24.02.2017
A HISTÓRIA DE DEUS SOBRE O TRABALHO – REDENÇÃO E RESTAURAÇÃO*
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Para recuperar o trabalho – voltando ao propósito original (Criação), resgatando-o dos efeitos do pecado (Queda) – nós precisamos aprender sobre os dois próximos atos de Deus na sua história sobre o trabalho: i.e.: Redenção e Restauração.
Ato 3: Redenção
Ato 3 descortina a Redenção. Deus se tornou homem. Jesus nasceu da virgem Maria. Seu pai terrestre e adotivo, José, era um carpinteiro e, presumivelmente, Jesus aprendeu e assumiu essa ocupação também – até que veio o dia para ele realizar o trabalho para o qual ele veio ao mundo. Quando seu primo, João Batista, o viu e declarou: “Vejam! É o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” (João 1.29), ele estava, verdadeiramente, anunciando o trabalho de Cristo neste mundo – ser o Redentor; isto é, viver uma vida sem pecados, cumprindo a lei em seu próprio corpo; pagar a penalidade pelo pecado, através de sua morte na cruz; e ressuscitar dos mortos, para que todos os que se arrependerem e nele crerem possam ser perdoados de seus pecados e resgatados da maldição. Foi isso o que Cristo fez e testificou em vida: “[Pai,] Eu te glorifiquei aqui na terra, completando a obra [trabalho] que me deste para realizar.” (João 17.4); e também momentos antes de morrer, “Está consumado” (João 19.30).
Hoje em dia fala-se bastante sobre redimir a cultura, o trabalho e o local de trabalho. Toda essa fala é perfeitamente compreensível, pois a redenção é o que Cristo veio fazer, e a redenção realmente muda tudo. Mas jamais entenderemos a história do trabalho corretamente a menos que compreendamos que enquanto as pessoas são resgatadas do pecado, o trabalho não é. Isso vale tanto para cristãos como para não-cristãos – o trabalho permanece penoso neste mundo decaído. Continua insignificante e permanece compulsório.
Então, que diferença faz nossa redenção para a história do trabalho? Não muda o jogo, mas nos muda, os atletas do jogo. Essa mudança é crucial.
Primeiro, as pessoas redimidas se arrependem das atitudes idólatras em relação ao trabalho, porque sua identidade não está mais no trabalho, mas em Cristo. Veja Paulo expor essa ideia ao escrever aos Colossenses (3.1-4):
1 Uma vez que vocês ressuscitaram para uma nova vida com Cristo, mantenham os olhos fixos nas realidades do alto, onde Cristo está sentado no lugar de honra, à direita de Deus. 2 Pensem nas coisas do alto, e não nas coisas da terra. 3 Pois vocês morreram para esta vida, e agora sua verdadeira vida está escondida com Cristo em Deus. 4 E quando Cristo, que é sua vida, for revelado ao mundo inteiro, vocês participarão de sua glória.
O evangelho muda o nosso coração, porque nossa identidade e segurança estão agora em Cristo. Mais adiante, em Colossenses 3.22-24, Paulo aplica isso diretamente ao mundo do trabalho, dizendo:
22 Escravos, em tudo obedeçam a seus senhores terrenos. Procurem agradá-los sempre, e não apenas quando eles estiverem observando. Sirvam-nos com sinceridade, por causa de seu temor ao Senhor (i.e.: combata a preguiça no trabalho, bem como a idolatria ou a construção da identidade no lazer). 23 Em tudo que fizerem, trabalhem de bom ânimo, como se fosse para o Senhor, e não para os homens. 24 Lembrem-se de que o Senhor lhes dará uma herança como recompensa e de que o Senhor a quem servem é Cristo. (i.e.: combata a idolatria do trabalho, bem como construção da identidade no sucesso)
O evangelho não muda as condições do trabalho. Ele muda a condição do nosso coração, o que leva a um segundo desenvolvimento.
Segundo, porque se arrependeram, as pessoas redimidas voltam a adorar a Deus através de seu trabalho. Em Colossenses 3.17, Paulo diz assim: “E tudo que fizerem ou disserem, façam em nome do Senhor Jesus, dando graças a Deus, o Pai, por meio dele.”
Aqui, na verdade, o próprio apóstolo volta ao Gênesis para descrever a mudança no trabalhador redimido: “somos obra-prima de Deus, criados em Cristo Jesus a fim de realizar as boas obras que ele de antemão planejou para nós” (Efésios 2.10).
* Lição no 3: As pessoas são resgatadas, não o trabalho. Mas, porque somos redimidos, o trabalho não é mais sobre nosso nome, sobre nossa glória. É sobre o nome e a glória do Criador. Porque somos redimidos e recriados de novo como produto do trabalho de Deus, nosso trabalho, apesar de penoso, insignificante e compulsório, pode, mais uma vez, ser livremente oferecido como adoração – porque essa obra em si é produto do trabalho de Deus em Cristo Jesus. Ele trabalhou com antecedência para nós! Nosso trabalho é importante principalmente porque demonstra o trabalho de Deus em nós – e isso significa que há mais um ato nesta história.
Ato 4: Restauração
Em Romanos 8.19-21, Paulo não fala da redenção do trabalho e da cultura, mas da libertação da Criação. Ele está falando sobre a Nova Criação, quando Jesus voltar. Observe:
19 Pois toda a criação aguarda com grande expectativa o dia em que os filhos de Deus serão revelados. 20 Toda a criação, não por vontade própria, foi submetida por Deus a uma existência fútil, 21 na esperança de que, com os filhos de Deus, a criação seja gloriosamente liberta da decadência que a escraviza.
Paulo tinha Gênesis 3 em mente quando escreveu essas palavras, submetido à frustração, à futilidade, à escravidão da decadência: esse é o nosso mundo. Mas chegará o dia em que as condições de trabalho mudarão novamente – não mais penoso, insignificante e compulsório: em vez disso, liberdade gloriosa. Sim, irmãos e irmãs, o fim da história do trabalho é que Deus vai fazer todas as coisas novas. Um mundo sem maldição, onde os espinhos já não infestam o chão e o penoso trabalho não existe mais. Liberdade, não obrigação; glória, não morte.
Quando isso acontecer, o trabalho não desaparecerá. Por quê? Porque ele precedeu a Queda, ele vai durar mais do que esse mundo também. Ele será restaurado ao seu próprio contexto, e esse contexto é o descanso do Dia do Senhor. Em Hebreus 4 nós lemos que, para o povo de Deus, há o descanso sabático de Deus esperando por nós – e que o nosso descanso foi prefigurado pelo dia de descanso sabático e pela Terra Prometida – uma terra de Descanso. Então, como é esse descanso? Note como Moisés o descreveu em Deuteronômio 6.10-12:
10 Em breve, o SENHOR, seu Deus, os conduzirá à terra que ele jurou dar a seus antepassados Abraão, Isaque e Jacó. É uma terra com cidades grandes e prósperas que vocês não construíram. 11 As casas estarão cheias de bens que vocês não produziram. Vocês tirarão água de cisternas que não cavaram, e comerão os frutos de vinhedos e oliveiras que não plantaram. Quando tiverem comido até se fartarem nessa terra, 12 cuidem para não se esquecerem do SENHOR, que os libertou da escravidão na terra do Egito.
Essa não é a imagem de uma vida sem trabalho. É a imagem de uma vida em liberdade, desfrutando de abundância. Trata-se de trabalho que é satisfatório e frutífero. É assim que o trabalho vai ser nos novos céus e na nova terra, dos quais Israel em Deuteronômio 6 era apenas uma imagem embaçada. Uma gloriosa liberdade, no perfeito descanso de Deus, para usar mais uma vez os nossos dons, talentos, criatividade e energia para cuidar do Jardim, para fazer crescer a Cidade e conhecer a satisfação do trabalho bem feito. Quando isso acontecer, não só o trabalho será restaurado ao seu próprio contexto, mas ele, uma vez mais, será para sempre engajado para o seu próprio fim: a glória de Deus. Esta é a visão de Isaías 65, que diz:
17 Vejam! Crio novos céus e nova terra, e ninguém mais pensará nas coisas passadas. 18 Alegrem-se e exultem para sempre em minha criação! Vejam! Criarei Jerusalém para ser um lugar de celebração; seu povo será fonte de alegria. 19 Eu me alegrarei por Jerusalém e terei prazer em meu povo. Nela não se ouvirá mais o som de pranto e clamor. 20 Nunca mais morrerão bebês de poucos dias, nunca mais morrerão adultos antes de terem uma vida plena. Ninguém mais será considerado velho aos cem anos; somente os amaldiçoados morrerão jovens. 21 Naqueles dias, habitarão nas casas que construíram e comerão dos frutos de suas próprias videiras. 22 Invasores não habitarão em suas casas, nem lhes tomarão suas videiras. Pois meu povo terá vida longa como as árvores; meus escolhidos terão tempo para desfrutar tudo que conseguiram com grande esforço. 23 Não trabalharão inutilmente, e seus filhos não serão condenados à desgraça. Pois são um povo abençoado pelo SENHOR, e seus filhos também serão abençoados. 24 Eu os atenderei antes mesmo de clamarem a mim; enquanto ainda estiverem falando de suas necessidades, responderei a suas orações! 25 O lobo e o cordeiro comerão juntos, o leão se alimentará de palha como o boi, mas as serpentes comerão pó. Em meu santo monte, ninguém será ferido nem destruído; eu, o SENHOR falei!
Essa visão é cumprida em Apocalipse 21, à medida que as nações trazem seu esplendor para a Nova Jerusalém, o Jardim que se tornou uma cidade, a cidade de Deus, onde ele mora com seu povo. Aqui está o fim da história do trabalho, um fim que é realmente um novo começo. Por toda a eternidade, nosso trabalho, nossa criatividade, nossa indústria, nossos labores produzirão esplendor. Mas esse esplendor não será gasto em nós mesmos, não será usado para magnificar nosso nome. O esplendor de nosso trabalho será para a glória de Deus.
Irmãos e irmãs, se não entendemos a história do trabalho, então nosso trabalho será em vão: assumiremos que ele é um fim em si mesmo; afirmaremos que é um mal a ser minimizado ou um deus a ser adorado. No entanto, quando compreendemos a sua história, entendemos que o seu fim é Deus. Isso mudará nosso trabalho agora e o energizará para sempre.
Pois bem, passaremos as próximas aulas deste curso colocando a história do trabalho na perspectiva correta. Venha conosco.
Reflexão e aplicação
* Material traduzido e adaptado pelo Pr. Leandro B. Peixoto do curso Christians in the workplace. Trata-se de parte do programa de Escola Bíblica Dominical da Capitol Hill Baptist Church em Washington D.C. (pastoreada por Mark Dever), denominado Core Seminars – Engaging the World. Fonte: http://www.capitolhillbaptist.org
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