26.03.2023
[O relato da criação perfeita de Deus; o Deus da aliança; o Deus dos patriarcas; o Deus de Israel criou todas as coisas para a sua glória e comunhão de amor:]
[Gênesis 1.1-31] 1No princípio, Deus criou os céus e a terra.
[Deus passa a explicar como ele efetuou a Criação (Espírito e palavra):]
2A terra era sem forma e vazia, a escuridão cobria as águas profundas, e o Espírito de Deus se movia sobre a superfície das águas. 3Então Deus disse: […]
[Deus, nos três primeiros dias, pelo Espírito e a palavra, deu ordem e forma à criação:]
[Dia 1: luz e trevas] 3Então Deus disse: “Haja luz”, e houve luz. 4E Deus viu que a luz era boa, e separou a luz da escuridão. 5Deus chamou a luz de “dia” e a escuridão de “noite”. A noite passou e veio a manhã, encerrando o primeiro dia.
[Dia 2: atmosfera e hidrosfera] 6Então Deus disse: “Haja um espaço entre as águas, para separar as águas dos céus das águas da terra ”. 7E assim aconteceu. Deus criou [fez] um espaço para separar as águas da terra [atmosfera] das águas dos céus [hidrosfera]. 8Deus chamou o espaço de “céu”. A noite passou e veio a manhã, encerrando o segundo dia.
[Dia 3: habitat e vegetação] 9Então Deus disse: “Juntem-se as águas que estão debaixo do céu num só lugar, para que apareça uma parte seca”. E assim aconteceu. 10Deus chamou a parte seca de “terra” e as águas de “mares”. E Deus viu que isso era bom. 11Então Deus disse: “Produza a terra vegetação: toda espécie de plantas com sementes e árvores que dão frutos com sementes. As sementes produzirão plantas e árvores, cada uma conforme a sua espécie”. E assim aconteceu. 12A terra produziu vegetação: toda espécie de plantas com sementes e árvores que dão frutos com sementes. As sementes produziram plantas e árvores, cada uma conforme a sua espécie. E Deus viu que isso era bom. 13A noite passou e veio a manhã, encerrando o terceiro dia.
[Deus, nos três últimos dias, pelo Espírito e a palavra, tendo dado ordem e forma à criação – luz e trevas; atmosfera e hidrosfera; habitat e vegetação – passou a preencher com harmonia a terra:]
[Dia 1: luz e trevas = Dia 4: sol e lua] 14Então Deus disse: “Haja luzes no céu para separar o dia da noite e marcar as estações, os dias e os anos. 15Que essas luzes brilhem no céu para iluminar a terra”. E assim aconteceu. 16Deus criou [fez] duas grandes luzes: a maior para governar o dia e a menor para governar a noite, e criou [fez] também as estrelas. 17Deus colocou essas luzes no céu para iluminar a terra, 18para governar o dia e a noite e para separar a luz da escuridão. E Deus viu que isso era bom. 19A noite passou e veio a manhã, encerrando o quarto dia.
[Dia 2: atmosfera e hidrosfera = Dia 5: animais aquáticos e aves] 20então Deus disse: “Encham-se as águas de seres vivos, e voem as aves no céu acima da terra”. 21Assim, Deus criou os grandes animais marinhos e todos os seres vivos que se movem em grande número pelas águas, bem como uma grande variedade de aves, cada um conforme a sua espécie. E Deus viu que isso era bom. 22Então Deus os abençoou: “Sejam férteis e multipliquem-se. Que os seres encham os mares e as aves se multipliquem na terra”. 23A noite passou e veio a manhã, encerrando o quinto dia.
[Dia 3: habitat e vegetação = Dia 6: habitat e vegetação] 24Então Deus disse: “Produza a terra grande variedade de animais, cada um conforme a sua espécie: animais domésticos, animais que rastejam pelo chão e animais selvagens”. E assim aconteceu. 25Deus criou [fez] grande variedade de animais selvagens, animais domésticos e animais que rastejam pelo chão, cada um conforme a sua espécie. E Deus viu que isso era bom. 26Então Deus disse: “Façamos o ser humano à nossa imagem; ele será semelhante a nós. Dominará sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos, sobre todos os animais selvagens da terra e sobre os animais que rastejam pelo chão”. 27Assim, Deus criou os seres humanos à sua própria imagem, à imagem de Deus os criou; homem e mulher os criou. 28Então Deus os abençoou e disse: “Sejam férteis e multipliquem-se. Encham e governem a terra. Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que rastejam pelo chão”. 29Então Deus disse: “Vejam! Eu lhes dou todas as plantas com sementes em toda a terra e todas as árvores frutíferas, para que lhes sirvam de alimento. 30E dou todas as plantas verdes como alimento a todos os seres vivos: aos animais selvagens, às aves do céu e aos animais que rastejam pelo chão”. E assim aconteceu. 31Então Deus olhou para tudo que havia feito e viu que era muito bom. A noite passou e veio a manhã, encerrando o sexto dia.
Se “O Universo é tudo o que existe, que existiu e que existirá.”; se esta proposição – que, diga-se de passagem, não é uma afirmação científica, mas uma confissão religiosa – se ela for verdadeira, pergunto: é mesmo possível que vida, que ser vivo se derive de matéria inerte e estática? de onde teria surgido os sentimentos ou as afeições; digo: empatia, simpatia, amor e compaixão, de onde vieram? como se pode diferenciar o certo do errado? há mesmo certo e errado? como e quem define o certo e o errado? o Universo impessoal? ou seria, nas palavras de Leonardo Boff, “a mãe terra”? como assim? Deus é a terra e a terra é Deus? Para alguns, parece que sim. Nas palavra do próprio Boff:
Uma visão cosmológica radical e coerente afirma que o sujeito último de tudo o que ocorre é o próprio universo. É ele que faz emergir os seres, as complexidades, a biodiversidade, a consciência e os conteúdos desta consciência pois somos parte dele. Assim, antes de estar em nossa cabeça como idéia, a realidade de Deus estava no próprio universo.
Você percebeu o quanto a cosmologia bíblica é essencial para a compreensão mais elementar da vida? — Que é cosmologia? Cosmologia é o ramo da ciência que estuda a origem e a composição do Universo. — Sem a compreensão bíblica de como tudo começou, com qual finalidade e, portanto, das implicações de tudo isso para todas as áreas da vida, o ser humano viverá entre extremos: angústia e aniquilação.
Sem a cosmologia bíblica, EM UM EXTREMO, o ser humano não conseguirá enxergar para além do caos deste mundo arruinado (afinal, tudo se resume à matéria e às condições humanas); desse modo, buscará redenção na crítica pura de todos os dogmas ou argumentos, na desconstrução de toda e qualquer instituição ou fundamento, colocando a esperança na ilusão de que desse confronto perpétuo finalmente nascerá algo melhor (ora, mas este processo conflituoso não terá fim, e dele se obterá tao somente a destruição total, a aniquilação humana; pergunte a Nietzche!).
Sem a cosmologia bíblica, NOUTRO EXTREMO, o ser humano perderá a sua individualidade. Por quê? É que se de um lado tudo se resume ao Universo eterno, tudo se resume à matéria eterna (veja: esta é a visão do ateísmo, do materialismo marxista e derivados), do outro lado tudo é Deus, o Universo todo é Deus ou faz parte de Deus (esta é a visão panteísta ou panenteísta: do budismo, das religiões orientais, da nova era e de seus derivados). MAS VEJA BEM: se o Universo é Deus (panteísmo) ou se o Universo está situado no interior de uma divindade primordial (panenteísmo), então Deus não tem personalidade distinta – uma vez que criador e criação se misturam. Deus não é mais imutável, pois à medida que o universo muda, Deus também muda. Além disso, Deus já não é santo, pois o mal do universo também faz parte ou é gerado de Deus. E ainda, tanto a visão de mundo panteísta como a panenteísta acabam negando a importância das personalidades humanas individuais; ou seja: como tudo é Deus, a meta da pessoa deve ser fundir-se com o Universo e unir-se cada vez mais a ele, perdendo assim a sua própria individualidade. Se o próprio Deus não tem identidade pessoal distinta do Universo, então certamente também não devemos nos esforçar por isso. Assim, essa visão de mundo destrói não só a identidade pessoal de Deus, mas também, em última análise, a dos seres humanos; é angustiante.
Entre a negação de Deus para a origem do Universo (entre o ateísmo) e a divinização do Universo mesmo (entre panteísmo e panenteísmo), estão os dois seguintes: primeiro, o dualismo (pano de fundo de Star Wars: dualismo entre trevas e luz, por exemplo), ou seja, tanto Deus (luz) quanto o Universo material (trevas) existem eternamente lado a lado; e sabe-se lá quem vencerá no final; e, segundo, o deísmo (cosmovisão de grandes pensadores da história, dentre os quais: a maioria dos pais fundadores da América do Norte, os filósofos John Locke e Voltaire, e o romancista Victor Hugo, autor de Os Miseráveis); o deísmo é a ideia de que Deus não está envolvido agora na criação; Deus criou tudo, ele é transcendente e possui atributos morais, mas Deus não está hoje envolvido com o Universo ou com a vida das pessoas. Ora, já pensou em você ter que viver assim: entre a dúvida do dualismo e a incapacidade prática de mudança do deísmo?
Contrariando a tudo isso está a cosmologia bíblica: o criacionismo bíblico, que diz que a criação é obra de Deus, distinta e separada de Deus, contudo sempre dependente de Deus (Deus é tanto transcendente: superior, sublime e poderoso quanto imanente: sabiamente ativo e presente, além de amorosamente justo e providente).
Pois bem, em busca de compreender a cosmologia bíblia e suas implicações, semana retrasada eu disse que faríamos TRÊS DESTAQUES principais a partir der Gênesis 1: o Criador, a criação e os costumes.
Sobre O CRIADOR (semana retrasada) nós aprendemos que Deus é único, triúno, todo-suficiente, verdadeiro, soberano, sábio, amoroso e pessoal… este Deus expansivo em amor é quem está por trás da obra da criação.
Sobre A CRIAÇÃO, na semana passada, nós averiguamos a forma como este Deus expansivo em amor criou perfeitas todas as coisas: o Espírito e a Palavra diariamente aplicada, trazendo todas as coisas à existência, dando forma e preenchendo maravilhosamente a Terra.
Hoje, nós abordaremos o último destaque: OS COSTUMES, isto é, colocaremos em relevo as formas ética e moral de agir do ser humano, verificando que todas se derivam ou devem se derivar do Deus criador que é expansivo em amor, e que pelo Espírito e a Palavra criou, deu forma e preencheu todas as coisas… este Deus é moralmente perfeito, e toda a ética e a moral e os costumes se derivam dele, do modo como ele criou todas as coisas e dos fins para os quais ele criou todas as coisas.
Já averiguamos que acima de tudo, antes de o Universo existir está o amor do Pai pelo Filho que transbordou em ato de criação e a ainda transborda em ato de salvação. Disso se seguiu a criação em si e se segue a salvação: são resultantes da ação do Espírito e da Palavra (diariamente aplicada) que criam, que dão vida e que formam e que também preenchem o vazio. Mas deixe-me aprofundar um pouco sobre o valor da palavra de Deus.
Já há algum tempo que tem havido enorme tendência, em alguns círculos teológicos e na prática mesma da igreja: estou falando da mais absurda falta de importância dada às palavras – à palavra escrita, à palavra de Deus, à Bíblia – com base no fato de que o que é realmente importante são os atos, particularmente os atos de Deus na história, e a experiência pessoal do sujeito com Deus. Isto é muito sério.
PRIMEIRO, porque tem implicações sérias para a avaliação que alguém faz da Bíblia, pois em tal esquema as próprias palavras da Bíblia perdem importância e a Bíblia mesma se torna apenas um indicador mais ou menos preciso do que Deus fez historicamente, no passado, noutra cultura, época e realidade histórica e cultural.
SEGUNDO, porque tem implicações também para a vida cristã, uma vez que a ênfase recai apenas sobre o que Deus está fazendo, descartando-se o que Deus revelou nas palavras da Escritura, as quais devem servir para aferirmos tudo e todas as coisas, inclusive o que está acontecendo no presente.
TERCEIRO, porque tem implicações até para a compreensão da história, umas vez que Deus será visto como estando presente apenas onde quer que as coisas estejam “acontecendo”, independentemente de tal acontecimento estar ou não de acordo com a revelação escrita na Bíblia a respeito de sua natureza e da vontade de Deus e de seus propósitos. Veja, por exemplo, o caso do marxismo, do espírito revolucionário e da teologia da libertação (na qual, a fé deixa de ter como fundamento a verdade revelada de Deus na Bíblia para se basear na ação revolucionária). Tome ainda o que se observa em algumas práticas evangélicas contemporâneas: onde tudo se resume às experiências.
O RELATO DA CRIAÇÃO – com a preparação do Espírito e a aplicação diária da palavra de Deus – é uma advertência contra essa abordagem (neo-ortodoxa, experiencial-subjetiva e até a revolucionária) antibíblica e, em última análise, destrutiva.
É verdade que há aqueles que se apegam tanto às discussões inúteis em torno da palavra de Deus que os impedem de realmente se relacionarem com o Deus que se revelou na Bíblia. Mas este é um erro muito menos comum em nossos dias (ainda que perigoso). Há, entretanto, muito mais riscos em se liberar a si mesmo da revelação verbal ou proposicional da palavra de Deus do que em se plantar a vida na Bíblia e pelo Espírito se deixar ser guiado por ela; afinal, como já dito noutra mensagem, foi Jesus mesmo quem disse — em João 6.63 — “Somente o Espírito dá vida. A natureza humana não realiza coisa alguma. E as palavras que eu lhes disse são espírito e vida.”
PORTANTO, O QUE VEIO PRIMEIRO, A PALAVRA OU A AÇÃO? Muitos hoje dirão: “A ação.”; “A experiência.”; “A revolução.” Mas isso é uma distorção total, como demonstra o relato mesmo da criação em Gênesis. Os atos de Deus são de grande importância, e a história da criação está cheia deles.
OUTRA COISA: apesar de não ser definidora, nossa experiência pessoal é realmente importante. Mas é errado dizer que a ação (a experiência) vem primeiro. Em vez disso, a palavra vem primeiro – a palavra de Deus, a palavra de Deus ungida pelo Espírito de Deus – seguida pela ação, que é seguida por uma revelação adicional em palavras verbais ou proposicionais para se interpretar espiritualmente a ação (ou a experiência). Isso significa que uma ênfase sincera na palavra de Deus é bíblica e obrigatória, caso se deseje apreciar os atos de Deus tanto na história universal como na sua história pessoal ou na sua experiência com Deus.
Esse Deus que cria – pelo Espírito e a palavra –, que faz todas as coisas e que também salva o pecador, é triúno – Pai, Filho e Espírito. Já afirmamos isto desde o início, mas de onde se conclui isto à partir da Bíblia? Isto fica claro já na narrativa de Gênesis 1.
O primeiro nome dado a Deus em toda a Bíblia já aparece no primeiro versículo: Gênesis 1.1 — “No princípio, Deus”. “Deus” é Elohim, no hebraico. Este substantivo é plural. Só que é usado como se fosse singular – isto é, com verbos singulares e (geralmente) com pronomes também singulares se referindo a ele – para indicar que existe apenas UM Deus. Mas o fato de ser plural sugere que existem dimensões plurais no ser de Deus. É verdade que isto em si não ensina a doutrina da Trindade. Até porque o plural pode ser usado para se destacar grandeza e poder na língua hebraica.
No entanto, com base na revelação posterior, particularmente no Novo Testamento, estamos no caminho certo quando em Elohim (Gn 1.1) nós enxergamos uma preparação para a revelação mais completa da trindade divina. Em João 1, por exemplo, nós temos uma referência a Gênesis 1 que diz — em João 1.1-3 — “No princípio, aquele que é a Palavra já existia. A Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus. Ele existia no princípio com Deus. Por meio dele Deus criou todas as coisas, e sem ele nada foi criado.”
A “Palavra”, à qual João se refere, é o próprio Jesus, como ele deixará claro adiante, escrevendo o seguinte — em João 1.14 — “Assim, a Palavra se tornou ser humano, carne e osso, e habitou entre nós. Ele era cheio de graça e verdade. E vimos sua glória, a glória do Filho único do Pai.” Ora, João está dizendo que Jesus estava com o Pai e agia com Pai na obra original da criação. O autor de Provérbios também disse a mesma coisa, quando descreveu a sabedoria, a qual no Novo Testamento se personificou em Cristo:
Provérbios 8.27-31 27Eu estava lá quando ele estabeleceu o céu, quando traçou o horizonte sobre os oceanos. 28Estava lá quando ele pôs as nuvens no alto, quando estabeleceu fontes nas profundezas da terra. 29Estava lá quando ele determinou os limites do mar, para que não avançasse além de suas divisas. E, quando ele demarcou os alicerces da terra, 30eu estava ao seu lado como arquiteta. Eu era sua alegria constante, sempre exultando em sua presença. 31Como me alegrei com o mundo que ele criou! Como exultei com a humanidade!
DE VOLTA À GÊNESIS. Criando todas as coisas, além do Pai e do Filho, havia também “o Espírito de Deus [que] se movia sobre a superfície das águas” (Gn 1.1). Some-se a isto o seguinte: em Gênesis 1.26 nós lemos Deus dizendo: “Façamos o ser humano à nossa imagem; ele será semelhante a nós.” — uma das ocasiões na qual verbo (façamos) e pronome (nós) não ocorrem no singular, mas no plural. Ainda: em Gênesis 3.22 nós lemos o seguinte: “Então o SENHOR Deus disse: “Vejam, agora os seres humanos se tornaram semelhantes a nós”.
ISSO TUDO É MUITO SIGNIFICATIVO, porque, quando reconhecemos que as três pessoas da Trindade já estão aqui no início da criação, tendo existido antes do Universo, então – como já foi demonstrado – os elementos que se associam à Trindade divina – i.e., amor, personalidade, comunhão e comunicação, bondade e moralidade – são vistos como elementos eternos e de valor eterno – os quais a nós nos chegam da parte de Deus, o Criador. Esta é a resposta bíblica ao medo do ser humano de se perder em um universo impessoal e sem amor. “O Universo (NÃO) é tudo o que existe, que existiu e que existirá.” Deus é – Pai, Filho e Espírito Santo: amor, graça e comunhão (2Co 13.14).
Deus é um Deus de ordem, não de caos. Ele é um Deus de propósito, não de acaso. Segue-se que também devemos ser criaturas de ordem e de propósito. Isto é, em vez de tentar destruir ou desconstruir, como faz Satanás, devemos tentar construir de acordo com o padrão que Deus dá nas Escrituras. Dias 1-2-3, preparação e dias 4-5-6, preenchimento, tudo com ordem e propósito — como nós já vimos em mensagem passada. Primeiro, a luz; depois, a dimensão; e, por fim, o chão (dias 1-2-3). Somente depois vieram os luminares (sol e lua para iluminarem e marcarem as estações), as plantas e os animais, e, por fim, o ser humano (dias 4-5-6). Enfim, um Deus de ordem e de propósito. E tudo realizado pelo mover do Espírito e aplicação diária da palavra de Deus.
MAS TEM MAIS: um Deus de bondade e de pronunciamento moral.
Isto se vê na frase repetida “Deus viu que isso era bom” (vs. 4, 10, 12, 18, 21, 25); e também no versículo 31: “Então Deus olhou para tudo que havia feito e viu que era muito bom.” Esse pronunciamento de Deus não foi feito apenas porque se podia apontar para um objeto e dizer de modo pragmático: “Essa coisa é útil para o homem e, portanto, boa para o homem”. O pronunciamento de Deus sobre a bondade da criação veio antes mesmo de sermos criados. O pronunciamento foi feito porque o objeto é bom em si mesmo. Como diz Francis Schaeffer, isto significa que uma árvore não é boa apenas porque podemos cortá-la e fazer dela uma casa ou um móvel ou porque podemos queimá-la para aquecer ou cozinhar ou porque ela nos dá sombra e realiza a fotossíntese. A árvore é boa porque Deus a criou e a declarou boa. “Deus viu que isso era bom” porque tudo na criação está de acordo com a natureza e o propósito de Deus. Schaeffer escreveu o seguinte sobre essa bênção divina:
Este não é um julgamento relativo, mas um julgamento do Deus santo que tem caráter e cujo caráter é a lei do universo. Sua conclusão [de Deus]: Cada passo e cada esfera da criação, e tudo junto – o próprio homem e seu meio ambiente como um todo, os céus e a terra – se ajustam a mim mesmo. E por isso é bom, muito bom.
Não é apenas em seu estado primitivo, isto é, antes da queda do homem que a terra e tudo o que nela há são considerados bons. A bênção inicial de Deus registrada em Gênesis 1 é repetida posteriormente, mesmo após a queda. Por exemplo, é repetida na aliança de Deus estabelecida com a raça humana na época de Noé (Gn 9.9-10, 13). Da mesma forma, em Romanos 8 há uma expressão singular a respeito do valor da criação – no fato de que Deus a incluiu em sua promessa de libertação futura, pela qual tanto a criação quanto a raça humana tanto anseiam: “na esperança de que, com os filhos de Deus, a criação seja gloriosamente liberta da decadência que a escraviza.” (Rm 8.21).
O valor da criação, declarado boa por Deus, leva-nos a uma conclusão natural: se Deus acha o universo bom, tanto em suas partes como no todo –, então devemos também achá-lo bom. Isto não significa que nos recusaremos a ver que a natureza foi maculada pelo pecado. De fato, os versículos de Gênesis 9 e de Romanos 8 são inexplicáveis, exceto pela percepção de que a natureza sofreu também com o resultado da queda do homem no pecado (em Gênesis 3). A criação, além da maldade do homem, está também marcada pelo pecado: há espinhos, ervas daninhas, doenças e catástrofes naturais. Mas mesmo em seu estado de decadência a criação tem valor, assim como o homem caído também tem valor. E no final, pela obra de Cristo, o Deus Criador restaurará a ambos: criação e crentes em Jesus.
Propusemo-nos até aqui a contemplar O CRIADOR, o próprio Deus – o Deus único, trino – Pai, Filho e Espírito –, todo-suficiente, verdadeiro, soberano, sábio, amoroso e pessoal –, este que está por trás da obra da criação. Também aprendemos sobre A CRIAÇÃO, sobre a forma como esse Deus – Pai e Filho, pelo Espírito e a Palavra – criou perfeitas todas as coisas. Resta-nos, para fins de aplicação, extrair o que se aprende – de modo prático – para a nossa vida, isto é: OS COSTUMES que do Criador e do modo da criação se derivam; trocando em miúdos: quais são as implicações na maneira como devemos nos relacionar com Deus, o Criador, e também com a sua criação inanimada e animada: céu, terra, vegetais, animais e seres humanos.
PRIMEIRO, ADORAÇÃO. O Criador e a criação nos incitam ao louvor, o louvor ao Criador. Tudo, nos céus e na terra, servem ao propósito de revelar a glória de Deus, o Criador. É isto o que Davi diz no seu salmo: Salmos 19.1 — “Os céus proclamam a glória de Deus; o firmamento demonstra a habilidade de suas mãos.” É isto também que Paulo declarou aos romanos (em Romanos 1.20): por meio de tudo que Deus fez desde a criação do mundo, todos podem perceber claramente seus atributos invisíveis: seu poder eterno e sua natureza divina. Foi por isso que Francis Schaeffer, perspicaz como de costume, afirmou que nosso louvor a Deus não nasce primeiramente de nossa doutrina da salvação (nossa soteriologia), mas de nossa doutrina da criação. Realmente: isto se demonstra em uma sequência bastante didática nos hinos de louvor registrados em Apocalipse 4 e 5. Em Apocalipse 5 se acham três hinos de louvor a Cristo pela sua obra de salvação (Ap 5.9-10, 12 e 13-14). Todavia, antes de se celebrar a obra de redenção realizada pelo Filho Jesus Cristo, há um hino tremendo no capítulo anterior, louvando a Deus Pai pelas obras da criação: Apocalipse 4.11 — “Tu és digno, ó Senhor e nosso Deus, de receber glória, honra e poder. Pois criaste todas as coisas, e elas existem porque as criaste segundo a tua vontade”. Portanto, a primeira lição é esta: é costume do povo de Deus adorar seu Criador pelo que ele é, fez e fará na criação.
SEGUNDO, INSTRUÇÃO. A obra da criação de Deus, além de nos incitar o louvor ao Criador, serve ao propósito de nos assegurar o cuidado amoroso de Deus pelas suas criaturas, sobretudo seus filhos, os redimidos em Jesus Cristo. Por exemplo: quando se lê o relato de Gênesis, depara-se com a seguinte expressão (repetida sete vezes!): “E Deus viu que era bom” (vs. 4, 10, 12, 18, 18, 21, 25, 31). Ora, como já visto, era bom por ser expressão da vontade e do caráter perfeito de Deus estampados na obra criada; e, consequentemente, era bom também para o homem. Ou seja: Deus cuida de “ver” e “fazer” o que é bom para suas criaturas – bondade é algo que flui do ser de Deus, em toda a criação. Mas ele cuida de modo ainda mais especial de seus filhos (os que foram lavados pelo sangue do Cordeiro); e a obra da criação nos aponta para esta bondade, a obra da criação nos instrui sobre a bondade, o amor e o cuidado de Deus: Mateus 6.26 — “Observem os pássaros. Eles não plantam nem colhem, nem guardam alimento em celeiros, pois seu Pai celestial os alimenta.” Depois, Mateus 6.28 — “Observem como crescem os lírios do campo.” Por quê? Ora, vejam como “Deus veste com tamanha beleza as flores silvestres” (Mt 6.30). E o que se aprende da provisão de Deus para os pássaros na natureza e da beleza das flores? Ora, se Deus alimenta as aves, “Acaso vocês não são muito mais valiosos que os pássaros?” (Mt 6.26). E ainda:
Mateus 6.30-34 30E, se Deus veste com tamanha beleza as flores silvestres que hoje estão aqui e amanhã são lançadas ao fogo, não será muito mais generoso com vocês, gente de pequena fé? 31“Portanto, não se preocupem, dizendo: ‘O que vamos comer? O que vamos beber? O que vamos vestir?’. 32Essas coisas ocupam o pensamento dos pagãos, mas seu Pai celestial já sabe do que vocês precisam. 33Busquem, em primeiro lugar, o reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão dadas. 34“Portanto, não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã trará suas próprias inquietações. Bastam para hoje os problemas deste dia.”
TERCEIRO, RECREAÇÃO. Falaremos mais sobre recreação quando formos estudar o sétimo dia, o dia do descanso (Gn 2.1-3). Cabe aqui apenas dizer o seguinte: temos que aprender a nos deliciar com a criação de Deus. Essa atitude está intimamente relacionada à adoração e à instrução, mas a recreação, o deliciar-se na obra da criação dá um passo além desses dois. É um passo que muitos cristãos nunca deram. Frequentemente, os cristãos consideram a natureza – a obra da criação – apenas como uma das provas clássicas da existência de Deus. Mas, em vez disso, o cristão deve realmente gostar do que vê – e se deliciar, e criar, e se regozijar, e pintar, e escrever, e criar obras de arte, e construir casas e coisas bonitas, etc. A criatura, sobretudo o crente em Cristo, deve apreciar a beleza da criação e reproduzi-la em tudo o que faz. Ele deve exultar na criação ainda mais do que o não-cristão, porque no caso do cristão há o conhecimento correspondente do Deus que está por trás de toda a criação que reflete a glória do Criador.
Adoração… Instrução… e Recreação.
HÁ MAIS O QUE SE APRENDER em termos de costumes derivados do conhecimento da pessoa do Criador e de sua forma de criar e sustentar todas as coisas. Por exemplo, há de se falar do CUIDADO que se deve ter com a criação e das LEIS ou das ORDENANÇAS que se derivam do conhecimento de Deus e da obra criada revelados aqui em Gênesis 1 e 2.
O relato da criação em Gênesis estabelece o fundamento para a lei de Deus. Veja, por exemplo, o resumo da lei moral de Deus nos Dez Mandamentos.
PRIMEIRO MANDAMENTO: “Não terás outros deuses”. Se há um só Deus, o Criador do Universo, o Criador de todas as coisas, incluindo aquelas coisas diante das quais os pagãos se curvam para adorar, quão tolo (e pecaminoso) será ter outros deuses além do SENHOR.
SEGUNDO MANDAMENTO: “Não farás para ti imagem”. Se Deus fez homem e mulher à sua imagem para representá-lo na terra, quão tolo (e pecaminoso) será fazer uma imagem de Deus para ser adorada.
TERCEIRO MANDAMENTO: “Não tomará o nome de Deus em vão”. Se o nome é o modo pelo qual a glória de Deus se faz ser conhecida: a auto-revelação de Deus, e se este Deus se revela de modo tão sublimena sua criação — I.e., amoroso, poderoso, sábio, ordeiro, — quão pecaminoso será profanar ou blasfemar o caráter deste Deus.
QUARTO MANDAMENTO: “Lembra-te do dia de sábado”. Se o próprio Deus descansou no sétimo dia e o santificou, não deveria o povo de Deus que procura agradá-lo também observar um dia especial para se adorar o Criador e desfrutar de seu descanso em Cristo?
QUINTO MANDAMENTO: “Honra teu pai e tua mãe”. Como resultado do respeito pela dignidade e pelo valor de Deus, nosso Criador e Pai celestial, e em vista da honra devida ao seu nome, somos movidos a nos submeter àqueles a quem ele colocou sobre nós num relacionamento familiar: Gênesis 1.28 “Sejam férteis e multipliquem-se. Encham e governem a terra.”
SEXTO MANDAMENTO: “Não matarás”. Criado à imagem e semelhança de Deus, como poderá o homem matar o seu semelhante, que é à imagem e semelhança de Deus. Seria um ataque direto à imagem de Deus no homem.
SÉTIMO MANDAMENTO: “Não adulterarás.” Se fora ordenado ao homem, em Gênesis 2.24, deixar pai e mãe e se unir à sua mulher, quando os dois se tornam um só, quão pecaminoso será quebrar esta aliança.
OITAVO MANDAMENTO: “Não furtarás”. Se na ordem da criação se verifica a ação trabalhadora de Deus e ele próprio se deleitando nos frutos de seu trabalho, será sempre pecaminoso furtar do outro seus frutos ou mesmo adquirir para si qualquer coisa que não seja por meio do suor do trabalho.
NONO MANDAMENTO: “Não dirás falso testemunho contra o teu irmão”. Como se poderá mentir contra o próximo criado à imagem e semelhança de Deus? Como se poderá destruir a reputação do próximo, espelho da imagem de Deus?
DÉCIMO MANDAMENTO: “Não cobiçarás”. Se o Criador deu para comer e para desfrutar tanto ao primeiro casal como aos animais de todas as árvores e plantas do jardim, se Deus mesmo criou e adornou tudo de modo tão perfeito e deu a homem será sempre pecado ir além do que nos chega como provisão de Deus.
HOJE, TERMINO POR AQUI, chamando você a conhecer o Criador na face de Cristo; convido você a se entregar a Cristo com arrependimento e fé; depois disso, adorá-lo como Redentor e também como Criador; aprender dele, de Cristo e da obra que ele criou: ele é manso e humilde; ele é amoroso e cuidadoso; ele vê e sabe o que é bom para você; convido você para também se recrear com Deus, na sua salvação e na contemplação da criação maravilhosa do SENHOR.
S.D.G. L.B.Peixoto
Mais episódios da série
Gênesis - O Livro das Origens
Mais episódios da série Gênesis - O Livro das Origens
Mais Sermões
13 de julho, 2016
16 de setembro, 2018
6 de junho, 2018
30 de dezembro, 2018
Mais Séries
O Criador, a Criação e os Costumes – Parte 3
Pr. Leandro B. Peixoto