06.10.2024
Atos 28.17-31 (NVT)
[A conclusão do livro!]
30Durante os dois anos seguintes, Paulo morou em Roma, às próprias custas [na casa que ele havia alugado]. A todos que o visitavam ele recebia, 31proclamando corajosamente o reino de Deus e ensinando a respeito do Senhor Jesus Cristo sem restrição alguma.
As grandes séries dos canais ou plataformas de assinatura cativam por suas histórias intensas e personagens complexos, mas a narrativa que Deus escreveu para revelar os primeiros passos da história da salvação – em Atos dos Apóstolos – é infinitamente mais envolvente e transformadora.
Nos últimos anos, as plataformas de streaming revolucionaram a maneira como consumimos entretenimento. Esse serviço digital passou a permitir que os usuários assistam, a qualquer hora e em qualquer lugar, a conteúdos como filmes, séries, documentários e programas de TV pela internet, sem precisar baixar os arquivos. As plataformas mais conhecidas – vocês sabem – incluem Netflix, Amazon Prime Video, Disney+, Max (anteriormente HBO Max) e muitas outras.
Entre todas essas plataformas, as três séries no topo de todos os tempos são — adivinha? – Breaking Bad, The Sopranos e Game of Thrones. Qual é o segredo? Ora, elas se tornaram verdadeiros fenômenos culturais, não apenas pela qualidade de suas produções, mas pela profundidade de seus personagens e pelos enredos repletos de reviravoltas. Os espectadores se conectam com protagonistas falhos e moralmente ambíguos, que vivem em um mundo onde suas escolhas inevitavelmente moldam seus destinos. A cada episódio, o expectador é levado pelo drama e pela tensão, aguardando com ansiedade o desenrolar e o desfecho de cada história, como se compartilhasse o peso de suas decisões e as consequências que se seguem. Entretanto, o mais cativante em todas essas histórias, não tenha dúvida, são os personagens: — para citarmos apenas alguns: — Jesse Pinkman, Walter White, Tony Soprano e Tyrion Lannister.
O personagem é tudo, ele é essencial em uma boa história. Isso não se aplica apenas às séries e aos grandes livros da literatura universal, aplica-se, também, à Bíblia Sagrada. Os personagens tornam o Livro de Deus fascinante.
As Escrituras, como um todo, tratam de Deus: quem ele é, o que fez, faz e fará para realizar seus planos eternos de comunhão gloriosa com seu povo, criado para desfrutar de sua glória. Deus é, portanto, o personagem principal de toda a Bíblia, de capa a capa. Homens e mulheres, os chamados heróis da fé, são apenas coadjuvantes. Do ponto de vista literário, alguns desses personagens secundários são heróis menores, outros, anti-heróis, mas todos cumprem seu papel em relação a Deus e aos propósitos soberanos de Deus. Compreender que Deus é o protagonista e que os demais são coadjuvantes, sejam heróis menores ou anti-heróis, tornará sua leitura da Bíblia mais proveitosa e suas conclusões mais acertadas.
Além dos personagens, o que conduz uma boa história é o tema ou a trama, e com a Bíblia não é diferente. Na Bíblia Sagrada, o tema central é a glória de Deus na criação e redenção de seu povo, e esse é o fio condutor do Livro. Assim, quando chegamos a Atos dos Apóstolos, percebemos que o personagem principal não é Paulo, Pedro ou qualquer outro personagem humano, mas o Espírito Santo. E o centro da narrativa, ou melhor, o tema que orienta a trama, é O EVANGELHO.
Uma boa maneira de identificar o tema de um livro é ler sua introdução e, sem se preocupar com spoilers, ir diretamente à conclusão. Experimente comigo. Observe como o livro de Atos começa e como ele termina. Abra o livro no início e preste atenção aos detalhes.
Atos 1.1-3 (NVT)
1Em meu primeiro livro [Isto é, o evangelho de Lucas.], relatei a você, Teófilo, tudo que Jesus começou a fazer e a ensinar 2até o dia em que foi levado para o céu, depois de dar a seus apóstolos escolhidos mais instruções por meio do Espírito Santo. 3Durante os quarenta dias após seu sofrimento e morte, Jesus apareceu aos apóstolos diversas vezes. Ele lhes apresentou muitas provas claras de que estava vivo e lhes falou do reino de Deus.
Agora, vá até o final do livro e releia o trecho que consultamos no início. Observe atentamente os detalhes e verifique as semelhanças com o texto de abertura.
Atos 28.30-31 (NVT)
30Durante os dois anos seguintes, Paulo morou em Roma, às próprias custas [na casa que ele havia alugado]. A todos que o visitavam ele recebia, 31proclamando corajosamente o reino de Deus e ensinando a respeito do Senhor Jesus Cristo sem restrição alguma.
Anunciar o que Jesus fez e ensinou, ou seja, apresentar o reino de Deus e proclamá-lo corajosamente, desde Jerusalém até os confins da terra, é o tema e o fio condutor da trama de Atos dos Apóstolos. Tanto é verdade que este propósito é sintetizado no versículo chave do livro – Atos 1.8 (NVT): “Vocês receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em toda parte: em Jerusalém, em toda a Judeia, em Samaria e nos lugares mais distantes da terra”.
Carlos Osvaldo Pinto escreveu que
O tema central do livro de Atos é o progresso da mensagem do Reino das ruas estreitas de Jerusalém no começo do ano 30 às colinas abafadas de Roma no verão de 60. Este livro trata das forças, humanas e sobrenaturais, que permitiram que o Evangelho de Jesus Cristo atingisse o centro do império romano em menos de uma geração.
O propósito de Atos dos Apóstolos, portanto, é nos mostrar como a chama do evangelho se espalhou tão rapidamente em apenas 30 anos de história, partindo de Jerusalém, passando pela Judeia e Samaria, até alcançar os lugares mais distantes da terra: Roma, e de lá para o restante do mundo.
Ao longo de Atos dos Apóstolos, Lucas vai registrando e fincando bandeiras, mostrando que a chama do evangelho estava se espalhando e avançando conforme o plano de Jesus, que, pelo poder do Espírito Santo, capacitou seus agentes para essa missão. Observe que, ao longo do livro, há pelo menos seis relatórios de conquistas, evidenciando o progresso do evangelho – o qual partiu de Jerusalém, passou por Judeia e Samaria, até chegar a Roma. Veja:
A chama do evangelho se espalhou, alcançando os “lugares mais distantes da terra”. O Espírito Santo de Deus garantiu que a missão inicial fosse cumprida. Nomes como Pedro, Estevão, Filipe, Ananias de Damasco, Barnabé, Saulo (Paulo), Cornélio, João Marcos, Silas, Timóteo, Ágabo, Priscila e Áquila, Lídia, Lucas, Erasto, Gaio, Aristarco, Sópatro, Secundo, Trófimo, Tíquico, Tiago, Apolo, entre outros, têm algo em comum: todos foram instrumentos do Espírito Santo – todos foram coadjuvantes de Deus – no avanço da chama do evangelho. Receberam diretamente de Cristo a mensagem e, como em uma maratona de revezamento, passando de um para o outro a tocha da mensagem do reino, até que sua proclamação alcançasse todo o mundo gentio.
A cena final de Atos, portanto, tem como “ator” principal, não o apóstolo Paulo, mas o evangelho. Afinal, aquilo que o próprio Cristo começou a fazer e a ensinar (1.1-3) estava agora — trinta anos depois — sendo proclamado corajosamente e ensinado livremente, sem restrição alguma (28.30-31). Paulo era apenas o meio. O evangelho era o centro.
Assim é também conosco. Somos os meios de Deus. O evangelho é o centro. Ele é o centro da nossa vida e o centro da nossa mensagem. E ele é o centro porque é o único meio de sermos reconduzidos a Deus. 1Pedro 3.18 (NVT): “Pois Cristo também sofreu por nossos pecados, de uma vez por todas. Embora nunca tenha pecado, morreu pelos pecadores a fim de conduzi-los a Deus. Sofreu morte física, mas foi ressuscitado pelo Espírito”.
Pois bem, olhando para Paulo como o “meio” de Deus para levar o evangelho aos pecadores de Roma, o que podemos aprender nesta manhã? De que modo a cena final de Paulo em Atos dos Apóstolos nos ensina a transmitir a mensagem do evangelho? Como podemos atuar de forma a servir o evangelho ao pecador e, assim, ser coadjuvantes de Deus na história da redenção que ele está escrevendo?
Para responder, usaremos palavras do próprio Paulo, extraídas de outros contextos, mas que estão muito bem ilustradas nesta cena final de Atos dos Apóstolos.
1. “Pregue a palavra. Esteja preparado, quer a ocasião seja favorável, quer não.” (2Timóteo 4.2)
Tendemos a pensar que pregar ou mesmo dar testemunho do evangelho é uma tarefa reservada para momentos em que tudo está bem, quando estamos em plena paz, em perfeita harmonia com a vida e com todas as tarefas em dia. Ora, se for assim, quem jamais estará apto para pregar, abrir um pequeno grupo (ou participar de um) ou discipular alguém com o evangelho de Cristo? Ninguém! Surpreendentemente — e graças a Deus por isso! — Deus pretende usar as nossas próprias limitações e as circunstâncias tantas vezes limitadas em que nos encontramos como uma plataforma para o evangelho. OLHE O NOSSO TEXTO, POR EXEMPLO: as correntes de Paulo serão o meio para a proclamação da mensagem libertadora de Deus ao pecador.
Pelo menos três eram os “impeditivos” de Paulo, e a todos o apóstolo superou.
Primeiro, ele não tinha como ir aos pecadores para pregar, pois estava preso. Mas Deus trouxe as pessoas até ele!
Segundo, preso, seu poder de alcance estava limitado, pois não podia ir e vir. No entanto, ele aproveitou para escrever, e da prisão ele redigiu, pelo menos, Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemom.
Terceiro, Paulo talvez fosse a pessoa mais mal falada do cristianismo, tanto entre os cristãos (principalmente os do partido dos judaizantes e dos superapóstolos) quanto entre os judeus. Mas ele não se intimidou. Ele não parou. Ele pregou. Ele falou a verdade. Pois é exatamente isso que se deve fazer quando não há o que possa ser feito para mudar o que estão falando a seu respeito: você fala a verdade. Leia o texto:
Atos 28.17-20 (NVT)
17Três dias depois de chegar, Paulo convocou os líderes judeus locais e lhes disse: “Irmãos, embora eu não tenha feito nada contra nosso povo nem contra os costumes de nossos antepassados, fui preso em Jerusalém e entregue ao governo romano. 18Os romanos me interrogaram e queriam me soltar, pois não encontraram motivo para me condenar à morte. 19Mas, quando os líderes judeus protestaram contra a decisão, considerei necessário apelar a César, embora não tivesse acusação alguma contra meu próprio povo. 20Por isso pedi a vocês que viessem aqui hoje para que nos conhecêssemos, e também para que eu pudesse explicar que estou preso com estas correntes porque creio na esperança de Israel”.
Quando Lucas, pela inspiração do Espírito Santo, escreveu essas palavras, ele demonstrou, primeiramente, que o cristianismo não era um crime — até os gentios, inclusive os romanos, entenderam isso. O que Paulo pregava era, na verdade, o cumprimento da promessa da Antiga Aliança, o Antigo Testamento — o que os próprios judeus aguardavam (e o fazem até hoje, enquanto se recusam a olhar para o Messias Jesus).
Segundo, Lucas demonstrou que foi o próprio Deus quem cuidou de secar a fonte de fofocas que os judeus em Jerusalém e na Ásia jorravam persistentemente contra Paulo havia mais de dois anos. Como resultado, os judeus em Roma estavam abertos a ouvir as palavras do apóstolo. E estavam curiosos! Pensavam: “O que a prisão e o julgamento desse homem têm a ver com ‘a esperança de Israel’?” Leia:
Atos 28.21-22 (NVT)
21Eles responderam: “Não recebemos nenhuma carta da Judeia, e ninguém que veio de lá nos informou alguma coisa contra você. 22Contudo, queremos ouvir o que você pensa, pois o que sabemos a respeito desse movimento [esta seita, literalmente, αιρεσις hairesis = outra opção, outra escolha; é a raiz etimológica da palavra heresia em português] é que ele é contestado em toda parte”.
Até aquele momento, nada sobre Paulo pessoalmente havia chegado a Roma. Entretanto, a má fama do cristianismo já começava a ganhar as manchetes na capital do império. Paulo, contudo, pregou a Palavra. Ele estava sempre preparado, fosse a ocasião favorável ou não. Deus trouxe as pessoas até ele; Deus resguardou sua reputação até aquele momento. Deus lhe deu ampla oportunidade para pregar (de viva voz e por cartas), ainda que as circunstâncias pessoais e políticas não fossem favoráveis.
Continua…
S.D.G. L.B.Peixoto
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