03.08.2016
Espiritualidade Olímpica
ENXERGANDO ALÉM DO OURO OLÍMPICO
1Coríntios 9.23-27
23 Faço tudo isso por causa do evangelho, para ser co-participante dele. 24 Vocês não sabem que de todos os que correm no estádio, apenas um ganha o prêmio? Corram de tal modo que alcancem o prêmio. 25 Todos os que competem nos jogos se submetem a um treinamento rigoroso, para obter uma coroa que logo perece; mas nós o fazemos para ganhar uma coroa que dura para sempre. 26 Sendo assim, não corro como quem corre sem alvo, e não luto como quem esmurra o ar. 27 Mas esmurro o meu corpo e faço dele meu escravo, para que, depois de ter pregado aos outros, eu mesmo não venha a ser reprovado.
Breve história dos jogos
Quando Paulo escreveu, as palavras que nós acabamos de ler aos crentes de Corinto, ele supôs que todos estivessem familiarizados com os jogos atléticos. Não podia ser diferente, pois na área dos esportes, Corinto era uma das cidades mais importantes do mundo antigo.
Os gregos realizavam dois grandes festivais atléticos naquele tempo: os Jogos Olímpicos e os Jogos Ístmicos. Os Jogos Olímpicos eram sediados em Atenas, a cada quatro anos, em honra aos deuses do Monte Olimpo – que era a mais alta montanha da Grécia. Os Jogos Ístmicos, em honra a Posêidon ou Netuno, aconteciam a cada dois anos na cidade de Corinto, pois cria-se que Posêidon não habitava o Monte Olimpo (em Atenas), como os demais deuses gregos; dizia-se que ele morava no fundo do mar, em um lindo e tranquilo palácio.
Os Jogos Olímpicos tiveram início na Grécia Antiga no ano 776 a.C. e se estenderam até o ano 393 d.C., quando foram proibidos pelo imperador romano Teodósio I. Como os Jogos Olímpicos eram realizados em tributo aos deuses gregos, o imperador, que era cristão, decidiu proibi-los por entender que se tratava de uma manifestação do paganismo.
Foi em 1896 que um aristocrata francês, o Barão de Coubertin, recuperou os Jogos. O desejo era reavivar o espírito das primeiras Olimpíadas e, seguindo a tradição grega, os Jogos Olímpico voltaram a ser realizados de quatro em quatro anos. Desde então, eles só foram interrompidos durante a I e a II Guerras Mundiais.
Hoje, num exemplo de aproximação e reconciliação entre os povos, os Jogos Olímpicos são realizados como símbolo de unidade entre as nações.
Nos dias de Paulo, os competidores dos Jogos tinham que se submeter a um treinamento rigoroso, por um período de dez meses. No último mês, eles se hospedavam em Corinto para serem examinados diariamente em seus treinamentos intensivos, nas arenas e nas academias.
As corridas e as lutas eram os jogos preferidos dos expectadores, por isso Paulo usa essas figuras para ilustrar como deve ser vivida a vida cristã.
Transposição
Dito isto, pergunto a você: não é incrível que a Bíblia tenha algo a dizer sobre os Jogos Olímpicos? Observe, mais uma vez, como Paulo escreveu:
1Co 9.25 | Todos os que competem nos jogos se submetem a um treinamento rigoroso, para obter uma coroa que logo perece; mas nós o fazemos para ganhar uma coroa que dura para sempre.
Por que Bíblia menciona os Jogos?
Para nos ensinar a ver a vida de uma forma teocêntrica; para nos ajudar, por exemplo, a assistir os Jogos com as lentes da glória de Deus, do evangelho de Cristo e da vida cristã no Espírito Santo.
C. S. Lewis chamaria essa atitude de “transposição”, isto é: olhar para os Jogos Olímpicos, envolventes e empolgantes como eles são, e enxergar através deles, para além deles, visualizando as realidades eternas às quais eles nos apontam aqui no mundo criado por Deus; contemplando as lições que deles nós podemos aprender sobre a nossa “tão grande salvação” (Hb 2.3).
Aos escrever aos coríntios, é como se Paulo estivesse dizendo algo como:
Os jogos são realizados em nível terreno. Os atletas correm, lutam, treinam, praticam e se privam apenas nesse nível. Suas visões são limitadas – eles enxergam somente até o ouro. Nós, porém, devemos enxergar para além do ouro, para além do prêmio terreno. Temos que chegar a um nível superior, transpondo-nos dos esforços e triunfos temporais e terrenos dos Jogos Olímpicos para um nível mais elevado, para o nível da vida espiritual, da vida eterna e gloriosa ao lado de Deus.
Portanto, quando estivermos assistindo a um atleta correndo, enxerguemos outro tipo de corrida. Quando virmos um atleta lutando, visualizemos outro tipo de luta. Quando ouvirmos sobre os treinamentos pesados dos atletas, do sacrifício duro e da negação de tantos prazeres para ganharem o ouro, ouçamos outro tipo de treinamento e de auto-sacrifício para os quais nós somos chamados. Quando os virmos sorrindo pelo ouro em seus pescoços, enxerguemos outro tipo de prêmio: a coroa da glória. Quando nos emocionarmos com as vitórias deles, lembremo-nos da emoção do Dia do Senhor.
Penso que era isso o que Paulo estava dizendo aos crentes de Corinto e, com certeza, está nos dizendo nestes dias em que todos estão respirando as Olimpíadas Rio 2016. Sejamos, pois, todos estimulados pelos jogos, digo: desafiados a, rigorosamente, buscar “a imperecível coroa da glória” (1Pe 5.4).
É assim que devemos assistir aos Jogos Olímpicos Rio 2016, pois se bem compreendemos o apóstolo Paulo neste texto, as Olimpíadas do Rio deverão nos servir como grande exemplo e tremendo impulso para que travemos o combate da fé e corramos a carreira que nos está proposta, no mínimo, com a mesma paixão e perseverança dos atletas olímpicos.
Duas observações importantes
Olhando para o texto de Paulo (1Co 9.23-27), nós podemos observar dois fatos importantes que demandam a nossa cuidadosa atenção. Dividiremos a nossa reflexão em duas partes. Uma hoje e outra no domingo próximo à noite.
O prêmio. Há algum prêmio prometido para aqueles que correm a corrida da fé? Podemos correr a corrida da fé de olho neste prêmio?
A prova. Como é que nós devemos correr a corrida da fé?
Hoje nós iremos contemplar o prêmio.
Domingo à noite nós veremos a prova.
O prêmio da prova
Paulo apresenta o prêmio da prova de quatro maneiras diferentes, em quatro versos diferentes. Ele revela que o que está à prova é o prêmio. Ele usa a sua própria vida como exemplo para os coríntios, ao mesmo tempo em que revela que ele está na corrida com eles. A salvação é o prêmio da prova.
1. Cooperador do evangelho (v. 23)
O verso 23 é a conclusão de um pensamento de Paulo, cujo início foi lá no verso 19. De 19 a 23, Paulo falou de seu amor pelas pessoas; de seu desejo de ganhar o maior número possível de pessoas para Cristo.
1Co 9.19-23 | 19 Porque, embora seja livre de todos, fiz-me escravo de todos, para ganhar o maior número possível de pessoas. 20 Tornei-me judeu para os judeus, a fim de ganhar os judeus. Para os que estão debaixo da Lei, tornei-me como se estivesse sujeito à Lei (embora eu mesmo não esteja debaixo da Lei), a fim de ganhar os que estão debaixo da Lei. 21 Para os que estão sem lei, tornei-me como sem lei (embora não esteja livre da lei de Deus, e sim sob a lei de Cristo), a fim de ganhar os que não têm a Lei. 22 Para com os fracos tornei-me fraco, para ganhar os fracos. Tornei-me tudo para com todos, para de alguma forma salvar alguns. 23 Faço tudo isso por causa do evangelho, para ser co-participante dele.
Veja que no verso 23 Paulo resumiu a sua paixão pelas pessoas e pelo evangelho da seguinte maneira: “Faço tudo isso por causa do evangelho, para ser co-participante dele”.
Paulo quer se tornar cooperador do evangelho para ganhar aquilo que o evangelho promete. Afinal, quem não coopera, dá provas de que realmente não tem parte naquilo com o que ele deveria cooperar. É simples: só tem parte em alguma coisa, aqueles que com aquilo eles cooperam.
O evangelho promete salvação – salvação do pecado e de suas consequências; isto é condenação e morte eternas, a ira de Deus e o inferno (Rm 1.16; 5.8-9).
Paulo está testificando que ele vive pela causa do evangelho. A sua vida é para a salvação daqueles que o ouvem, bem como a sua própria salvação:
1Tm 4.16 | Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes.
“Salvarás”! Espera aí, eles já não eram salvos? Por que o tempo do verbo está posto no futuro? A salvação de alguém só é comprovada quando ele persevera cooperando com o evangelho. Se alguém não coopera ou para de cooperar com o evangelho, essa pessoa dá provas de que não foi salva. Ela se desqualifica, como um atleta pego no exame antidoping.
2. Qualificado para o prêmio (v. 27)
Paulo se preocupava em manter-se qualificado. Ele não quer ser desclassificado
1Co 9.27 | Mas esmurro o meu corpo e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado.
Paulo afirma que se ele não tomar cuidado ele se desqualifica. Seguindo o seu raciocínio, ele vai advertir os coríntios do mesmo risco:
1Co 10.1-12 | 1 Ora, irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais estiveram todos sob a nuvem, e todos passaram pelo mar, 2 tendo sido todos batizados, assim na nuvem como no mar, com respeito a Moisés. 3 Todos eles comeram de um só manjar espiritual 4 e beberam da mesma fonte espiritual; porque bebiam de uma pedra espiritual que os seguia. E a pedra era Cristo. 5 Entretanto, Deus não se agradou da maioria deles, razão por que ficaram prostrados no deserto. 6 Ora, estas coisas se tornaram exemplos para nós, a fim de que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram. 7 Não vos façais, pois, idólatras, como alguns deles; porquanto está escrito: O povo assentou-se para comer e beber e levantou-se para divertir-se. 8 E não pratiquemos imoralidade, como alguns deles o fizeram, e caíram, num só dia, vinte e três mil. 9 Não ponhamos o Senhor à prova, como alguns deles já fizeram e pereceram pelas mordeduras das serpentes. 10 Nem murmureis, como alguns deles murmuraram e foram destruídos pelo exterminador. 11 Estas coisas lhes sobrevieram como exemplos e foram escritas para advertência nossa, de nós outros sobre quem os fins dos séculos têm chegado. 12 Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia.
Não é que o crente perde a salvação. O problema é que muitos pensam estar salvos, mas não estão. Pensam estar em pé, mas não estão.
Mateus 7.21-23 | Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. 22 Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? 23 Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade.
Por ser muito fácil se enganar quanto ao estado de salvação, Paulo adverte os coríntios em uma segunda carta:
2Co 13.5 | Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não reconheceis que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados.
A prova de que estamos qualificados para o prêmio (para a salvação) é que perseveramos em santidade, combatendo o combate da fé:
Fl 3.12 | Não que eu o tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus.
1Tm 6.12 | Combate o bom combate da fé. Toma posse da vida eterna, para a qual também foste chamado e de que fizeste a boa confissão perante muitas testemunhas.
Hb 12.14 | Segui (corra atrás com paixão e perseverança) a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor.
Paulo, portanto, usou o seu exemplo duas vezes (ao falar de sua cooperação e ao descrever a sua preocupação com a qualificação), para mostrar aos coríntios que o prêmio que está à prova é a salvação.
Agora, ele mostrará o que está à prova na maneira como os coríntios correm a corrida e combatem o combate da fé.
3. O prêmio do céu (v. 24)
1Co 9.24 | Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis.
A palavra prêmio só aparece uma única outra vez no Novo Testamento.
Fl 3.14 | Prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.
Portanto, não receber o prêmio é não ir para o céu! Então, quando Paulo diz: “Correi de tal maneira que alcanceis [o prêmio]”, ele está declarando que o céu depende de como corremos a prova! Isso mesmo, pois a maneira como nós corremos revela se estamos no caminho da vitória ou não, por isso que a mensagem de domingo próximo à noite é tão fundamental. Lá, Deus permitindo, pensaremos sobre como nós devemos correr a prova de maneira a receber o prêmio do céu.
4. A coroa incorruptível (v. 25)
A quarta declaração sobre o que está à prova nesta prova é mencionada no verso 25: “Todo atleta em tudo se domina; aqueles, para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível”. O paralelo mais próximo deste verso é o de 2Timóteo, onde se lê:
2Timóteo 4.7-8 | Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda.
A coroa incorruptível – a salvação final – está preparada para aqueles que correm e combatem sem trégua. Eles combatem (lutam), eles completam (perseveram) e eles guardam (apreciam). Como? Amando a vinda de Cristo!
Observações finais
A vida cristã é coisa muito séria e o que está à prova é muito valioso – a salvação eterna.
A maneira como vivemos as nossas vidas – a forma como nós combatemos e corremos a prova da fé – fará toda a diferença no que diz respeito ao receber o prêmio ou ser desqualificado da prova.
O que veremos no Rio, a partir de sexta-feira: a disciplina, a concentração, a dedicação, a paixão, a vibração, o comprometimento, enfim, a perseverança apaixonada dos atletas, em busca do ouro, da glória e dos aplausos dos homens, mesmo que por breves momentos, é o padrão de vida que temos que assumir se nós tivermos que receber a coroa.
Meu apelo, para aqueles que assistirão aos Jogos Olímpicos Rio 2016, é que transportem o que vocês assistirão para uma realidade muito superior. Lembrem-se de que o que o Senhor tem prometido para aqueles que buscam a santificação com paixão e perseverança é infinitamente superior e mais valioso do que o ouro olímpico – é a salvação da sua alma da ira de Deus.
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