até que ele venha.
27Assim, quem come do pão ou bebe do cálice do Senhor indignamente é culpado de pecar contra o corpo e o sangue do Senhor. 28Portanto, examinem-se antes de comer do pão e beber do cálice, 29pois, se comem do pão ou bebem do cálice sem honrar o corpo de Cristo, comem e bebem julgamento contra si mesmos. 30Por isso muitos de vocês estão fracos e doentes e alguns até adormeceram.
31Se examinássemos a nós mesmos, não seríamos julgados dessa maneira. 32Mas, quando somos julgados pelo Senhor, estamos sendo disciplinados para que não sejamos condenados com o mundo.
33Portanto, meus irmãos, quando se reunirem para comer, esperem uns pelos outros. 34Se estiverem com fome, comam em casa, a fim de não trazer julgamento sobre si mesmos ao se reunirem. Eu lhes darei instruções a respeito de outros assuntos depois que chegar aí.
Lembranças. Memórias. Como essas experiências são poderosas! Ou elas despedaçam seu coração ou dão a você o prazer de prosseguir. E elas são bem sutis, viu! Há lembranças tão fortes, tão indesejadas e que se processam de tal forma imperceptível na sua memória, drenando sua energia o tempo todo, que, de repente, te faz desabar. São aquelas memória impregnadas na gente, as memórias dolorosa!, as memória vergonhosas!, as memórias ruins pelas quais a gente acaba se definindo ou se comportando e que – por mais que a gente lute contra elas, tentando abafá-las – elas insistem em nos perturbar e ditar a forma como nos portamos ou nos pronunciamos. Elas são terríveis! E eu tenho certeza de que se você pudesse falar, tivesse coragem de falar, sentisse confiança para falar, você abriria a caixa de suas memória e despejaria essas lembranças sobre a mesa, separando as boas das ruins e jogando fora o que sempre esteve te corroendo.
Nesta manhã de Domingo de Páscoa eu quero trazer algo à sua memória; quero trazer uma lembrança que deverá ser A LEMBRANÇA (a lembrança com todas as letras em caixa alta e em negrito: A LEMBRANÇA, em maiúsculo; A LEMBRANÇA) pela qual todas as suas lembranças deverão ser avaliadas – sejam as boas ou as más lembranças.
A lembrança que trago à sua memória neste culto é a lembrança que o próprio Jesus estabeleceu como aquela que o cristão jamais, desde agora e por toda a eternidade, jamais!, poderá esquecer: A LEMBRANÇA DA MORTE E DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR JESUS CRISTO. É por essa lembrança que todas as suas lembranças deverão ser calibradas ou ajustadas. É, portanto, sobre esta lembrança padrão que eu quero pensar agora; é para esta memória padrão que eu chamo a sua atenção nesta manhã de Domingo de Páscoa: a lembrança da morte e ressurreição do Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Essa lembrança – a lembrança da morte e ressurreição de Jesus – foi eternizada pelo próprio Cristo, quando ele mesmo estabeleceu a ceia do Senhor como memorial perpétuo para a igreja cristã. O texto que nós lemos no início deixa isso muito claro, – releia comigo, – 1Coríntios 11.23: “Pois eu lhes transmiti aquilo que recebi do Senhor.” Paulo, então, falará do que se deve fazer na ceia do Senhor e porquê.
NOTE QUE ELE DIZ TER “RECEBIDO DO SENHOR” essas instruções. De fato, desde a sua conversão, Paulo sempre se pautou pelos ensinos de Cristo, seguindo a tradição dos apóstolos, na qual ele mesmo fora inserido pelo próprio Cristo. Paulo aprendeu coisas que foram ensinadas a ele por Jesus mesmo (Gl 1.11-12, 15-17; 2Co 12.1-4) e Paulo também aprendeu coisas que foram ensinadas a ele pelos demais apóstolos que o antecederam na caminhada com Cristo (Gl 1.18-19; 1Co 7.10; 15-13). Portanto, o que Paulo está dizendo em 1Coríntios 11.23 pode significar tanto que ele aprendeu diretamente Cristo a respeito da ceia do Senhor quanto que ele aprendeu dos apóstolos que o transmitiram. Mas não importa, uma vez que este era o ensino apostólico, tanto de Paulo como de todos os demais; e todos eles receberam do próprio Cristo (diretamente dos lábios de Jesus ou por tradição, isto é: transmissão oral).
O RELATO DA CEIA DO SENHOR está posto como revelação divina nos três evangelhos sinópticos: Mateus 26.26-29; Marcos 14.22-25 e Lucas 22.17-20. Entretanto, talvez você não saiba disto!, o texto bíblico mais antigo a respeito deste memorial é o que temos em 1Coríntios 11.23-34. Para se ter uma ideia: Mateus foi escrito no final da década de 50 ou início dos anos 60 d.C; Marcos foi escrito entre meados da década de 50 e 64 d.C.; e Lucas foi escrito no início dos anos 60, em 60 ou 61 d.C.; mas 1Coríntios foi escrito entre 53–55 d.C. Portanto, quando lemos 1Coríntios 11.23-34 estamos lendo as primeiras palavras de Jesus de que se tem registro nos documentos canônicos.
Pois bem, o que Paulo tem a nos ensinar a respeito da ceia do Senhor?
Acima de tudo, Paulo nos ensina que a ceia do Senhor é um memorial, uma lembrança da morte e ressurreição de Jesus Cristo. Leia o texto (atenção para os destaques):
1Coríntios 11.23-34 (NVT)
23Pois eu lhes transmiti aquilo que recebi do Senhor. Na noite em que o Senhor Jesus foi traído, ele tomou o pão, 24agradeceu a Deus, partiu-o e disse: “Este é meu corpo, que é entregue por vocês. Façam isto em memória de mim”. 25Da mesma forma, depois da ceia, tomou o cálice e disse: “Este cálice é a nova aliança, confirmada com meu sangue. Façam isto em memória de mim, sempre que o beberem”. 26Porque cada vez que vocês comem desse pão e bebem desse cálice, anunciam [anunciam o que se estão fazendo em memória; anunciam o que vocês estão lembrando com o ato de comer do pão e de beber do cálice, a saber:] a morte do Senhor até que ele venha [e ele virá porque ele ressuscitou, oras!].
A ceia do Senhor, portanto, tem este fim supremo: trazer à memória, fazer lembrar da morte e ressurreição de Jesus Cristo.
Outro fato da mais absoluta importância: a ceia do Senhor é para ser celebrada pela igreja reunida – localmente, presencialmente – para culto coletivo que se prestará a Deus Pai, Filho e Espírito Santo. A ceia do Senhor não é para pequenos grupos da igreja, nem é para ser levada a idosos ou enfermos da igreja que não conseguem sair de casa ou celebrada online, pela internet, tampouco para ser celebrada em algum contexto paraeclesiástico, interdenominacional ou mesmo de convenção ou instituição denominacional. A ceia do Senhor é para ser celebrada pela igreja local, reunida presencialmente em assembleia, em culto a Deus. Leia, 1Coríntios 11, versículo 17: “quando vocês se reúnem”; versículo 18: “quando vocês se reúnem como igreja”; e versículo 20: “Quando vocês se reúnem”. A ceia é para a igreja reunida.
Note ainda que o texto que trata da ceia do Senhor está inserido em um bloco da carta aos coríntios – 1Coríntios 11.2—14.40 — no qual Paulo está corrigindo erros relacionados à prática do culto público da igreja de Cristo que se reunia localmente em Corinto. O problema em foco era a falta de maturidade espiritual em relação ao culto, uma vez que se buscava na adoração coletiva da igreja a autoexpressão e a autopromoção, deixando de se submeter à tradição apostólica revelada. Eram três os problemas principais:
1. 11.2-16. O véu e o culto. As mulheres cristãs de corinto estavam abusando da liberdade em Cristo para subverter seu papel divinamente instituído dentro da igreja; resultado: homens e mulheres estavam desprezando a ordem estabelecida por Deus na utilização de seus dons e talentos, desonrando uns aos outros:
1Coríntios 11.2-3 (NVT)
2Eu os elogio porque vocês sempre têm se lembrado de mim e têm seguido os ensinamentos que lhes transmiti. 3 Mas quero que saibam de uma coisa: o cabeça de todo homem é Cristo, o cabeça da mulher é o homem, e o cabeça de Cristo é Deus.
2. 11.17-34. A ceia e o culto. A igreja de corinto tinha virado do avesso a celebração da ceia do Senhor, tornando-a em ocasião para se dividirem uns dos outros e abusarem uns dos outros; a celebração que deveria unificar a igreja local – revelando a sua unidade em Cristo, a união do corpo com o cabeça que é Cristo – estava, na verdade, causando, acentuando divisões na igreja:
1Coríntios 11.17-22 (NVT)
17Nas instruções a seguir, porém, não posso elogiá-los, pois, quando vocês se reúnem, fazem mais mal que bem. 18Primeiro, ouço que há divisões quando vocês se reúnem como igreja e, até certo ponto, eu o creio. 19Suponho que seja necessário haver divisões entre vocês para que se reconheçam os que são aprovados!
20Quando vocês se reúnem, não estão interessados de fato na ceia do Senhor. 21Alguns de vocês se apressam em comer a própria refeição; como resultado, alguns passam fome, enquanto outros ficam embriagados. 22Será que vocês não têm casa onde comer e beber? Ou querem mesmo envergonhar a igreja de Deus e humilhar os pobres? Que devo dizer? Querem que eu os elogie? Certamente não os elogiarei por isso!
23Pois eu lhes transmiti aquilo que recebi do Senhor. [Então Paulo passa a explicar os comos e os porquês.]
3. 12.1–14.40. Os dons e os cultos. Os membros da igreja de Corinto estavam praticando os dons espirituais com vista para a glorificação e a edificação pessoais, em vez de, em atitude de amor, visarem a glória de Cristo na edificação do corpo reunido:
1Coríntios 12.1, 27, 31 (NVT)
1Agora, irmãos, quanto à sua pergunta sobre os dons espirituais, não quero que continuem confusos. […] 27Juntos, todos vocês são o corpo de Cristo, e cada um é uma parte dele. […] 31Portanto, desejem intensamente os dons mais úteis. Agora, porém, vou lhes mostrar um estilo de vida que supera os demais [o amor, o mais importante é o amor, 1Co 13].
1Coríntios 14.1, 12, 39-40 (NVT)
1Que o amor seja seu maior objetivo! Contudo, desejem também os dons espirituais, especialmente a capacidade de profetizar. […] 12O mesmo se aplica a vocês. Uma vez que estão ansiosos para ter os dons espirituais, busquem os dons que fortalecerão a igreja toda. […] 39Portanto, meus irmãos, anseiem profetizar e não proíbam o falar em línguas, 40mas cuidem para que tudo seja feito com decência e ordem.
EM RESUMO: tudo o que está sendo tratado desde 1Coríntios 11.2 até 1Coríntios 14.40 diz respeito ao culto público, à unidade da igreja em Cristo no contexto do culto público – liberdade, honra, autoridade, unidade e edificação, tudo em amor, no contexto do culto público da igreja local . A ceia do Senhor, portanto, é para ser celebrada pela igreja reunida, expressando, dessa forma, quem somos: o corpo de Cristo presente, concreto e palpável, jamais distante, espalhado e virtual. Exemplo:
1Coríntios 10.16-17 (NVT)
16Quando abençoamos o cálice à mesa, não participamos do sangue de Cristo? E, quando partimos o pão, não participamos do corpo de Cristo? 17E, embora sejamos muitos, todos comemos do mesmo pão, mostrando que somos um só corpo.
Antes de prosseguir, deixe-me fazer já aqui uma aplicação.
Uma das coisas mais dolorosas da vida é a solidão. Sentir-se só, esquecido, preterido, desprezado ou abandonado é muito doloroso.
Sente-se assim nesta manhã?
A celebração da ceia do Senhor no contexto do culto público presencial da igreja local, trazendo à memória a morte e a ressurreição de Cristo – que nos salva do pecado e da ira de Deus e nos batiza no corpo de Cristo, dando-nos uma família, a família de Deus, é um fato de valor inexprimível, sobretudo para você que está só, foi abandonado, deixado ou vive sendo desprezado pelos homens e até pela família consanguínea.
Em Cristo, pela graça, por meio da fé, você tem uma família; e a celebração da ceia do Senhor é para, de novo e de novo, vez após outra, mensalmente, regularmente, trazer à sua memória que você tem uma família: a igreja, o corpo de Cristo. Paulo explicitou essa verdade de maneira inconfundível, quando escreveu o seguinte:
1Coríntios 12.12-13 (NVT)
12O corpo humano tem muitas partes, mas elas formam um só corpo. O mesmo acontece com relação a Cristo. 13Alguns de nós são judeus, alguns são gentios, alguns são escravos e alguns são livres, mas todos nós fomos batizados em um só corpo pelo único Espírito, e todos recebemos o privilégio de beber do mesmo Espírito.
Jesus já havia deixado claro o valor dos irmãos de fé, da comunhão da igreja:
Mateus 12.46-50 (NVT)
46Enquanto Jesus falava à multidão, sua mãe e seus irmãos estavam do lado de fora, pedindo para falar com ele. 47Alguém disse a Jesus: “Sua mãe e seus irmãos estão lá fora e querem falar com o senhor”.
48Jesus respondeu: “Quem é minha mãe? Quem são meus irmãos?”. 49Então apontou para seus discípulos e disse: “Vejam, estes são minha mãe e meus irmãos. 50Quem faz a vontade de meu Pai no céu é meu irmão, minha irmã e minha mãe”.
Nesse ponto da caminhada dele, os familiares de Jesus julgavam que ele estava “fora de si” (Mc 3.21), e por isso agiam para tentar “chamá-lo à razão”. Então ele usa esse incidente para revelar que os discípulos de Jesus, os verdadeiros crentes – aqueles que fazem a vontade do Pai – são a verdadeira família do crente. É claro que Jesus não estava negando a importância da família biológica, afinal ele ensinou, por exemplo, que se deve honrar e socorrer pai e mãe em suas necessidades (cf. Mt 15.3-9). O que Jesus está dizendo é que há sim a primazia do compromisso de uma pessoa com ele e o Reino dos Céus, bem como a primazia dos relacionamentos entre os da família da fé (cf. Gl 6.10).
EM CRISTO VOCÊ TEM UMA FAMÍLIA – a família da fé, a família de Deus, o corpo de Cristo, a igreja – e, portanto, deverá desfrutar de seus privilégios e praticar os seus deveres: ser edificado e edificar, ser ajudado e ajudar, ser socorrido e acolhido e também socorrer e acolher, ser abençoado e abençoar, receber oração e orar, interceder etc.
Neste Domingo de Páscoa eu quero trazer à sua memória a igreja de Cristo, a sua família de fé, tão belamente refletida aqui, ao redor da mesa, enquanto nos preparamos para a ceia do Senhor. Eu preciso de você, você precisa de mim e nós precisamos uns dos outros e temos uns aos outros. Foi por isso que Paulo, lá no final do texto sobre a ceia do Senhor, escreveu assim, 1Coríntios 11.33 (NVT): “Portanto, meus irmãos, quando se reunirem para comer, esperem uns pelos outros.”
A ceia do Senhor é uma cena viva de que em Cristo nós temos uns aos outros e esperamos uns pelos outros; temos uma família, a igreja local. Ah! Como você e eu precisamos dessa família e dessa comunhão! Desfrute disto, crente!
Gálatas 6.1-3 (NVT)
1Irmãos, se alguém for vencido por algum pecado, vocês que são guiados pelo Espírito devem, com mansidão, ajudá-lo a voltar ao caminho certo. E cada um cuide para não ser tentado. 2Ajudem a levar os fardos uns dos outros e obedeçam, desse modo, à lei de Cristo. 3Se vocês se consideram importantes demais para ajudar os outros, estão apenas enganando a si mesmos.
Tiago 5.19-20 (NVT)
19Meus irmãos, se algum de vocês se desviar da verdade e for trazido de volta, 20saibam que quem trouxer o pecador de volta de seu desvio o salvará da morte e trará perdão para muitos pecados.
Traga isto à memória nesta manhã, lembre-se disto: em Cristo, à mesa, na ceia do Senhor nós temos uma família, a nossa igreja, o seu e o meu povo, o povo de Deus. Outro texto, Efésios 2.16 (NVT): “Assim, [Cristo] os reconciliou com Deus em um só corpo por meio de sua morte na cruz, eliminando a inimizade que havia entre eles.” É isto, portanto, que nós celebramos na ceia do Senhor, é isto o que nós devemos trazer à memória, lembrar na celebração da ceia do Senhor: pela morte e a ressurreição de Jesus Cristo nós fomos reconciliados com Deus e uns com os outros no povo de Deus, a igreja.
Extraia todas as vantagens disponíveis a você na comunhão da igreja e pratique também as suas responsabilidade como membro da igreja: envolva-se com outras pessoas, na vida das pessoas, em aconselhamento bíblico e discipulado pessoal; que melhor maneira para isso do que notar e acolher os rostinhos diferentes que todos os domingos aparecem entre nós; também participar das reuniões menores da igreja e conhecer melhor as pessoas (quarta-feira de oração, MCM, Café com Deus, Refugiados, Farol, Ministério Infantil etc.) e de um pequeno grupo (Grupos de Crescimento)!
Continua na próxima ceia do Senhor…
S.D.G. L.B.Peixoto
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