25.02.2020
Tiago 4.1-17
1 De onde vêm as guerras e contendas que há entre vocês? Não vêm das paixões que guerreiam dentro de vocês? 2 Vocês cobiçam coisas, e não as têm; matam e invejam, mas não conseguem obter o que desejam. Vocês vivem a lutar e a fazer guerras. Não têm, porque não pedem. 3 Quando pedem, não recebem, pois pedem por motivos errados, para gastar em seus prazeres. 4 Adúlteros, vocês não sabem que a amizade com o mundo é inimizade com Deus? Quem quer ser amigo do mundo faz-se inimigo de Deus. 5 Ou vocês acham que é sem razão que a Escritura diz que o Espírito que ele fez habitar em nós tem fortes ciúmes? 6 Mas ele nos concede graça maior. Por isso diz a Escritura: “Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes”. 7 Portanto, submetam-se a Deus. Resistam ao Diabo, e ele fugirá de vocês. 8 Aproximem-se de Deus, e ele se aproximará de vocês! Pecadores, limpem as mãos, e vocês, que têm a mente dividida, purifiquem o coração. 9 Entristeçam-se, lamentem-se e chorem. Troquem o riso por lamento e a alegria por tristeza. 10 Humilhem-se diante do Senhor, e ele os exaltará. 11 Irmãos, não falem mal uns dos outros. Quem fala contra o seu irmão ou julga o seu irmão, fala contra a Lei e a julga. Quando você julga a Lei, não a está cumprindo, mas está se colocando como juiz. 12 Há apenas um Legislador e Juiz, aquele que pode salvar e destruir. Mas quem é você para julgar o seu próximo? 13 Ouçam agora, vocês que dizem: “Hoje ou amanhã iremos para esta ou aquela cidade, passaremos um ano ali, faremos negócios e ganharemos dinheiro”. 14 Vocês nem sabem o que lhes acontecerá amanhã! Que é a sua vida? Vocês são como a neblina que aparece por um pouco de tempo e depois se dissipa. 15 Ao invés disso, deveriam dizer: “Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo”. 16 Agora, porém, vocês se vangloriam das suas pretensões. Toda vanglória como essa é maligna. 17 Pensem nisto, pois: Quem sabe que deve fazer o bem e não o faz, comete pecado.
Solução de conflitos
O Portal Brasil na internet publicou, na semana que passou, nota sobre curso para solução de conflitos. O Ministério da Justiça pretende capacitar 4 mil e 500 cidadãos. Num dos trechos, lê-se assim:
No curso “Resolvendo conflitos de forma construtiva: a contribuição de cada um de nós para uma cultura de paz”, os inscritos receberão instruções de como agir no surgimento do conflito e como lidar com essa situação.
O objetivo é capacitar os cidadãos com noções básicas para tratar conflitos interpessoais com resultados construtivos para toda sociedade.
A iniciativa do Ministério da Justiça se dá pelo fato de que
no Brasil existem, hoje, cerca de 100 milhões de processos judiciais, com um prazo, em média, de 10 anos para julgamento. Por meio do diálogo, muitos desses conflitos nem chegariam aos tribunais.
Levando em conta a nossa população (cerca de 204 milhões e 400 mil habitantes), podemos dizer que um em cada dois brasileiros enfrenta algum tipo de litígio judicial.
Sabemos que conflitos não estão apenas na esfera judicial. Lá eles chegam porque na rotina da vida nós nos ferimos, nos machucamos. Quem aqui, por exemplo, nunca experimentou algum tipo de conflito na escola, no trabalho, na família, na igreja, nos negócios, etc. Eles nos tiram a paz e a saúde.
A solução de conflitos, portanto, é fundamental para uma cultura de paz. Tiago, desde os primórdios da Igreja Cristã (autor do mais antigo documento do Novo Testamento!), já tinha consciência disso, tanto que ele devota um capítulo inteiro de sua carta para instruir os cristãos sobre a arte de pacificar.
O cristão pacificador
Engana quem pensa que na Igreja Primitiva tudo era mil maravilhas. A carta de Tiago nos revela que disputas e conflitos, verdadeiras guerras, abundavam no seio da igreja.
No capítulo 3, Tiago nos mostrou que as armas dessa guerra eram línguas descontroladas (Tg 3.1-12) e o combustível a sabedoria terrena, carnal e demoníaca (Tg 3.13-18). Agora, no capítulo 4, ele dará um passo além e revelará a composição dessa sabedoria destruidora, além, é claro, de apontar o papel indispensável do cristão pacificador no mundo em guerras no qual vivemos.
O nosso texto de hoje permite fazermos pelo menos três observações sobre o cristão pacificador. Ele fala (1) do discernimento; (2) do desempenho; e (3) da determinação do cristão pacificador.
Quando chegamos a Tiago 4 nós damos de cara com um muro de concreto. Isso fica evidente se a leitura do último verso do capítulo anterior for lido em conexão com o primeiro deste capítulo. Observe:
Tg 3.18-4.1 | 3.18 O fruto da justiça semeia-se em paz para os pacificadores. 4.1 De onde vêm as guerras e contendas que há entre vocês? Não vêm das paixões que guerreiam dentro de vocês?
Perceberam?
Tiago está fazendo o cristão refletir. Ele pretende envergonhá-lo.
Os justos devem semear a paz, eles devem agir como pacificadores. No entanto, a realidade é bem diferente. Existem “guerras” (gr. “polemoi” – polêmicas) e “contendas” (gr. “machai” – lutas) entre eles. A realidade é bastante triste, pois em vez de agirem como pacificadores, os cristãos estão polemizando na congregação (gr. “polemoi” – briga coletiva) e lutando entre entre eles mesmos (gr. “machai” – lutas separadas).
Indivíduos inflamados (lutando) entre si estavam atormentando a paz coletiva com polêmicas (guerras). As línguas cortavam e faziam sangrar. Por quê? De onde vinha tudo isso?
Tiago pretende fazer o cristão pacificador discernir o que provoca as “guerras e contendas” que há no seio de qualquer relacionamento.
1.1 – Paixões que guerreiam dentro de nós
Tg 4.1 | De onde vêm as guerras e contendas que há entre vocês? Não vêm das paixões que guerreiam dentro de vocês?
O mal não está na sociedade, na família, na igreja. O mal não habita instituições. O mal habita dentro de nós, ele habita indivíduos.
“Paixões” vem do grego “hēdonōn”, de onde surge a nossa palavra “hedonismo” (Aurélio: “Doutrina que considera que o prazer individual e imediato é o único bem possível, princípio e fim da vida moral”).
Tiago está ensinando que o cristão pacificador discerne, conhece e combate as paixões do seu coração. Ele não vive transferindo culpas.
Aquele que não discerne as paixões que guerreiam dentro dele vive de maneira atroz (ímpia, desumana, bárbara e cruel). Veja:
Tg 4.2-3 | 2 Vocês cobiçam [gr. presente, ativo, indicativo – ação contínua – desejam ansiosamente – Lc 22.15] coisas, e não as têm; matam e invejam, mas não conseguem obter o que desejam. Vocês vivem a lutar e a fazer guerras. Não têm, porque não pedem. 3 Quando pedem, não recebem, pois pedem por motivos errados, para gastar em seus prazeres.
Ímpia porque barganha com Deus. Pega de Deus para desfrutar com outros ídolos.
Desumana, barbara e cruel porque mata (língua), inveja (angústia), luta (atacam entre si) e faz guerra (polemizam na coletividade).
O cristão pacificador precisa discernir, conhecer e combater as paixões do seu coração. A cura começa pelo diagnóstico.
1.2 – Amizade com o mundo
A segunda coisa a discernir é a amizade com o mundo.
Tg 4.4 | Adúlteros, vocês não sabem que a amizade com o mundo é inimizade com Deus? Quem quer ser amigo do mundo faz-se inimigo de Deus.
Tiago está dizendo que o cristão não pode dividir seu coração com outros amores nem com outros prazeres. Não podemos servir a Deus e ao mundo, simultaneamente (Mt 6.24).
As consequências da amizade com o mundo são fatais.
Tg 4.4-6 | 4 Adúlteros, vocês não sabem que a amizade com o mundo é inimizade com Deus? Quem quer ser amigo do mundo faz-se inimigo de Deus. 5 Ou vocês acham que é sem razão que a Escritura diz que o Espírito que ele fez habitar em nós tem fortes ciúmes? 6 Mas ele nos concede graça maior. Por isso diz a Escritura: “Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes”.
Amizade com o mundo nos afasta de Deus, nos faz desprezar a Bíblia, entristecer o Espírito e obstruir o canal da graça de Deus (tornando-nos orgulhosos). Em vez de amar e servir, passamos a usar e abusar do próximo.
O cristão pacificador precisa discernir e combater a amizade com o mundo.
1.3 – Cumplicidade com o Diabo
A terceira coisa a discernir é a cumplicidade com o Diabo.
Tg 4.7 | Portanto, submetam-se a Deus. Resistam ao Diabo, e ele fugirá de vocês.
O Diabo é o grande adversário dos cristãos. Ele vive à procura de oportunidades para criar confusão e conflitos no coração, na mente e nas relações entre as pessoas. Paulo diz assim:
Ef 4.26-27 | 26 “Quando vocês ficarem irados, não pequem”. Apaziguem a sua ira antes que o sol se ponha, 27 e não deem lugar ao Diabo.
Dar lugar ao Diabo é permitir que nossas emoções nos controlem pelas mentiras que nutrimos em nossos pensamentos. Por isso que, escrevendo aos Filipenses, o mesmo apóstolo disse o seguinte:
Fl 4.8-9 | 8 Finalmente, irmãos, tudo o que for verdadeiro, tudo o que for nobre, tudo o que for correto, tudo o que for puro, tudo o que for amável, tudo o que for de boa fama, se houver algo de excelente ou digno de louvor, pensem nessas coisas. 9 Ponham em prática tudo o que vocês aprenderam, receberam, ouviram e viram em mim. E o Deus da paz estará com vocês.
O cristão pacificador não pode ser cúmplice do Diabo, mas resisti-lo (levantar-se contra ele, contras os pensamentos diabólicos, aqueles que se opõem às Escrituras).
O discernimento do cristão pacificador.
Temos aqui, portanto, os três componentes que atuam para nos afastar de Deus: a carne, o mundo e o Diabo. São eles que produzem guerras e conflitos entre os irmãos. Uma vez discernidos, o que fazer?
Tiago, ao escrever sobre a guerra que há entre os irmãos, ensina como o cristão pacificador deverá desempenhar o seu papel.
2.1 – O cristão pacificador sabe orar
Tg 4.2-3 | 2 Vocês cobiçam coisas, e não as têm; matam e invejam, mas não conseguem obter o que desejam. Vocês vivem a lutar e a fazer guerras. Não têm, porque não pedem.
Eles não pediam pela paz e pela harmonia da igreja (Sl 122.6-9). Eles não oravam uns pelos outros (Tg 5.16) Suas orações visavam apenas o seu bem-estar pessoal – a motivação era a idolatria do prazer passageiro.
O cristão pacificador ora pela paz.
2.2 – O cristão pacificador pauta-se pela Bíblia
Tg 4.4-5 | 4 Adúlteros, vocês não sabem que a amizade com o mundo é inimizade com Deus? Quem quer ser amigo do mundo faz-se inimigo de Deus. 5 Ou vocês acham que é sem razão que a Escritura diz que…
O cristão pacificador não se deixa levar pelos seus sentimentos enganosos. Ele ouve e pauta-se pela Escritura. Ele não é escravo do seu coração, mas servo da verdade. Ele não segue a cultura. Ele é contracultura.
2.3 – O cristão pacificador ouve o Espírito Santo
Tg 4.5 | o Espírito que ele fez habitar em nós tem fortes ciúmes
O cristão pacificador ouve a sua consciência. Ele não a cauteriza. Ele não entristece o Espírito de Deus. Ele, antes, atende à voz do Senhor, guiando-o pelas veredas da justiça.
2.4 – O cristão pacificador é fortalecido pela graça
Tg 4.5 | 1 De onde vêm as guerras e contendas que há entre vocês? Não vêm das paixões que guerreiam dentro de vocês? 2 Vocês cobiçam coisas, e não as têm; matam e invejam, mas não conseguem obter o que desejam. Vocês vivem a lutar e a fazer guerras. Não têm, porque não pedem. 3 Quando pedem, não recebem, pois pedem por motivos errados, para gastar em seus prazeres. 4 Adúlteros, vocês não sabem que a amizade com o mundo é inimizade com Deus? Quem quer ser amigo do mundo faz-se inimigo de Deus. 5 Ou vocês acham que é sem razão que a Escritura diz que o Espírito que ele fez habitar em nós tem fortes ciúmes? 6 Mas ele nos concede graça maior.
Em Cristo nós temos graça maior do que a força dos nossos desejos, maior do que os encantos deste mundo e maior do que os ataques do Diabo. O cristão pacificador se fortalece pela graça de Deus – pela fé nas promessas de Deus que estão reveladas nas Escrituras.
Tiago, tendo apontado o discernimento e o desempenho, revelará agora a determinação do cristão pacificador. Ele, como sempre, é bastante prático e direto ao apontar em 10 passos para a determinação que deve controlar o coração de todo cristão, evitando as guerras e contendas que podem se levantar nos seus relacionamentos.
Prestem atenção nos 10 imperativos.
Tg 4.7-17 | 7 Portanto, submetam-se a Deus. Resistam ao Diabo, e ele fugirá de vocês. 8 Aproximem-se de Deus, e ele se aproximará de vocês! Pecadores, limpem as mãos, e vocês, que têm a mente dividida, purifiquem o coração. 9 Entristeçam-se, lamentem-se e chorem. Troquem o riso por lamento e a alegria por tristeza. 10 Humilhem-se diante do Senhor, e ele os exaltará. 11 Irmãos, não falem mal uns dos outros. Quem fala contra o seu irmão ou julga o seu irmão, fala contra a Lei e a julga. Quando você julga a Lei, não a está cumprindo, mas está se colocando como juiz. 12 Há apenas um Legislador e Juiz, aquele que pode salvar e destruir. Mas quem é você para julgar o seu próximo? 13 Ouçam agora, vocês que dizem: “Hoje ou amanhã iremos para esta ou aquela cidade, passaremos um ano ali, faremos negócios e ganharemos dinheiro”. 14 Vocês nem sabem o que lhes acontecerá amanhã! Que é a sua vida? Vocês são como a neblina que aparece por um pouco de tempo e depois se dissipa. 15 Ao invés disso, deveriam dizer: “Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo”. 16 Agora, porém, vocês se vangloriam das suas pretensões. Toda vanglória como essa é maligna. 17 Pensem nisto, pois: Quem sabe que deve fazer o bem e não o faz, comete pecado.
Tiago nos ensina que o cristão pacificador é aquele que se submete a Deus, resiste ao Diabo, purifica-se do pecado, faz bom uso da linga, não age de forma autônoma e busca fazer o bem. Essa será sempre a sua determinação.
O cristão pacificador
Queridos, precisamos cultivar uma cultura de paz. Carecemos de pessoas com discernimento, desempenho e determinação espiritual. Gente que sabe que deve fazer o bem e o faz; que abençoa os outros em vez de usar e destruir. O problema é que por si só isso será impossível.
Precisamos da “graça maior” que Deus concede pelo Espírito (Tg 4.6) e ela só vem a nós por meio da fé em Jesus Cristo.
Creia em Cristo e faça as pazes com Deus, seja um pacificador.
S.D.G. L.B.Peixoto
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