03.12.2017
JESUS CONHECE VOCÊ
João 2.23-25
23Por causa dos sinais que Jesus realizou em Jerusalém durante a festa da Páscoa, muitos creram nele. 24Jesus, porém, não confiava neles, pois conhecia a todos. 25Ninguém precisava lhe dizer como o ser humano é de fato, pois ele conhecia a natureza humana.
Pesquisa Datafolha
O números de pessoas aderindo à fé evangélica no Brasil não para de crescer. Segundo levantamento realizado no país pelo instituto Datafolha, o número chega a 29%; ou seja: sete pontos percentuais a mais do que o registrado pelo Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A pesquisa revelada no final do ano passado mostra que entre outubro de 2014 e dezembro de 2016, o número de católicos foi reduzido em pelo menos 9 milhões de fiéis, ou 6% dos brasileiros com idade maior que 16 anos. Para se ter uma ideia, o levantamento do instituto realizado em 2014 mostrava que 60% da população brasileira era católica — 5% a menos que o registrado pelo IBGE em 2010, que era de 65% —, hoje, porém, os seguidores da igreja romana somam 50% do total.
Nos últimos três anos, o número de pessoas que dizem não seguir nenhuma religião passou de 6% para 14%. No entanto, o professor de sociologia Reginaldo Prandi, docente da Universidade de São Paulo (USP), afirma que isso não significa que todos esses se tornaram ateus. Em entrevista concedida ao jornal Folha de S. Paulo, afirmou:
Pode não ter religião hoje e ter amanhã. Ficou muito ao sabor da época da vida, dos compromissos que se quer assumir. A religião deixou de ser condição obrigatória para ser bom cidadão. Socialmente, a religião não tem mais papel nenhum.
Observe, porém, o seguinte: se 80% da população brasileira é profundamente cristã (29% de evangélicos e 50% de católicos); se ⅓ do povo brasileiro (29%) diz ser nascido de novo, professam-se crentes em Jesus, por que a condição moral desse país não muda?
Seria, realmente, cristã, discípulos de Jesus, essa gente toda?
Embora só Deus conheça a verdadeira condição do coração das pessoas, Jesus disse que podemos conhecer uma árvore por seus frutos (Lucas 6.43-44). Logo, devemos ser capazes de detectar um cristão pelo seu comportamento e estilo de vida piedosos. Além de caráter e de conduta transformados, a fé genuína resulta em boas obras (Tiago 2.14-26). Fé sem frutos de justiça, piedade, santidade e obras de amor é morta ou inexistente. Afinal, João foi muito claro em sua carta, quando atestou (1Jo 2.3):
3 sabemos que o conhecemos se obedecemos a seus mandamentos. 4Se alguém diz: “Eu o conheço”, mas não obedece a seus mandamentos, é mentiroso e a verdade não está nele.
Não quer dizer que os discípulos de Jesus nunca pecam (veja 1Jo 1.9; 2.1), mas que o padrão geral da vida de um verdadeiro cristão será de obediência a Jesus — com atos de justiça e de amor —, não uma vida caracterizada pelo pecado (1Jo 3.4-10).
Parece-nos, portanto, a julgar pelos frutos (ou pela falta deles; falta de frutos de justiça, amor, vida piedosa etc.), que a fé professada pela maioria dos brasileiros não é verdadeira. O que é assustador, você não acha? Isso nos traz ao texto de hoje.
O objetivo de João: fazer-nos crer
Lembre-se de que o objetivo do evangelho de João é nos fazer crer (Jo 20.31): “Estes [sinais ou milagres], porém, estão registrados para que vocês creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo nele, tenham vida pelo poder do seu nome”. João quer produzir discípulos “verdadeiros”, “crentes” de verdade, homens e mulheres de fé e de prática na Palavra de Deus (Jo 8.31). Assim é que a tônica do apóstolo tem sido esta, desde o capítulo 1, até aqui no capítulo 2, e será assim até o final do livro.
João explicou qual foi o propósito da vinda do Filho eterno de Deus lá no início:
Jo 1.11-12 | 11Veio a seu próprio povo, e eles o rejeitaram. 12Mas, a todos que creram nele e o aceitaram, ele deu o direito de se tornarem filhos de Deus.
Note, a seguir, o raciocínio do apóstolo ao nos escrever…
Os primeiros discípulos creram em Jesus e se tornaram seus seguidores, dentre eles Natanael (Jo 1.35-51), que é o primeiro neste evangelho sobre quem ouvimos dizer que creu (Jo 1.50). A seguir, somos informados que os discípulos, que já haviam crido e seguido a Jesus, creram novamente quando viram sua glória na transformação da água em vinho no casamento em Caná da Galileia (Jo 2.11). Depois, em Jo 2.22, João nos informa que, após a ressurreição de Jesus, “seus discípulos se lembraram do que ele tinha dito [a respeito do reerguimento do templo em três dias, Jo 2.19] e creram nas Escrituras e em suas palavras”.
Vemos, portanto, que João está seguindo sem rodeios a rota que ele traçou para este evangelho. Ele está escrevendo com o objetivo de nos fazer ver a glória de Deus em Jesus, o Filho eterno de Deus que se encarnou e habitou entre nós (Jo 1.14). Ele quer nos proporcionar uma experiência com a graça de Deus em Jesus — revelar-nos a verdade e assim nos fazer crer em Jesus Cristo para a vida eterna e abundante.
Fé que não é verdadeira
Em vista disso, o texto que temos para hoje à noite (Jo 2.23-25) produz um efeito inquietante. O que aprendemos, em essência, é que Jesus conhece o que está em cada coração. Ele consegue enxergar quem realmente possui fé verdadeira. Ele sabe quem vive de fé que não é verdadeira, apesar de religioso ou desejoso de experiências com alguma forma de espiritualidade. Em outras palavras, a habilidade de Jesus de conhecer profundamente, perfeitamente cada coração nos leva à constatação inquietante de que alguns tipos de fé não são o tipo de fé que produz comunhão com Jesus e vida eterna.
Apesar de todo zelo e dedicação, alguns tipos de fé não são tipos de fé verdadeira. Paulo sabia disso e, escrevendo aos Romanos, falou-nos em coro com o ensino de Jesus:
Rm 10.1-4 | 1Irmãos, o desejo de meu coração e minha oração a Deus é que o povo de Israel seja salvo. 2Sei da dedicação deles por Deus, mas é entusiasmo sem entendimento. 3Pois, não entendendo a maneira como Deus declara as pessoas justas diante dele, apegam-se a seu próprio modo de se tornar justos tentando seguir a lei, e recusam a maneira de Deus. 4Pois Cristo é o propósito para o qual a lei foi dada. Como resultado, todo o que nele crê é declarado justo.
Para saber se sua fé é verdadeira, você precisa olhar para o tipo de fé descrita por João neste evangelho. Não adianta disfarçar ou tentar tapear. Jesus conhece você (e a mim). Ele conhece a todos nós, de dentro para fora. Nada lhe passa desapercebido.
Portanto, permitam-me colocar duas verdades em foco aqui neste texto de João: a glória da onisciência de Jesus e a descoberta de que existe sim um tipo de fé que Jesus não aprova. Preste bastante atenção. Jesus conhece você.
1. A glória da onisciência de Jesus
Veja comigo, em primeiro lugar, a glória da onisciência de Jesus. Por quê? Porque João quer que nós a vejamos! Assim como ele, de primeira mão, viu a glória de Cristo, cheia de graça e de verdade (Jo 1.14); assim como ele e os demais discípulos receberam, da plenitude de Jesus, graça sobre graça (Jo 1.16); João quer que nós vejamos glória e experimentemos graça — a glória do Filho unigênito do Pai que, vindo como um raio laser de visão espiritual gloriosa, derrama sobre nós graça sobre graça.
Que glória do Filho eterno de Deus nós vemos no texto de hoje? Veja (João 2):
23Por causa dos sinais que Jesus realizou em Jerusalém durante a festa da Páscoa, muitos creram nele. 24Jesus, porém, não confiava neles, pois conhecia a todos. 25Ninguém precisava lhe dizer como o ser humano é de fato, pois ele conhecia a natureza humana.
Há pelo menos três verdades arrasadoras contidas nestes versículos: 1Jesus conhece a natureza humana (ele conhece a mim e a você), 2não conseguimos guardar nossos segredos de Jesus e 3ninguém precisa dizer a Jesus como nós somos.
Jesus conhece a mim e a você (v. 25)
[…] pois ele conhecia a natureza humana.
Pare e pense. Coloque seu coração de molho nesta verdade: Jesus conhece tudo sobre todo mundo! Ele é onisciente. Ele sabe de todas as coisas passadas, presentes e futuras. Nada nem ninguém estão excluídos deste conhecimento. Note o que Jesus irá dizer lá adiante neste mesmo evangelho. É maravilhoso! Veja:
Jo 6.64-65 | 64“Mas alguns de vocês não creem em mim”. Pois Jesus sabia, desde o princípio, quem não acreditava nele e quem iria traí-lo. 65E acrescentou: “Por isso eu disse que ninguém pode vir a mim a menos que o Pai o dê a mim”.
O coração de todos nós está totalmente aberto aos olhos de Jesus. Estamos todos expostos à sua onisciência. No caso de Judas, por exemplo, conforme lemos, Jesus sabia que ele iria traí-lo. Nem por isso o expulsou de sua comunhão. Amou-o até o final.
Outro fato muito importante sobre a onisciência de Jesus. Ela não revela quem vai crer e quem não vai crer. Ela revela que ninguém vai crer, a menos que a graça irresistível de Deus nos leve a Jesus Cristo. Jesus conhece a mim e a você. Mais até do que nós mesmos nos conhecemos. Em verdade, nós não nos conhecemos, nem imaginamos o que somos capazes de fazer por causa da maldade do nosso coração; Jesus, porém, nos conhece; ele é onisciente; ele conhece a mim e a você. E nos ama mesmo assim!
Deixe seu coração de molho nesta doutrina. Se alguma vez na vida você já se impressionou com o conhecimento, a sabedoria ou a capacidade de alguém discernir, explicar ou predizer o comportamento das pessoas; se qualquer personagem da ficção ou da história; se qualquer psicólogo, sociólogo ou acadêmico de qualquer ramo do conhecimento científico jamais impressionou você com o conhecimento e a sabedoria dele ou dela, saiba que o conhecimento de Jesus é infinitamente maior e mais impressionante.
Jesus conhece a mim e a você. E nos ama mesmo assim (Jo 3.16); ama especialmente as suas ovelhas, por quem deu sua vida em resgate (Jo 10.11-18 e 25-30)!
Não conseguimos guardar nossos segredos de Jesus (v. 24)
Jesus, porém, não confiava neles, pois conhecia a todos.
Muita gente, muita gente mesmo, vive de mentiras. Mentem tanto — mentem para si mesmas e para todo mundo — que vivem de acreditar em suas mentiras. Mentem para manterem aparências; para não serem pegas em flagrante nos seus pecados; para receberem prazeres ou recompensas sem os quais elas imaginam que não conseguiriam viver prazerosamente. Por isso que Jesus “não confiava neles, pois conhecia a todos”.
Há quem minta com aparências que não conseguem bancar. Veja o caso dos noivos de Caná da Galileia (Jo 2.1-11). Fizeram uma festa que não conseguiram bancar. O vinho acabou e eles não tinham como prosseguir com a festa. Fico me perguntando: Por que eles não chamaram menos convidados para a festa? Por que tanta gente? Por que correr o risco de passar vergonha quando o vinho acabasse? Parece que mentiam com aparências. É o seu caso? Que aparência você tenta manter? Quem você finge ser? Quem você pensa enganar?
Há quem minta com religiosidade sem Cristo. Veja de novo os noivos. Lá na casa deles estavam as talhas da religião (Jo 2.6-8) — símbolos religiosos, atrás dos quais se escondiam. Seis talhas para a purificação nos rituais judaicos. Todas, porém, vazias de vida. Jesus as denuncia, colocando-as no centro do milagre. Por quê? Tinha que denunciar a religiosidade sem Cristo daquela gente de “boa fé”! Veja ainda o caso dos líderes religiosos, comerciantes e negociantes no templo (Jo 2.13-22). Todos na “igreja”; todos religiosos; todos com aparência de piedade. Jesus, porém, entra no templo e purifica aquela imundice. Por quê? Religiosidade sem Cristo. É o seu caso? Frequenta igreja, mas não tem Jesus no centro de sua vida? Afirma ter comunhão com Deus, mas Cristo não é o tesouro do seu coração? Tem Bíblia, mas não a lê? Quem você pensa enganar?
Nós não conseguimos guardar nossos segredos de Jesus. Lembre-se do que nos contou João: “Jesus, porém, não confiava neles, pois conhecia a todos” (Jo 2.24). Jesus conhecia suas mentiras. Eles podiam enganar todo mundo com aparências, religiosidade, conversa mole, mentiras diversas, mas a Jesus eles não enganavam, pois ele “conhecia a todos”.
Ninguém precisa dizer a Jesus como nós somos (v. 25)
1Jesus conhece a mim e a você; 2nós não conseguimos guardar nossos segredos de Jesus; mas, temos uma esperança: 3a graça de Jesus. Observe o verso 25:
Ninguém precisava lhe dizer como o ser humano é de fato.
Gente, um dos maiores anseios da alma humana é o de sermos capazes de conhecer a nós mesmos. Quem nós somos? Estamos sozinhos neste universo? Para que nós existimos? Que tipo de seres nós somos? O que verdadeiramente nos motiva? Por que sofremos? Por que fazemos o que fazemos? Por que somos assim como somos? Qual é a relação mais profunda dentro de nós entre saber e sentir, e entre desejar e fazer? Estas e centenas de outras perguntas existenciais o ser humano se faz há muito tempo. Leia sobre a história do pensamento humano, busque na história da filosofia e você descobrirá que o que sempre moveu as pessoas foi a busca pelo conhecimento de si mesmo.
Luc Ferry é um dos filósofos mais respeitados dos nossos tempos. Ele é francês e escreveu um livro intitulado Aprenda a viver: filosofia para os novos tempos (ed. Objetiva). No capítulo 1 da obra (O que é filosofia?) ele argumenta que “filosofia e religião” são “dois modos opostos de abordar a questão da salvação”. Observer o que argumentou o filósofo:
Como de fato operam as religiões em face da ameaça suprema que elas dizem que podemos superar? Basicamente pela fé. É ela, e somente ela, na verdade, que pode fazer derramar sobre nós a graça de Deus — se você acredita em Deus, Ele o salvará, dizem elas. Para isso, exigem antes de tudo uma outra virtude, a humildade, que, segundo elas — e é o que não deixam de repetir os maiores pensadores cristãos, de Santo Agostinho a Pascal —, se opõe à arrogância e à vaidade da filosofia. Por que essa acusação lançada contra o livre pensamento? Por que este também pretende nos salvar, se não da morte, pelo menos das angústias que ela provoca, mas por nossas próprias forças e em virtude apenas de nossa razão. Eis aí, pelo menos do ponto de vista religioso, o orgulho filosófico por excelência, a audácia insuportável perceptível desde os primeiros filósofos, desde a Antiguidade grega, vários séculos antes de Jesus Cristo.
E é verdade. Por não conseguir acreditar num Deus salvador, o filósofo é antes de tudo aquele que pensa que, se conhecemos o mundo, compreendendo a nós mesmos e compreendendo os outros, tanto quanto nossa inteligência o permite, vamos conseguir, pela lucidez e não por uma fé cega, vencer nossos medos.
Em outras palavras, se as religiões se definem como “doutrinas da salvação” por um Outro, pela graça de Deus, as grandes filosofias poderiam ser definidas como doutrinas da salvação por si mesmo, sem a ajuda de Deus.
É assim que Epicuro, por exemplo, define a filosofia como uma “medicina da alma”, cujo objetivo último é o de nos fazer compreender que “a morte não deve amedrontar”.
Gente do céu! Luc Ferry é controverso, pois afirma que toda filosofia precisa ser, por coerência, ateia, não obstante a tantos filósofos crentes do passado. Tem que ser ateia a filosofia, primeiro, porque não dá para encontrar respostas para o medo da morte ou para os dilemas da vida em um Deus “amoroso” que permite tanto sofrimento no mundo. Segundo, porque o bem-estar não é o único ideal sobre a terra; a liberdade também é; e, para Ferry, a crença em Deus nos rouba da liberdade de pensamento. A salvação, portanto, está na sabedoria, no conhecimento perfeito de si mesmo e das coisas que há.
Perceberam? Não é de hoje que o ser humano busca respostas (e até salvação) no conhecimento de si mesmo e do mundo. O que, além de desesperador, posto que é limitado o nosso conhecimento, é impossível de acontecer corretamente, posto que somos pecadores. Onisciente é somente aquele, por meio de quem, Deus a tudo e a todos criou: Cristo.
Jesus Cristo nos conhece perfeitamente, sabe de todas as coisas sobre nós (Jo 21.17) e sabe o propósito para o qual ele nos criou: viver para e viver desfrutando a glória de Deus. Cristo também sabe o motivo que o fez se tornar ser humano e habitar entre nós: nos salvar do pecado e das consequências do pecado nesta vida.
Portanto: salvação e as respostas mais profundas para as questões de nossas almas estão em Jesus Cristo — “Ninguém precisava lhe dizer como o ser humano é de fato” (Jo 2.25). Além de nos compreender profundamente e de nos dar entendimento e sentido para os anseios mais profundos, ele também nos ama como somos. Sua onisciência ou presciência não existem para lhe informar a respeito de quem crerá na sua obra de salvação, mas para testificar o quanto ele nos amou e de graça soberana e irresistível utilizou para nos salvar. Afinal, ninguém deseja a Deus ou buscará a Deus, enquanto estiver entregue à escravidão de seu servo-arbítrio (livre-arbítrio escravizado pelo pecado). Veja de novo:
Jo 6.64-65 | 64“Mas alguns de vocês não creem em mim”. Pois Jesus sabia, desde o princípio, quem não acreditava nele e quem iria traí-lo. 65E acrescentou: “Por isso eu disse que ninguém pode vir a mim a menos que o Pai o dê a mim”.
Permitam-me fazer três aplicações sobre o que dissemos até aqui:
Que a gloriosa onisciência de Jesus faça você crer, assim como fez os discípulos crerem, mesmo que tardiamente:
Jo 16.30-31 | 30Agora entendemos que o senhor sabe todas as coisas e não há necessidade de lhe fazer perguntas. Por isso cremos que o senhor veio de Deus”. 31Jesus disse: “Enfim vocês creem?
2. O tipo de fé que Jesus aprova
Tendo já focado a glória da onisciência de Jesus, focamos agora o tipo de fé que Jesus não aprova (Jo 2.23-24):
23Por causa dos sinais que Jesus realizou em Jerusalém durante a festa da Páscoa, muitos creram nele. 24Jesus, porém, não confiava neles, pois conhecia a todos.
O que havia de errado com a fé desse pessoal? Temos duas pistas. A primeira pista é a referência que João faz aos “sinais” no versículo 23 e noutras passagens do evangelho. A segunda pista está no fato de que este incidente pavimenta o caminho para a história de Nicodemus que vem a seguir (João 3).
Nicodemus, provavelmente, representava os “muitos” que creram (Jo 2.23), mas não creram da forma como Jesus aprova. A sua fé, à princípio, não passava de admiração, reverência, reconhecimento por saber que Jesus era sim alguma autoridade espiritual. Esse tipo de fé não salva. Observe o texto (Jo 2.23 a 3.2):
23Por causa dos sinais que Jesus realizou em Jerusalém durante a festa da Páscoa, muitos creram nele. 24Jesus, porém, não confiava neles, pois conhecia a todos. 25Ninguém precisava lhe dizer como o ser humano é de fato, pois ele conhecia a natureza humana.
3.1Havia um fariseu chamado Nicodemos, líder religioso entre os judeus. 2Certa noite, veio falar com Jesus e disse: “Rabi, todos nós sabemos que Deus enviou o senhor para nos ensinar. Seus sinais são prova de que Deus está com o senhor”. 3Jesus respondeu: “Eu lhe digo a verdade: quem não nascer de novo, não verá o reino de Deus”.
A fé que Jesus aprova é a que brota como fruto do novo nascimento, da regeneração; é a fé que nos vem ao coração como dom de Deus (Ef 2.8-9). Reverência, reconhecimento, respeito, conquanto acompanhem a fé genuína, não é o bastante para salvar alguém; não é só isso o tipo de fé que Jesus aprova.
Até aquele momento, tudo o que Nicodemus (e todos os “muitos” que creram) tinha era admiração pelos milagres ou sinais; ele ainda não tinha vida espiritual; não tinha nascido de novo. A prova está em que ele viu os “sinais”; não viu através dos “sinais” a glória do Filho eterno de Deus. Nicodemus viu apenas os “sinais”. Impressionou-se. Sentiu-se atraído por tanto poder. Apenas chegou à conclusão de que havia alguma coisa de Deus envolvida naquele negócio. Faltava-lhe, ainda, nascer de novo.
Note, portanto, que é plenamente possível crer em sinais e milagres e não crer para a salvação. O caso dos irmãos de Jesus é um exemplo claro deste tipo de fé que Jesus não aprova. Leia João 7.3-5. Veja lá como os irmãos de Jesus acreditavam que ele fazia milagres, mas “nem mesmo seus irmãos criam nele” (Jo 7.5). A razão porque esse tipo de fé não salva — fé em sinais ou milagres, fé em poder ou prosperidade, fé em revelações, mesmo que tudo atribuído a Deus — está explicado noutro texto de João (5.41-44):
41“Sua aprovação não vale nada para mim, 42pois eu sei que o amor a Deus não está em vocês. 43Eu vim em nome de meu Pai, e vocês me rejeitaram. Se outro vier em seu próprio nome, vocês o receberão. 44Não é de admirar que não possam crer, pois vocês honram uns aos outros, mas não se importam com a honra que vem do único Deus!
Em outras palavras: fé verdadeira, fé que Jesus aprova, é o tipo de fé que torna as pessoas humildes, quebrantadas; é o oposto do que os amantes do poder fazem; oposto do que os amantes da popularidade e da prosperidade buscam; opostos do que os amantes de sinais e de milagres e de revelações desejam; oposto do que Ferry e outros filósofos propõem oferecer. Esse tipo de fé não quer o que Jesus ou Deus realmente pode dar; esse tipo de fé não quer Jesus em si mesmo; não quer a glória de Jesus; quer a glória dos homens.
Jesus conhece você
Agora faz sentido que o aumento do número de evangélicos seja proporcional ao crescimento da imoralidade, da injustiça e de toda sorte de maldade neste país. Na verdade, parece que tem crescido o número dos que buscam em Jesus — no poder de Jesus, nos milagres de Jesus, na prosperidade que Jesus pode dar — motivos para receberem glória dos homens. Ouça o testemunho de muitas dessas pessoas: elas é que se exaltam (“EU fui abençoado por Deus!”). Jesus mesmo só serviu para curar, libertar, fazer prosperar… para elas continuarem vivendo, gastando em seus próprios prazeres.
O que de fato essa nação “evangélica” precisa é de novo nascimento. Como veremos na história de Nicodemus a seguir, semana que vem, Deus permitido. Gente encantada com poder, sinais, milagres e maravilhas; gente atrás de Jesus apenas por causa de sinais, revela um tipo de fé que Jesus não aprova. Ele não acredita nesse tipo de gente.
Jesus conhece você (e a mim); e o que ele busca são adoradores, gente que o adore em espírito e em verdade (veremos isso em João 4, na história da mulher samaritana); gente que nasceu de novo (como veremos na história de Nicodemus, João 3); pessoas que têm fé que veio a elas como dom de Deus; gente que crê para a salvação da alma (crê em Jesus como Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo) e que também crê em Jesus para a satisfação da alma (bebe dele, come dele e nele se satisfaz).
Jesus conhece você. Ele sabe se você vive de mentiras, o que você esconde e se busca impressionar os outros com o que recebeu. Jesus conhece você, sabe se sua fé é verdadeira. Portanto, não se esconda atrás de mentiras. Confesse agora mesmo o seu pecado. Creia em Jesus. Receba-o como o seu salvador. Faça dele o amor da sua alma.
S.D.G. L.B.Peixoto
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