29.12.2019
A GLÓRIA DA HUMANIDADE DE CRISTO
Lucas 2.52
Jesus crescia em sabedoria, em estatura e no favor de Deus e das pessoas.
A QUESTÃO DA IDENTIDADE DE JESUS
Estudando A Glória de Cristo (esta é a décima mensagem desta série!), nosso objetivo e ver e desfrutar dessa glória de maneira salvadora, santificadora e saciadora. Nosso estudo não é como o de um médico legista, examinando evidências de maneira fria e profissional de um corpo desinteressante ou repugnante aos olhos comuns. Nossa atitude é como a de um fotógrafo em busca de imagens belas e encantadoras de diversos ângulos diferentes de uma mesma cadeia de maravilhas. E para que tudo isso aconteça nós devemos nos debruçar sobre a revelação da identidade de Cristo que temos na Bíblia de uma maneira pessoal, na forma de um encontro face a face.
Quem é Jesus?
Alguns dizem que Jesus é… um grande mestre da humanidade… o fundador do cristianismo… o filho de um carpinteiro de Nazaré… um judeu que reivindicou ser o Messias… um mártir do primeiro século que morreu por uma causa nobre… o Filho de Deus… Afinal, quem é Jesus?
Essa pergunta perambulou pelas ruas de Jerusalém como um órfão miserável. Seus discípulos, certa vez apavorados, perguntaram (Mc 4.41): “Quem é este homem? Até o vento e o mar lhe obedecem!”. Relatando a Jesus as conclusões de outras pessoas, os mesmos discípulos declararam (Mt 16.14): “Alguns dizem que o senhor é João Batista; outros, que é Elias; e outros, ainda, que é Jeremias ou um dos profetas”. Os escribas e os fariseus, líderes religiosos de seu tempo, vivendo na expectativa messiânica, ficaram especialmente furiosos por causa do pregador inquietante de Nazaré (Lc 5.21): “Quem ele pensa que é? Isso é blasfêmia! Somente Deus pode perdoar pecados!”. E ainda os mesmos (Lc 7.49): “Quem é esse que anda por aí perdoando pecados?”. A pergunta persistente chegou tão longe a ponto de bater às portas dos oficiais do alto governo romano. Herodes ponderou (Lc 9.9): “Eu decapitei João […] Então quem é o homem sobre quem ouço essas histórias?”. Finalmente, e de forma apoteótica, face a face, Pilatos questionou a identidade de Jesus (Lc 23.3): “Você é o rei dos judeus?”.
Até hoje as pessoas se perguntam: Quem é Jesus?
A bem da verdade, Jesus é Deus. Paulo, inspirado por Deus, escreveu, Colossenses 1.15: “O Filho é a imagem do Deus invisível e é supremo sobre toda a criação.” O autor aos Hebreus, também inspirado pelo Espírito Santo, registrou, Hebreus 1.3: “O Filho irradia a glória de Deus, expressa de forma exata o que Deus é e, com sua palavra poderosa, sustenta todas as coisas.” Cristo é Deus. Homem-Deus. Deus-homem.
A Confissão de Fé Batista de Londres de 1689 atesta o que segue (cap. 8, par. 2):
O Filho de Deus, Segunda pessoa da Trindade Santa — sendo o próprio Deus eterno, o resplendor da glória do Pai, da mesma essência e igual ao Pai —, Ele fez o mundo, sustém e governa todas as coisas que criou. Quando veio a plenitude do tempo, Ele tomou sobre si a natureza humana, com todas as suas propriedades essenciais e fraquezas comuns — porém, sem pecado.
E foi concebido pelo Espírito Santo, no ventre da Virgem Maria (pois o Espírito Santo desceu sobre ela, e o poder do Altíssimo a envolveu). Foi nascido de mulher, da tribo de Judá, da descendência de Abraão e de Davi, segundo previam as Escrituras.
Desse modo, duas naturezas completas, perfeitas e distintas foram inseparavelmente unidas, em uma única pessoa, sem conversão [uma natureza tornando-se a outra], composição [uma natureza composta da outra] ou confusão [mistura das duas naturezas em uma natureza composta]. E essa pessoa é verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem; no entanto, um só Cristo, o único mediador entre Deus e os homens.
Embora alguns hoje, como em todas as épocas, neguem a divindade de Cristo, também existem aqueles que a afirmam com tanta veemência que acabam ignorando o lado humano de Cristo, o que também é um erro.
Não podemos negar que Jesus, além de Deus, também é totalmente humano, aspecto tão importante quanto o primeiro. Entretanto, embora Cristo seja Deus desde a eternidade, o mesmo não é verdade com respeito à sua natureza humana: Ele se tornou homem, em um momento particular da história (Gl 4.4), ao encarnar (Jo 1.1-3, 14).
Contudo, ao ascender aos céus e ser glorificado, reassumindo seu lugar junto ao Pai, Cristo levou consigo sua natureza humana, tornando-se Deus-homem, o único a quem devemos adorar e em quem devemos buscar a salvação. Marcos 16.19: “Quando o Senhor Jesus acabou de falar com eles, foi levado para o céu e sentou-se à direita de Deus.” E ainda, em Atos 1.9-11:
9Depois de ter dito isso, foi elevado numa nuvem, e os discípulos não conseguiram mais vê-lo. 10Continuaram a olhar atentamente para o céu, até que dois homens vestidos de branco apareceram de repente no meio deles 11e disseram: “Homens da Galileia, por que estão aí parados, olhando para o céu? Esse Jesus, que foi elevado do meio de vocês ao céu, voltará do mesmo modo como o viram subir!”.
Na Bíblia, a verdade de que Cristo é Deus-homem, ou homem-Deus, aparece em várias passagens, mesmo no Antigo Testamento. Por exemplo, na profecia de Isaías (9.6), lida tão frequentemente na época do Natal, foi descrita a dupla natureza da vida de Cristo:
Pois um menino nos nasceu, um filho nos foi dado. O governo estará sobre seus ombros, e ele será chamado de Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno e Príncipe da Paz.
Nesse trecho, há dois verbos importantes: nascer e dar. Como qualquer criança, ele nasceu, mas, como Filho de Deus, ele nos foi dado. Homens conseguem ser maravilhosos conselheiros, governar e de certa forma ser príncipes da paz; mas somente Deus é Deus Poderoso e Pai Eterno.
A mesma distinção (Deus-homem) ocorreu nos escritos de Paulo. De acordo com a genealogia humana, Jesus era descendente de Davi, mas pelo poder o Espírito Santo ficou demonstrado que ele é o Filho de Deus. Romanos 1.3-4:
3Elas [as Escrituras] se referem a seu Filho, que, como homem, nasceu da linhagem do rei Davi, 4e, quando o poder do Espírito Santo o ressuscitou dos mortos, foi demonstrado que ele era o Filho de Deus. Ele é Jesus Cristo, nosso Senhor.
Jesus Cristo sempre foi, é e sempre será o Filho de Deus; no entanto, foi nascido de mulher, sob a lei, e, assim, tornou-se homem que cumpriu a lei para nos salvar dos pecados. Gálatas 4.4-5:
4Mas, quando chegou o tempo certo, Deus enviou seu Filho, nascido de uma mulher e sob a lei. 5Assim o fez para resgatar a nós que estávamos sob a lei, a fim de nos adotar como seus filhos.
Na Bíblia, a plena divindade e a plena humanidade de Cristo sempre aparecem juntas, muitas vezes em ilustrações feitas por meio dos vários eventos no ministério dele.
Por exemplo: No capítulo oito de Mateus foi narrada uma ocasião na qual percebemos a união dos aspectos divino e humano de Jesus. Ao lermos o trecho que vai do versículo 23 ao 27, vemos que, enquanto os discípulos de Cafarnaum estavam atravessando o mar da Galileia rumo à terra dos gadarenos, Jesus, exausto após um dia de trabalho, dormia na embarcação.
No meio do caminho, irrompeu-se uma tempestade tão intensa que até mesmo os pescadores mais experientes ficaram assustados. Eles, desesperados, acordaram Cristo dizendo: “Senhor, salva-nos, que perecemos”(Mt 8.25), o qual, por sua vez, prontamente acalmou a tempestade.
O que poderia ser mais humano do que a total exaustão de nosso Senhor no barco? O que poderia ser mais divino do que acalmar os ventos e as ondas do mar? Os discípulos exclamaram: “Que homem é este, que até os ventos e o mar lhe obedecem?” (Mt 8.27).
A HERESIA GNÓSTICA
Essas duas verdades nem sempre foram reconhecidas por todos ao longo da história da Igreja. Quase não há doutrinas no cristianismo que, em um dado momento, não tenham sido questionadas ou mesmo negadas por alguém.
A heresia da negação da divindade de Cristo é conhecida como arianismo. Essa teoria, desenvolvida por um padre de Alexandria, chamado Ário, morto em 335, questionava a divindade de Cristo, visto que, para ele, Jesus e o Espírito Santo foram apenas instrumentos usados por Deus, criados para que se cumprissem o propósito da redenção. Em outras palavras, segundo essa doutrina, somente Deus é eterno, e, para Ário, nem sempre Jesus e o Espírito Santo existiram. Foram nalgum momento criados.
Negar a divindade e a humanidade de Jesus são erros igualmente graves. O segundo caso também constitui uma heresia, que teve origem a partir do movimento conhecido como gnosticismo. Essa doutrina, conhecida como docetismo, foi, mais ou menos, contemporânea dos primeiros anos do cristianismo e tinha duas características principais.
A primeira delas consistia no estabelecimento de um princípio chamado de “supremacia do intelecto e superioridade mental à fé e à conduta”. Os gnósticos, como mostra o próprio significado da palavra, consideravam-se conhecedores, e criam que a salvação ocorre, principalmente, por meio do conhecimento, isto é, por uma iniciação ao misticismo que eles alegavam compreender mais que as demais pessoas. É claro que, em tal sistema, a encarnação literal do Filho de Deus não tinha significado. O importante era o conceito expresso pela pessoa de Cristo ou as verdades anunciadas por ele.
Uma segunda característica do sistema gnóstico era sua crença no abismo radical e insuperável que existe entre espírito e matéria, sendo, portanto, a natureza da matéria totalmente ruim, e a do espírito absolutamente boa. Essa visão, que era compartilhada pela maioria dos outros sistemas de pensamento naquele período, por um lado levava a uma negação da importância da vida moral, uma vez que a salvação era considerada apenas no âmbito espiritual, o que significava que as coisas relacionadas à vida física não importavam. Por outro lado, essa forma de pensar produzia um tipo de religião filosófica, separada da história concreta.
É óbvio que, diante disso, o gnosticismo entrou em conflito com o autêntico cristianismo. De acordo com o sistema gnóstico, qualquer encarnação real do Filho de Deus seria impossível. Se a matéria fosse má, então o Senhor não teria tido um corpo humano, e sua encarnação teria sido aparente, e não real, como foi.
A palavra docetismo vem do verbo grego dokeo, que significa aparecer. Em algumas formas do suposto gnosticismo cristão, acreditava-se que o Espírito de Deus veio sobre Jesus somente no momento de seu batismo, permanecendo nele durante os anos de seu ministério e, depois, abandonando-o pouco antes de sua crucificação. Em outras palavras, Jesus apenas parecia humano, mas, na verdade, não o era. Sendo assim, Cristo não possuía, de fato, um corpo material, o que, portanto, impossibilitava-o de morrer de verdade, e assim por diante.
Por ser anátema ao cristianismo, o docetismo foi fortemente rejeitado. A primeira resposta a esta doutrina foi a do apóstolo João, preservada, principalmente, em suas epístolas. Ele insistia na encarnação do Filho de Deus tão intensamente que iniciou sua primeira epístola enfatizando sua própria experiência física referente a Jesus (1Jo 1.1-3):
1Proclamamos a vocês aquele que existia desde o princípio, aquele que ouvimos e vimos com nossos próprios olhos e tocamos com nossas próprias mãos. Ele é a Palavra da vida. 2Aquele que é a vida nos foi revelado, e nós o vimos. Agora, testemunhamos e lhes proclamamos que ele é a vida eterna. Ele estava com o Pai e nos foi revelado. 3Anunciamos-lhes aquilo que nós mesmos vimos e ouvimos, para que tenham comunhão conosco. E nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo.
Note que esses versículos se referem a três dos cinco sentidos (ouvimos, vimos, tocamos). Depois, na mesma carta, João falou de um teste capaz de definir o verdadeiro cristianismo, 1João 4.1-3:
1Amados, não acreditem em todo espírito, mas ponham-no à prova para ter a certeza de que o espírito vem de Deus, pois há muitos falsos profetas no mundo. 2Assim sabemos se eles têm o Espírito de Deus: todo espírito que reconhece que Jesus Cristo veio em corpo humano é de Deus, 3mas todo espírito que não reconhece a verdade a respeito de Jesus não é de Deus. Esse é o espírito do anticristo, sobre o qual vocês ouviram que viria ao mundo e, de fato, já está aqui.
A verdade declarada na Bíblia é que Cristo é Deus-homem, homem-Deus.
FRAQUEZA E LIMITAÇÕES HUMANAS
O que faremos agora será observar, à partir de uma pequena amostras, textos bíblicos que apontam para a humanidade de Cristo, com todas as fraquezas e limitações humanas. Na sequências, apontaremos a importância da humanidade de Cristo. Em tudo isso está a glória da humanidade de Cristo. Minha oração é que o Espírito Santo abra seus olhos para ver e desfrutar a glória da humanidade de Cristo.
O corpo humano de Cristo
O fato de que Jesus possuía um corpo humano exatamente como o nosso é visto em muitas passagens das Escrituras. Ele nasceu assim como nascem todos os bebês humanos (Lc 2.7). Ele passou da infância para a maturidade assim como crescem todas as outras crianças (Lc 2.40): “Crescia o menino e se fortalecia, enchendo-se de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele”. Além disso, Lucas nos diz que “crescia Jesus em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos homens” (Lc 2.52).
Jesus ficava cansado exatamente como nós, pois lemos que “cansado da longa caminhada, sentou-se junto ao poço, por volta do meio-dia” em Samaria (Jo 4.6). Ele tinha sede, pois quando estava na cruz disse: “Tenho sede!” (Jo 19.28). Depois de jejuar por quarenta dias no deserto, lemos que “teve fome” (Mt 4.2). As vezes ficava fisicamente fraco, pois durante sua tentação no deserto jejuou quarenta dias (o ponto em que a força física humana esvai-se quase totalmente, além do qual ocorrem danos físicos irreparáveis, caso o jejum prossiga). Naquele momento “vieram anjos e o serviram” (Mt 4.11), aparentemente para cuidar dele e lhe fornecer alimento até que recuperasse força suficiente para sair do deserto. Quando jesus estava caminhando para a crucificação, os soldados forçaram Simão Cireneu a carregar sua cruz (Lc 23.26), mais provavelmente porque Jesus estava tão fraco depois dos açoites que havia recebido, que não tinha forças suficientes para carregá-la por si só. O auge das limitações de Jesus quanto ao seu corpo humano é visto quando ele morreu sobre a cruz (Lc 23.46). Seu corpo humano deixou de conter a vida e parou de funcionar, assim como acontece com o nosso quando morremos.
Jesus também ressuscitou dos mortos num corpo humano, físico, ainda que aperfeiçoado e já não sujeito à fraqueza, enfermidade ou morte. Ele demonstra várias vezes aos discípulos que possui de fato um corpo real. Ele diz: “Vejam minhas mãos e meus pés. Sou eu mesmo! Toquem-me e vejam que não sou um fantasma/espírito, pois fantasmas/espíritos não têm carne nem ossos e, como veem, eu tenho” (Lc 24.39). Ele lhes mostra e ensina que era “carne e ossos” e não só um “espírito” sem corpo. Outro indício desse fato é que “Eles lhe deram um pedaço de peixe assado, e ele comeu diante de todos.” (Lc 24.42-43).
Nesse mesmo corpo humano (ainda que ressurreto e tornado perfeito), Jesus também ascendeu ao céu. Ele disse antes de partir: “Sim, eu vim do Pai e entrei no mundo, e agora deixo o mundo e volto para o Pai” (Jo 16.28). A maneira pela qual Jesus ascendeu ao céu foi planejada para demonstrar a continuidade entre sua existência num corpo físico aqui sobre a terra e sua existência contínua no céu nesse corpo. Poucos versículos depois de dizer-lhes: “… um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho” (Lc 24.39), lemos no evangelho de Lucas que Jesus “os levou para Betânia e, erguendo as mãos, os abençoou. Aconteceu que, enquanto os abençoava, ia-se retirando deles, sendo elevado para o céu” (Lc 24.50-51). De modo semelhante, lemos em Atos: “[…] foi Jesus elevado às alturas, à vista deles, e uma nuvem o encobriu dos seus olhos” (At 1.9).
Todos esses versículos juntos mostram que, no que diz respeito ao corpo humano, Jesus era como nós em todos os aspectos antes da ressurreição, e após a ressurreição ainda era um corpo humano com “carne e ossos”, mas tornado perfeito, o tipo de corpo que teremos quando Cristo voltar e formos também ressuscitados. Jesus continua existindo nesse corpo humano no céu, conforme a ascensão tem o propósito de ensinar.
A mente humana de Cristo
O fato de Jesus ter crescido em sabedoria (Lc 2.52) significa que ele passou por um processo de aprendizado assim como acontece com todas as outras crianças — ele aprendeu a comer, a falar, a ler e a escrever, e a ser obediente a seus pais (veja Hb 5.8). Esse processo normal de aprendizado fazia parte da genuína humanidade de Cristo. Também vemos que Jesus possuía uma mente humana como a nossa quando ele fala do dia em que retornará à terra: “Mas a respeito daquele dia ou da hora ninguém sabe; nem os anjos no céu, nem o Filho, senão o Pai” (Mc 13.32).
A alma humana e as emoções humanas de Cristo
Vemos várias indicações de que Jesus possuía alma humana (ou espírito). Logo antes de sua crucificação, ele disse: “Agora, está angustiada a minha alma” (Jo 12.27). João escreve um pouco depois: “Ditas estas coisas, angustiou-se Jesus em espírito” (Jo 13.21). Em ambos os versículos o verbo angustiar representa o termo grego tarassõ, palavra muitas vezes empregada em referência a pessoas ansiosas ou que de repente são surpreendidas por um perigo.
Além disso, antes da crucificação, percebendo o sofrimento que enfrentaria, Jesus disse: “A minha alma está profundamente triste até à morte” (Mt 26.38), tamanha a aflição que sentia, a ponto de parecer que, caso se intensificasse um pouco mais, lhe roubaria a vida.
E ainda: Jesus experimentou toda uma sucessão de emoções humanas. Ele “admirou-se” com a fé demonstrada pelo centurião (Mt 8.10). Chorou de tristeza com a morte de Lázaro (Jo 11.35). Exultou-se (Lc 10.21). E orou com o coração repleto de emoção, pois ofereceu “com forte clamor e lágrimas, orações e súplicas a quem o podia livrar da morte” e foi “ouvido por causa da sua piedade” (Hb 5.7).
Além disso, o autor de Hebreus nos diz: “… embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu e, tendo sido aperfeiçoado, tornou-se o Autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem” (Hb 5.8-9). Mas se Jesus jamais pecou, como poderia “aprender a obediência”? Ao que parece, à medida que crescia rumo à maturidade, Jesus, como todas as outras crianças humanas, pôde ir assumindo mais e mais responsabilidades. Quanto mais velho ficava, tanto mais seus pais podiam exigir dele obediência, e tanto mais seu Pai celestial podia-lhe atribuir tarefas na força de sua natureza humana. Com cada tarefa cada vez mais difícil, mesmo quando implicava algum sofrimento (como especifica Hb 5.8), aumentava a habilidade moral de Jesus, sua capacidade de obedecer sob circunstâncias cada vez mais difíceis. Podemos dizer que essa “espinha moral” foi fortalecida por exercícios cada vez mais difíceis. Mas em tudo isso ele jamais pecou.
A completa ausência de pecado na vida de jesus é ainda mais notável pelas tentações severas que enfrentou, não só no deserto, mas durante toda a vida. O autor de Hebreus afirma queJesus foi “tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Hb 4.15). O fato de ter enfrentado tentações significa que possuía natureza genuinamente humana que podia ser tentada, pois as Escrituras são claras em nos dizer que “Deus não pode ser tentado pelo mal” (Tg 1.13).
As pessoas viam a humanidade de Cristo
As pessoas próximas de Jesus consideravam-no apenas humano. Mateus registra um incidente assombroso no meio do ministério de Jesus. Ainda que Jesus tivesse ensinado por toda a Galiléia, “curando toda sorte de doenças e enfermidades entre o povo”, de modo que “numerosas multidões o seguiam” (Mt 4.23-25), quando chegou à própria cidade de Nazaré, o povo que o conhecia havia muitos anos não o recebeu (Mt 13.53-58):
53Quando Jesus terminou de contar essas parábolas, deixou aquela região 54e voltou para Nazaré, cidade onde tinha morado. Enquanto ensinava na sinagoga, todos se admiravam e perguntavam: “De onde lhe vêm a sabedoria e o poder para realizar milagres? 55Não é esse o filho do carpinteiro? Conhecemos Maria, sua mãe, e também seus irmãos, Tiago, José, Simão e Judas. 56Todas as suas irmãs moram aqui, entre nós. Onde ele aprendeu todas essas coisas?”. 57E sentiam-se muito ofendidos. […] 58E, por causa da incredulidade deles, realizou ali apenas uns poucos milagres.
Essa passagem indica que aqueles que mais conheciam Jesus, os vizinhos com quem vivera e trabalhara por trinta anos, consideravam-no não mais que homem comum — bom homem, sem dúvida, justo, bondoso e confiável, homem de família, mas certamente não o próprio Deus encarnado. Fato é que nos primeiros trinta anos de sua vida, Jesus levou uma vida humana tão normal, que as pessoas de Nazaré que o conheciam melhor ficaram surpresas com o fato de conseguir ensinar com autoridade e realizar milagres. Eles o conheciam. Jesus era um deles. Jesus era “filho do carpinteiro” (Mt 13.55), e ele próprio era “carpinteiro” (Mc 6.3), tão comum, que podiam perguntar: “Onde ele aprendeu todas essas coisas?” (Mt l3.56). E João nos diz: “… nem mesmo os seus irmãos criam nele” (Jo 7.5).
Era Jesus plenamente humano?
Ele era tão plenamente humano que mesmo os que viveram e trabalharam com ele por trinta anos, mesmo os irmãos que cresceram na casa dele, não percebiam que era um tanto superior a outros seres humanos muito bons. Ao que parece, não tinham idéia de que fosse Deus vindo em carne.
A NECESSIDADE DA HUMANIDADE DE CRISTO
O que nos resta fazer é analisar os motivos pelos quais Jesus tinha de ser plenamente humano para ser o Messias e obter nossa salvação. Eis algumas razões.
A GLÓRIA DA HUMANIDADE DE CRISTO
A humanidade de Cristo é gloriosa para o cristão. Quem consegue ver e desfrutar dessa maravilha de milagre recebe salvação, santifica-se e se satisfaz.
Cristo se fez homem:
Consegue ver essa maravilha? Já desfruta dessa graça?
Regozije-se, crente. Regozije-se.
S.D.G. L.B.Peixoto
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