21.05.2017
O IRMÃO COM DEFICIÊNCIA QUE A TODOS SUPEROU
1Crônicas 4.9-10
9 Havia um homem chamado Jabez, mais respeitado que qualquer um de seus irmãos. Sua mãe lhe deu o nome de Jabez, porque disse: “Eu o dei à luz com muita dor”. 10 Jabez orou ao Deus de Israel: “Ah, como seria bom se me abençoasses e expandisses meu território! Sê comigo em tudo que eu fizer e guarda-me de todo mal e aflição!”. E Deus atendeu a seu pedido.
DEFICIENTE MAS NÃO DESQUALIFICADO
Os Jogos Olímpicos 2016 ajuntaram no Rio cerca de 10.700 atletas de 205 nações. Como não poderia deixar de ser, o corpo de cada um daqueles competidores foi cuidadosamente esculpido e incansavelmente bem-preparado ao longo dos anos, para garantir ótimas performances em cada uma das 42 modalidades esportivas que foram disputadas.
Jogadores, ginastas, maratonistas, nadadores, ciclistas, lutadores… enfim, cada atleta tinha o que precisava ter para ser vencedor: altura, peso, musculatura, flexibilidade, preparo, força, destreza, equilíbrio… para citar apenas algumas das qualidades necessárias. Nas Olimpíadas, para ser campeão, é preciso que se esteja na melhor forma, física e mentalmente; para vencer, não pode haver deficiência. Só vencem os melhores.
Graças a Deus que esse não é o caso no jogo da vida. Deficiências não nos desqualificam. A história de Jabez, no Antigo Testamento, por exemplo, — narrada no texto que nós acabamos de ler, apresenta-nos um exemplo clássico de alguém que, apesar de sofrer com alguma deficiência, não permitiu que a sua dificuldade prejudicasse a sua performance.
Jabez foi um competidor desconhecido, que surgiu do nada na arena do jogo das Escrituras, levou o ouro divino e desapareceu na mesma velocidade com que apareceu, para nunca mais ser mencionado na Bíblia. Agora, ele pode não ter aparecido na galeria dos heróis da fé em Hebreus 11, por exemplo; o nome dele pode até não constar nalguma carta de algum jogo bíblico, mas o seu exemplo — exemplo de fé e de fortaleza — é desafiador, e a sua atitude é revolucionária. Ele até sofria com alguma deficiência, mas não foi desqualificado. Portanto: o que a cena memorável do irmão com deficiência que a todos superou terá para nos ensinar? É o que passamos, agora, a investigar.
Uma espiada em Jabez
Os dois livros de Crônicas foram escritos depois que Israel retornou do cativeiro na Babilônia — entre 450 e 430 a. C. Esdras, que é o autor, selecionou algumas passagens de 1 e 2 Reis, 1 e 2 Samuel e outros documentos para compor seu texto inspirado por Deus.
Alguns dos objetivos dessa composição são: apontar como deveria ser o louvor no novo templo; rever as funções dos levitas e dos sacerdotes; traçar a linhagem de Israel; e recontar a historia da ascensão e da queda da nação, e como Deus lhes deu uma nova chance através da libertação do cativeiro babilônico.
O nosso texto — a oração de Jabez — se encontra no meio de uma das mais extensas genealogias da Bíblia (capítulo 1 ao 9). Ler genealogias é complicado e cansativo, pois se trata de uma lista interminável de nomes e de descendentes: “Fulano gerou beltrano que gerou sicrano etc.” Quem gosta de ler esse tipo de coisa? E essa genealogia de Crônicas parece ser a mais cansativa de todas, pois são nove capítulos consecutivos só de nomes.
Mas, de repente, no capítulo 4, vs. 9-10, a genealogia dá uma pausa e em poucas palavras conta a historia de um homem chamado Jabez. É tão rápido e tão inesperado, e desaparece tão de repente, que se você piscar, você perde a cena. Observe:
1Cr 4.5-12 | 5 Asur, pai de Tecoa, teve duas esposas: Helá e Naará. 6 Naará deu à luz Auzã, Héfer, Temeni e Haastari. 7 Helá deu à luz Zerete, Izar, Etnã 8 e Coz, antepassado de Anube, Zobeba e todos os clãs de Aarel, filho de Harum. 9 Havia um homem chamado Jabez, mais respeitado que qualquer um de seus irmãos. Sua mãe lhe deu o nome de Jabez, porque disse: “Eu o dei à luz com muita dor”. 10 Jabez orou ao Deus de Israel: “Ah, como seria bom se me abençoasses e expandisses meu território! Sê comigo em tudo que eu fizer e guarda-me de todo mal e aflição!”. E Deus atendeu a seu pedido. 11 Quelube, irmão de Suá, gerou Meir. Meir gerou Estom. 12 Estom gerou Bete-Rafa, Paseia e Teína. Teína gerou Ir-Naás. Esses foram os habitantes de Reca.
Percebeu? Se você piscar, você perde a cena.
A julgar pelos nomes anteriores e subsequentes à narrativa de Jabez, percebemos que ele viveu durante a época de Josué e da conquista de Canaã. Quem sabe não nasceu em uma família pobre durante os anos de peregrinação de Israel? Contudo, como veremos, com ele tudo foi diferente, Jabez prosperou.
Agora que nós temos a cena em contexto, mergulhemos no que está diante de nossos olhos. O hebraico, língua em que originalmente Esdras escreveu esse texto, é consideravelmente compacto e conciso. Tem muita coisa acontecendo nesses versículos e enxergaremos bastante se formos cuidadosos em nossa observação. Então, vamos lá. Faremos três ponderações: 1 a realidade dolorosa da vida; 2 a possibilidade gloriosa da vitória; e 3 a estratégia fabulosa do vencedor.
1. A realidade dolorosa da vida
Na maioria das vezes, os nomes das pessoas no Antigo Testamento tinham propósitos e significados. O nome de Jabez é um exemplo clássico do que estamos dizendo:
1Cr 4.9 | Havia um homem chamado Jabez, mais respeitado que qualquer um de seus irmãos. Sua mãe lhe deu o nome de Jabez, porque disse: “Eu o dei à luz com muita dor”.
Jabez, no hebraico, significa dor, tristeza, angústia. Pergunta: “O que levaria uma mãe a dar ao próprio filho o nome de dor, angústia ou tristeza?”. Sim, o parto em si é um momento de dor, especialmente naquelas circunstâncias — já que não havia anestesia. Porém, é de se duvidar que aquela mãe teria dado ao seu filho o nome de dor, angústia, ou tristeza apenas em razão da dor do parto. Dores de parto nem se comparam com a alegria e o prazer de, momentos depois, ter o filho nos braços e poder amamentá-lo. Toda mãe sabe disso. Então, por que esse nome, por que Jabez, por que dor, tristeza ou angústia?
Alguma coisa de muito marcante teria acontecido ou estava acontecendo, a ponto de marcar tanto aquela mãe, de fazê-la sofrer tanto que, olhando para o filho, ela o chama de dor. Fato é que o prazer de ter o bebê nos braços, diante de seus olhos, não tirou da mãe a dor, a angustia e a tristeza que ela estava sentindo. Mas, o que poderia ter acontecido de tão doloroso? Estudiosos do Antigo Testamento nos apontam algumas possibilidades:
Seja o que for — luto, pressão, exploração, desesperança ou decepção, alguma coisa entristecia e angustiava a mãe de Jabez na alma, daí a razão do nome dado ao filho.
A biografia de Jabez não esconde a realidade dolorosa da vida. É sofrido viver, e para alguns é mais sofrido do que o normal. Jabez que nos diga!
Será que você se identifica com Jabez? Teria você sido rejeitado ou abandonado pelos pais; menosprezado ou perseguido por alguém; abusado na infância; nascido em circunstâncias horrendas — pais lutando para sobreviver; a causa da separação dos pais que, agora, vivem jogando isso na sua cara; nascido com alguma deficiência física ou mental; crescido com angústias inexplicáveis (tristeza, depressão); etc.
Você se identifica com Jabez? Sofre com a realidade dolorosa da vida?
2. A possibilidade gloriosa da vitória
Jabez nasceu em circunstâncias horríveis e recebeu o nome que jamais o faria esquecer. No entanto, apesar de toda a angústia que o cercava desde o nascimento, da dor que o atormentava e da tristeza que o punha para baixo, apesar de tudo, não perca a frase descritiva por trás de seu nome:
1Cr 4.9 | Havia um homem chamado Jabez, mais respeitado que qualquer um de seus irmãos. Sua mãe lhe deu o nome de Jabez, porque disse: “Eu o dei à luz com muita dor”.
A palavra hebraica para “respeitado” literalmente quer dizer “pesado”. Usamos o mesmo conceito, em português, quando dizemos: “Esse é um nome de peso”. Ou seja: a ideia é que tal pessoa é digna de respeito e de atenção. Mas, o que Jabez teria feito ou conquistado para ter um nome “respeitado” ou “de peso”? Além do nosso texto, outra passagem que cita o nome de Jabez é o capítulo 2 de 1Crônicas. Diz assim o texto:
1Cr 2.54-55 | 54 Os descendentes de Salma foram: o povo de Belém, os netofatitas, o povo de Atarote-Bete-Joabe, a outra metade dos manaatitas, os zoreus, 55 e as famílias dos escribas que viviam em Jabez: os tiratitas, os simeatitas e os sucatitas. Todos esses foram os queneus, descendentes de Hamate, pai do clã de Recabe.
Em outras palavras: 1 Jabez pode ter se destacado por ter construído uma cidade grande o bastante para acolher três grandes famílias. Outro dado: rabinos dizem que Jabez era um famoso doutor da Lei e que discipulou muitos homens. Dizem que a sua cidade era uma cidade de escribas (1Cr. 2.55). 2 Há também quem escreva que Jabez se destacou nas batalhas contra os Cananeus. Como eles tinham que conquistar terras, é possível que ele tenha se tornado um herói de guerra. Seja como for, Jabez era um homem de piedade e devoção inigualáveis, que fizeram dele um nome de peso entre os homens de Israel.
A crise inicial de Jabez não o impediu de dar a volta por cima e se tornar respeitado. Ele passou pelas mesmas dificuldades de seus irmãos, talvez até por mais lutas do que todos eles, e ainda assim se destacou. Pode ser que os irmãos se deram por vencidos, mas Jabez não, ele deu a volta por cima.
O que o texto bíblico nos ensina?
A vida de Jabez atesta a possiblidade da gloriosa vitória.
3. A estratégia fabulosa do vencedor
A virada na vida de Jabez aconteceu quando ele invocou com ousadia e seriedade o nome do Senhor. Deus escolheu responder e honrar aquele homem de dolorosíssimo começo.
1Cr 4.10 | Jabez orou ao Deus de Israel: “Ah, como seria bom se me abençoasses e expandisses meu território! Sê comigo em tudo que eu fizer e guarda-me de todo mal e aflição!”. E Deus atendeu a seu pedido.
Houve um dia em que Jabez descobriu o seu Criador, aquele que o formou no ventre de sua mãe — não com dores, mas com deleite e o trouxe a vida; não para sofrer, mas para superar. Então, com fé, ele orou ao seu Deus “e Deus atendeu a seu pedido”.
A estratégia fabulosa do vencedor é conhecer e clamar o Senhor Salvador. Foi o que Jabez fez e do que ele jamais se arrependeu. Na oração de Jabez nós encontramos quatro pedidos, os mesmos que nós podemos fazer a Deus quando experimentamos um desejo santo de superarmos as nossas circunstâncias para vivermos para a glória do Senhor.
Primeiro pedido: enobrecimento divino
“Ah, como seria bom se me abençoasses…”
Jabez queria que Deus rompesse a nuvem escura que estava cobrindo a vida dele, causando-lhe dor e sofrimento desde o dia de seu nascimento. Ele queria que o futuro dele fosse ensolarado, fazendo um contraste marcante com o passado de dores.
Jabez queria se destacar com dignidade; ele queria desfrutar de qualidades excelentes para a glória de Deus: “Ah, como seria bom se me abençoasses…”
Jabez pediu por enobrecimento divino.
Segundo pedido: enlarguecimento divino
“… e expandisses meu território!”
À primeira vista, isso parece cobiça, oração de quem crê na teologia da prosperidade. Só que não! Fronteiras aumentadas, territórios expandidos significava, no mundo em que Jabez vivia, maior riqueza, melhor posição na comunidade, mais poder e maior responsabilidade para com Deus e com o povo de Deus. No contexto da aliança, territórios expandidos significava ter mais o que repartir e maior condições de abençoar. Lembra de Abraão? Deus disse:
ARA Gn 12.1-3 | 1 Ora, disse o SENHOR a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei; 2 de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! 3 Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra.
Jabez queria oportunidade para glorificar a Deus e abençoar outras pessoas: “Ah, como seria bom se me abençoasses e expandisses meu território!”. Sobre esse trecho da oração de Jabez, J. Oswald Sanders escreveu assim:
William Carey afirmou: “Tente grande coisas para Deus. Espere grandes coisas de Deus.” Deus está procurado pessoas que, como Jabez, estão descontentes com uma oportunidade limitada, quando eles poderiam trazer grande glória a Deus se estivessem nalguma esfera mais ampliada. Nossa ambição deveria ser por uma influência mais abrangente para Deus, um amor mais profundo por Deus, uma fé mais forte em Deus e um conhecimento mais crescente de Deus.
No livro História dos avisamentos religiosos, William E. Allen narra sobre a vida de oração de John Knox (o reformador da Escócia). Eis um pequeno exemplo de como ele orava:
Oh, Senhor, dá-me a Escócia, ou eu morro!” Depois de algum silêncio, clamava outra vez: “Oh Senhor, dá-me a Escócia, ou eu morro!” Outra vez um profundo silêncio. Então, mais uma vez o clamor, com um sentimento mais profundo: “Oh Senhor, dá-me a Escócia, ou eu morro!
Deus lhe deu a Escócia! Jabez pediu por enlarguecimento divino “e Deus atendeu a seu pedido”.
Terceiro pedido: empoderamento divino
“Sê comigo em tudo que eu fizer…”
Jabez sabia que se Deus expandisse o território dele, ele precisaria da presença poderosa de Deus com ele, senão ele fracassaria. Jabez sabia que a autossuficiência e a arrogância não o levariam muito longe na jornada. Ele precisaria de Deus, do empoderamento divino.
Jabez queria capacidade para cumprir os planos de Deus para a sua vida: “Sê comigo em tudo que eu fizer…”.
Jabez pediu por empoderamento divino.
Quarto pedido: encobrimento divino
“… e guarda-me de todo mal e aflição!”
Jabez desejava que a proteção de Deus cobrisse sua vida; queria que os males da vida não o fizessem reviver as dores que o acompanhavam desde o seu nascimento.
Jabez queria uma nova vida, uma vida que não refletisse o estigma de seu nome de dores.
Jabez queria que Deus o guardasse dele mesmo, do mal de seu coração; guardasse-o também dos males dessa vida.
Jabez queria uma nova vida: “Sê comigo em tudo que eu fizer e guarda-me de todo mal e aflição!”.
Jabez pediu por encobrimento divino.
O irmão deficiente que a todos superou
Diante do exposto, permitam-me fazer três perguntas e apresentar três princípios para a vida.
Três perguntas:
“Ah, como seria bom se me abençoasses e expandisses meu território! Sê comigo em tudo que eu fizer e guarda-me de todo mal e aflição!”.
Que grandes coisas você tem pedido para Deus?
Três princípios:
Essa é a lição que o irmão com deficiência que a todos superou nos ensina.
Quer ter um ponto de partida?
Comece pelo evangelho apresentado na história de Jabez:
O Senhor Jesus Cristo é o nosso Jabez: nasceu em dores, viveu sem pecado, morreu e ressuscitou pelo pecador — seu nome está acima de todo nome, seu é o mundo e tudo o que nele há, dele é todo poder e autoridade no céu e na terra, ele é o Senhor que vive acima de todo mal, dor e sofrimento.
Creia no Senhor Jesus Cristo. Receba-o como salvador. Tenha a história de sua vida transformada.
Deus te abençoe com enobrecimento, enlarguecimento, empoderamento e encobrimento.
Essa é a história do irmão com deficiência que a todos superou.
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