09.10.2016
O CRISTÃO EVANGÉLICO
Apocalipse 1.9-11
9 Eu, João, irmão e companheiro de vocês no sofrimento, no Reino e na perseverança em Jesus, estava na ilha de Patmos por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus. 10 No dia do Senhor achei-me no Espírito e ouvi por trás de mim uma voz forte, como de trombeta, 11 que dizia: “Escreva num livro o que você vê e envie a estas sete igrejas: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia.”
Evangélicos não praticantes
O Censo demográfico promovido pelo IBGE em 2010 revelou um fato sobre a religiosidade brasileira, para mim, preocupante: católicos serão ultrapassados por evangélicos até 2040. A revista ISTO É (edição no 2180, 19/Agosto/2011) abordou este fenômeno, que ela mesma chamou de secularização, da seguinte maneira:
Acaba de nascer no País uma nova categoria religiosa, a dos evangélicos não praticantes. São os fiéis que creem, mas não pertencem a nenhuma denominação. O surgimento dela já era aguardado, uma vez que os católicos, ainda maioria, perdem espaço a cada ano para o conglomerado formado por protestantes históricos, pentecostais e neopentecostais. Sendo assim, é cada vez maior o número de brasileiros que nascem em berço evangélico – e, como muitos católicos, não praticam sua fé. Dados da Pesquisa… revelaram… que evangélicos de origem que não mantêm vínculos com a crença saltaram, em seis anos, de insignificantes 0,7% para 2,9%. Em números absolutos, são quatro milhões de brasileiros a mais nessa condição…
Isso só é possível porque o universo espiritual está tomado por gente que constrói a sua fé sem seguir a cartilha de uma denominação. Se outrora o padre ou o pastor produziam sentido à vida das pessoas de muitas comunidades, atualmente celebridades, empresários e esportistas, só para citar três exemplos, dividem esse espaço com essas lideranças. Assim, muitas vezes, os fiéis interpretam a sua trajetória e o mundo que os cerca de uma maneira pessoal, sem se valer da orientação religiosa [conteúdos bíblicos e teológicos].
Preocupante e muito triste! Você percebeu? Milhares dos que hoje dizem ser tementes a Deus e professantes da fé evangélica parecem não se importar com o conteúdo bíblico. Essas pessoas são guiadas pelas emoções e seus gostos pessoais, além, é claro, de seus ídolos gospels. Elas não batalham mais pela fé [que] uma vez por todas foi confiada aos santos (Jd 3). Quão diferente são essas pessoas do autor e dos primeiros leitores do Apocalipse!
Evangélico praticante
Com isso em mente, veja de novo Ap 1.9, que diz:
Eu, João, irmão e companheiro de vocês no sofrimento, no Reino e na perseverança em Jesus, estava na ilha de Patmos por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus.
João deixa claro porque ele foi enviado para Patmos. Ele não estava lá fazendo turismo nem em busca de novas experiências espirituais. O apóstolo estava na ilha de Patmos por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus. Em outras palavras, João era um homem de convicção bíblica, que não guardava apenas para si a verdade das Escrituras. Em sua primeira carta ele escreveu o seguinte:
1Jo 1.1-4 | 1 O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e as nossas mãos apalparam – isto proclamamos a respeito da Palavra da vida. 2 A vida se manifestou; nós a vimos e dela testemunhamos, e proclamamos a vocês a vida eterna, que estava com o Pai e nos foi manifestada. 3 Nós lhes proclamamos o que vimos e ouvimos para que vocês também tenham comunhão conosco. Nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo. 4 Escrevemos estas coisas para que a nossa alegria seja completa.
Evangélico praticante é alguém assim, como João. Tem convicção e compartilha a qualquer custo a verdade das Escrituras, visando que as pessoas encontrem (através de suas palavras e posturas) a alegria verdadeira de Jesus Cristo. Paulo também compartilhava deste pensamento. O apóstolo aos gentios entendia que ser evangélico é cooperar com as pessoas para que elas tenham alegria, pois é pela fé que nós permanecemos firmes (2Co 1.24; veja também Fl 1.15).
“Eu, João”
Após introduzir a mensagem do Apocalipse (1.1-8), João se preocupou em apresentar informações sobre si mesmo (1.9-11), fato que ele omitiu na abertura do livro (Ap 1.1,4).
Geralmente, os autores do Novo Testamento fazem suas apresentações pessoais logo nos primeiros versículos de suas obras. João, porém, só se apresenta com maiores detalhes aos seus leitores nove versículos adiante. É o estilo adotado para esta carta apocalíptica.
Se Apocalipse é uma carta pastoral, que visa encorajamento, nada como o autor, após apresentar resumidamente o teor de sua mensagem, colocar-se, a seguir, como exemplo de perseverança para os seus leitores. Assim, por apenas alguns instantes, João entende ser importante tomar o centro das atenções no Apocalipse. “Eu, João…” (Ap 1.9). Ele não quer confetes, não pretende tomar o lugar de Cristo. Tão somente almeja demonstrar, através de seu exemplo, como um evangélico praticante deve ser e agir no mundo.
Ao se colocar como exemplo de perseverança, João nos revela três aspectos fundamentais para os cristãos evangélicos de todos os tempos: a identidade; a incumbência; e a inspiração do cristão evangélico.
1. A identidade do cristão evangélico (Ap 1.9)
Quem é o cristão? Como ele deve se portar em casa, na igreja e no mundo? Em apenas um verso, João revela aspectos impressionantes e indispensáveis para a identidade de qualquer cristão evangélico. Veja:
Ap 1.9 | Eu, João, irmão e companheiro de vocês no sofrimento, no Reino e na perseverança em Jesus, estava na ilha de Patmos por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus.
Permitam-me fazer quatro observações sobre a identidade de João que muito poderá nos servir na hora de definirmos a nossa identidade cristã evangélica. Estamos falando de simplicidade, simpatia, sofrimento e serviço.
Observe…
1.1. Simplicidade
Esse homem que simplesmente se apresenta como: “Eu, João” (Ap 1.9) não é outro, senão o grande apóstolo João. É o autor do quarto evangelho e das três cartas que levam o seu nome. É o mesmo que esteve presente com Cristo no monte da transfiguração (Mt 17), que viu em primeira mão dezenas dos milagres realizados pelo Senhor, que se reclinou no ombro de Jesus na última ceia (Jo 13.23), que era reconhecido como “o discípulo a quem Jesus amava” (Jo 12.23; 19.26; 20.2; 21.7; 21.20) e que recebeu do próprio Jesus a responsabilidade de cuidar de Maria, a mãe do Senhor (Jo 19.25-27).
No entanto, quando ele se apresenta aos leitores do Apocalipse, pronto para revelar-lhes todas as maravilhas que o próprio Deus o fez ver, ele diz de si mesmo simplesmente o seguinte: “Eu, João”. É como se ele estivesse maravilhado de que Deus falasse daquela forma com ele e através dele. Sim, João é um homem especial, mas muito simples.
As experiências que temos com o Senhor, o conhecimento que dele nós adquirimos e os privilégios que por causa dele nós desfrutamos devem nos tornar a cada dia pessoas mais simples e cheias de amor (1Co 13.1-3), pois é pura graça tudo o que recebemos de Deus.
O mundo precisa de homens e mulheres cheios de experiências com Deus, inundados de conhecimento bíblico, plenamente satisfeitos de tantos privilégios, mas que sejam simples, gente com cara de gente, que dizem de si mesma simplesmente: “Eu, João”.
1.2. Simpatia
Outra qualidade impressionante na identidade de João é a sua simpatia. Aurélio diz que simpatia é a “tendência ou inclinação que reúne duas ou mais pessoas”. A pessoa simpática busca unir-se aos outros, trazer os outros, ir aos outros; procura estreitar laços, compartilhar valores e repartir alegrias. João era assim: simpático.
Realmente, João era o grande apóstolo João, mas ele se via apenas como “Eu, João, irmão… de vocês” (Ap 1.9). Que simpatia! Que bênção de homem! Apesar de ser o último dos apóstolos a estar vivo, contando aproximadamente 90 anos de idade, e bem mais experiente que os seus leitores, João se identifica com eles apenas como um “irmão”.
Além de simples, o cristão evangélico precisa ser simpático. Simpático com todos. Próximo de todos. Amigável. Amável. Alegre. Agora, só consegue ser simples e simpático quem compreende o papel da graça de Deus em sua vida. Paulo disse assim:
1Co 15.9-10 | 9 Pois sou o menor dos apóstolos e nem sequer mereço ser chamado apóstolo, porque persegui a igreja de Deus. 10 Mas, pela graça de Deus, sou o que sou, e sua graça para comigo não foi inútil; antes, trabalhei mais do que todos eles; contudo, não eu, mas a graça de Deus comigo.
É impressionante como alguns cristão são antipáticos. Eles não entendem o que um dia eles foram e que se não fosse pela graça de Deus eles continuariam repulsivos aos olhos de Deus; não reconhecem que tudo o que um dia eles fizeram e ainda farão é fruto da graça de Deus, mesmo que tenham trabalhado mais do que todo mundo.
Seja simples e seja simpático. Beba da graça de Deus dia-a-dia.
1.3. Sofrimento
João também se identifica como um “companheiro no sofrimento” (Ap 1.9). Ele, assim como os seus leitores, sabia o que era gemer sob as chicotadas das autoridades romanas, pela morte de uma pessoa amada, com a confiscação de todas as suas propriedades.
A Bíblia não ensina que devemos buscar o sofrimento, mas ela deixa claro que sempre que buscarmos viver piedosamente nós sofreremos perseguições (2Tm 3.12). Há também o tipo de sofrimento que é fruto de nossos erros e desacertos, mas o cristão sofrerá muito todas as vezes que buscar em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça (1Pe 2.20).
A verdade, por mais indigesta que ela seja, é que o quinhão do povo de Deus nesta era será sempre o sofrimento. Ouçam o que dizem Jesus e os apóstolos:
Jo 16.33 | Eu [Jesus] lhes disse essas coisas para que em mim vocês tenham paz. Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo.
At 14.22 | [Paulo e Barnabé fortaleceram] os discípulos encorajando-os a permanecer na fé, dizendo: “É necessário que passemos por muitas tribulações para entrarmos no Reino de Deus.”
Contrário do que alguns pregam e buscam viver, a piedade é o passaporte para o sofrimento. O mundo não tolera a luz dos cristãos.
1.4. Serviço
Quando João usa a frase: “companheiro de vocês no sofrimento, no Reino e na perseverança em Jesus” (Ap 1.9), ele está usando uma linguagem que o identifica como um daqueles que aguardam a segunda vinda de Jesus Cristo. 1 “Reino” descreve a nossa obra aqui na terra. 2 “Perseverança” descreve o nosso estado de espírito enquanto servimos. 3 “Sofrimento” descreve o preço que pagamos no serviço do Rei.
Ao servirmos, somos perseguidos e sofremos. A tentação será sempre a de correr e desistir. João, porém, nos ensina que devemos perseverar em meio ao sofrimento, enquanto servimos no reino, aguardando o retorno do Rei. Fazendo sua observação à Igreja de Esmirna, João disse algo que serve muito para nós nestes dias:
Ap 2.10 | Não tenha medo do que você está prestes a sofrer. O Diabo lançará alguns de vocês na prisão para prová-los, e vocês sofrerão perseguição durante dez dias. Seja fiel até a morte, e eu lhe darei a coroa da vida.
Deus nos criou e nos salvou para servirmos, visando a sua glória:
Ef 2.10 | Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou antes para nós as praticarmos.
João, portanto, revela-nos que cristãos evangélicos devem ser simples, simpáticos e servos, mesmo sob muito sofrimento. A esta altura de sua vida, em vez de desfrutar do sossego de sua aposentadoria e de gozar de todos os privilégios de um ancião, João “estava na ilha de Patmos por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus” (Ap 1.9).
Impressionante que todo o sucesso como apóstolo e todo o sofrimento como cristão não fizeram de João um homem soberbo, mas simples; nem o transformaram numa pessoa seca, mas simpática; muito menos num indivíduo sossegado, mas servo. Em Patmos: 1 João esteve aberto para as revelações de Deus (viu e ouviu revelações); 2 foi obediente ao chamado de Deus (escreveu); e 3 foi criativo e produtivo no serviço de Deus (deixou para a posteridade um documento de valor incalculável.
Que a identidade deste apóstolo velhinho nos ensine a viver como deve realmente viver um cristão evangélico: com simplicidade e simpatia, servindo sempre, apesar de todo sofrimento.
2. A incumbência de um cristão evangélico (Ap 1.10)
Tendo aprendido sobre a identidade, vejamos agora o que João nos ensina sobre a incumbência de um cristão evangélico.
Aos 90 anos de idade, João estava em Patmos, mas ele não estava no Patmos Park Hotel. Estava numa caverna. Não estava a passeio. Estava exilado por causa de sua fé, sendo forçado a trabalhar como escravo. Note, porém, o que João diz estar fazendo em meio à todo aquele sofrimento:
Ap 1.10 | No dia do Senhor achei-me no Espírito e ouvi por trás de mim uma voz forte, como de trombeta,
Nada fez com que João deixasse de ser o que todo cristão evangélico deve realmente ser: um adorador.
João adora com perseverança – em meio ao sofrimento.
João adora com disciplina – “no dia do Senhor” (domingo).
João adora com paixão e conforme a Bíblia – “no Espírito”.
Sabe onde a expressão “no Espírito” aparece de novo nos escritos de João? É impressionante! Observe… abra em João 4…
Jo 4.23-24 | 23 No entanto, está chegando a hora, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade. São estes os adoradores que o Pai procura. 24 Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade”.
João nos informa que ele está adorando como Jesus disse que deveria ser: “em/no espírito”. Se João não pode ir a igreja, ele se torna igreja onde está e adora. Que lição!
A incumbência de um cristão evangélico é viver para adorar a Deus em toda e qualquer circunstância. Adorar com disciplina. Adorar em espírito e em verdade. São estes os adoradores que Deus procura.
3. A inspiração de um cristão evangélico (Ap 1.10-11)
Tendo falado da identidade e da incumbência, João descreverá os dois ingredientes que o mantiveram inspirado, motivado e cheio de esperança, enquanto estava preso naquela pequena ilha vulcânica no Mar Egeu, com pouco mais de 30km2, a 55km da costa sudoeste da atual Turquia (hoje com aproximadamente 3 mil habitantes).
João não se inspirou nas circunstâncias, nas pessoas, no lugar e muito menos nas coisas que a ilha poderia lhe oferecer. João se inspirou na voz de Deus e na vocação recebida:
Ap 1.10-11 | 10 No dia do Senhor achei-me no Espírito e ouvi por trás de mim uma voz forte, como de trombeta, 11 que dizia: “Escreva num livro o que você vê e envie a estas sete igrejas: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia.”
Que lição para nós cristãos evangélicos do século 21! Temos tantas coisas e tantas opções ao mesmo tempo que somos os mais insatisfeitos e infelizes de todas as gerações que nos antecederam. João nos revela que não precisamos de muito para nos mantermos inspirados, vivos e contentes – precisamos da voz de Deus e da vocação de Deus para nos inspirar e impulsionar a viver.
Onde e no que você busca inspiração para viver? Deve ser na Palavra e no serviço de Cristo, devocional e ministerialmente. Membro de uma igreja e engajado no serviço.
João buscava ouvir a voz de Deus e atuar na vocação recebida do próprio Senhor. Tanto é assim que ele ficou em Patmos até o final da perseguição e quando saiu de lá continuou servindo até morrer bem velhinho. Há uma história sobre João, narrada por Eusébio de Cesaréia, historiador renomado do 4o século d.C., que é digna de nota. Permitam-me narrá-la a vocês. Vale a pena cada palavra.
Livro 3, capítulo 23 – Relato sobre o apóstolo João
Escuta uma historieta, que não é uma historieta, mas uma tradição existente sobre o apóstolo João, transmitida e guardada na memória. Efetivamente, depois que morreu o tirano imperador [Domiciano], João mudou-se da ilha de Patmos a Éfeso. Daqui costumava partir, quando o chamavam, até as regiões pagãs vizinhas, com o fim de, em alguns lugares, estabelecer pastores-supervisores; em outros, erguer igrejas inteiras, e em outros ainda, ordenar a algum dos que haviam sido designados pelo Espírito.
Veio pois a uma cidade não muito distante e cujo nome alguns inclusive mencionam. Depois de consolar os irmãos em tudo o mais, tendo visto um jovem de grande estatura, de aspecto elegante e de alma vivaz, fixou seu olhar no rosto do pastor instituído sobre a comunidade e disse: ‘Eu te confio este com toda a atenção, na presença da igreja e com Cristo como testemunha.’ O pastor aceitou o jovem, prometendo-lhe tudo.
Logo João regressou a Éfeso, e o presbítero, por sua vez, levou para casa o jovem que lhe havia sido confiado e ali o manteve, rodeou-o de afeto e por fim batizou-o. Depois disto afrouxou um pouco sua grande solicitude e vigilância, pensando que havia imposto a salvaguarda perfeita: o selo do Senhor.
Mas certos rapazes de sua idade, malandros, dissolutos e tendentes ao mal, perverteram-no. Sua liberdade era prematura. Primeiramente atraíram-no por meio de suntuosos banquetes; depois levaram-no consigo, inclusive de noite, quando saíam para o roubo, e por fim exigiram-lhe participar com eles de maldades maiores.
O jovem foi se acostumando a isto sem perceber, e desviando-se do caminho reto, como cavalo de boca dura, brioso e que rejeita o freio; por seu vigor natural foi-se precipitando com mais força ao abismo.
Acabou perdendo a esperança na salvação divina. Desde então não planejava coisas pequenas, mas, tendo já cometido grandes crimes, já que estava perdido de uma vez por todas, considerava justo correr o mesmo risco dos demais. Assim foi que, juntando-se aos mesmos e formando um bando de salteadores, era ele seu líder resoluto, o mais violento, o mais homicida, o mais temível de todos.
Depois de algum tempo surgiu certa necessidade e voltaram a chamar João. Este, depois de ter resolvido os assuntos pelos quais tinha vindo, disse: ‘Bem, pastor, devolve-me o depósito que eu e Cristo te confiamos na presença da igreja que presides e que é testemunha.’
O pastor a princípio ficou estupefato, acreditando ser vítima de calúnia sobre algum dinheiro que ele não havia recebido: não podia crer no que não tinha nem podia deixar de crer em João. Quando este lhe disse: ‘O jovem é o que te peço, a alma do irmão’, o ancião prorrompeu em profundos soluços e, marejado de lágrimas, disse: ‘ele está morto’. Como? Morto de quê? ‘Está morto para Deus – disse -, pois afastou-se transformado num perverso, um perdido, e para o cúmulo, um ladrão, e agora ocupa o monte que está frente à igreja, com uma quadrilha de sua mesma índole.’
Rasgou o apóstolo sua roupa e, golpeando a cabeça, com grande lamento exclamou: ‘Bom guardião deixei para a alma do irmão! Mas tragam já um cavalo e alguém que me guie no caminho.’ E dali, tal como estava, saiu da igreja e foi-se.
Chegou ao lugar. Os sentinelas dos bandidos deitaram-lhe as mãos, mas ele não fugia nem suplicava, mas aos gritos dizia: ‘Para isso vim, levem-me ao vosso chefe.’
Este, entretanto, aguardava armado como estava, mas ao reconhecer João naquele que se aproximava, fugiu cheio de vergonha. João o perseguia com todas as suas forças, esquecido de sua idade e gritando: ‘Por que foges de mim, filho; de mim, teu pai, desarmado e velho? Tem piedade de mim, filho, não tema. Ainda tens esperança de vida. Darei conta por ti a Cristo, e se for necessário, com gosto sofrerei por ti a morte, como o Senhor a sofreu por nós. Por tua vida eu darei em troca a minha própria. Pára! Tenha fé! Foi Cristo que me enviou!’
O jovem, ao ouvi-lo, primeiramente deteve-se, com os olhos baixos; em seguida largou as armas, e tremendo, abraçou-se a ele. Seus lamentos eram já um discurso de defesa, e suas lágrimas serviam-lhe de segundo batismo. Apenas ocultava a mão direita.
Mas João foi-lhe fiador, jurando que havia alcançado o perdão para ele por parte do Salvador, caiu de joelhos, suplicante, e beijou a mesma mão direita considerando-a já purificada pelo arrependimento. Reconduziu-o à igreja, orou com súplicas abundantes, acompanhou-o em sua luta com jejuns prolongados e foi cativando seu espírito com os variados atrativos de sua palavra, e segundo dizem, não saiu dali até tê-lo consolidado na igreja, depois de ter dado grande exemplo de verdadeiro arrependimento e grandes sinais de regeneração, como troféu de uma ressurreição visível.
João não precisava de muito, aliás de quase nada. Ele encontrava inspiração para continuar vivendo e servindo com alegria na voz e na vocação de Deus. Diz-se que ele morreu velhinho, por volta do ano 103, na cidade de Éfeso.
O cristão evangélico
Como nós precisamos de cristãos evangélicos deste calibre! Gente com…
Quer ser alguém assim?
O mundo precisa de gente assim; sua casa precisa; a igreja precisa
Nesta noite, renda-se ao Cristo Senhor e Salvador do Apocalipse. Receba a Palavra de Deus no seu coração. Torne-se, pela graça de Deus, num servo(a) de Deus. Sua casa vai ser diferente, seu contexto poderá mudar. O mundo será melhor.
Seja um cristão evangélico.
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