19.03.2023
[O relato da criação perfeita de Deus; o Deus da aliança; o Deus dos patriarcas; o Deus de Israel criou todas as coisas para a sua glória e comunhão de amor:]
[Gênesis 1.1-31] 1No princípio, Deus criou os céus e a terra.
[Deus passa a explicar como ele efetuou a Criação (Espírito e palavra):]
2A terra era sem forma e vazia, a escuridão cobria as águas profundas, e o Espírito de Deus se movia sobre a superfície das águas. 3Então Deus disse: […]
[Deus, nos três primeiros dias, pelo Espírito e a palavra, deu ordem e forma à criação:]
[Dia 1: luz e trevas] 3Então Deus disse: “Haja luz”, e houve luz. 4E Deus viu que a luz era boa, e separou a luz da escuridão. 5Deus chamou a luz de “dia” e a escuridão de “noite”. A noite passou e veio a manhã, encerrando o primeiro dia.
[Dia 2: atmosfera e hidrosfera] 6Então Deus disse: “Haja um espaço entre as águas, para separar as águas dos céus das águas da terra ”. 7E assim aconteceu. Deus criou [fez] um espaço para separar as águas da terra [atmosfera] das águas dos céus [hidrosfera]. 8Deus chamou o espaço de “céu”. A noite passou e veio a manhã, encerrando o segundo dia.
[Dia 3: habitat e vegetação] 9Então Deus disse: “Juntem-se as águas que estão debaixo do céu num só lugar, para que apareça uma parte seca”. E assim aconteceu. 10Deus chamou a parte seca de “terra” e as águas de “mares”. E Deus viu que isso era bom. 11Então Deus disse: “Produza a terra vegetação: toda espécie de plantas com sementes e árvores que dão frutos com sementes. As sementes produzirão plantas e árvores, cada uma conforme a sua espécie”. E assim aconteceu. 12A terra produziu vegetação: toda espécie de plantas com sementes e árvores que dão frutos com sementes. As sementes produziram plantas e árvores, cada uma conforme a sua espécie. E Deus viu que isso era bom. 13A noite passou e veio a manhã, encerrando o terceiro dia.
[Deus, nos três últimos dias, pelo Espírito e a palavra, tendo dado ordem e forma à criação – luz e trevas; atmosfera e hidrosfera; habitat e vegetação – passou a preencher com harmonia a terra:]
[Dia 1: luz e trevas = Dia 4: sol e lua] 14Então Deus disse: “Haja luzes no céu para separar o dia da noite e marcar as estações, os dias e os anos. 15Que essas luzes brilhem no céu para iluminar a terra”. E assim aconteceu. 16Deus criou [fez] duas grandes luzes: a maior para governar o dia e a menor para governar a noite, e criou [fez] também as estrelas. 17Deus colocou essas luzes no céu para iluminar a terra, 18para governar o dia e a noite e para separar a luz da escuridão. E Deus viu que isso era bom. 19A noite passou e veio a manhã, encerrando o quarto dia.
[Dia 2: atmosfera e hidrosfera = Dia 5: animais aquáticos e aves] 20então Deus disse: “Encham-se as águas de seres vivos, e voem as aves no céu acima da terra”. 21Assim, Deus criou os grandes animais marinhos e todos os seres vivos que se movem em grande número pelas águas, bem como uma grande variedade de aves, cada um conforme a sua espécie. E Deus viu que isso era bom. 22Então Deus os abençoou: “Sejam férteis e multipliquem-se. Que os seres encham os mares e as aves se multipliquem na terra”. 23A noite passou e veio a manhã, encerrando o quinto dia.
[Dia 3: habitat e vegetação = Dia 6: habitat e vegetação] 24Então Deus disse: “Produza a terra grande variedade de animais, cada um conforme a sua espécie: animais domésticos, animais que rastejam pelo chão e animais selvagens”. E assim aconteceu. 25Deus criou [fez] grande variedade de animais selvagens, animais domésticos e animais que rastejam pelo chão, cada um conforme a sua espécie. E Deus viu que isso era bom. 26Então Deus disse: “Façamos o ser humano à nossa imagem; ele será semelhante a nós. Dominará sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos, sobre todos os animais selvagens da terra e sobre os animais que rastejam pelo chão”. 27Assim, Deus criou os seres humanos à sua própria imagem, à imagem de Deus os criou; homem e mulher os criou. 28Então Deus os abençoou e disse: “Sejam férteis e multipliquem-se. Encham e governem a terra. Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que rastejam pelo chão”. 29Então Deus disse: “Vejam! Eu lhes dou todas as plantas com sementes em toda a terra e todas as árvores frutíferas, para que lhes sirvam de alimento. 30E dou todas as plantas verdes como alimento a todos os seres vivos: aos animais selvagens, às aves do céu e aos animais que rastejam pelo chão”. E assim aconteceu. 31Então Deus olhou para tudo que havia feito e viu que era muito bom. A noite passou e veio a manhã, encerrando o sexto dia.
Não é verdade que “O Universo é tudo o que existe, que existiu e que existirá.” Esse tipo de afirmação não é científica. É, antes, uma confissão religiosa. A realidade última de todas as coisas está bem mais corretamente colocada pelo próprio SENHOR Deus que, em Apocalipse 1.8, declarou: “Eu sou o Alfa e o Ômega […] Eu sou aquele que é, que era e que ainda virá, o Todo-poderoso.” Inda mais, este que é o Pai eterno, juntamente com o Filho eterno, pelo mover do Espírito eterno – o Deus triúno e eterno – foi quem criou todas as coisas: Gênesis 1.1-2 — “No princípio, Deus criou os céus e a terra. A terra era sem forma e vazia, a escuridão cobria as águas profundas, e o Espírito de Deus se movia sobre a superfície das águas.”
E antes de todas as coisas existirem, antes da matéria, da energia, do tempo, do espaço, da energia ou da própria vida terrestre, — antes de tudo e de todos, antes de todas as coisas — Deus já existia, desde sempre ele existiu, de eternidade a eternidade ele é Deus (Sl 90.2): Deus triúno, em amorosa e deleitosa comunhão, Pai, Filho e Espírito. E este amor – amor do Pai pelo Filho – foi a motivação para o Criador trazer todas as coisas à existência. Palavras de Richard Sibbes:
Se Deus não contasse com uma bondade comunicativa e contagiante, ele nunca teria criado o mundo. Pai, Filho e Espírito Santo estavam felizes consigo mesmos, e desfrutavam um do outro antes de o mundo existir. Sem o fato de Deus deleitar-se em comunicar e espalhar sua bondade, jamais haveria criação ou redenção. […] A criação foi uma escolha livre [de Deus] corroborada apenas pelo amor.
Michael Reeves complementa esta ideia nestes termos:
Curiosamente, quando Paulo fala do Filho como “primogênito sobre toda a criação’, em Colossenses, ele conecta essa ideia de forma direta ao fato de que o Filho é “a imagem” de Deus. “Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito sobre toda a criação” (CI 1.15). O Filho é a imagem de Deus, manifestando com perfeição como é seu Pai: “Ele é o resplendor da sua glória e a representação exata do seu Ser” (Hb 1.3; v. tb. 2Co 4.4). E, assim, quando vem com glória, “ilumina” e “irradia” de seu Pai, ele nos mostra que o Pai é essencialmente expansivo. Não surpreende que um Deus assim crie. E o fato de sermos então criados à imagem de Deus e destinados à semelhança de Cristo, a Imagem, é apenas a continuação desse movimento expansivo de amor. O Deus que ama ter uma Imagem expansiva de si no Filho ama ter muitas imagens desse amor (que são, elas próprias, expansivas).
Pois bem, esse é o Criador: expansivo em amor.
Semana passada eu disse que faríamos TRÊS DESTAQUES principais: o Criador, a criação e os costumes – a partir de Gênesis 1.
O primeiro destaque – sobre O CRIADOR – nós acabamos de concluir; vimos que o Deus único, triúno, todo-suficiente, verdadeiro, soberano, sábio, amoroso e pessoal, este Deus expansivo em amor é quem está por trás da obra da criação.
Agora destacaremos A CRIAÇÃO, ou seja, a forma como este Deus expansivo em amor criou perfeitas todas as coisas.
Depois, concluindo, verificaremos que OS COSTUMES, isto é, colocaremos em relevo as formas ética e moral de agir do ser humano – verificando que todas se derivam do Deus criador e moralmente perfeito, todas se derivam das ordenanças da criação.
Este Deus, o Criador, quando decidiu que chegara o tempo de materializar a sua história, agiu para criar todas as coisas; é o que temos no relato de Gênesis 1. E Deus criou todas as coisas por dois instrumentos principais: seu Espírito Santo e sua palavra santa.
Gramaticalmente falando, HÁ APENAS UM SUJEITO em todos os 31 versículos deste capítulo: O PRÓPRIO DEUS. Todos os demais são objetos. Os objetos são o resultado direto e recebem a ação direta do sujeito. Luz, ar, firmamento ou céu, água, terra seca, vegetação, sol, lua, estrelas, peixes, pássaros, animais terrestres e o ser humano – tudo e todas as coisas são objetos de um processo criador do qual somente Deus é o sujeito. Nestes versículos nos é dito que Deus “viu” (vs. 4, 10, 12, 18, 21, 25), “separou” (vv. 4, 7), “chamou [ou nomeou, deu nome]” (vs. 5, 8, 10) , “fez” (vs. 7, 16, 25), “estabeleceu [ou colocou]” (v. 17), “criou” (vv. 21, 27), “abençoou” (v. 28) e “explicou [ou disse]” ao homem e à mulher o que ele havia feito (vs. 28-30).
Ainda mais importante: em todo o processo criador, DEUS FALOU — de fato, Deus falou dez vezes (uma vez em cada dia, às vezes mais de uma vez em cada dia) ao longo dos seis dias da criação: “Disse Deus” (vs. 3, 6, 9, 11, 14, 20, 24, 26, 28, 29) — e, COMO RESULTADO DA PALAVRA FALADA DE DEUS, todas as coisas se desenrolaram conforme sua vontade decretada.
NOTE, PORÉM, O SEGUINTE: antes de dizer qualquer palavra, antes de falar, “O ESPÍRITO DE DEUS SE MOVIA SOBRE” (v. 2)… “Então Deus disse… e disse… e disse…”(vs. 3, 6, 9, 11, 14, 20, 24, 26, 28, 29)… e “Desse modo, completou-se a criação dos céus e da terra e de tudo que neles há” (Gn 2.1). Foi, pois, deste modo que aconteceu a criação de todas as coisas; foi assim que aconteceu a obra da criação da humanidade e é assim mesmo que acontece também a obra de regeneração (que é a salvação e a santificação) do pecador; todas elas – a obra da criação e a obra da redenção – seguem o mesmo padrão: amor que transborda e Espírito e Palavra que criam e dão vida e forma, diariamente, progressivamente.
PRIMEIRO, O AMOR DO PAI PELO FILHO SE TRANSBORDA EM AÇÃO no ato de criar todas as coisas e de salvar o pecador — Efésios 1.4 “Mesmo antes de criar o mundo, Deus nos amou e nos escolheu em Cristo para sermos santos e sem culpa diante dele.” — Deus nos amou desse modo para que pudéssemos refletir a imagem de seu Filho eterno, em quem Deus Pai tem tanto prazer (Mt 3.17). Cristo, portanto, é tanto a origem motivadora da criação e da redenção quanto é também o objetivo de toda a criação do mundo e da salvação do pecador — Colossenses 1.15-16 “O Filho é a imagem do Deus invisível e é supremo sobre toda a criação. Pois, por meio dele, todas as coisas foram criadas, tanto nos céus como na terra, todas as coisas que podemos ver e as que não podemos, como os tronos, reinos, governantes e as autoridades do mundo invisível. Tudo foi criado por meio dele e para ele.” — OU SEJA: o amor do Pai pelo Filho transbordou em ação criadora e transborda em ação redentora; e desse modo o SENHOR Deus reparte com os salvos a herança do Filho eterno: Romanos 8.17 — “Se somos seus filhos, então somos seus herdeiros e, portanto, co-herdeiros com Cristo.”
SEGUNDO, A PREPARAÇÃO DO ESPÍRITO E A APLICAÇÃO DIÁRIA DA PALAVRA DE DEUS. Acima de tudo está o amor do Pai pelo Filho que transborda em ato de criação e de salvação. Disso se segue que tanto a criação quanto a salvação são resultantes da ação do Espírito e da Palavra (diariamente aplicada) que criam e dão vida e forma e que também preenchem o vazio. É tanto que o verbo “mover” que é utilizado em Gênesis 1.2 — “A terra era sem forma e vazia, a escuridão cobria as águas profundas, e o Espírito de Deus se movia sobre a superfície das águas.” — é o mesmo verbo que está empregado noutra situação (na criação do povo de Deus) aqui mesmo no Pentateuco (Dt 32.11) – e que nos é bastante elucidativo:
Deuteronômio 32.9-12 9Pois o povo de Israel pertence ao SENHOR; Jacó é sua propriedade especial. 10Encontrou-os numa terra deserta, numa região desolada e de ventos uivantes. Cercou-os e cuidou deles, protegeu-os como a pupila de seus olhos. 11Como a águia que incentiva seus filhotes e paira [move-se = Gn 1.2] sobre a ninhada, ele estendeu as asas para tomá-los e levá-los em segurança sobre suas penas. 12O SENHOR, e mais ninguém, os guiou; nenhum deus estrangeiro os conduziu.
O Espírito cria o mundo (ao lado do Pai e do Filho) e o Espírito também cria o povo de Deus. Outro texto: Salmo 33.6 “O SENHOR falou, e os céus foram criados; pelo sopro [rûach, espírito = Espírito de Deus em Gn 1.2] de sua boca as estrelas nasceram.”
Como o Espírito cria? Qual é o papel do Espírito na criação?
O Espírito capacita (germina; Jeremias 1.2, ARA: “eu velo sobre a minha palavra para a cumprir”) a Palavra, mas ele faz ainda mais: enquanto o Filho estabelece e sustenta todas as coisas (Hb 1.3), o Espírito aperfeiçoa ou completa a obra de criação. Jó 26.13 expressa isso de forma encantadora: “Com seu sopro [rûach, espírito = Espírito de Deus em Gn 1.2], trouxe beleza [clareou] aos céus;”. Em outras palavras, o Espírito clareia, ornamenta e embeleza os céus e a terra [e a vida dos filhos de Deus = fruto do Espírito]. Nossa primeira visão do Espírito em Gênesis 1, semelhante a uma pomba sobrevoando (ou a galinha e a águia pairando sobre a ninhada), captura algo essencial. Como uma pomba chocando seus ovos, o Espírito vivifica, trazendo o que foi criado à vida. E, assim, embora o Credo Niceno (325 d.C.) fale do Pai como o “Criador do céu e da terra”, ele fala do Espírito como “Senhor e Vivificador”.
Michael Reeves escreveu (pág. 59-60) que “vida” é algo que Deus sempre teve e, na criação, é algo que agora ele partilha conosco. Por seu Espírito, ele insufla ou sopra vida em nós. E não apenas no princípio: isso é sempre obra do Espírito, dar vida. No livro de Jó, Eliú disse — em Jó 33.4 — “O Espírito de Deus me criou, o sopro do Todo-poderoso me dá vida.” Continuamente na criação, o Espírito vitaliza e reanima. Ele ama tornar a criação – e suas criaturas – frutíferas. Isaías escreveu assim — em Isaías 32.15 — “até que, por fim, o Espírito seja derramado do céu sobre nós. Então o deserto se tornará campo fértil, e o campo fértil produzirá colheitas fartas.” O salmista ainda cantou — em Salmo 104.30 — “Quando sopras teu fôlego, novos seres são gerados, e renovas a face da terra.” Não é de se admirar, portanto, que a criatividade, a capacidade de manufaturar, adornar e tornar belo, seja dom do Espírito:
Êxodo 31.1-5 1O SENHOR disse a Moisés: 2“Veja, escolhi especificamente Bezalel, filho de Uri e neto de Hur, da tribo de Judá. 3Enchi-o do Espírito de Deus e lhe dei grande sabedoria, habilidade e perícia para trabalhos artísticos de todo tipo. 4Ele é exímio artesão, perito no trabalho com ouro, prata e bronze. 5Tem aptidão para gravar e encravar pedras preciosas e entalhar madeira. É mestre em todo trabalho artístico.
Ou seja: o Espírito vitaliza a criação com beleza e gera vida no pecador. A nossa Confissão de Fé (New Hampshire) traz assim no Artigo 7: Da Graça da Regeneração:
Cremos que, a fim de serem salvos, os pecadores devem ser regenerados, ou nascidos de novo; que a regeneração consiste em dar uma disposição santa à mente; que ela é efetuada de uma maneira acima da nossa compreensão pelo poder do Espírito Santo, em conexão com a verdade divina [isto é: Espírito e Palavra], de maneira a assegurar nossa obediência voluntária ao evangelho; e que sua evidência apropriada aparece nos santos frutos do arrependimento, fé e novidade de vida.
Jesus mesmo fez essa conexão entre Espírito e Palavra de modo inequívoco, veja:
João 6.63-65 63Somente o Espírito dá vida. A natureza humana não realiza coisa alguma. E as palavras que eu lhes disse são espírito e vida. 64Mas alguns de vocês não creem em mim”. Pois Jesus sabia, desde o princípio, quem não acreditava nele e quem iria traí-lo. 65E acrescentou: “Por isso eu disse que ninguém pode vir a mim a menos que o Pai o dê a mim”.
Pois bem: o Universo foi criado e tomou forma pela preparação do Espírito de Deus e a aplicação diária da palavra de Deus; do mesmo modo, o povo de Deus é formado pela preparação do Espírito e a aplicação diária da palavra de Deus. OU SEJA: a ação de Deus pela preparação do Espírito e a aplicação diária de sua palavra revelam a importância da revelação verbal ou proposicional de Deus.
Continua na parte 3…
S.D.G. L.B.Peixoto
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