04.09.2016
O CONTRA-ATAQUE DA GRAÇA
Marcos 16.1-7
1 Quando terminou o sábado, Maria Madalena, Salomé e Maria, mãe de Tiago, compraram especiarias aromáticas para ungir o corpo de Jesus. 2 No primeiro dia da semana, bem cedo, ao nascer do sol, elas se dirigiram ao sepulcro, 3 perguntando umas às outras: “Quem removerá para nós a pedra da entrada do sepulcro?” 4 Mas, quando foram verificar, viram que a pedra, que era muito grande, havia sido removida. 5 Entrando no sepulcro, viram um jovem vestido de roupas brancas assentado à direita, e ficaram amedrontadas. 6 “Não tenham medo”, disse ele. “Vocês estão procurando Jesus, o Nazareno, que foi crucificado. Ele ressuscitou! Não está aqui. Vejam o lugar onde o haviam posto. 7 Vão e digam aos discípulos dele e a Pedro: Ele está indo adiante de vocês para a Galiléia. Lá vocês o verão, como ele lhes disse.”
Ação e reação
Quando nós pisamos na bola com alguém, geralmente, ficamos com a consciência pesada; principalmente se a pessoa com quem falhamos for próxima e querida. O sentimento de culpa, nesses casos, pode ser pesado além da conta. Quem de nós nunca passou por essa experiência?
Mesmo que a pessoa não seja muito próxima da gente, quando pisamos na bola com alguém – e, por força de laços familiares ou profissionais, nós precisamos conviver com ela – o clima fica pesado. Você já teve esse gosto amargo na boca?
Não é diferente quando nós somos as vítimas dos ataques ou dos deslizes de pessoas que amamos ou com quem precisamos conviver. O clima fica tenso.
Geralmente, quando feridos, contra-atacamos; quando ferimos, nos afastamos. Toda ação tem uma reação, inclusive nos relacionamentos.
O contra-ataque da graça
Hoje à noite, meu foco com vocês será o contra-ataque da graça.
Pedro tinha negado Jesus, exatamente como o Senhor antecipou que seria. Semana passada nós vimos essa pisada na bola, quando olhamos para Lucas 22.31-62 e estudamos a trilha do tombo. Releia sobre o vexame de Pedro.
Lc 22.54-62 | 54 Então, prendendo-o, levaram-no para a casa do sumo sacerdote. Pedro os seguia à distância. 55 Mas, quando acenderam um fogo no meio do pátio e se sentaram ao redor dele, Pedro sentou-se com eles. 56 Uma criada o viu sentado ali à luz do fogo. Olhou fixamente para ele e disse: “Este homem estava com ele”. 57 Mas ele negou: “Mulher, não o conheço”. 58 Pouco depois, um homem o viu e disse: “Você também é um deles”. “Homem, não sou!”, respondeu Pedro. 59 Cerca de uma hora mais tarde, outro afirmou: “Certamente este homem estava com ele, pois é galileu”. 60 Pedro respondeu: “Homem, não sei do que você está falando!” Falava ele ainda, quando o galo cantou. 61 O Senhor voltou-se e olhou diretamente para Pedro. Então Pedro se lembrou da palavra que o Senhor lhe tinha dito: “Antes que o galo cante hoje, você me negará três vezes”. 62 Saindo dali, chorou amargamente.
Diante disso, como seria a reação de Jesus ao se encontrar com Pedro após a ressurreição? Imagine a cabeça de Pedro; a angustia de seu coração; a vergonha dentro de sua alma. Como o Senhor reagiria? O que ele diria?
Marcos, escrevendo o seu evangelho – “ditado” por Pedro, conforme a tradição atesta que foi -, nos dá uma dica de como seria aquele reencontro. Observe comigo mais uma vez.
Mc 16.6-7 | 6 “Não tenham medo”, disse ele. “Vocês estão procurando Jesus, o Nazareno, que foi crucificado. Ele ressuscitou! Não está aqui. Vejam o lugar onde o haviam posto. 7 Vão e digam aos discípulos dele e a Pedro: Ele está indo adiante de vocês para a Galiléia. Lá vocês o verão, como ele lhes disse.”
“Não tenham medo… Vão e digam aos discípulos dele e a Pedro”. A julgar pelas palavras dos anjos, Jesus contra-atacaria a atitude de Pedro com graça.
Por que “e a Pedro”? Por que não apenas “vão e digam aos discípulo”? Afinal, Pedro não era um dos discípulos? Teria Pedro deixado de sê-lo, após ter ele negado o Senhor? A expressão “e a Pedro” reverbera a graça e a misericórdia de Deus derramada sobre nós na pessoa de Jesus Cristo.
Pense comigo. Coloque-se no lugar de Jesus.
Depois de tudo o que ele passou, de bom e de ruim, quais palavras seriam as mais apropriadas para aquele momento? Seriam palavras de revanche, de reconhecimento ou de restauração? Eu e você, no lugar de Jesus, após a ressurreição, talvez tivéssemos dito coisas totalmente diferentes das dele.
Talvez tivéssemos palavra de revanche. “Vão e digam a Pilatos, Herodes e Caifás; digam aos fariseus às suas autoridades; digam aos soldados e à multidão que me feriram com pancadas e palavras; digam aos que a mim se opuseram; digam que eu venci a morte e ressuscitei. Eu estou de volta. O tempo deles é chegado. Terão todos a sua paga.”
Talvez tivéssemos uma palavra de reconhecimento. “Vão e digam a João, Nicodemos e José de Arimatéia; digam a todos que foram tão gentis e fiéis quando não me abandonaram; digam-lhes que eu venci a morte e ressuscitei. Eu estou de volta. Serão todos recompensados.”
Jesus, no entanto, disse algo diferente. Suas palavras não foram de revanche nem de reconhecimento, mas de restauração: “Não temam. Vão e digam aos discípulos e a Pedro; avisem que eu venci a morte e ressuscitei. Vim para restaurar a paz. Digam a todos, mas digam especialmente a Pedro.”
Jesus, ao enfatizar o nome de Pedro, ao destacá-lo, ao tratar com carinho a situação do apóstolo caído no chão, está nos dando uma belíssima lição sobre a segunda chance. A sua mensagem é de esperança para o pecador arrependido. Ele sempre contra-ataca com graça o pecador contrito.
Hoje, portanto, enquanto celebramos a profissão de fé através do batismo desses 12 irmãos e irmãs, desejo afirmar para todos vocês que caíram, que traíram, que negaram, tanto em palavras como em posturas: se você está no pó por ter pecado contra alguém e, principalmente, contra Deus, em Jesus você pode encontrar graça, perdão e restauração.
Os homens costumam contra-atacar com raiva, revolta, desprezo e maldade, mas o Senhor contra-ataca com graça aqueles que o buscam. Foi isso o que ele quis dizer quando afirmou: “Não temam… Vão e digam aos discípulos dele e a Pedro” (Mc 16.7).
Permitam-me, pois, destacar para vocês algumas verdades maravilhosas sobre o contra-ataque da graça de Deus em Jesus Cristo. Todas elas falam de uma segunda chance.
1. A segunda chance é possível
Quando Jesus mandou que dissessem aos discípulos e a Pedro, o Senhor estava afirmando que seria possível para Pedro uma segunda chance.
Pedro – apesar do que tinha feito e dito; apesar do que estava sentido ou pensando; apesar do que estavam imaginando ou dizendo contra ele – continuava sendo alvo da graça de Deus; continuava sendo um dos apóstolos.
As palavras: “Digam aos discípulos e a Pedro” são como água para um homem desesperadamente sedento de perdão, de restauração e de uma segunda chance.
Apesar de ter negado o Senhor de forma cínica (“nem o conheço”), covarde (pois temeu pela própria vida) e compulsiva (negou três vezes), Pedro, ao ouvir o nome dele destacado dos demais discípulos, saindo dos lábios das mulheres que levaram o recado dos anjos, percebeu que uma segunda chance é sempre possível a todos quantos se arrependem e mudam de caminho.
A segunda chance não depende do que fizemos, do que estamos sentimos nem do que os outros pensam a nosso respeito. A segunda chance é possível por causa da graça de Deus em Jesus Cristo.
Quando Jesus viu Pedro chorando de arrependimento, levantando-se e saindo do meio da roda dos escarnecedores na casa de Caifás (Lc 22.60-62), ali mesmo ele perdoou o apóstolo caído. Agora, ao destacar o nome dele dos demais, Jesus queria que Pedro soubesse que o Senhor havia lhe dado uma segunda chance.
Uma segunda chance é sempre possível aos que se arrependem e se convertem de seus maus caminhos.
2. A segunda chance é pessoal
Deus nos ama, conhece-nos e chama-nos pelo nome (Jo 10.3). Tanto é assim que, quando Jesus estendeu a mão a Pedro, dando-lhe uma segunda chance, ele o chamou pelo nome. Jesus enviou um chamado “aos discípulos e a Pedro”.
Note que Jesus não mandou chamar “os discípulos e Simão”. Apesar de Pedro estar vivendo a vida do seu velho homem (Simão), Jesus mandou chamar “a Pedro”. Pedro era o seu novo nome. O Senhor desejava que Pedro ouvisse que ele ainda estava disposto a usar a “Pedra” que estava sendo talhada.
O pecado pode acabar com corações e casas, e ele acaba; ele pode destruir pessoas e planos, e o faz; mas, ao nos quebrantarmos diante de Deus, ao nos arrependermos e nos convertermos dos maus caminhos, o Senhor, com infinita graça, continua nos chamando pelo nome, dando-nos uma segunda chance.
A segunda chance é pessoal.
3. A segunda chance é particular
A graça de Deus, quando nos alcança, dando-nos uma segunda chance, proporciona-nos um atendimento VIP. Lembre-se que uma das primeiras coisas que Jesus fez, ao sair da tumba, ao ressuscitar, foi encontra-se com Pedro em particular:
1Co 15.4-5 | 4 foi sepultado e ressuscitou no terceiro dia, segundo as Escrituras, 5 e apareceu a Pedro e depois aos Doze.
Antes de se encontrar com o restante dos discípulos, Jesus encontrou-se primeiramente com Pedro, em particular (Lc 24.34). Nossas experiências com Deus são pessoais, particulares e intransferíveis. Não são possíveis por causa da fé de alguém em nosso lugar; não veem da tradição nem a igreja; não passam de pai para filho; não vêm de rituais ou de lugares sagrados; não são distribuídas em massa.
O Senhor mandou que dissessem: “Digam aos discípulos e a Pedro”. A segunda chance é uma experiência particular.
4. A segunda chance é promissora
O encontro restaurador transformou a vida de Pedro para sempre: ele se tornou o líder por excelência da Igreja Primitiva do Pentecoste em diante; por onde ele passava, pregava o que tinha visto e ouvido; apanhava, era preso, ameaçado de morte e nem por isso abandonava a sua fé; tudo isso decorrente da segunda chance que Jesus lhe havia dado, por causa de três palavrinhas: “e a Pedro”.
Deus é Deus de segundas chances. Em graça e amor, ao sermos quebrantados, e nos convertermos, Cristo nos vê e nos dá uma segunda chance.
Pode ser que os homens nos vejam arrependidos e não nos dê a mínima chance. O Senhor, porém, quando viu o choro de Pedro e a sua mudança de caminhos, disse: “Não temam… Vão e digam aos discípulos e a Pedro: Ele está indo adiante de vocês para a Galiléia. Lá vocês o verão, como ele lhes disse.” (Mc 16.7)
Talvez nós teríamos dito algo do tipo: “Vão e digam aos discípulos, mas esqueçam-se de Pedro; ele negou a Jesus, ele falhou, ele caiu, ele era muito impulsivo e inconsistente… e agora ele fica por aí chorando… vão, avisem aos discípulos e esqueçam-se de Pedro”.
Graças a Deus que com Cristo não é assim. Sempre há uma segunda chance para quem se arrepende e se converte, e a segunda chance é sempre promissora. Pedro, por exemplo, ficou melhor do que no começo.
Além de Pedro, a segunda chance promissora de Deus pode ser observada na vida de tantos outros homens e mulheres de fé na história da fé. Por exemplo:
Jó sofreu muito e caiu em desespero, mas foi restaurado; ele foi machucado, mas depois foi curado; seu estado final foi bem melhor do que o princípio.
Abraão mentiu, mas depois ficou conhecido como amigo de Deus.
Jonas correu de Deus, mas depois foi alcançado pela graça e usado para que acontecesse o maior avivamento da história da humanidade.
Davi caiu em adultério e planejou uma morte, mas depois se arrependeu e se converteu; Deus, então, fez dele um homem segundo o seu coração.
Tomé, no princípio, duvidou da ressurreição de Jesus; exigiu ver e tocar para crer; mas, depois, conta-nos a tradição que ele foi martirizado na Índia, enquanto lá pregava o evangelho da ressurreição.
Tiago e João, a princípio eram egoístas e disputavam entre si para ver quem seria o primeiro no reino dos céus; mas, no final, um deles morreu como mártir e o outro, do exílio, nos entregou o livro do Apocalipse.
João, a princípio, filho do trovão, mas, no final, o discípulo do amor.
João Marcos, inicialmente, abandonou covardemente o campo missionário, mas depois, encorajado por Barnabé, retornou para abençoar Paulo e, orientado por Pedro, escreveu o Evangelho de Marcos.
Pedro, como vimos, no princípio negou Jesus, mas, em seguida, foi restaurado para se tornar o maior líder da Igreja Primitiva.
Em Cristo todos nós podemos ter uma segunda chance; uma segunda chance promissora; podemos ser muito melhores do que no início. Graças a Deus pela segunda chance.
O contra-ataque da graça
Como você descreveria o seu estado neste momento? Como está a sua vida? O que você fez? Deseja uma segunda chance com Deus ou com alguém?
A segunda chance é possível, basta que você se arrependa e se converta.
A segunda chance é pessoal, pois o Senhor te chama pelo nome, conduzindo você para fora de seus buracos existenciais. Olhe como é bela a descrição que Jesus faz dessa forma pessoal de nos salvar e de nos santificar.
Jo 10.2-4 | 2 Aquele que entra pela porta é o pastor das ovelhas. 3 O porteiro abre-lhe a porta, e as ovelhas ouvem a sua voz. Ele chama as suas ovelhas pelo nome e as leva para fora. 4 Depois de conduzir para fora todas as suas ovelhas, vai adiante delas, e estas o seguem, porque conhecem a sua voz.
A segunda chance é particular, é uma experiência entre você e Deus. Ela é intransferível e não há como alguém tê-la por você. Por isso que o Senhor chama você pelo nome.
A segunda chance é promissora. Deus faz de você alguém muito melhor do que você é hoje ou foi ontem. Além de você ser tratado e melhorado, melhora também os seus relacionamentos, o seu casamento, a forma de você ver a vida, de você trabalhar e de você fazer negócios. Sempre que Deus nos dá segundas chances é para nos fazer mais parecidos com Jesus.
Três aplicações:
Você acha que não consegue?
Realmente! Sozinho ou sozinha será impossível.
É possível pela graça, por meio da fé. Deus é Deus de segundas chances.
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