15.09.2019
MAIS SOBRE O DEUS DOS REDIMIDOS
Salmo 46.11
(Nova Almeida Atualizada) O Senhor dos Exércitos está conosco; o Deus de Jacó é o nosso refúgio.
O DEUS DE JACÓ
Vimos na semana passada a soberania de Deus na eleição e salvação de Jacó; e sobre essa rocha sólida do conhecimento de Deus — a soberania de Deus na salvação — nós traçamos algumas implicações práticas. Ou seja, o conceito bíblico correto que formamos da soberania de Deus deverá nos tornar mais gratos a Deus e corajosos para testemunhar do evangelho de forma livre, prazerosa e frutífera, glorificando a Jesus Cristo.
Hoje nós retomamos o tema — mais sobre o Deus de Jacó — e começaremos reforçando alguns pontos práticos que foram traçados na semana passada, mas que, dada a importância do tema (e por, infelizmente, ser para muitos controverso), faremos bem em neste momento, antes de prosseguirmos, acampar um pouco mais ao redor de algumas implicações práticas da doutrina da eleição. Na sequência, trataremos dos demais atributos do Deus de Jacó: graça, paciência e poder.
O DEUS DOS REDIMIDOS É SOBERANO
Jacó nos fornece a ilustração mais clara e inconfundível da eleição soberana de Deus a ser encontrada em toda a Bíblia. Tanto é assim que Paulo a utiliza. Ouça:
Rm 9.10-13 | 10Esse fato não é único [sobre quem é o verdadeiro Israel de Deus]. Também Rebeca ficou grávida de nosso antepassado Isaque e deu à luz gêmeos [Esaú e Jacó]. 11Antes de eles nascerem, porém, antes mesmo de terem feito qualquer coisa boa ou má, ela recebeu uma mensagem de Deus. (Essa mensagem mostra que Deus escolhe as pessoas conforme os propósitos dele 12e as chama sem levar em conta as obras que praticam.) Foi dito a Rebeca: “Seu filho mais velho [Esaú] servirá a seu filho mais novo [Jacó]”. 13Nas palavras das Escrituras [Ml 1.2-3]: “Amei Jacó, mas rejeitei Esaú”.
Semana passada nós discorremos a fundo sobre o tema eleição (se você não ouviu, está lá no nosso canal no YouTube ou no sita da nossa igreja na internet). Portanto, não nos deteremos nos pormenores aqui. O que faremos, expandindo o que já dissemos na última mensagem — O Deus dos redimidos, é resumir algumas das principais implicações da doutrina da eleição.
3Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo. 4Antes da fundação do mundo, Deus nos escolheu, nele, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele. Em amor 5nos predestinou para ele, para sermos adotados como seus filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o propósito de sua vontade, 6para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado.
William Carey tinha essa convicção (denominada calvinista, mas que eu prefiro chamar de doutrina da graça), quando argumentou em favor de sua ida para o campo missionário: “[Disse Jesus] Tenho outras ovelhas que não estão neste aprisco em particular [a igreja dele na Inglaterra], mas estão na Índia [e eu vou lá buscá-las!]”.
Não despreze essa doutrina por causa do exagero de alguns. Para se ter uma ideia, os primeiros missionários protestantes enviados para a América do Sul chegaram, primeiramente, ao Rio de Janeiro em 1556, “um contingente de 14 pastores e estudantes de teologia de Genebra foi enviado por João Calvino”, mas foram brutalmente banidos da colônia (Ondina e Justo L. González, Cristianismo na América Latina, uma história, ed. Vida Nova, pág. 280). Antes desses e do primeiro culto protestante em solo brasileiro, houve, por acaso, um mercante alemão, Hans Staden (luterano-calvinista por formação), que em 1547, após ser salvo de naufrágio no litoral paulista (Ubatuba), chegou ao Brasil e aqui pregou.
Falta-nos tempo para discorrer aqui sobre o papel imprescindível daqueles que criam nas doutrinas da graça (calvinismo, por assim dizer) e que fizeram missões impulsionados por essa fé. Aliás, como bem afirmou John Piper, “não é exagero dizer que os calvinistas deram à luz o movimento missionário moderno na igreja protestante. A história mostra que uma visão elevada da soberania determinante de Deus não impediu os cristãos de irem a lugares difíceis e de dar a vida pela propagação do evangelho” [no sermão: Five Surprising Motivations for Missions]. Quem disser ago diferente disso (1.) ou desconhece a história e age por puro preconceito (2.) ou, bem-intencionalmente, age com desonestidade histórica. A doutrina da eleição nos dá coragem para ir, pregar e fazer discípulos.
O Deus dos redimidos é Soberano. Portanto, saia daqui louvando, confiando e pregando Cristo, a vida e a obra de Cristo pelos pecadores: as ovelhas de Cristo ouvirão a voz do Bom-Pastor através de sua mensagem e seguirão Cristo para a salvação.
O DEUS DOS REDIMIDOS É GRACIOSO
De volta a Jacó, ou melhor, ao Deus de Jacó.
Se alguma vez jamais existiu um ser humano que ilustra melhor, em sua própria pessoa, que Deus graciosamente escolheu para a salvação os tolos, fracos, humildes e desprezados deste mundo (1Co 1.27-29), essa pessoa foi Jacó. De acordo com a carne, não havia nada cativante ou atraente nele: egoísta, ardiloso, enganoso, traiçoeiro, trapaceiro, mentiroso e outros adjetivos mais dessa mesma natureza. Jacó era um personagem muito deselegante e desagradável. Perigoso. Ninguém o desejaria por perto, sob o mesmo teto.
O que havia em Jacó para atrair o amor de Deus? Nada! Talvez Esaú, da perspectiva humana, teria sido mais adequado para os favores de Deus. Penso que sim, mas os pensamentos de Deus não são nossos; nem seus caminhos, nossos caminhos.
No seu sermão, The God of Jacob, baseado no Salmo 46.7, A. W. Pink destacou:
As realidades espirituais estão ocultas dos sábios e prudentes — e são reveladas aos pequeninos. Fariseus hipócritas são ignorados — enquanto publicanos e prostitutas maus são trazidos para participar do banquete do Evangelho. Os ricos são ignorados — enquanto o Evangelho é pregado aos pobres. Esaú é rejeitado — enquanto o “verme Jacó” (Isaías 41.14) é amado com um amor eterno e insondável!
Indo além, no sermão já citado, A. W. Pink foi admirável ao pregar:
A força total deste título divino, “O Deus de Jacó”, só pode ser apreendida por um estudo cuidadoso das experiências do patriarca. A primeira vez que vemos Deus entrando em sua vida foi naquela noite memorável em Betel. Um fugitivo da casa de seu pai, fugindo da ira de seu irmão [Esaú], com provavelmente nenhum pensamento sobre Deus em sua mente, “Quando o sol se pôs, chegou a um bom local para acampar e ali passou a noite. Encontrou uma pedra para descansar a cabeça e se deitou para dormir” (Gn 28.11). Quando o vemos lá, dormindo no chão frio, temos uma imagem impressionante do homem em seu estado natural. O homem nunca é tão indefeso como quando dorme! Foi quando ele estava nesta condição [apagado!], que Deus apareceu a ele, e [fez com ele uma aliança — veja Gn 28.12-15]. O Deus de Jacó, então, é o Deus que encontrou Jacó enquanto ele não tinha nada [dormia sem pensar em Deus!], e merecia nada além de ira; é o Deus que lhe deu tudo. Felizes são aqueles que têm tal Deus como o seu Deus!
O Deus dos redimidos é soberano e gracioso: Jacó não estava buscando Deus; Deus foi e buscou Jacó. Não houve iniciativa da parte de Jacó. Deus escolheu derramar graça na vida de Jacó. Não dependeu da performance espiritual de Jacó, mas de Deus ir e derramar graça, iniciando uma nova vida em Jacó.
Essa pode ser a sua situação e será a sua única esperança:
O Deus dos redimidos é soberano e gracioso. Essa é a única esperança para a sua vida; para a vida daqueles que você ama; para membros de igreja que estejam apagados, dormindo na vida espiritual; para o nosso país que, “deitado eternamente em berço esplêndido, ao som do mar e à luz do céu profundo”, dorme com a ilusão de que tudo nos vai bem e que nós só precisamos de um governo que dê certo para vivermos as delícias dessa terra, esquecendo-nos de que a nossa maior necessidade é a graça que nos acorda do sono do pecado e nos leva de volta a Deus por meio de Jesus Cristo.
O Deus dos redimidos é soberano e gracioso. Mas tem mais… veremos na próxima semana: o Deus dos redimidos é paciente conosco e poderoso para nos transformar.
S.D.G. L.B.Peixoto
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