08.12.2019
A GLÓRIA DE CRISTO: ÂNIMO PARA OS SOFREDORES
Filipenses 3.7-11
7Pensava que essas coisas eram valiosas, mas agora as considero insignificantes por causa de Cristo. 8Sim, todas as outras coisas são insignificantes comparadas ao ganho inestimável de conhecer a Cristo Jesus, meu Senhor. Por causa dele, deixei de lado todas as coisas e as considero menos que lixo, a fim de poder ganhar a Cristo […] 10Quero conhecer a Cristo e experimentar o grande poder que o ressuscitou. Quero sofrer com ele, participando de sua morte, 11para, de alguma forma, alcançar a ressurreição dos mortos!
O TEMA DA ESTAÇÃO
A glória de Cristo, como estamos demonstrando nesta série de mensagens, é a resposta para as questões da vida, por exemplo: a glória de Cristo é a alma do Natal, a glória de Cristo é o ânimo para quem está sofrendo, a glória de Cristo é o assoalho para quem trilha os caminhos incertos do amanhã, a glória de Cristo é o antídoto para se combater o pecado e as tentações, a glória de Cristo é a alegria do coração de todo aquele que crê em Jesus Cristo.
Por estas e tantas outras razões, o tema da estação este ano está sendo a glória de Cristo. Minha oração é para que você veja e desfrute a glória de Cristo; o meu desejo é que a glória de Cristo seja o deleite do seu coração — para a glória de Deus e a sua alegria na saúde ou na doença, na riqueza ou na pobreza, nas montanhas ou nos vales.
A alma do Natal
Na última mensagem, a primeira desta série para a estação — Veja e Desfrute —, nós argumentamos que o Natal existe para revelar a glória de Cristo. E o que Jesus mais quer para o Natal (e para todos os dias da nossa vida e por toda a eternidade) é que os filhos do Pai alcancem o que mais poderá satisfazê-los: contemplar a glória de Cristo e então desfrutá-la com o mesmo amor do Pai pelo Filho. Mas, tem mais…
O ânimo para os sofredores
A glória de Cristo não é apenas o tema do Natal, ela não é apenas a alma ou a essência do Natal. A glória de Cristo — vista e desfrutada no coração de quem está sofrendo — é a fonte de ânimo para se atravessar os vales de lágrimas desta vida — da maneira que glorifica a Deus. Davi entendeu isso, quando estava no meio do sofrimento do deserto de Judá. Ele escreveu o Salmo 63, e disse assim (vs. 1-3, NAA):
1Ó Deus, tu és o meu Deus; eu te busco ansiosamente. A minha alma tem sede de ti; meu corpo te almeja, como terra árida, exausta e sem água. 2Assim, quero ver-te no santuário, para contemplar a tua força e a tua glória. 3Porque a tua graça é melhor do que a vida; os meus lábios te louvam.
Davi entendeu que aquilo que nós mais precisamos na vida não é de cura ou de livramento, mas de uma experiência completa e interminável com a gloriosa graça de Cristo. A gloriosa graça de Deus é melhor do que a própria vida. Por quê?
A graça de Deus em Jesus Cristo é o que nos salva, santifica e sustenta na vida. Sem a graça de Deus não haverá vida, vida plena, vida de verdade para ser vivida, mesmo que se tenha um corpo sarado ou aparente ausência de dificuldades. Sem a graça que nos abre os olhos para enxergar a beleza da glória de Cristo nós continuaríamos amando nossos ídolos e nossos pecados. Salomão compreendeu esta verdade. Eclesiastes 2.24-26:
24Por isso, concluí que a melhor coisa a fazer é desfrutar a comida e a bebida e encontrar satisfação no trabalho. Percebi, então, que esses prazeres vêm da mão de Deus. 25Pois quem pode comer ou desfrutar algo sem ele? 26Deus concede sabedoria, conhecimento e alegria àqueles que lhe agradam. […]
O foco de quem está sofrendo (ou mesmo vivendo sem sofrimento) deverá ser sempre a glória de Cristo. Conhecer mais dele e experimentar o grande poder que ressuscitou Cristo, mesmo que sofrendo e participando da morte de Cristo (Fl 3.10-11).
Não estamos dizendo, com isto, que não podemos, por exemplo, orar por cura ou livramento. Podemos sim orar por essas coisas. O foco, no entanto, nunca será a cura ou o livramento, mas a glória de Cristo.
No caso de cura ou de livramento, a glória será o poder curador de Deus manifestado e experimentado na vida de quem recebeu a graça curadora.
No caso de não cura ou de não livramento, a glória será o poder sustentador de Deus manifestado e experimentado na vida de quem recebeu a graça sustentadora na fraqueza.
O foco de quem está sofrendo, portanto, não será o milagre em si, mas a magnitude da gloriosa graça de Cristo em toda e qualquer circunstância. O milagre é ver a glória de Cristo. A luta não será contra o câncer, por exemplo, mas contra a cegueira do coração que não consegue ver e desfrutar a gloriosa graça de Cristo como “melhor do que a vida”.
Conhecer mais de Cristo, mais da glória de Cristo será o ânimo para quem atravessa o vale de lágrimas do sofrimento. Um de nossos belos hinos assim entoa o anseio pelo conhecimento da glória de Cristo (169 CC, Mais de Cristo):
Mais de Cristo eu quero ver,
Mais do seu amor obter,
Mais da sua compaixão,
Mais da sua mansidão.
Mais, mais de Cristo!
Mais, mais de Cristo!
Mais do seu puro e santo amor,
Mais de Ti mesmo, ó Salvador!
Mais de Cristo compreender,
Quero a Cristo obedecer,
Sempre perto dele andar,
Seu amor manifestar.
Nossos compositores do passado entendiam que o grande propósito do sofrimento é o de nos revelar algum aspecto da glória de Cristo que, de outra forma (na alegria, na saúde ou na riqueza), não nos seria possível conhecer. Por exemplo (283 CC, Mais Perto):
Mais perto quero estar, meu Deus, de Ti,
Inda que seja a dor que me una a Ti!
Sempre hei de suplicar:
Mais perto quero estar, Mais perto que estar,
Meu Deus, de Ti!
Andando triste aqui, na solidão,
Paz e descanso a mim teus braços dão.
Sempre hei de suplicar:
Mais perto quero estar, Mais perto que estar,
Meu Deus, de Ti!
Minha alma cantará a Ti, Senhor,
Cheia de gratidão por teu amor.
Sempre hei de suplicar:
Mais perto quero estar, Mais perto que estar,
Meu Deus, de Ti!
E quando a morte, enfim, me vier chamar,
Com serafins nos céus irei morar.
Então me alegrarei
Perto de Ti, meu Rei, Perto de Ti, meu Rei,
Meu Deus, de Ti!
O apóstolo Paulo, narrando sua experiência pessoal de sofrimento, colocou de uma forma gloriosa o conhecimento da glória de Cristo acima de todas as outras coisas na vida. Ouça, mais uma vez, o texto que lemos no início. Filipenses 3.7-11:
7Pensava que essas coisas eram valiosas, mas agora as considero insignificantes por causa de Cristo. 8Sim, todas as outras coisas são insignificantes comparadas ao ganho inestimável de conhecer a Cristo Jesus, meu Senhor. Por causa dele, deixei de lado todas as coisas e as considero menos que lixo, a fim de poder ganhar a Cristo […] 10Quero conhecer a Cristo e experimentar o grande poder que o ressuscitou. Quero sofrer com ele, participando de sua morte, 11para, de alguma forma, alcançar a ressurreição dos mortos!
Mas, como orar quando estivermos sofrendo? Como pensar em oração no meio da enfermidade ou da necessidade de livramento de maneira a magnificar a glória de Cristo no nosso coração? Daniel, face a face com a fornalha ardente, nos ensina. Daniel 3.17-18:
17Se formos lançados na fornalha ardente, o Deus a quem servimos pode nos salvar. Sim, ele nos livrará de suas mãos, ó rei. 18Mas, ainda que ele não nos livre, queremos deixar claro, ó rei, que jamais serviremos seus deuses ou adoraremos a estátua de ouro que o rei levantou”.
Em outras palavras: nosso Deus pode nos curar ou livrar, cremos que o Senhor nos curará ou livrará e, mesmo que não o faça, ainda assim louvaremos o nome do Senhor. Essa deverá ser a nossa posição padrão, independentemente do que estamos enfrentando, mas principalmente quando estamos atravessando o vale do sofrimento. A glória de Cristo, o conhecimento da beleza de Cristo — seu caráter, sua pessoa, suas palavras e suas obras gloriosas (curando ou sustentando), é o que nos animará e nos manterá em pé.
Não desperdice seu sofrimento
John Piper, à véspera de uma cirurgia de câncer de próstata, escreveu um artigo intitulado: Não Desperdice Seu Câncer. Permitam-me concluir esta mensagem adaptando ao sofrimento de forma geral as dez maneiras de alguém desperdiçar o câncer.
1 Você desperdiçará seu sofrimento caso não creia que isto foi planejado por Deus
Não diga que Deus apenas usa nosso sofrimento, mas que não o planeja. O que Deus permite, ele o faz por uma razão. E esta razão é sua vontade — boa, agradável e perfeita. Pare e pense: Se Deus prevê acontecimentos que poderão nos fazer sofrer, ele pode detê-los ou não. Se não, ele tem um propósito. Por ser infinitamente sábio, é correto chamar este propósito de plano. Satanás é real e causa muitos prazeres e dores. Mas ele não é a causa última do sofrimento. Assim, quando o diabo atacou Jó com úlceras (Jó 2.7), Jó atribuiu-as a Deus (2:10), e o escritor inspirado concordou: “e o consolaram de todo o mal que o Senhor lhe havia enviado” (Jó 42.11). Se você não crê que seu sofrimento lhe foi planejado por Deus, você o desperdiçará.
2 Você desperdiçará seu sofrimento caso creia que ele é uma maldição, e não uma bênção
“Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1). “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós” (Gl 3.13). “Contra Jacó, pois, não há encantamento, nem adivinhação contra Israel” (Nm 23.23). “Porquanto o Senhor Deus é sol e escudo; o Senhor dará graça e glória; não negará bem algum aos que andam na retidão.” (Sl 84.11)
3 Você desperdiçará seu sofrimento caso procure conforto em como se safar dele em vez de procurá-lo em Deus
O plano de Deus em relação ao seu sofrimento não é treiná-lo no cálculo de chances racionalista ou humana. O mundo consegue conforto em estatísticas. Os cristãos não. Alguns contam seus carros (porcentagens de sobrevivência) e outros contam seus cavalos (efeitos colaterais do tratamento), mas nós confiamos no nome do Senhor, nosso Deus (Sl 20.7). O plano de Deus é claro em 2Coríntios 1.9: “portanto já em nós mesmos tínhamos a sentença de morte, para que não confiássemos em nós, mas em Deus, que ressuscita os mortos”. Logo, o objetivo de Deus relativo ao seu sofrimento (entre várias outras coisas boas) é derrotar a autoconfiança em nosso coração para podermos descansar completamente nele com fé em sua gloriosa graça futura.
4 Você desperdiçará seu sofrimento caso se recuse a pensar na morte
Todos nós morreremos caso Jesus não retorne em nossos dias. Não pensar sobre como seria deixar esta vida e encontrar-se com Deus é tolice. Eclesiastes 7.2 diz: “Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete ; porque naquela se vê o fim de todos os homens, e os vivos o aplicam ao seu coração”.
Como você pode aplicar a verdade da morte a seu coração se não pensa nela? Salmos 90.12 diz: “Ensina-nos a contar os nossos dias de tal maneira que alcancemos corações sábios”. Contar seus dias significa pensar sobre quão poucos eles são e que terminarão. Como você conseguirá um coração sábio se você se recusa a pensar nisto? Que desperdício, caso não pensemos sobre a morte!
5 Você desperdiçará seu sofrimento caso pense que “vencê-lo” significa sobreviver e não aproximar-se de Cristo
Os planos de Deus e os planos de Satanás para seu sofrimento não são os mesmos. Satanás deseja destruir seu amor por Cristo. Deus planeja aprofundá-lo. O sofrimento não vencerá se você morrer, apenas se falhar em aproximar-se de Cristo. Assim, o plano de Deus é privá-lo, por exemplo, do alimento do mundo e satisfazê-lo com a suficiência de Cristo. Isto tem o objetivo de ajudá-lo a dizer e a sentir: “tenho também como perda todas as coisas pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor”. E saber, portanto, que “o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Filipenses 3.8; 1.21).
6 Você desperdiçará seu sofrimento caso gaste muito tempo lendo sobre a causa do sofrimento e não o suficiente a respeito de Deus
Não é errado ler sobre a causa de seu sofrimento. Ignorância não é virtude. Mas, o desejo de saber mais e mais, e a falta de zelo pelo conhecimento contínuo de Deus é sintomático no incrédulo. O objetivo do sofrimento é acordar-nos para a realidade de Deus, colocar sensações e força no mandamento “Conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor” (Os 6.3), acordar-nos para a verdade de Daniel 11.32 : “O povo que conhece ao seu Deus se tornará forte, e fará proezas”, tornar-nos carvalhos indestrutíveis e firmes: “antes tem seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e noite. Pois será como a árvore plantada junto às correntes de águas, a qual dá o seu fruto na estação própria, e cuja folha não cai; e tudo quanto fizer prosperará.” (Sl 1.2-3). Que desperdício será lermos dia e noite sobre a causa do sofrimento e nada a respeito de Deus!
7 Você desperdiçará seu sofrimento caso se isole em vez de aprofundar seus relacionamentos manifestando afeição
Quando Epafrodito levou os presentes enviados pela igreja de Filipos para Paulo, ele ficou doente e quase morreu. Paulo disse aos filipenses: “porquanto ele tinha saudades de vós todos, e estava angustiado por terdes ouvido que estivera doente” (Fl 2.26). Que reação maravilhosa! Não diz que estava angustiado porque estava doente, mas que Epafrodito estava angustiado porque os filipenses ouviram que ele estava doente. Este é o tipo de coração que Deus pretende criar com o sofrimento: coração profundamente afetivo e preocupado com as pessoas. Não desperdice seu sofrimento voltando-se para si mesmo .
8 Você desperdiçará seu sofrimento caso se entristeça como quem não tem esperança
Paulo usa esta expressão para designar pessoas cujos entes queridos haviam morrido: “Não queremos, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais como os outros que não têm esperança” (1Ts 4.13). Existe tristeza na morte. Mesmo para o crente que morre, há uma perda temporária — a perda do corpo, de entes queridos e do ministério terreno. Mas a tristeza é diferente — é permeada pela esperança: “desejamos antes estar ausentes deste corpo, para estarmos presentes com o Senhor” (2Coríntios 5.8). Não desperdice seu sofrimento ficando triste como quem não tem esta esperança.
9 Você desperdiçará seu sofrimento caso trate o pecado tão normalmente quanto antes
Seus pecados frequentes permanecem tão atrativos quanto antes de você estar sofrendo? Se a resposta for afirmativa, então você está desperdiçando seu sofrimento. O sofrimento foi planejado para destruir o apetite pelo pecado. Orgulho, ganância, luxúria, ódio, falta de perdão, impaciência, preguiça, procrastinação — estes e outros são adversários que o sofrimento deve atacar.
Não pense apenas em lutar contra o sofrimento. Pense também em usá-lo. Todos os pecados são piores que o sofrimento. Não desperdice o poder do sofrimento para esmagar estes adversários. Deixe a presença da eternidade tornar os pecados temporais tão fúteis como eles realmente são. “Pois, que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, e perder-se, ou prejudicar-se a si mesmo ?” (Lc 9.25).
10 Você desperdiçará seu sofrimento caso falhe em utilizá-lo como meio de testemunhar a verdade e a glória de Cristo
Os cristãos nunca se encontram em determinado lugar ou sob determinada circunstância por acidente. Existem razões para as quais somos levados onde estamos. Considere o que Jesus diz sobre circunstâncias inesperadas e dolorosas: “Mas antes de todas essas coisas vos hão de prender e perseguir, entregando-vos às sinagogas e aos cárceres, e conduzindo-vos à presença de reis e governadores, por causa do meu nome. Isso vos acontecerá para que deis testemunho” (Lc 21.12-13). Assim também é com o sofrimento. Essa será uma oportunidade para testemunhar. Será uma oportunidade de ouro para mostrar que Jesus vale mais que a vida. Não a desperdice.
Lembre-se de que você não foi deixado sozinho; terá a ajuda necessária: “Meu Deus suprirá todas as vossas necessidades segundo as suas riquezas na glória em Cristo Jesus” (Fl 4.19). A glória de Cristo é ânimo para o sofredor.
S.D.G. L.B.Peixoto
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