08.12.2019
A GLÓRIA DE CRISTO: ADMIRAÇÃO DOS CRENTES
2Tessalonicenses 1.7, 10 (ARA)
7e a vós outros, que sois atribulados, [Deus dará] alívio juntamente conosco, quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com os anjos do seu poder, […] 10quando vier para ser glorificado nos seus santos e ser admirado em todos os que creram, naquele dia (porquanto foi crido entre vós o nosso testemunho).
ADMIRAÇÃO: O MAIS RARO DOS PRAZERES
A Biblioteca do Congresso americano tem documentado que o livro mais influente nos Estados Unidos, depois da Bíblia, é um romance escrito por uma soviética, naturalizada americana. Considerada, pela crítica, monumental: A revolta de Atlas foi a última (1957, Atlas Shrugged) e a mais aclamada obra de ficção escrita por Ayn Rand (1905-1982). Ela era ateia e opositora ferrenha do socialismo e de outras formas de coletivismo. Sempre defendeu o indivíduo contra o Estado e qualquer tipo de divindade ou religião que o obrigue a abrir mão de seus direitos em favor do bem público. E o que tornou “monumental” a obra de grande realização de sua carreira foi o brilhantismo ao transformar sua filosofia em uma história de mistério, combinando elementos da ética, da metafísica, da política, da economia e até da ficção científica.
Uma frase de Ayn Rand, acima de todas as outras, permanece imortal. Ela disse: “A admiração é o mais raro dos prazeres.” A admiração é o mais raro dos prazeres! A autora não estava se referindo ao prazer de se ser admirado, mas ao prazer de se admirar. Admirar grandeza é um dos prazeres mais raros.
Claro que para Ayn Rand, essa frase era uma escárnio cínico do mundo moderno e a ausência de heróis. Para ela, não havia praticamente ninguém no mundo ao redor para se admirar. Mas, com efeito, essa frase é o eco da realidade mais profunda do universo. Admiração é um de nossos maiores prazeres. Tanto que Cristo, ao retornar pela segunda vez a este mundo, naquela ocasião futura para buscar a Igreja, virá “para ser glorificado nos seus santos e ser admirado em todos os que creram” (2Ts 1.10, ARA).
Com efeito, nós amamos admirar. Admiramos personalidades desportistas, estrelas da música, atores e atrizes com brilhantes atuações nos cinemas ou seriados, YouTubers e personal influencers; isto sem contar a admiração que nutrimos pela beleza, pelo pôr do sol, pelo nascer do sol, pelos rios e oceanos, por montanhas e vales, paisagens… Enfim, nós somos criaturas admiradoras até às juntas e medulas.
Fomos tecidos ou programados pelo Criador para ficarmos satisfeitos com o que há de mais admirável, e o que há de mais admirável no Universo é o SENHOR Deus. Portanto, o imperativo paulino, “alegrai-vos sempre no Senhor” (Fl 4.4, ARA) significa “alegrai-vos em ver e desfrutar a infinita admirabilidade do Senhor”.
Para mim, John Piper, levando-me para Jonathan Edwards, tem sido de inestimável ajuda neste ponto. Edwards observou que a beleza de Cristo — as excelências de Cristo que satisfazem o desejo humano de máxima excelência e máxima beleza e nelas máxima satisfação — é vista com mais clareza quando nós observamos as diversas excelências ou a surpreendente justaposição (conjunção) de aparentes opostos em Cristo.
Assim, tomei nota, na forma de resumo, dalgumas das ideias principais de um sermão de J. Edwards — As Excelências de Cristo —, para oferecer-lhes uma pequena amostra daquilo que devemos buscar ver para desfrutarmos com alegria em Jesus:
A pessoa de Cristo reúne infinita alteza e infinita condescendência [submissão]; infinita justiça e infinita graça; infinita glória e infinita humildade; infinita majestade e transcendente mansidão; profunda reverência a Deus e igualdade com Deus; dignidade infinita de boa e enorme paciência ao sofrer sob o mal; excedente espírito de obediência com supremo domínio sobre o céu e a terra; soberania absoluta e resignação perfeita; auto-suficiência e total confiança e dependência de Deus.
Edwards está certo. Quando Paulo diz em 2Coríntios 4.4 que o diabo nos impede de ver “a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus” (ARA), o apóstolo quer dizer que o diabo está no negócio de cegar e matar o desfrute da beleza de Cristo no evangelho, sendo que o evangelho é o lugar onde a cruz reúne essas diversas excelências com mais clareza.
TODAS AS COISAS CONSISTEM EM CRISTO
Não se engane, Deus criou o mundo e todas as coisas, ele inspirou as Escrituras e está guiando a história para a consumação com um objetivo final, a saber, compartilhar com as criaturas o prazer final que ele tem em admirar seu Filho, que é o brilho de sua própria glória. Nas palavras do autor de Hebreus (1.3, ARA):
Ele [Cristo], que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser [de Deus], sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder,
Ayn Rand estava certa nesse sentido. Nada (ninguém) no mundo é suficiente para satisfazer a capacidade de nossa alma de admirar a grandeza. Somente a glória de Deus em Jesus será suficiente para uma eternidade de crescente conhecimento e alegria. Sem Cristo, no final, haverá apenas frustração ou desilusão.
Paulo escreveu à igreja sofredora em Tessalônica: “o Senhor Jesus com os anjos do seu poder [será revelado do céu com poder], […] quando vier para ser glorificado nos seus santos e ser admirado em todos os que creram” (2Ts 1.7, 10). Em outras palavras, na consumação da história, quando Jesus descer para completar todos os seus propósitos, seu objetivo final será realizado: Ele será “admirado” por todos os que creram, e o restante será banido da presença de Deus e da glória do seu poder (v. 9). A Vulgata Latina traduz o grego por trás de “admirado” como admirabilis — i.e., “admirado”. “Quando ele [Cristo] vier naquele dia para ser admirado por todos os que creram nele”. O grego traz a palavra thaumázō, i.e., maravilhar-se, ser surpreendido ou ficar chocado com admiração e espanto. A consumação da história é a plena admiração de Jesus Cristo.
A GLÓRIA DE CRISTO
A glória de Cristo, a admiração da glória de Cristo não será apenas a consumação da história. Conforme já vimos, a glória de Cristo, a admiração ou o desfrute da glória de Cristo é a alma do Natal e o ânimo para quem está sofrendo.
Agora, o que veremos é que a glória de Cristo, a admiração ou o desfrute da glória de Cristo é o assoalho para quem trilha os caminhos incertos do amanhã, é o antídoto para se combater o pecado e as tentações e é a alegria do coração de todo aquele que crê em Jesus Cristo.
O assoalho para os peregrinos
A glória de Cristo é a alma do Natal, é o ânimo dos sofredores e também o assoalho seguro para os peregrinos que não sabem o que lhes reserva o amanhã. Como enfrentar o amanhã? Em Filipenses 4.4-7, Paulo diz:
4Alegrem-se sempre no Senhor. Repito: alegrem-se! 5Que todos vejam que vocês são amáveis em tudo que fazem. Lembrem-se de que o Senhor virá em breve. 6Não vivam preocupados com coisa alguma; em vez disso, orem a Deus pedindo aquilo de que precisam e agradecendo-lhe por tudo que ele já fez. 7Então vocês experimentarão a paz de Deus, que excede todo entendimento e que guardará seu coração e sua mente em Cristo Jesus.
E em Filipenses 4.19, alguns versos depois, ele dá a libertadora promessa da graça futura:
E esse mesmo Deus que cuida de mim lhes suprirá todas as necessidades por meio das riquezas gloriosas que nos foram dadas em Cristo Jesus.
William Hendriksen, comentando esse verso (Fl 4.19), fala das “riquezas gloriosas” de Cristo nos seguintes termos:
Paulo não está pensando principalmente no que Deus fará pelos crentes quando eles entrarem na glória do céu, mas no que ele fará por eles neste reino terrestre de necessidades, quando apresentarem essas necessidades a ele. Essas coisas ele suprirá não meramente com suas riquezas (como um milionário faria quando doasse uma quantia insignificante a uma boa causa, subtraindo a quantia irrisória de suas vastas riquesas), mas de acordo com suas riquezas, de modo que o dom seja realmente proporcional aos infinitos recursos de Deus!
Se vivermos pela fé nessa promessa da graça futura, será muito difícil que a ansiedade sobreviva. As “riquezas” de Deus “em glória” são inesgotáveis. Ele realmente intenciona que não nos preocupemos com o nosso futuro.
Devemos, pois, seguir esse padrão que Paulo estabeleceu para nós. Devemos combater a incredulidade da ansiedade com as promessas da gloriosa graça futura de Deus compradas para nós em Cristo. Assim, quando ficarmos ansiosos por algum novo desafio, combatamos a incredulidade com uma das promessas mais lindas da Bíblia: Isaías 41.10.
Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou o teu Deus; eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a minha destra fiel.
As “riquezas gloriosas que nos foram dadas em Cristo Jesus”, fé nessa graça sempre abundante e inesgotável, a gloriosa graça de Jesus Cristo, será sempre o assoalho para o peregrino cristão firmar os seus passoas. Ocupe a mente com Cristo. Filipenses 4:
8 Por fim, irmãos, quero lhes dizer só mais uma coisa. Concentrem-se em tudo que é verdadeiro, tudo que é nobre, tudo que é correto, tudo que é puro, tudo que é amável e tudo que é admirável. Pensem no que é excelente e digno de louvor. 9 Continuem a praticar tudo que aprenderam e receberam de mim, tudo que ouviram de mim e me viram fazer. Então o Deus da paz estará com vocês.
A glória de Cristo é o assoalho para os pés dos peregrinos.
O antídoto contra o pecado e as tentações
Além de ser a alma do Natal, o ânimo para os sofredores e o assoalho para os peregrinos, a glória de Cristo é também o antídoto contra o pecado e as tentações. Olhe comigo para um dos textos mais importantes da Bíblia no que diz respeito à santificação. 2Coríntos 3.18:
Portanto, todos nós, dos quais o véu foi removido, podemos ver e refletir a glória do Senhor, e o Senhor, que é o Espírito, nos transforma gradativamente à sua imagem gloriosa, deixando-nos cada vez mais parecidos com ele.
Somos transformados ao contemplar a glória do Senhor e admirá-la, saboreando-a. Essa é a razão que me move a pregar todas as mensagens que se seguirão a esta: ajudar os crentes a “ver a glória do Senhor” e, assim, saciados, dizer não para o pecado e ser transformados “à sua imagem gloriosa”, tornando-se “cada vez mais parecidos com ele”.
O prazer na glória superior de Cristo — superior às glórias do pecado — é o antídoto contra o pecado e as tentações. Funciona assim: ficamos face a face com o Cristo da Bíblia e oramos para que, pelo poder do Espírito Santo, a luz do evangelho nos faça ver a beleza da glória de Cristo, desfrutando-a em amor. 2Coríntios 4.3-6:
3Se as boas-novas que anunciamos estão encobertas atrás de um véu, é apenas para aqueles que estão perecendo. 4O deus deste mundo cegou a mente dos que não creem, para que não consigam ver a luz das boas-novas, não entendendo esta mensagem a respeito da glória de Cristo, que é a imagem de Deus.
5Não andamos por aí falando de nós mesmos, mas proclamamos que Jesus Cristo é Senhor e que nós mesmos somos servos de vocês por causa de Jesus. 6Pois Deus, que disse: “Haja luz na escuridão”, é quem brilhou em nosso coração, para que conhecêssemos a glória de Deus na face de Jesus Cristo.
Somos salvos e somos santificados (justificados e transformados) pela contemplação da glória de Deus na face de Cristo. Agora, alto lá! Você não pode errar neste ponto. Não cometa o equívoco de achar que Deus soprará nos seus ouvidos, dizendo que a Bíblia é a verdade e que Cristo é glorioso. Então você dirá: Ah, sim, agora eu creio! Não funciona assim dessa forma.
De fato, Deus mesmo, pelo Espírito, arranca as escamas ou o véu dos olhos do seu coração, capacitando-o a ver o que de fato está lá na descrição de Jesus Cristo na Bíblia. Você vê Cristo (com as lentes da Bíblia) por quem ele de fato é: glorioso. Encanta-se com ele. Crê. Deleita-se. É salvo. Passa a ser santificado na contemplação dessa glória (conforme expressa na Bíblia), na medida em que você vai se tornando parecido com ele.
A alegria do coração do crente
A glória de Cristo é a alegria do coração do crente. Deve ser. Mais do que comida. Mais do que bebida. Mais do que tudo de bom nesta vida. A glória de Cristo é, deve ser, a alegria suprema do coração do crente. Por exemplo: Efésios 1.4-6 nos leva da eternidade passada para a eternidade futura — da causa de todas as coisas para o objetivo de todas as coisas. Estamos especialmente interessados no objetivo de todas as coisas.
Por que Deus criou o universo, permitiu a queda, planejou a redenção, enviou seu Filho, fundou a igreja, guiou a história? Aqui está a resposta do apóstolo Paulo (Ef 1.4-6):
4Mesmo antes de criar o mundo, Deus nos amou e nos escolheu em Cristo para sermos santos e sem culpa diante dele. 5Ele nos predestinou para si, para nos adotar como filhos por meio de Jesus Cristo, conforme o bom propósito de sua vontade. 6Deus assim o fez para o louvor de sua graça gloriosa, que ele derramou sobre nós em seu Filho amado.
Esta é a afirmação mais definitiva da carta aos Efésios. O motivo da eleição. A razão da santidade e da retidão. O motivo da predestinação e da adoção em Cristo. O fim da salvação. A razão de fazer com que tudo isso (a história da redenção) passe “por meio de Jesus Cristo” (v. 5) é “para o louvor de sua graça gloriosa”.
Deus fez todas as coisas tendo em vista um grande objetivo — a saber, que a sua gloriosa graça fosse louvada por uma multidão incontável de seres humanos redimidos. Você, eu e todos com quem nós convivemos fomos criados por Deus para louvá-lo (em alegria, deleite e prazer louvá-lo). Mais especificamente, fomos criados para louvar a glória de Cristo. E mais específico ainda, fomos criados para louvar a glória de sua graça.
Paulo diz isso mais duas vezes neste primeiro capítulo de Efésios. Versículo 12: “O propósito de Deus era que nós, os primeiros a confiar em Cristo, louvássemos a Deus e lhe déssemos glória.” É por isso que existimos: Existimos para louvar a glória de Deus. Depois, no versículo 14: “O Espírito é a garantia de nossa herança, até o dia em que Deus nos resgatará como sua propriedade, para o louvor de sua glória.” Nossa herança final é esta: veremos a glória de Deus e o louvaremos por ela para todo sempre e sempre. Veremos sua glória, saborearemos sua glória e refletiremos sua glória.
Foi por isso que fomos criados. Essa realidade atinge o âmago do que significa para nós sermos plenamente humanos e Deus ser plenamente honrado. E o incrível é que os dois acontecem juntos. Eles acontecem no mesmo ato. Deus é profundamente honrado e glorificado no próprio ato de sermos profundamente realizados e satisfeitos nele. Deus existe para ser glorioso. Existimos para ver a glória — e desfrutar essa glória, e expressá-la em louvor — na face de Jesus Cristo, o Filho eterno de Deus.
Vendo e Desfrutando a Glória de Cristo
Pois bem, nas próximas mensagens, Deus permitindo, apresentaremos algumas vinhetas da glória de Cristo a fim de que vejamos e desfrutemos dessa glória; posto ser a glória de Cristo a alma do Natal, o ânimo para o sofredor, o assoalho para o peregrino, o antídoto contra o pecado e a alegria do coração do crente.
Veremos glória do tipo: o objetivo supremo de Cristo, a divindade de Cristo, a excelência de Cristo, a alegria de Cristo, o poder de Cristo, etc. Aprenderemos sobre como a contemplação dessa glória nos anima, alegra, alicerça e faz avançar.
Planeje estar conosco. Venha contemplar e desfrutar conosco a glória de Cristo.
Maneiras de ver e desfrutar mais de Jesus
Permitam-me concluir apresentando cinco breves maneiras de ver e desfrutar mais de Jesus Cristo.
S.D.G. L.B.Peixoto
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