29.11.2024
Romanos 1.21 (NAA)
Porque, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças.
Embora majoritariamente identificada como cristã, ou professando alguma forma de fé em Deus, a sociedade brasileira raramente interrompe suas atividades em um dia útil de novembro para dedicar-se formalmente à prática da gratidão. De fato, o Dia de Ação de Graças não é amplamente celebrado no Brasil como nos Estados Unidos, mas está oficialmente presente em nosso calendário. Instituído pelo presidente Gaspar Dutra em 1949, a celebração está marcada para a quarta quinta-feira de novembro, coincidindo com a celebração norte-americana.
Contudo, a data nunca se consolidou como uma tradição popular em nosso país. Suas celebrações restringem-se, em grande parte, a comunidades cristãs — especialmente evangélicas — e a algumas escolas que, ocasionalmente, promovem atividades educativas sobre a importância da gratidão. Além disso, a data ganha algum destaque em regiões com maior influência de comunidades norte-americanas ou instituições internacionais. E só!
Lamentavelmente, o Dia de Ação de Graças nunca alcançou no Brasil a relevância cultural ou religiosa que possui em outros países. Por aqui, festividades como o Natal, amplamente associadas ao Papai Noel, e a Páscoa, marcada por ovos e coelhos de chocolate, ocupam um espaço muito mais significativo. Além disso, festas típicas regionais, o Carnaval e até o Halloween têm um peso cultural consideravelmente maior do que o Dia de Ação de Graças. Esse cenário reflete muito sobre os valores e prioridades que moldam a identidade da República Federativa do Brasil, onde a gratidão formal e comunitária parece ser um hábito pouco cultivado.
Deveríamos ser gratos pelo Dia de Ação de Graças, e celebrá-lo!
Isso pode parecer trivial para muitos. No entanto, para aqueles que têm olhos para enxergar, esse gesto é como um raio deslumbrante da bondade comum de Deus em nossos dias, mesmo em meio à nuvens negras dos louvores públicos ao pecado, ao orgulho em pecar e à descrença que nos cercam de tantas formas. Nosso Pai celestial “é bondoso até para os ingratos e maus” (Lucas 6.35, NAA). Além disso, “[Ele] faz o seu sol nascer sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos” (Mateus 5.45, NAA).
Entre as bondades comuns de Deus estão os dias belos, corpos e mentes saudáveis, palavras carinhosas, amizades especiais, famílias em harmonia, mimos ou presentes inesperados, educação, trabalho, comida e abrigo — essas e todas as bênçãos divinas que frequentemente tomamos por garantidas, até que sejam ameaçadas ou nos sejam retiradas. Ainda assim, além dessas dádivas cotidianas, há uma misericórdia especial que merece destaque: o Dia de Ação de Graças.
Independentemente das discussões ou até das controvérsias que essa celebração possa suscitar em uma sociedade cada vez mais progressivamente secularizada — afinal, se tivermos de dar graças, a quem se dará graças? Não há Deus, dizem. Melhor mesmo são os dias que exaltam o orgulho disso e daquilo, celebrando o indivíduo! Ou, vamos dar graças ao Estado, ao Líder Nacional, oras, já que não há Deus, como dizem! — independentemente de todo o debate contrário, o Dia de Ação de Graças permanece como uma oportunidade singular para a autorreflexão e algumas mudanças de posturas, especialmente para os cristãos.
Se a prática da gratidão começar em um dia específico e, a partir dele, transbordar para os demais, sendo cultivada regularmente em nossos lares, então nossas famílias, igrejas e nações poderão colher frutos duradouros e significativos. Esse dia, então, poderá tornar-se um marco, um trampolim, um ponto de partida para o estabelecimento de um hábito contínuo que destaque uma das verdades mais importantes que Deus nos chama a viver e a transmitir às gerações futuras: gratidão.
1) A Gratidão Honra a Deus
Quando expressamos gratidão a Deus, em voz alta para que nossos filhos ouçam, modelamos algo profundo e essencial sobre a condição humana: fomos criados por Deus e para Deus.
Deus nos criou à sua imagem (Gênesis 1.27). E qual é o propósito de uma imagem? Refletir, exibir, tornar visível. Ela assegura que aquele a quem representa seja lembrado e honrado. Assim, fomos criados para refletir e exibir a imagem divina no mundo ao nosso redor. Fazemos isso tanto por meio de nossas ações visíveis quanto de nossas palavras — faladas ou escritas — que atribuem significado a essas ações. Esse chamado fundamental torna a gratidão indispensável à vida.
Entretanto, o pecado distorceu essa imagem, a imagem de Deus em nós. Em Romanos 1.21 (NAA), o apóstolo Paulo oferece um diagnóstico claro do que deu errado na humanidade: “Porque, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças.”
2) Falhamos em dar Graças
Nossa condição no mundo, em certo sentido, é bastante simples: Deus nos criou, cercou-nos de um universo repleto de bondades, e nós falhamos em agradecê-lo como deveríamos.
Deus nos presenteou com dias ensolarados, céus azuis, fertilidade, grama verde, carne e comida, nuvens que encantam os olhos e proporcionam sombra, árvores que produzem frutos deliciosos e, acima de tudo, uns aos outros — a maior maravilha da criação, expressa nos corpos e mentes humanas. Mesmo sob os efeitos do pecado, o mundo continua a transbordar da bondade de Deus. E nós, mesmo em nossos momentos mais difíceis, somos sustentados por sua graça.
Nossa primeira resposta à generosa provisão divina deveria ser, simplesmente, agradecer. Isso honra o Criador e Provedor. Contudo, quando deixamos de fazê-lo, seja por indiferença ou desprezo, desonramos a Deus e nos rebelamos contra um dos propósitos fundamentais de nossa existência. A gratidão, portanto, não é um detalhe irrelevante, e a ingratidão não é um vício menor.
3) O Prazer de Agradecer a Deus
Fomos criados para dar graças a Deus. E, ao fazê-lo, experimentamos um dos grandes prazeres para os quais fomos feitos. Como o atleta olímpico Eric Liddell (1902–1945) afirmou que sentia o prazer de Deus ao correr. Você conhece a história? Já assistiu o filme “Carruagens de Fogo”? Esse filme, de 1981, vencedor de quatro Oscars, incluindo o de melhor fotografia, foi baseado na história de Eric Liddell.
Eric também foi missionário e cristão devoto. Era escocês. Ficou conhecido por sua participação nos Jogos Olímpicos de 1924 e por sua forte convicção de viver sua fé em todas as áreas de sua vida. Ele ganhou fama mundial quando se recusou a correr as eliminatórias dos 100 metros rasos, sua especialidade, porque a prova seria realizada em um domingo, o que ia contra suas convicções cristãs sobre o dia de descanso.
Liddell foi eventualmente inscrito em outra prova, os 400 metros, na qual não era favorito. No entanto, ele não apenas competiu, mas também venceu e quebrou o recorde mundial, tornando-se uma inspiração para muitos. Durante sua preparação e carreira, ele afirmou sentir “o prazer de Deus” ao correr, uma frase que reflete sua percepção de que o esporte era uma forma de glorificar a Deus e de expressar a alegria da criação.
Após sua carreira atlética, Liddell dedicou sua vida ao trabalho missionário na China, onde nasceu e cresceu como filho de missionários. Ele serviu como professor e evangelista até ser preso pelos japoneses durante a Segunda Guerra Mundial. Liddell morreu em um campo de prisioneiros em 1945, mas seu legado como um homem de fé, convicção e serviço sacrificial continua a inspirar cristãos e atletas ao redor do mundo.
Nós também sentimos “o prazer de Deus” quando agradecemos ao Senhor e ensinamos nossos filhos a fazer o mesmo. Entretanto, como pais, enfrentamos o desafio de criar filhos em uma era que celebra o orgulho em detrimento da humildade. A mentalidade de direitos e privilégios cresce de forma alarmante. Será que a gratidão se tornará algo irrelevante para nossos filhos? Eles tomarão como garantidas a graça, a provisão, a bênção e a comunhão da igreja de Deus? Ou, ao contrário, aprenderão a valorizar cada dádiva e a expressar gratidão de maneira significativa?
Nossos lares serão espaços onde a gratidão a Deus é praticada diariamente, regularmente, com espontaneidade e alegria? Será que o Dia de Ação de Graças — o qual fazemos questão de celebrar todos os anos na SIB — servirá como um lembrete especial desse hábito? Precisamos provar o prazer de agradecer a Deus — e modelá-lo para as gerações futuras.
4) Jesus foi Grato
Quando Cristo veio ao mundo, ele viveu com gratidão e a expressou muito bem diante dos olhos de seus discípulos. Mesmo sendo Senhor do céu e da terra, mesmo sendo Deus, Deus encarnado, Jesus abraçou plenamente a humanidade, incluindo a prática da gratidão.
Jesus agradeceu ao Pai em oração (Mateus 11.25-26; Lucas 10.21), não apenas em privado, mas de modo audível, para que seus discípulos ouvissem. Ao alimentar quatro mil pessoas, “pegou os sete pães e os peixes e, tendo dado graças, os partiu e deu aos discípulos, e estes distribuíram ao povo” (NAA: Mateus 15.36; Marcos 8.6). Quando alimentou cinco mil, seguiu o mesmo padrão (João 6.11). Tão marcante foi sua ação de graças que o local do milagre ficou conhecido como “o lugar onde comeram o pão depois que o Senhor deu graças” (João 6.23, NAA).
Na noite anterior à sua morte, Jesus tomou o pão, deu graças, partiu-o e o ofereceu aos discípulos (Lucas 22.17; 1Coríntios 11.24). Fez o mesmo com o cálice, dando graças antes de apresentá-lo como símbolo da nova aliança em seu sangue (Mateus 26.27; Marcos 14.23; Lucas 22.19). Essa prática era tão central que, em algumas tradições, a Ceia do Senhor é chamada de “Eucaristia”, palavra grega que significa — sabe o quê? — “ação de graças”!
Para Jesus, o Deus-homem, a gratidão não era trivial. Ele foi o supremo exemplo de quem dá graças. Assim, a gratidão também não deve ser coisa pequena para nós ou para nossos filhos. Que privilégio não apenas experimentarmos a alegria de agradecer a Deus, mas também compartilharmos essa alegria com a próxima geração.
5) Uma Lista de Motivos para Agradecer
Deveríamos ser gratos pelo Dia de Ação de Graças — e celebrá-lo.
Não é tão natural para nós agradecer, e, a cada dia, vamos perdendo a capacidade de enxergar o brilho, sentir o cheiro, o sabor e o toque das coisas, sobretudo as espirituais. Além disso, os valores têm sido tão distorcidos, ao ponto de se expressar ações de graças por coisas tão absurdas e biblicamente inimagináveis. Por tudo isso, por não agradecermos com naturalidade, por não sabermos pelo que e como agradecer, bom seria se tivéssemos alguns padrões bíblicos para nos nortear. Graças a Deus que há!
No Novo Testamento, há vários exemplos de ação de graças, que são expressões de gratidão a Deus por diferentes motivos. Aqui estão alguns versículos com seus respectivos contextos:
Gratidão pela provisão e sustento
João 6.11 (NAA): “Então Jesus pegou os pães e, tendo dado graças, distribuiu-os entre eles; e igualmente os peixes, tanto quanto queriam.”
Jesus dá graças pela provisão de alimento antes de realizar o milagre da multiplicação dos pães e peixes.
Gratidão pelo poder de Deus revelado
João 11.41 (NAA): “Então tiraram a pedra. E Jesus, levantando os olhos para o céu, disse: — Pai, graças te dou porque me ouviste.”
Jesus agradece a Deus antes de ressuscitar Lázaro, reconhecendo o poder do Pai.
Gratidão pela salvação em Cristo
2Coríntios 9.15 (NAA): “Graças a Deus pelo seu dom indescritível!”
Paulo expressa gratidão pelo dom da salvação em Cristo Jesus, que é motivo de louvor constante.
Gratidão pelo amor e fé dos irmãos
Efésios 1.16 (NAA): “não cesso de dar graças por vocês, mencionando-os nas minhas orações.”
Paulo dá graças pelo amor e fé da igreja em Éfeso, reconhecendo a obra de Deus na vida dos cristãos.
Gratidão em todas as circunstâncias
1Tessalonicenses 5.18 (NAA): “Em tudo, deem graças, porque esta é a vontade de Deus para vocês em Cristo Jesus.”
Paulo incentiva os cristãos a serem gratos em todas as situações, reconhecendo a soberania e bondade de Deus.
Gratidão por livramento e força
Colossenses 1.12-14 (NAA): “dando graças ao Pai, que os capacitou a participar da herança dos santos na luz. Ele nos libertou do poder das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado, em quem temos a redenção, a remissão dos pecados.”
Paulo agradece a Deus pelo livramento do pecado e pela redenção através de Cristo.
Gratidão ao orar
Filipenses 4.6 (NAA): “Não fiquem preocupados com coisa alguma, mas, em tudo, sejam conhecidos diante de Deus os pedidos de vocês, pela oração e pela súplica, com ações de graças.”
A gratidão deve acompanhar as orações e pedidos, reconhecendo a bondade de Deus.
Gratidão por crescimento espiritual
2Tessalonicenses 1.3 (NAA): “Irmãos, devemos sempre dar graças a Deus por vocês, como convém, pois a fé que vocês têm cresce cada vez mais, e o amor que todos vocês têm uns pelos outros vai aumentando.”
Paulo agradece a Deus pelo crescimento na fé e no amor dos irmãos da igreja em Tessalônica.
Gratidão pelo evangelho e sua expansão
Romanos 1.8 (NAA): “Em primeiro lugar, por meio de Jesus Cristo, dou graças ao meu Deus por todos vocês, porque a fé que vocês têm é proclamada no mundo inteiro.”
Paulo agradece a Deus pelo testemunho dos cristãos em Roma e pela expansão do evangelho.
Esses versículos demonstram que a gratidão no Novo Testamento está frequentemente ligada a bênçãos espirituais (salvação, fé, amor), provisões físicas, e até mesmo dificuldades, reconhecendo que Deus é soberano e digno de louvor em todas as circunstâncias.
Jamais se esqueça: fomos criados para a gratidão, sobretudo, gratidão pelo sacrifício de Cristo
Mateus 26.27-28 (NAA): “A seguir, Jesus pegou um cálice e, tendo dado graças, o deu aos seus discípulos, dizendo: — Bebam todos dele; porque isto é o meu sangue, o sangue da aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados.”
Em ações, de graças, portanto, celebremos a ceia do Senhor Jesus:
1Coríntios 11.23-26 (NAA): 23Porque eu recebi do Senhor o que também lhes entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, pegou um pão 24e, tendo dado graças, o partiu e disse: “Isto é o meu corpo, que é dado por vocês; façam isto em memória de mim.” 25Do mesmo modo, depois da ceia, pegou também o cálice, dizendo: “Este cálice é a nova aliança no meu sangue; façam isto, todas as vezes que o beberem, em memória de mim.” 26Porque, todas as vezes que comerem este pão e beberem o cálice, vocês anunciam a morte do Senhor, até que ele venha.
S.D.G. L.B.Peixoto
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