27.03.2016
O INCÔMODO DA RESSURREIÇÃO
João 20.19-23
19 Ao cair da tarde daquele primeiro dia da semana, estando os discípulos reunidos a portas trancadas, por medo dos judeus, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: “Paz seja com vocês!” 20 Tendo dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos alegraram-se quando viram o Senhor. 21 Novamente Jesus disse: “Paz seja com vocês! Assim como o Pai me enviou, eu os envio”. 22 E com isso, soprou sobre eles e disse: “Recebam o Espírito Santo. 23 Se perdoarem os pecados de alguém, estarão perdoados; se não os perdoarem, não estarão perdoados”.
Preguiçosos por natureza
A natureza humana é preguiçosa. Isso significa que somos naturalmente acomodados. Geralmente, buscamos o que mais nos agrada ou nos satisfaz, fazendo o menor esforço. Certo disso, Salomão nos advertiu dizendo:
Pv 6.6, 9 | Observe a formiga, preguiçoso, reflita nos caminhos dela e seja sábio. […] 9 Até quando você vai ficar deitado, preguiçoso? Quando se levantará de seu sono?
Em Provérbios, o tema “preguiça” é tratado nada menos que 17 vezes. Vale a pena um estudo detalhado sobre o assunto, conforme exposto no livro (Pv 6.6; 6.9; 10.26; 12.27; 13.4; 15.19; 19.15; 19.24; 20.4; 21.25; 22.13; 24.30; 26.13-16; 31.27).
A preguiça tem o poder de destruir indivíduos, famílias, sociedades e igrejas. Preste atenção, por exemplo, à definição que Aurélio dá a preguiça: “aversão ao trabalho; negligência, indolência. Morosidade, lentidão, moleza”. Preocupada com o estrago que ela pode fazer, a Igreja Católica Romana incluiu a preguiça entre os sete pecados capitais.
Algumas vezes a preguiça é causada pelo medo. Observe:
Pv 22.13 | O preguiçoso diz: “Há um leão lá fora!” “Serei morto na rua!”
O medo nos isola da realidade. Afinal, qual é a probabilidade de haver um leão solto na rua? Quantos são os que morrem estraçalhados por leões nas calçadas? Percebeu? A preguiça nos leva ao absurdo. Precisamos, portanto, ser constantemente advertidos e confrontados. Conforme veremos adiante, a ressurreição de Jesus, de alguma forma, nos exorta nesse sentido.
As aparições de Jesus
Na primeira Páscoa dos cristãos, logo após a sua ressurreição, Jesus apareceu a indivíduos e a grupos de pessoas nas mais variadas circunstâncias. Por volta das 7h00, ele apareceu a Maria Madalena, que estava chorando à entrada do sepulcro. Pouco depois, apareceu a algumas mulheres que estavam próximas ao túmulo. Próximo ao final da tarde daquele dia, Jesus apareceu aos discípulos na estrada para Emaús. Após as 16h00, ele apareceu apenas a Pedro. Depois foi a vez dos 10 discípulos reunidos no cenáculo (faltava entre eles Judas Iscariotes e Tomé). Finalmente, Jesus apareceu a Tomé.
Cada uma dessas aparições, após a ressurreição, merece cuidadosa observação dos discípulos de Cristo. Hoje, no entanto, por ocasião do Domingo de Páscoa, nós voltaremos a atenção para a aparição de Jesus aos discípulos (Jo 20.19-23) e, posteriormente, a Tomé (Jo 20.24-31). Pela manhã, aprenderemos sobre “O incômodo da ressurreição” (Jo 20.19-23). À noite, abordaremos “O impacto da ressurreição” (Jo 20.24-31).
O incômodo da ressurreição
Jesus tinha um propósito para cada uma de suas aparições. Maria Madalena estava emotiva; as mulheres do sepulcro estavam fragilizadas; os discípulos de Emaús estavam decepcionados; Pedro estava confuso; os discípulos que se reuniam no cenáculo estavam amedrontados e Tomé estava incrédulo. O Senhor sempre tem uma palavra apropriada para cada pessoa, em cada circunstância.
A palavra de Jesus para os discípulos no cenáculo era de exortação. Amedrontados que estavam, eles agiam como preguiçosos. A portas trancadas, eles buscavam refúgio, enquanto se omitiam de sua grande missão. A visita de Jesus na boca da noite do primeiro domingo de Páscoa levou sim grande consolação, mas essa foi recheada de enorme desconforto. É o incômodo da ressurreição. Observe de novo.
João 20.19-20
19 Ao cair da tarde daquele primeiro dia da semana, estando os discípulos reunidos a portas trancadas, por medo dos judeus, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: “Paz seja com vocês!” 20 Tendo dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos alegraram-se quando viram o Senhor.
De vez em quando, todos nós precisamos dessa chacoalhada de Jesus. Aliás, penso que se ele aparecesse hoje, neste domingo da ressurreição, à maioria das igrejas locais espalhadas pela nossa cidade ele diria a mesma coisa que disse aos discípulos do cenáculo. Ficaríamos todos, com certeza, incomodados com a sua aparição, pois ele confrontaria o medo, comissionaria o crente e compartilharia poder. Há, portanto, três respostas que o Senhor deseja obter dos seus discípulos nessa aparição: [1] reaja ao medo; [2] responda ao comissionamento; e [3] receba o poder.
1. Reaja ao medo
A primeira coisa a se observar nesse incidente é a facilidade que todos nós temos para nos acovardarmos e nos trancarmos a portas fechadas, fugindo de nosso chamado e de nossa responsabilidade.
Jo 20.19 | 19 Ao cair da tarde daquele primeiro dia da semana, estando os discípulos reunidos a portas trancadas, por medo dos judeus, […]
Jesus havia predito sua morte e ressurreição (Mc 10.32-34). Os discípulos sabiam que isso deveria acontecer, conforme estava “escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos” (Lc 24.36-43). Eles, porém, escolheram ignorar. Ao procederem dessa maneira, ficaram todos paralisados pelo medo. Tanto que aos discípulos que fugiam de volta para Emaús, o Senhor precisou chamar-lhes à memória as Escrituras Sagradas (Lc 24.25-27). O medo é sempre fruto da falta de fé nas promessas contidas na Palavra de Deus (Mt 6.28-32).
Os medos dos discípulos trancados no cenáculo são os mesmos dos crentes de hoje, que vivem trancados na rotina de suas programações domingueiras.
O temor da perseguição | Temiam que, ao se identificarem com Jesus, eles também pudessem ser crucificados.
O temor da difamação | Temiam os rumores de que eles haviam roubado o corpo de Jesus do sepulcro e inventado a história toda.
O temor da avaliação | Temiam que as pessoas os avaliassem e os julgassem naquele momento de confusão, de fraqueza e de dúvidas.
Os mesmos temores que tomavam conta do coração dos primeiros discípulos ainda nos causam assombros e, tantas vezes, nos leva à clausura.
Tememos ser perseguidos. Tememos ser ameaçados, escarnecidos, zombados, machucados e injustiçados. Tememos perder privilégios.
Tememos ser difamados. Não queremos ser vistos como fanáticos nem como fundamentalistas religiosos. Não queremos ser vistos como reducionistas (espiritualizando tudo) e alienados.
Tememos ser avaliados e observados. Tememos ser questionados em alguma fraqueza; ser confrontados em alguma incerteza; ser colocados em alguma dificuldade.
O temor de homens nos coloca a portas trancadas. Buscamos consolo na clausura da religiosidade, do tradicionalismo, do igrejismo e do legalismo.
Deus, porém, quer que reajamos ao medo. Para isso, ele age de maneira encantadora. Observe como Deus trata dos nossos temores.
Jo 20.19-20 | 19 Ao cair da tarde daquele primeiro dia da semana, estando os discípulos reunidos a portas trancadas, por medo dos judeus, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: “Paz seja com vocês!” 20 Tendo dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos alegraram-se quando viram o Senhor.
Vem ao nosso encontro. Eliminando toda e qualquer barreira. Portas fechadas não o detiveram (v. 19). Também não o detiveram: a prisão, o sofrimento, a crucificação nem a morte. Jesus venceu todos os obstáculos e “pôs-se no meio deles”.
Comunica-nos a sua Palavra – “Paz seja convosco!” (v. 19).
Apresenta-nos provas do seu amor – “Tendo dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado” (v. 20).
Para vencermos o temor de homens precisaremos do Espírito de Deus (Sl 139.7-12), da Palavra de Deus (Sl 19.7-11) e de testemunhos do amor de Deus (Sl 20.6-9). Em outras palavras, precisamos ler a Bíblia, agarrarmo-nos às promessas de Deus, clamar pela voz do Espírito aplicando a nós a Palavra, e ler biografias cristãs.
Se não compreendermos o que temos em Cristo, o Cristo que ressuscitou e venceu a morte, correremos o risco de nos trancarmos e nos omitirmos, como igreja e como indivíduos.
2. Responda ao comissionamento
No Evangelho de João, a Grande Comissão de Jesus (que em Mateus só aparece nos dois últimos versículos do último capítulo, Mateus 28.19-20) se dá no domingo de Páscoa. Observe.
Jo 20.21 | Novamente Jesus disse: “Paz seja com vocês! Assim como o Pai me enviou, eu os envio”.
Jesus nos comissiona (nos envia) assim como Deus o havia comissionado (ou enviado). Que forma é essa? Olhando para o início do Evangelho de João (Jo 1.1-14) nós podemos aprender sobre como responder ao comissionamento de Jesus, como “ir” assim como Jesus foi enviado pelo Pai.
2.1 – Estar com Deus
Jo 1.1-2 | 1 No princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus, e era Deus. 2 Ele estava com Deus no princípio.
Mc 3.13-15 | 13 Jesus subiu a um monte e chamou a si aqueles que ele quis, os quais vieram para junto dele. 14 Escolheu doze, designando-os apóstolos, para que estivessem com ele, os enviasse a pregar 15 e tivessem autoridade para expulsar demônios.
2.2 – Brilhar para Deus
Jo 1.4-5 | 4 Nele estava a vida, e esta era a luz dos homens. 5 A luz brilha nas trevas, e as trevas não a derrotaram.
2.3 – Apontar para Deus
Jo 1.6-9 | 6 Surgiu um homem enviado por Deus, chamado João. 7 Ele veio como testemunha, para testificar acerca da luz, a fim de que por meio dele todos os homens cressem. 8 Ele próprio não era a luz, mas veio como testemunha da luz. 9 Estava chegando ao mundo a verdadeira luz, que ilumina todos os homens.
2.4 – Perseverar para Deus
Jo 1.10-13 | 10 Aquele que é a Palavra estava no mundo, e o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o reconheceu. 11 Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. 12 Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus, 13 os quais não nasceram por descendência natural, nem pela vontade da carne nem pela vontade de algum homem, mas nasceram de Deus.
2.5 – Revelar a glória de Deus
Jo 1.14 | Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós. Vimos a sua glória, glória como do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de verdade.
Responda ao comissionamento.
3. Receba o poder
O Cristo ressurreto [1] confronta o medo; [2] comissiona o crente; e [3] compartilha poder.
Jo 20.22-23 | 22 E com isso, soprou sobre eles e disse: “Recebam o Espírito Santo. 23 Se perdoarem os pecados de alguém, estarão perdoados; se não os perdoarem, não estarão perdoados”.
Este texto não pode ser entendido à parte da promessa de Atos 1.8 e de seu cumprimento no Dia de Pentecostes em Atos 2. Jesus disse que os seus discípulos receberiam poder quando descesse sobre eles o Espírito Santo (At 18), o que de fato aconteceu em Atos 2.1-4.
Portanto, em João 20.22, Jesus está prometendo que viria sobre eles o Espírito Santo. O Senhor está advertindo-os de que eles são ativos neste processo de recebimento, de enchimento do Espírito Santo (eles precisariam receber).
Jesus queria que os seus discípulos entendessem que eles somente conseguiriam cumprir a comissão de ir fazer discípulos se eles estivessem cheios do Espírito Santo, cheios do poder de Deus.
Sem o poder do Espírito Santo a igreja não sairia das quatro paredes para estender o perdão de Deus em Jesus Cristo ao pecador (Jo 20.23). A Igreja que está cheia do Espírito Santo sai de suas quatro paredes.
At 4.8-13 | 8 Então Pedro, cheio do Espírito Santo, disse-lhes: […] 11 Este Jesus é “‘a pedra que vocês, construtores, rejeitaram, e que se tornou a pedra angular’. 12 Não há salvação em nenhum outro, pois, debaixo do céu não há nenhum outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos”. 13 Vendo a coragem de Pedro e de João, e percebendo que eram homens comuns e sem instrução, ficaram admirados e reconheceram que eles haviam estado com Jesus.
At 5.25-29 | 25 Nesse momento chegou alguém e disse: “Os homens que os senhores puseram na prisão estão no pátio do templo, ensinando o povo”. 26 Então, indo para lá com os guardas, o capitão trouxe os apóstolos, mas sem o uso de força, pois temiam que o povo os apedrejasse. 27 Tendo levado os apóstolos, apresentaram-nos ao Sinédrio para serem interrogados pelo sumo sacerdote, 28 que lhes disse: “Demos ordens expressas a vocês para que não ensinassem neste nome. Todavia, vocês encheram Jerusalém com sua doutrina e nos querem tornar culpados do sangue desse homem”. 29 Pedro e os outros apóstolos responderam: “É preciso obedecer antes a Deus do que aos homens.
A igreja cheia do Espírito Santo sai proclamando a única maneira de alguém poder ser salvo: Jesus Cristo.
Jo 20.22-23 | 22 E com isso, soprou sobre eles e disse: “Recebam o Espírito Santo. 23 Se perdoarem os pecados de alguém, estarão perdoados; se não os perdoarem, não estarão perdoados”.
Os que proclamam o Evangelho estão, com efeito, perdoando ou não perdoando os pecados, de acordo com a aceitação ou rejeição de Jesus Cristo por parte dos ouvintes.
O incômodo da ressurreição
Nesta manhã de domingo de Páscoa, somos todos incomodados pela ressurreição.
Precisamos reagir ao medo, focando-nos na vitória do Cristo ressurreto.
Precisamos responder ao comissionamento, fazer discípulos para Cristo.
Precisamos receber o poder, não nos embragando com esse mundo, mas enchendo-nos do Espírito.
Três desafios:
Reaja ao medo – busque encorajamento.
Responda ao comissionamento – faça discípulo.
Receba o poder – busque o enchimento do Espírito Santo.
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