15.08.2021
[Jó 1.1–2.10] 1.1Havia um homem chamado Jó que vivia na terra de Uz. Ele era íntegro e correto, temia a Deus e se mantinha afastado do mal. […] 2.10Jó respondeu [`esposa]: “Você fala como uma mulher insensata. Aceitaremos da mão de Deus apenas as coisas boas e nunca o mal?”. Em tudo isso, Jó não pecou com seus lábios.
A vida é difícil, muito difícil! É verdade que para algumas pessoas parece ser mais fácil viver. Você olha para a vida delas e tudo parece ser um mar de rosas: saúde, carreira, relacionamentos, oportunidades, conquistas… vai tudo muito bem e parece ser de mão beijada. Mas para a maioria de nós, mortais mais comuns, a vida não é fácil e não parece ser justa. Quem já provou do sofrimento sabe do que estou falando, sabe que a vida é difícil e tantas, tantas vezes não tem explicação.
De fato, algumas coisas que nos acometem parecem absurdas, e a gente indaga: “Por quê?” milhares de vezes, e continua sem resposta. Não é verdade, meu povo? A maior parte dos danos que sofremos e das dores que sentimos não vem como uma punição clara pelos pecados. Grande parte vem do nada e confunde nosso senso de justiça – “Mas Deus, o que eu fiz? Por quê? O que está acontecendo?”, nós indagamos.
É por isso que o livro de Jó é tão relevante. Houve um tempo que a vida de Jó não foi fácil. O sofrimento de Jó pareceu surgir do nada e não guardava qualquer relação com seu caráter e conduta piedosos. Tudo parecia um absurdo, injusto. Assim, a história desse patriarca está registrada para que possamos ter alguma ajuda divina no sofrimento que não têm explicação – um tipo de ajuda que nos capacita a não apenas suportar a aflição com firmeza e perseverança, mas que também nos compele a louvar o Senhor pela sua bondade, compaixão e misericórdia, como escreveu o apóstolo (Tg 5.10-11).
Tendo, nas mensagens anteriores, já nos debruçado sobre a relevância do exemplo de Jó, feito um panorama da saga de Jó, apreciado a dedicação de Jó e contemplado o Deus de Jó, hoje nós começaremos a roer trechos ou seções desse livro maravilhoso. Primeiramente, os capítulos 1 e 2, até o versículo 10 do capítulo 2 de Jó – que nos revelam o dilema de Jó. Vamos examinar o texto bíblico para ter uma visão geral e, em seguida, recuar e extrair algumas verdades para a vida na forma de aplicações.
O livro começa nos apresentando o homem Jó e seu caráter:
Jó 1.1 Havia um homem chamado Jó que vivia na terra de Uz. Ele era íntegro e correto, temia a Deus e se mantinha afastado do mal.
OU SEJA: se o objetivo do sofrimento é ser uma punição pelo mal, Jó não é um candidato provável. Ele é íntegro e correto e ele se mantém afastado do mal porque ele teme a Deus. Sua reputação é irrepreensível e a reverência por Deus governa tudo o que ele faz.
Em seguida, o livro descreve a maneira como Deus o abençoou:
Jó 1.2-3 2Tinha sete filhos e três filhas. 3Era dono de sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois e quinhentas jumentas. Também tinha muitos servos. Na verdade, era o homem mais rico de toda aquela região.
As bençãos de Deus eram em tais medidas sobre Jó que até o diabo se impressionava:
Jó 1.10 Tu puseste um muro de proteção ao redor dele, de sua família e de seus bens e o abençoaste em tudo que ele faz. Vê como ele é rico!
O livro abre uma fresta que nos permite ver um exemplo prático do temor de Jó:
Jó 1.4-5 4Os filhos de Jó se revezavam em preparar banquetes em suas casas e convidavam suas três irmãs para celebrar com eles. 5Quando terminavam esses dias de festas, Jó mandava chamar seus filhos, a fim de purificá-los. Levantava-se de manhã bem cedo e oferecia um holocausto em favor de cada um deles, pois pensava: “Pode ser que meus filhos tenham pecado e amaldiçoado a Deus em seu coração”. Essa era a prática habitual de Jó.
EM OUTRAS PALAVRAS: Jó era extremamente zeloso pela honra do nome de Deus, temia que ele fosse profanado, e por isso vivia extremamente vigilante pelo bem de seus filhos, não querendo que nenhum deles perecesse. Jó era um bom homem.
Então sobreveio o sofrimento, na forma de assaltos devastadores no ringue de calamidades. Primeiro assalto:
Jó 1.13-15 13Certo dia, quando os filhos e as filhas de Jó estavam num banquete na casa do irmão mais velho, 14chegou à casa de Jó um mensageiro com esta notícia: “Seus bois estavam arando, e os jumentos, pastando perto deles, 15quando os sabeus nos atacaram. Roubaram todos os animais e mataram todos os empregados. Só eu escapei para lhe contar”.
Segundo assalto:
Jó 1.16 Enquanto ele falava, outro mensageiro chegou com esta notícia: “O fogo de Deus caiu do céu e queimou suas ovelhas e todos os seus pastores. Só eu escapei para lhe contar”.
Terceiro assalto:
Jó 1.17 Enquanto ele falava, outro mensageiro chegou com esta notícia: “Três bandos de saqueadores caldeus roubaram seus camelos e mataram seus servos. Só eu escapei para lhe contar”.
Quarto e último assalto, e o mais devastador:
Jó 1.18-19 18Enquanto ele falava, ainda outro mensageiro chegou com esta notícia: “Seus filhos e suas filhas estavam num banquete na casa do irmão mais velho. 19De repente, veio do deserto um vendaval terrível e atingiu a casa de todos os lados. A casa desabou, e todos os seus filhos morreram. Só eu escapei para lhe contar”.
OBSERVE: duas das calamidades foram causadas por atos de homens maus: os sabeus (v. 15) e os caldeus (v. 17) que roubaram gados e mataram servos. Já as outras duas foram causadas pelo que a cláusula de seguradoras chamariam de “ato de Deus” – isto é, acontecimento natural além da influência ou controle humano; diz-se dos atos da natureza, incluindo furacões, terremotos e inundações. No caso de Jó, provavelmente um incêndio provocado por um raio (v. 16) e um tornado (v. 19).
O resultado dessa luta foi que toda a riqueza e a família de Jó, exceto sua esposa, lhe foram arrancados da forma mais dolorosa possível e sem qualquer explicação. Da noite para o dia, Jó deixa de ser o homem mais abençoado de toda aquela região e se torna o mais atormentado. Rebanhos, servos e filhos, tudo se foi em quatro golpes de uma só vez. Quatro pancadas imensas, irreparáveis, inconsoláveis. Jó perdeu tudo!
Em que direção olhar quando coisas ruins acontecem conosco? Onde buscar consolo? A história de Jó nos ensina que um vislumbre do céu para compreender os acontecimentos na terra é a única esperança e consolo que temos. As respostas últimas, supremas para os dilemas da vida não estão nesta terra, no nosso coração ou na sabedoria dos homens, mas fora deste mundo, estão no céu. Assim, o autor deste livro que estamos estudando nos dá um vislumbre do céu para entendermos melhor o que está acontecendo na terra. Jó não tinha como ver o céu sobre ele, mas nós temos esse privilégio.
Essa fresta no meio do sofrimento de Jó nos dá a visão de um encontro entre Deus e Satanás. Aprendemos muita coisa interessante nesta passagem: [1] anjos e demônios, inclusive Satanás, prestam contas a Deus de tudo o que fazem (v. 6); [2] Satanás costuma gastar seu tempo rondando a terra, à procura de devorar a fé de tantos quantos ele puder (v. 7; 1Pe 5.8-9); e [3], o mais impressionante de tudo, Deus mesmo colocou Jó, um de seus principais troféus, em exibição aos olhos de Satanás:
Jó 1.6-8 6Certo dia, os anjos vieram à presença do SENHOR, e Satanás, o acusador, veio com eles. 7“De onde você vem?”, perguntou o SENHOR. Satanás respondeu: “Estive rodeando a terra, observando o que nela acontece”. 8Então o SENHOR perguntou: “Você reparou em meu servo Jó? Não há ninguém na terra como ele. É homem íntegro e correto, teme a Deus e se mantém afastado do mal”.
Ora, é como se um ladrão de diamantes fosse flagrado tarde da noite pelo proprietário de uma joalheria. O dono pergunta: “O que você está fazendo?” O bandido replica: “Apenas andando e dando uma espiada na sua loja!”. O proprietário triplica: “Ah! Você viu o meu diamante mais precioso exposto lá na vitrine? Dê uma espiada!”
Ora, gente, sinceramente, quem faria uma coisa dessas? Só um tolo ou trapalhão! Mas nós sabemos que Deus, de jeito nenhum, é qualquer coisa parecida. Ele não é tolo ou trapalhão. Deus nunca diz: “Oops!”. Então, o que Deus está fazendo? Deus está colocando Jó à prova, e Satanás será sua ferramenta. A questão é que até aqui Satanás não está nem um pouco impressionado. Preste atenção à ousadia do dito-cujo:
Jó 1.9-11 9Satanás respondeu: “É verdade, mas Jó tem bons motivos para temer a Deus. 10Tu puseste um muro de proteção ao redor dele, de sua família e de seus bens e o abençoaste em tudo que ele faz. Vê como ele é rico! 11Estende tua mão e toma tudo que ele tem, e certamente ele te amaldiçoará na tua face!”.
Deus poderia ter dito: “Eu não preciso provar nada para ninguém, menos ainda para você! Eu conheço o coração do meu servo Jó e isso é suficiente.” Deus poderia ter respondido nesses termos, mas neste caso não o fez. Deus escolheu outra via: obter uma vitória pública sobre Satanás para sua própria glória. Ou seja: a prova na qual Deus mesmo estava colocando Jó demonstraria que, no coração de Jó, o próprio Deus é mais estimado do que qualquer bem ou membro da família. Deus, então, atende ao diabo:
Jó 1.12 “Pois bem, você pode prová-lo”, disse o SENHOR. “Faça o que quiser com tudo que ele possui, mas não lhe cause nenhum dano físico.” Então Satanás saiu da presença do SENHOR.
Então começa a pancadaria no ringue das calamidades que já examinamos (vs. 13-19). Jó perde toda sua riqueza e seus filhos. — O que está acontecendo? — A resposta é que algo de imenso significado celestial está acontecendo. Deus está em processo de demonstrar às hostes celestiais (e a quaisquer outros que tenham olhos para ver) que ele mesmo, Deus, o SENHOR, é o mais importante e valioso no coração do homem Jó.
A FÉ DE JÓ NÃO É MERCENÁRIA, como se o próprio Deus não tivesse valor, apenas as coisas que ele faz. Não! A fé de Jó é baseada no valor de Deus por quem Deus é em si mesmo. A revelação de que Deus é valioso em si mesmo, por quem ele é e ponto, essa revelação é tão importante que Deus está disposto a sujeitar seu servo premiado a danos e dores sem comparação para torná-la conhecida aos olhos de todos. E Deus sai vitorioso:
Jó 1.20-22 20Então Jó se levantou e rasgou seu manto. Depois, raspou a cabeça, prostrou-se com o rosto no chão em adoração 21e disse: “Saí nu do ventre de minha mãe, e estarei nu quando partir. O SENHOR me deu o que eu tinha, e o SENHOR o tomou. Louvado seja o nome do SENHOR!”. 22Em tudo isso, Jó não pecou nem culpou a Deus.
Satanás provou estar errado. Jó não amaldiçoou a Deus quando perdeu sua riqueza e seus filhos. Ele adorou e abençoou a Deus. Desse modo, o valor superior de Deus, acima de todas as coisas, tornou-se evidente para todo mundo – no céu, na terra e até no inferno. O propósito de Deus ao provar Jó foi cumprido – i.e., a revelação do valor de Deus no coração de seus filhos que o colocam acima de todas as coisas.
A provação, porém, estava apenas começando. Quando Jó estava ainda tentando recobrar o fôlego, recuperando-se do choque de perder suas riquezas e seus filhos, ele contraiu uma doença terrível:
Jó 2.7b-8 7bferidas terríveis, da sola dos pés ao alto da cabeça. 8Jó, sentado em meio a cinzas, raspava a pele com um caco de cerâmica.
A coisa era, de fato, terrível. Ouça o que disse o próprio Jó:
Jó 3.24-26 24De tanto gemer, não consigo comer; meus gritos de dor se derramam como água. 25O que sempre temi veio sobre mim, o que tanto receava me aconteceu. 26Não tenho paz, nem sossego; não tenho descanso, só aflição”.
E ainda:
Jó 7.3-5 3Recebi de herança meses de puro vazio, fui condenado a passar noites longas em aflição. 4Deitado na cama, penso: ‘Quando chegará a manhã?’, mas a noite se arrasta e reviro-me até o amanhecer. 5Meu corpo está coberto de vermes e crostas de feridas; minha pele se racha e vaza pus.”
Jó estava coberto de feridas semelhantes a furúnculos que se abriam e delas corriam pus e depois ficavam entupidas de sujeira e infestadas de vermes. E doía muito! Ora, gente! Não era um caso de sarampo ou catapora. Era uma coisa horrível do topo da cabeça até a planta dos pés, e que além do desconforto e da dor, atormentava a alma.
Meu Deus! É essa a recompensa da resposta de fé de Jó à perda de seus bens e filhos? É isso o que se ganha por não se ter uma fé mercenária? O que está acontecendo com Jó? E novamente a resposta não é dada no mundo, mas no céu. Deus, mais uma vez, desfila Jó aos olhos de Satanás e o provoca. E Satanás, de novo, desafia Deus:
Jó 2.1-5 1Certo dia, os anjos vieram outra vez à presença do SENHOR, e Satanás, o acusador, veio com eles. 2“De onde você vem?”, perguntou o SENHOR. Satanás respondeu: “Estive rodeando a terra, observando o que nela acontece”. 3Então o SENHOR perguntou: “Você reparou em meu servo Jó? Não há ninguém na terra como ele. É homem íntegro e correto, teme a Deus e se mantém afastado do mal. E não perdeu sua integridade, apesar de você me ter instigado a prejudicá-lo sem motivo”. 4Satanás respondeu: “Pele por pele! Um homem dará tudo que tem para salvar a própria vida. 5Estende tua mão e tira a saúde dele, e certamente ele te amaldiçoará na tua face!”.
Satanás desafia a autenticidade da fé de Jó. Ele diz que Jó só manteve a fé porque Deus preservou sua saúde. De fato, o que Satanás estava fazendo era, mais uma vez (e isto ele faz de novo e de novo sem se cansar), desafiar o valor de Deus na vida dos filhos de Deus. — Satanás estava insinuando: “Deus, é mesmo o próprio Deus que Jó preza ou são os prazeres terrenos que o Senhor, Deus, dá a ele – bens, família, filhos e saúde?” — Jó havia demonstrado que Deus é mais valioso para ele do que a família e os bens. Mas e a saúde? Então, para demonstrar que só Deus é o tesouro de Jó, Deus entrega seu servo nas mãos de Satanás para a destruição de sua carne:
Jó 2.6-7 6“Pois bem”, disse o SENHOR. “Faça o que quiser com ele, mas poupe-lhe a vida.” 7Então Satanás saiu da presença do SENHOR e causou em Jó feridas terríveis, da sola dos pés ao alto da cabeça.
EM OUTRAS PALAVRAS, por trás das calamidades terrestres aparentemente absurdas e para nós tantas vezes sem explicação, existem transações celestiais de importância infinita. Quando os presidentes de grandes potências mundiais se reunem para conferenciar em algum lugar do planeta, o mundo inteiro fica assistindo, pois todos sabem que tal conferência ou tal reunião tratará de assuntos importantes. Ora, quão mais importante deve ser o assunto em questão quando o próprio Deus puxa a língua de Satanás para falar de alguma coisa na Terra! A demonstração do valor de Deus na fé de seu povo é o assunto mais importante do céu e da terra.
Ocorreu que, quando Jó caiu doente, a esposa, finalmente, desmoronou. Essa mulher, aparentemente, suportou firme ao lado de Jó a perda dos bens e dos filhos. Só que agora, com a vida de seu marido se esvaindo e deixando-a totalmente destituída materialmente, sua fé entrou em colapso, e ela agiu como nunca havia feito e nuca mais o fez:
Jó 2.8-9 8Jó, sentado em meio a cinzas, raspava a pele com um caco de cerâmica. 9Sua esposa lhe disse: “Você ainda tenta manter sua integridade? Amaldiçoe a Deus e morra!”.
Essa explosão de desespero momentâneo deve ter provocado uma risadinha de esperança em Satanás. Mas não por muito tempo, posto que em seguida Jó desferiu seu golpe fatal contra o acusador:
Jó 2.10 Jó respondeu: “Você fala como uma mulher insensata. Aceitaremos da mão de Deus apenas as coisas boas e nunca o mal?”. Em tudo isso, Jó não pecou com seus lábios.
Confortos e calamidades vêm das mãos de Deus. Jó nunca abandonou essa confiança sólida como rocha na soberania de Deus – e nós também não devemos abandonar. Mais tarde, em seus debates, Jó exclamou confiantemente, Jó 13.15: “Ainda que Deus me mate, ele é minha única esperança; apresentarei a ele minha causa.”
Imagine Satanás no céu, cercado por milhares e milhares de anjos, aguardando a resposta de Jó. Então Jó respondeu e, sem que ele soubesse, o dobro de milhares e milhares de braços são levantados e milhares e milhares vozes poderosas ressoam com louvor: “Digno é o Senhor Deus de Jó!” E o que Satanás fez? Ele fugiu da presença de Deus. Você já se perguntou o que Pedro quis dizer quando disse em 1Pedro 5.8-9?
1Pedro 5.8-9 8Estejam atentos! Tomem cuidado com seu grande inimigo, o diabo, que anda como um leão rugindo à sua volta, à procura de alguém para devorar. 9Permaneçam firmes contra ele e sejam fortes na fé. Lembrem-se de que seus irmãos em Cristo em todo o mundo estão passando pelos mesmos sofrimentos.
O apóstolo quis dizer que, quando você sofre, a maneira de resistir a Satanás é ser como Jó e manter sua confiança na bondade soberana de Deus – não o amaldiçoando, mas confiando nele e o louvando. Quando você age como Jó em face de danos e no meio das dores, o céu inteiro brada de vitória – e Satanás é derrotado. Pedro, de novo:
1Pedro 4.19 Portanto, se vocês sofrem porque cumprem a vontade de Deus, continuem a fazer o que é certo e confiem sua vida àquele que os criou, pois ele é fiel.
O dilema de Jó está posto diante de nós. Esta é a cena: Jó 1.1–2.10. Isso é tudo o que vamos cobrir nesta manhã. Nós vimos o texto. Agora, o que faremos será recuar e extrair verdades que sirvam para nos ancorar na hora do vendaval. Ah! Como nós precisamos dessas verdades para praticá-las! Pois, como disse Jesus em Mateus 7.25, “Quando vierem as chuvas e as inundações, e os ventos castigarem a casa, ela não cairá, pois foi construída sobre rocha firme.” — Pois bem, o texto que acabamos de examinar nos permite fazer pelo menos quatro afirmações teológicas. Vejamos:
1. O objetivo de Satanás é destruir nossa fé e alegria em Deus
Para nos destruir, Satanás usa sempre dois pares de armas: alegria e tristeza, saúde e doença, riqueza e pobreza. Satanás usa a dor para nos fazer sentir que Deus é impotente ou mesmo mal. Ele usa o prazer para nos fazer sentir que Deus é supérfluo. Dito de outro modo: [1] Quando estamos alegres, sadios ou ricos, Satanás nos tenta a ufanar: “Quem precisa de Deus!?” E [2] quando estamos tristes, doentes ou pobres, Satanás nos tenta a blasfemar: “Que Deus é esse!?”
Contudo, a saga de Jó demonstrou, para quem tiver olhos para ver, que Satanás falhou ao tentar roubar Jó de Deus nos dias de prazer e prosperidade. O que ele fez em seguida? Satanás atacou por meio da dor a alegria de Jó centrada em Deus. Ele falhou novamente. Mas não há dúvida sobre o que Satanás busca em nossa vida: seu objetivo é destruir nossa fé e alegria em Deus e substituir o tesouro de Cristo pelos tesouros terrenos – tais quais riqueza, família e saúde. Quando os temos, a tentação será colocá-los acima de Deus. Quando nos faltarem, a tentação será blasfemar contra Deus. O objetivo de Satanás é destruir nossa fé alegria em Deus.
2. Deus almeja magnificar seu valor na vida de seu povo
O grande objetivo de Deus tanto na criação como na redenção ou salvação é preservar e exibir o valor infinito de sua glória. A maneira como ele faz isso é redimindo um povo que o ama e se apega a ele e o estima acima de todos os tesouros e prazeres terrenos. O espelho que ele escolheu para refletir seu valor é a fé e a alegria indestrutíveis de seu povo. Eles não vão trocá-lo por nada que este mundo possa oferecer.
Mateus 13.44 (NVI) O Reino dos céus é como um tesouro escondido num campo. Certo homem, tendo-o encontrado, escondeu-o de novo e, então, cheio de alegria, foi, vendeu tudo o que tinha e comprou aquele campo.
3. Deus concede a Satanás poder limitado para causar dor
Em Jó 1.12, está escrito assim: “Pois bem, você pode prová-lo”, disse o SENHOR. “Faça o que quiser com tudo que ele possui, mas não lhe cause nenhum dano físico.” E em Jó 2.6 nós lemos o seguinte:“Pois bem”, disse o SENHOR. “Faça o que quiser com ele, mas poupe-lhe a vida.” Ou seja: Deus define os limites do poder de Satanás para causar dor.
Nosso Deus não está frustrado pelo poder e a sutileza de Satanás. Satanás não pode se mover sem a permissão do Deus Todo-Poderoso. Aliás, Satanás se apresenta diante de Deus para prestar contas. Satanás pode até ser um leão, mas é um leão na coleira. Deus o controla ou lhe dá folga de acordo com seus próprios propósitos soberanos. William Henry Green, em seu grande livro, The Argument of the Book of Job Unfolded, diz sobre Satanás o que segue:
Com todo o seu ódio a Deus e rancor contra seu povo, ele não pode se emancipar desse controle soberano, que o vincula ao serviço de Deus. Em todos os seus desígnios blasfemos, ele está, apesar de si mesmo, fazendo a obra de Deus. Em seus esforços rebeldes para destronar o Altíssimo, ele está na verdade prestando-lhe uma homenagem submissa.
Ao mover céus e terra para buscar a perdição daqueles os quais Cristo resgatou, Satanás na verdade os está preparando para a glória. Demônio como ele é, cheio de amargura e malignidade, e decidido a todas as formas de maldade, ele é constrangido a ser o que mais abomina e está o mais distante de suas intenções e desejos, útil e auxiliar nos desígnios da graça.
Como os filhos de Deus que se reúnem na presença da Majestade Infinita para receber as instruções e os comissionamentos do Rei dos reis, prontos para cumprir suas ordens e executar sua vontade, Satanás é, embora muito relutantemente, […] um espírito ministrador enviado para ministrar àqueles que serão herdeiros da salvação.
4. A obra de Satanás é, em última análise, a obra de Deus
Você notou que nas duas cenas celestiais Deus mesmo entregou Jó ao poder de Satanás? Mas quando Satanás fez sua obra de tirar a riqueza e a família de Jó, Jó disse em 1.21: “O SENHOR me deu o que eu tinha, e o SENHOR o tomou.” Jó diz que, em última análise, foi o próprio SENHOR quem tirou sua família e riqueza.
Em seguida, o autor inspirado do livro faz um comentário para evitar um mal-entendido. Para que ninguém diga que Jó não deveria ter atribuído a obra de Satanás a Deus, ele escreveu: “Em tudo isso, Jó não pecou nem culpou a Deus.” (Jó 1.22). Meu povo, não é pecado dizer que o que Satanás fez na vida de Jó, Deus, em última análise, o fez, porque Deus governa Satanás. Pecado é dizer o contrário.
Da mesma forma, na segunda cena celestial, Deus diz a Satanás: “Pois bem […] Faça o que quiser com ele, mas poupe-lhe a vida.” (Jó 2.6). O versículo seguinte torna bem explícito que “Então Satanás saiu da presença do SENHOR e causou em Jó feridas terríveis, da sola dos pés ao alto da cabeça.” (Jó 2.7). Mas, novamente, em Jó 2.10, Jó diz: “Aceitaremos da mão de Deus apenas as coisas boas e nunca o mal?” Em outras palavras, Jó novamente sobe até a soberania de Deus sobre Satanás e diz que sua doença, em última instância, vem de Deus. Satanás pode ter sido a causa mais próxima, mas no final das contas é de Deus, da mão de Deus que ele recebe o mal.
E novamente o escritor inspirado por Deus nos adverte para não criticarmos Jó com suas palavras. Ele escreve no final do versículo 10: “Em tudo isso, Jó não pecou com seus lábios.” (Jó 2.10). De novo, não é pecado dizer que uma doença que Satanás causa vem “do Senhor”. A rocha de refúgio e esperança de Jó, quando tudo o mais parecia estar desmoronando, era a soberania absoluta de Deus.
Em face do dilema de Jó, três aplicações pessoais:
1. Una-se a Jó e afirme de todo o coração a soberania absoluta de Deus
Diga com o salmista: “Nosso Deus está nos céus e faz tudo como deseja. (Sl 115.3). Faça coro com Daniel: “Comparados a ele, os habitantes da terra são como nada. Ele faz o que quer entre os anjos do céu e entre os habitantes da terra. Ninguém pode detê-lo nem lhe dizer: ‘Por que fazes essas coisas?’” (Dn 4.35). Faça da soberania absoluta de Deus a rocha sobre a qual você edifica sua vida e nossa igreja.
2. Deixe suas lágrimas rolarem livremente quando a calamidade chegar
Jó 1.20: “Então Jó se levantou e rasgou seu manto. Depois, raspou a cabeça, prostrou-se com o rosto no chão em adoração”. Os soluços de tristeza e dor não são sinais de incredulidade. A grandeza e a beleza da adoração de Jó deviam ao sofrimento, não porque não houve sofrimento ou Jó fora poupado do sofrimento. Portanto, deixe suas lágrimas rolarem livremente quando sua calamidade chegar. E clame! Salmo 91.15 “Quando clamar por mim, eu responderei e estarei com ele em meio às dificuldades; eu o resgatarei e lhe darei honra.” E que o resto de nós chore com aqueles que choram.
3. Confie na bondade de Deus e deixe-o ser seu tesouro e sua alegria
Mesmo se Deus tivesse deixado Satanás tirar a vida de Jó, sabemos o que Jó teria dito. Ele teria soado como o salmista no Salmo 63.3: “Teu amor [tua graça] é melhor que a própria vida”.
Quando a sua calamidade chegar, lembre-se da calamidade de Jó: [1] que o Senhor lhe dê a graça de afirmar a soberania absoluta de Deus, [2] deixe suas lágrimas rolarem livremente e [3] faça do próprio Cristo o seu tesouro e a sua alegria. Danos e dores tantas vezes não terão qualquer explicação, mas sempre servirão ao propósito de exibir em nossa vida o valor supremo de Cristo no nosso coração.
S.D.G. L.B.Peixoto
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