05.11.2023
[Atos 20.13-38] 13Paulo foi por terra até Assôs, onde havia definido que devíamos esperar por ele, enquanto nós fomos de navio. 14Encontrou-se conosco em Assôs e navegamos juntos até Mitilene. 15No dia seguinte, passamos em frente à ilha de Quios. No outro dia, atravessamos para a ilha de Samos e, um dia depois, chegamos a Mileto. 16Paulo havia decidido não aportar em Éfeso, pois não queria passar mais tempo na província da Ásia. Tinha pressa de chegar a Jerusalém, se possível, para a Festa de Pentecostes. 17Por isso, em Mileto, mandou chamar os presbíteros da igreja de Éfeso. […]
Competência (ou expertise) é um bem muito procurado neste mundo com tantas complexidades. É tanto que aulas, palestras ou seminários que são ministrados por especialistas em tudo, desde tecnologia, gerenciamento de tempo ou de pessoas, investimentos, escrita, composição, relacionamentos e culinária; aulas ou seminários desse tipo estão lotados de pessoas, e livros sobre esses tópicos costumam ser best-sellers; fora a quantidade de gente que tem conseguido ganhar rios de dinheiro, da noite para o dia, vendendo cursos sob demanda na internet. Tornou-se muito comum: quase todos que alcançaram o pico do sucesso em alguma coisa na vida ou que possuem um número considerável de seguidores em alguma rede social terão diante deles uma multidão de pessoas dispostas a pagar caro para saber o segredo: como elas também podem chegar ao topo e ficar ao lado dos vencedores.
É nesse contexto que surgem as plataformas de educação online, como, por exemplo, a MasterClass (nos Estados Unidos). Nessa página na internet, os alunos podem acessar tutoriais e palestras pré-gravadas por especialistas em várias áreas (da culinária ao teatro; da escrita à música… são centenas de cursos ou, como chamam, masterclasses. O conceito foi concebido por David Rogier e Aaron Rasmussen. Lembrando que uma masterclass nada mais é do que uma aula dada por um especialista detentor de notório saber em determinada área do conhecimento.
OBSERVAÇÃO: não estou condenando esse tipo em si de ferramenta de ensino. Aliás, elas podem ser muito úteis em diversos sentidos. Estou apenas pontuando a realidade: “Competência (ou expertise) é um bem muito procurado (é – literalmente! – uma commodity muito bem cotada) neste mundo com tantas complexidades.”
Como não poderia ser diferente, afinal estamos no mundo, o conselho de especialistas é procurado também pela igreja, particularmente nas áreas de liderança e de crescimento da igreja. O que se nota, porém, é que o conselho desses “especialistas” giram, na maior parte, em torno de análise cultural e técnicas de marketing; e todos esses “gurus” operam a partir de uma mentalidade estritamente business (de negócio), com estrutura piramidal de gestão ou organização. É trágico o quanto essa forma de pensar e de operar – absolutamente pragmáticas e ateológicas – são tão veneradas em boa parte da igreja evangélica ocidental, inclusive entre alguns batistas brasileiros. Alguns seminários teológicos ou cursos de formação de obreiros chegam a incluir esse tipo de matéria, objetivando a transmitir aos futuros pastores e líderes as técnicas que essas escolas ou mentores acreditam que irão garantir o crescimento das igrejas.
Se ainda estivesse entre nós, tenho minhas dúvidas de que o apóstolo Paulo seria procurado para ministrar aulas, cursos ou palestras como um “especialista em crescimento de igreja”. A razão é simples: não seria por falta de resultados, mas que a teologia e a prática do apóstolo Paulo se chocam frontalmente com o “potencialize-se”, o pragmatismo e o paganismo contemporâneos. É triste dizer, mas é a verdade. Digo mais: Paulo teria dificuldade para reconhecer boa parte das igrejas contemporâneas, inclusive algumas igrejas protestantes ou evangélicas “históricas”. Meu amigo querido, o Pr. Judiclay Santos, titular da Igreja Batista do Jardim Botânico, na cidade do Rio, foi cirúrgico em um texto postado a colegas pastores no WhatsApp:
Mark Dever comparou os Batistas do Sul [dos Estados Unidos] a um homem cujo carro bateu de frente. O homem acordou do coma e só se lembrava de uma coisa: missões. Teologia e eclesiologia tinham aparentemente desaparecido da mente dos batistas devido ao trauma. Ao que tudo indica, os Batistas Brasileiros sofrem do mesmo problema. Essa é a pior fase dos batistas no Brasil, em 150 anos de história. Os missionários pioneiros [William Bagby, Zacarias Taylor, dentre outros], teriam dificuldade para reconhecer boa parte das igrejas batistas hoje, incluindo as mais antigas e influentes. Eles ficariam assustados ao participar de um culto na maioria das igrejas, sobretudo ao ouvir o que se prega nos púlpitos. O quadro geral aponta para um sombrio mosaico: erros doutrinários, pentecostalização litúrgica, mentalidade business, tradicionalismo morto, desfibramento moral, concessões éticas inaceitáveis, governo piramidal, diametralmente oposto ao congregacionalismo, empobrecimento espiritual da igreja local, e outras mazelas. Se não houver um retorno, deliberado, constante e consistente, à ortodoxia teológica/eclesiológica, a próxima geração de batistas vai afundar no mar do paganismo pseudo evangélico. Precisamos de uma intervenção do alto, uma operação do Espírito Santo para transformar o povo de Deus que se chama [pelo nome de] batista.
De fato, missões desse jeito, sem teologia (i.e., doutrina ortodoxa) e sem prática bíblica de organização ou governo da igreja (i.e., eclesiologia), desembocará em aberrações inimagináveis. Eu sei que o inverso também é um perigo: teologia e eclesiologia sem missões – digo, sem a Grande Comissão – é como água parada: apodrece. É por isso que nós precisamos urgentemente da MasterClass de Paulo – seu ensino sobre liderança de igreja. SIM!, você, membro da igreja, também precisa conhecer esse tópico, e conhecê-lo muito bem; por pelo menos dois ou três motivos: [1.] para saber escolher e comissionar os seus líderes; e [2.] para saber o que se deve esperar de seus líderes ou para saber como se deve orar por eles; e, permitam-me mais uma, [3.] para saber escolher em qual igreja congregar, quando, por algum motivo, tiver de deixar sua igreja atual.
Abaixo de Jesus Cristo, não há ninguém no Novo Testamento com a capacidade de Paulo de Tarso para ensinar sobre igreja e liderança de igreja. Ele não é apenas um especialista detentor de notório saber sobre essas coisas, Paulo de fato foi inspirado pelo próprio Espírito Santo para escrever e nos deixar canonizadas as verdades que precisamos conhecer e praticar na igreja. Teoria e prática eram com Paulo. Afinal de contas, foi em grande parte através de seu ministério que o cristianismo cresceu para muito além de apenas um punhado de crentes e igrejas em Jerusalém, Judeia e Samaria para se tornar um fenômeno que abrangeu todo o império romano até aos seus confins.
Contudo, tentar copiar o estilo do apóstolo seria equivocado, pois o sucesso de Paulo não se baseava na metodologia de seu ministério (e é aqui que ele começa a chocar de frente com os gurus de crescimento de igreja contemporâneos: O SEGREDO NÃO ESTÁ NA METODOLOGIA). O sucesso do ministério de Paulo fluiu de sua devoção a Cristo e à verdade, de seu caráter moral, sua envergadura espiritual, seu compromisso em servir a Deus e, por fim, mas não menos importante: o exemplo poderoso que sua vida e sua mensagem como um todo estabeleceram para aqueles em quem ele investiu tanto de si, de Cristo e da verdade. Não havia lacuna alguma de credibilidade ou de coerência entre a verdade que ele creu e proclamou e a maneira como ele viveu e ministrou.
O Novo Testamento, com efeito, ensina que o cerne da liderança é o ensino e o exemplo. — E isso vale tanto para a igreja como para a família. — Por exemplo: Jesus, falando de servir, lembrou aos seus discípulos, em João 13.15: “Eu lhes dei um exemplo a ser seguido. Façam como eu fiz a vocês.” De fato, Lucas descreveu o Evangelho que escreveu como o registro de “tudo que Jesus começou a fazer e a ensinar” (Atos 1.1). O escritor de Hebreus, por sua vez, ordenou a seus leitores que se lembrassem “de seus líderes que lhes ensinaram a palavra de Deus. [E pensassem] em todo o bem que resultou da vida deles e [seguissem o] seu exemplo de fé.” (Hebreus 13.7). Pedro exortou os seus co-presbíteros nestes termos: “Não abusem de sua autoridade com aqueles que foram colocados sob seus cuidados, mas guiem-nos com seu bom exemplo.” (1Pedro 5.3). Aos coríntios, Paulo escreveu: “Portanto, suplico-lhes que sejam meus imitadores.” (1Coríntios 4.16). E acrescentou: “Sejam meus imitadores, como eu sou imitador de Cristo” (1Coríntios 11.1). Aos filipenses, Paulo instruiu com estas palavras: “Irmãos, sejam meus imitadores e aprendam com aqueles que seguem nosso exemplo.” (Filipenses 3.17). E arrematou: “Continuem a praticar tudo que aprenderam e receberam de mim, tudo que ouviram de mim e me viram fazer. Então o Deus da paz estará com vocês.” (Filipenses 4.9). Noutra carta, Paulo elogiou os tessalonicenses porque eles “receberam a mensagem com a alegria que vem do Espírito Santo e se tornaram imitadores nossos e do Senhor.” (1Tessalonicenses 1.6). Seu conselho a Timóteo sobre como ser um bom líder foi: “Não deixe que ninguém o menospreze porque você é jovem. Seja exemplo para todos os fiéis nas palavras, na conduta, no amor, na fé e na pureza.” (1Timóteo 4.12).
Teoria e prática; ensino e exemplo; voz e vida; teologia e testemunho… sempre de mãos dadas. Assim era o apóstolo Paulo; assim ele cria e praticava. Tão diferente desta época, onde a metodologia é frequentemente colocada acima da teologia, muitas vezes contradizendo a própria teologia ou desprezando-a por completo. É uma catástrofe o que estamos assistindo na igreja evangélica contemporânea, inclusive entre os batistas. Precisamos, urgentemente, da MasterClass de Paulo, ensinando sobre liderança. O nosso texto, Atos 20.13-38, apresenta uma visão panorâmica do que Paulo cria a respeito do ministério e do que ele praticava. Você notará que o apóstolo não se concentrava em técnicas ou metodologias, mas nas atitudes piedosas que ele modelou, fruto da mensagem que ele cria e pregava. Debulharemos esse texto em várias partes, nas próximas mensagens; mas hoje nós olharemos para o todo. Visualizaremos a floresta pelo lado de cima antes de entrarmos mata adentro, examinando cada detalhe da fauna e da flora.
Conclusão da parte 1
Atos 20.36-38 36Quando Paulo terminou de falar, ajoelhou-se e orou com eles. 37Todos choraram muito enquanto se despediam dele com abraços e beijos. 38O que mais os entristeceu foi ele ter dito que nunca mais o veriam. Então eles o acompanharam até o navio.
Continua na próxima mensagem…
S.D.G. L.B.Peixoto
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