01.08.2021
[Tiago 5.10-11] 10Irmãos, tenham os profetas que falaram em nome do Senhor como exemplo de paciência diante do sofrimento. 11Como vocês sabem, nós consideramos felizes aqueles que mostraram perseverança. Vocês ouviram falar sobre a perseverança de Jó e viram o fim que o Senhor lhe proporcionou. O Senhor é cheio de compaixão e misericórdia.
Os infortúnios da vida, os fatos infelizes que sucedem a alguém podem ser constrangedores. Alguma vez já se sentiu assim? Você olha ao seu redor, navega pelas redes sociais e todo mundo parece estar tão bem. Eles parecem ser à prova de problemas. Só sorrisos! Quanto a você, tudo parece estar errado, desmoronando! Enquanto os demais surfam na crista da onda da vida ao seu redor, você engatinha entre perdas, derrotas e dores. Os outros se alegram com o sucesso, mas você amarga o sofrimento. Eles se sentem poderosos, mas você se vê um perdedor. É constrangedor para você, sobretudo ao imaginar que todos te olham como um perdedor! — Honestamente? — É constrangedor se sentir, em qualquer sentido, como um perdedor. Sentir que os outros o veem como um perdedor ou sentem pena de você de algum modo é por demais embaraçoso.
Frequentemente, são as provações da vida que nos fazem sentir como perdedores. Parte da dificuldade, se formos honestos, é que nem sempre entendemos por que o sofrimento nos castiga tanto assim tão pessoalmente, e aos outros não. Não é que você deseje o sofrimento para alguém, mas que não entende porque essas coisas acontecem só com você. Como pastor, perdi as contas de quantas vezes já me sentei com pessoas lutando por causa de um diagnóstico ruim do médico, um momento difícil no trabalho ou alguma outra dificuldade pessoal intensa e ouvi a pergunta: “Por que eu, pastor?” Todos os outros que andam por aí parecem ser prósperos, saudáveis e realizados o suficiente, mas você não! Nesses casos, cada saudação alegre dirigida a você e cada pássaro cantando agradavelmente ao seu redor em dias ensolarados podem parecer especialmente concebidos para te atormentar, pois ressaltam sua dor. Mesmo quando finalmente você admite ou aceita os seus problemas, ainda assim se sente confuso, perplexo e talvez aterrorizado com a sua incapacidade de explicá-los.
Ainda na trilha desta jornada interior face aos problemas, sofremos tanto mais quando uma provação parece grande demais para suportar. Quando ela parece demais, além da conta. Nossos problemas são tão dolorosos e tão difíceis de aguentar e de entender que imaginamos e tememos a possibilidade (e talvez até mesmo secretamente flertamos essa possibilidade) de perder a fé no próprio Deus, porque certamente Deus poderia ter nos livrado das dores! Mas não livrou!
Povo de Deus, se esses tipos de dilemas não o descrevem neste momento de sua vida, é quase certo que o descreverão algum dia; e certamente descrevem alguém que você conhece e ama neste exato momento.
Precisamos, portanto, da sabedoria do livro de Jó.
Foi por esta causa que hoje nós embarcamos e, Deus permitindo, seguiremos até o final deste mês em uma jornada através da SAGA DE JÓ. Estamos em busca de um “exemplo de paciência [firmeza, constância] diante do sofrimento.” Queremos ouvir sobre: A SABEDORIA E A BONDADE DE DEUS NO SOFRIMENTO E NA BUSCA DOS SANTOS. Hoje cedo nós dissemos que precisamos do exemplo de Jó. Nesta noite nós faremos uma introdução ao livro de Jó, antes de mergulharmos em suas partes em mensagens que se seguirão, Deus permitindo. Minha oração, como disse hoje de manhã, é que esta série de mensagens auxilie você a tomar com fé o caminho que te levará a ver a glória de Deus na face de Cristo em meio ao seu sofrimento. E assim, deixe de se ver ou de se sentir um perdedor. Afinal, como testemunhou o apóstolo Paulo aos coríntios:
2Coríntios 12.9-10 9[…] agora fico feliz de me orgulhar de minhas fraquezas, para que o poder de Deus opere por meu intermédio. 10Por isso aceito com prazer fraquezas e insultos, privações, perseguições e aflições que sofro por Cristo. Pois, quando sou fraco, então é que sou forte.
O livro de Jó é o primeiro dos cinco livros do Antigo Testamento que chamamos de livros Poéticos ou de Sabedoria.
Abra sua Bíblia no índice e bem ali no meio do Antigo Testamento você verá Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cântico dos Cânticos. São os livros Poéticos ou de Sabedoria da Bíblia. E isto já diz muito a respeito de como nós devemos ler, interpretar e aplicar o livro de Jó à nossa vida.
A palavra hebraica para “sabedoria” tem o sentido de “habilidade”, e é aplicada em muitas esferas da vida; por exemplo: dizer que o soldado é sábio, é dizer que ele é habilidoso para a batalha (Is 10.13); descrever um artesão como habilidoso, é falar que ele é sábio na sua criação artística (Êx 28.3). Desse modo, quando aplicado à esfera ética ou moral da existência, sabedoria é a arte ou a habilidade de colocar em prática a cosmovisão bíblica. Então:
Outra coisa:
Os livros de sabedoria caem em duas categorias: didático e reflexivos.
O livro de Provérbios é didático porque trata de questões de moralidade e ética prática. Suas muitas máximas concisas, direto ao ponto, tratam da conduta adequada em virtualmente cada contexto de vida. Ele mostra como é a vida diária santificada.
Os outros livros são reflexivos porque tratam dos problemas e das grandes questões da vida e da fé. Jó e Eclesiastes tratam particularmente da tensão entre fé e experiência – os grandes “por quês” que tão frequentemente provam a nossa fé.
A maioria dos tópicos tratados nos livros de sabedoria cai em três amplos pontos focais. PRIMEIRO, atenção especial é dirigida ao individuo. A sabedoria não dá lugar para se escapar de sua mensagem; ela é personalizada. SEGUNDO, a atenção é dirigida a questões comuns ou diárias. A teologia é trazida para o nível da conduta no cotidiano. TERCEIRO, a atenção é dirigida à soberania e providência absolutas de Deus. Confiar em Deus e temê-lo quando tudo na vida parece ser contrário a isso é essencial. A sabedoria nos ensina a andar pela fé, não pela vista.
Outro fato sobre os livros de Sabedoria:
Eles não são tanto sobre a nação inteira de Israel, como o conteúdo dos livros Históricos ou Proféticos do Antigo Testamento, por exemplo. Os livros de Sabedoria são mais a respeito de pessoas com seus altos e baixos individuais em face de alguma situação. É por isso que os cristãos frequentemente consideram esses livros Poéticos ou de Sabedoria sua parte favorita do Antigo Testamento; esses livros parecem mais acessíveis. Eles não exigem que você saiba muito sobre a história de Israel e a obra de Deus com seu povo para compreendê-los. Eles são escritos para pessoas em suas experiências individuais, que é o que pretendemos estudar nesta série de mensagens em Jó.
Jó ensinará a habilidade de sofrer bem àqueles que se sentem perdedores. Jó tem a sabedoria de que precisamos. Sabedoria para pessoas que lutam contra a perda. Sabedoria para as pessoas que engatinham em meio a dor. Sabedoria para quem amarga o sofrimento. Sabedoria para quem se sente perdedor.
JÓ TALVEZ SEJA O LIVRO MAIS ANTIGO DA BÍBLIA. Está situado no período dos patriarcas (Abraão, Isaque, Jacó e José). Conta a história de um homem que perdeu tudo – riqueza, família, saúde – e que debate com a pergunta: “Por quê?”
A SAGA começa com um debate celestial entre Deus e Satanás, passa por três ciclos de debates na terra entre Jó e seus amigos (da onça!) e conclui com um dramático “diagnóstico divino” do sofrimento de Jó. No final, Jó reconhece a sabedoria e se submete à soberania de Deus em sua vida, e recebe de volta o dobro do que perdeu.
איוב [’Iyôb] é O TÍTULO HEBRAICO para este livro e o nome tem dois significados possíveis. Deriva-se da palavra hebraica para perseguição, significa “o perseguido” ou “o odiado”. Mas é mais provável que venha da palavra árabe que significa “voltar-se” ou “arrepender-se”. Nesse caso, Jó significaria “o arrependido”. Ambos os significados, no entanto, aplicam-se bem ao livro. Jó foi perseguido pelos amigos e Jó também se arrependeu no final.
O AUTOR DE JÓ é desconhecido e não há sugestões textuais quanto à sua identidade. Os comentaristas do texto bíblico, no entanto, foram generosos com sugestões: Jó, Eliú, Moisés, Salomão, Isaías, Ezequias, Jeremias, Baruque e Esdras foram todos já nomeados. Outros dizem que o pano de fundo cultural não-hebraico deste livro pode apontar para a autoria de alguém não-hebreu. As tradições rabínicas são inconsistentes, mas uma tradição talmúdica [Talmude: registros das discussões rabínicas à respeito do Antigo Testamento] sugere que Moisés escreveu o livro. A terra de Uz (1.1) é adjacente a Midiã, onde Moisés viveu por quarenta anos, e é concebível, portanto, que Moisés tenha obtido registro dos diálogos deixados por Jó ou Eliú (o outro possível autor; árabe, buzita de nascimento).
É importante distinguir a data dos eventos em Jó da data de sua escrita.
A DATAÇÃO PRECISA DOS EVENTOS é difícil porque não há referências a ocorrências históricas contemporâneas. No entanto, vários fatores indicam uma DATA NO PERÍODO PATRIARCAL PARA OS EVENTOS DE JÓ, talvez entre Gênesis 11 e 12 ou não muito depois da época de Abraão. Como sabemos? Há pelo menos SETE EVIDÊNCIAS:
Várias teorias foram apresentadas para A DATA DA ESCRITA DO LIVRO:
Independentemente da autoria e data da composição, as verdades contidas no livro de Jó são inspiradas pelo próprio Deus [Paulo cita Jó como Escritura Sagrada: 1Co 3.19], atemporais e encontram aplicação em todas as épocas e culturas.
A questão básica do livro é: Por que os justos sofrem se Deus é amoroso e todo-poderoso? Entretanto, o sofrimento em si não é o tema central da saga de Jó; antes, o foco está no que Jó aprende com seu sofrimento – a saber: a soberania de Deus sobre toda a criação e a sabedoria de Deus e sua bondosa providência na história.
O debate nos capítulos 3–37 diz respeito a se Deus permitiria que esse sofrimento acontecesse a uma pessoa inocente. As soluções simplificadas oferecidas pelos três amigos de Jó são simplesmente inadequadas (4–14; 15–21; 22–27). A afirmação de Eliú (32–37) de que Deus pode usar o sofrimento para purificar os justos é a que está mais perto do alvo. A conclusão de tudo é que Deus é soberano, sábio, bom e digno de adoração em tudo o que escolhe fazer. Jó deve aprender a confiar na bondade e no poder de Deus na adversidade, ampliando seu conceito de Deus.
O que aprendemos, em linhas gerais, é que até mesmo esse homem “íntegro e reto, temente a Deus e que se desviava do mal” (1.1, ARA) precisa se arrepender quando se torna orgulhoso. Ele tem que chegar ao fim de seus próprios recursos, humilhar-se e reconhecer a grandeza e a majestade do Senhor.
Jó ensina que Deus é Senhor “nos céus, na terra e debaixo da terra” (Fp 2.10). Ele é onisciente, onipotente, sábio e bom. Como tal, seus caminhos às vezes são incompreensíveis para homens e mulheres, jovens e velhos, mas sempre podemos confiar em sua boa, agradável e perfeita vontade.
IMPORTANTE: Sem a perspectiva divina nos capítulos 1–2 e 38–42, os capítulos 3–37 são um mistério. Jó não tem acesso aos capítulos 1–2, mas é responsável por confiar em Deus quando todas as aparências são contrárias. O sofrimento nem sempre está associado ao pecado. Muitas vezes Deus usa soberanamente a dor para santificar.
Diz a sabedoria que antes de você se deter aos detalhes é bom que se tenha uma visão do todo; antes de investigar as árvores é bom que se visualize a floresta toda. Assim sendo, antes de nos determos em alguns detalhes do livro, o que faremos em mensagens a seguir, será bom que tenhamos um panorama do livro de Jó. Vamos lá:
Jó 1–3. Os dois primeiros capítulos apresentam a história básica. Eles nos revelam quem é Jó e quais foram as suas provações. Então, no final do capítulo 2, três amigos de Jó vêm consolá-lo e ficam sentados com ele em silêncio por uma semana. Finalmente, no capítulo 3, alguém fala, e é Jó. Jó derrama sua queixa diante de Deus.
Jó 4–41. Em seguida, os capítulos 4 a 41 – exceto o 41 – são uma série de diálogos. Claramente, a maior parte do livro é ocupada com esses diálogos:
Os capítulos 4–31 têm 3 CICLOS DE DIÁLOGOS entre Jó, Elifaz, Bildade e Zofar.
PRIMEIRO CICLO: capítulos 4–14. SEGUNDO CICLO: capítulos 15–21. TERCEIRO CICLO: capítulos 22–31.
NOS CICLOS UM E DOIS (4–21), Elifaz fala e Jó responde; Bildade fala e Jó responde; por fim, Zofar fala e Jó responde. No fundo, cada um dos oradores repisa os mesmos pontos.
A mesma coisa acontece NO TERCEIRO CICLO (22–31), exceto que o último orador, Zofar, não fala mais, porque o debate acabou. Os conselheiros humanos de Jó terminaram. Bildade foi o último a falar. E os três metralharam tudo o que desejavam dizer. Então, Jó faz seu protesto final e quase exige que Deus apareça para que ele possa falar com Deus sobre seu sofrimento.
Em vez de Deus, nos capítulos 32-37, ouvimos de UM JOVEM CHAMADO ELIÚ. Eliú diz que está ouvindo há algum tempo, mas não disse nada porque é mais jovem e não quer ser desrespeitoso com os mais velhos. No entanto, nesses capítulos, Eliú fala o que pensa. Ele diz que as acusações de Jó devem ser respondidas, e então fala sobre a grandeza de Deus e de como a justiça de Deus não pode ser contestada.
Finalmente, nos capítulos 38–39, o próprio DEUS ENTRA NA DISCUSSÃO e critica aqueles que falaram “com palavras tão ignorantes” (38.2). Em uma das descrições mais notáveis na Bíblia a respeito da obra de Deus na criação, Deus pinta um quadro para Jó e os demais de seu poder único e soberano. Biólogos, zoólogos, geógrafos e agrônomos amarão os capítulos 38–39. Deus olha para o mundo natural e considera as muitas coisas que ele fez, dos mares às estrelas, do menor ao maior dos animais.
Então, no capítulo 40, DEUS PERGUNTA DIRETAMENTE A JÓ: “Ainda quer discutir com o Todo-poderoso? Você critica Deus, mas será que tem as respostas?” (40.2). A RESPOSTA DE JÓ É SIMPLES: “Eu não sou nada; como poderia encontrar as respostas? Cobrirei minha boca com a mão. Já falei demais; não tenho mais nada a dizer” (40.4-5). Deus triplica:
Jó 40.8-11 8“Porá em dúvida minha justiça e me condenará só para provar que tem razão? 9Você é tão forte quanto Deus? Sua voz pode trovejar como a dele? 10Então vista-se de glória e esplendor, de honra e majestade. 11Dê vazão à sua ira, deixe-a transbordar contra os orgulhosos.
No restante do capítulos 40 e no capítulo 41, Deus continua a instruir Jó e os outros sobre quem ele é: “quem será capaz de me enfrentar? Quem me deu alguma coisa, para que eu precise retribuir depois? Tudo debaixo do céu me pertence.” (41.10b-11).
Jó 42. No capítulo 42, o último capítulo da saga, Jó faz sua confissão final:
Jó 42.3-6 3Perguntaste: ‘Quem é esse que, com tanta ignorância, questiona minha sabedoria?’. Sou eu; falei de coisas de que eu não entendia, coisas maravilhosas demais que eu não conhecia. 4Disseste: ‘Ouça, e eu falarei! Eu lhe farei algumas perguntas, e você responderá’. 5Antes, eu só te conhecia de ouvir falar; agora, eu te vi com meus próprios olhos. 6Retiro tudo que disse e me sento arrependido no pó e nas cinzas”.
A história termina aqui no capítulo 42, com Deus dizendo a Elifaz, Bildade e Zofar que eles estavam errados. NOTE: Deus não faz referência a Eliú. Então ele abençoa Jó. Deus não diz ou esclarece tudo, mas o que fala é o bastante para o que crê.
Esse é o resumo do livro de Jó. Voltaremos a ele com outros detalhes noutras ocasiões, Deus permitindo.
Por ora, o que se pode aprender da saga de Jó?
Permitam-me dizer três coisas; fazer três aplicações:
Povo de Deus, muitas vezes sofremos (mesmo os piedosos sofrem). Às vezes entendemos o que está acontecendo, outras vezes não. E pela graça de Deus, podemos sempre confiar na sábia, boa e soberana providência do SENHOR.
O livro de Jó fala realisticamente de nosso sofrimento. Explora os limites do nosso entendimento. E ilustra de maneira convincente nossa necessidade de confiar na soberana e sempre sábia providência de Deus. Como diz Jó: “[Deus] diz a toda a humanidade: ‘O temor do Senhor é a verdadeira sabedoria; afastar-se do mal é o verdadeiro entendimento’” (28.28).
Esta é a sabedoria da Bíblia para os que se sentem perdedores: considere Deus em seus sofrimentos; olhe para Jesus Cristo, o Redentor; concentre-se nele, porque ele é confiável. Esta é a mensagem que extraímos da saga de Jó. Prove e veja.
S.D.G. L.B.Peixoto
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