13.10.2024
Êxodo 20.1-26 (NVT)
1Então o SENHOR deu ao povo todas estas palavras: 2“Eu sou o SENHOR, seu Deus, que o libertou da terra do Egito, onde você era escravo. […]
Lei. Nós não gostamos de “lei”. Para nós, a lei só é boa quando resguarda os nossos direitos e refreia aqueles que nos causam mal. No entanto, os aspectos da lei que tratam dos nossos deveres e delimitam os nossos limites, muitas vezes, tendemos a infringir, ultrapassar ou encontrar uma solução improvisada – o famoso “jeitinho brasileiro”. Não é de se estranhar, portanto, que estamos onde estamos enquanto povo e nação. Precisamos, com urgência, aprender a fazer bom uso da lei, especialmente da lei de Deus, visto que ela nos conduz a Cristo para a salvação e a santificação, e nos capacita a construir e manter em ordem quaisquer instituições e civilizações.
Em nosso estudo do Livro de Êxodo, chegamos ao Livro da Lei. Aqui, Deus começará a entregar a lei a Moisés. Antes de avançarmos, contudo, é importante esclarecer o uso do termo “lei” na Bíblia Sagrada.
Bruce Waltke informa que a tradução tradicional de tôrâ por lex (Agostinho), Gesetz (Lutero) e “lei” (nos vários idiomas) induz a uma interpretação equivocada, pois, no mundo ocidental, o conceito de “lei” tem suas raízes no direito romano. Consequentemente, em nossa cultura, o termo “lei” evoca um código impessoal e obrigatório de conduta, cujo cumprimento é garantido pela imposição de penalidades por uma autoridade controladora. No entanto, NA BÍBLIA HEBRAICA, o sentido básico de tôrâ é “ensino catequético”, que visa instruir e guiar a nação eleita, funcionando como sua constituição. Um exemplo claro disso é que os Dez Mandamentos — como veremos a seguir — não apresentam penas diretamente associadas ao seu descumprimento. Portanto, dada a riqueza de significados de tôrâ, muitos estudiosos defendem que seria mais adequado transliterar o termo, em vez de traduzi-lo simplesmente como “lei”.
Atenção: fatos importantes sobre mediação e contexto da lei mosaica.
Com base em análises de leis, tratados e alianças do antigo Oriente Próximo, datados entre o terceiro milênio a.C. (c. 2500–2300 a.C.) e o início do primeiro milênio a.C. (c. 900–650 a.C), além de considerações sociológicas à respeito da época, argumenta-se que Moisés foi mesmo o mediador tanto da aliança do Sinai (Êxodo-Levítico) quanto de sua renovação (Deuteronômio).
Outro ponto a destacar é que essas leis do mundo antigo consistem em um TRÍPTICO – isto é, UM CÓDICE FEITO (UMA COLEÇÃO) DE TRÊS PLACAS – DE NORMAS QUE REGULAM OS RELACIONAMENTOS: leis, que governam as interações entre os membros de um grupo; tratados, que regulam as relações entre dois grupos politicamente distintos (ou entre senhor e servo); e alianças, que regulam o relacionamento entre um grupo e a divindade que o governa. Assim, a aliança é “religiosa”, pois serve à divindade por meio da adoração; a aliança é também “social”, já que inclui normas para a vida prática (lei); e, por fim, “política”, pois a divindade assume o papel de soberano exclusivo sobre o grupo.
Agora, a singularidade da lei mosaica.
COM EXCEÇÃO DE ISRAEL, não há registros de nenhuma outra religião do antigo Oriente Próximo que tenha firmado uma aliança entre um deus e seu povo. Por isso, não há menção de um povo que tenha a santidade como distintivo, refletindo a santidade de seu deus. Apenas Israel. NO ENTANTO, do ponto de vista formal, a lei entregue no Sinai — quando considerada em sua totalidade a partir de Êxodo 20, juntamente com o livro de Levítico e de Números, e sua renovação nas planícies de Moabe (em Deuteronômio) — [a lei entregue no Sinai] apresenta sim uma mescla das formas jurídicas existentes no antigo Oriente Próximo. Ela combina elementos de leis do terceiro milênio e início do segundo milênio a.C. com tratados entre senhores e servos que surgiram a partir do final desse período.
Isso, de maneira alguma, coloca a lei de Deus como apenas mais uma entre as leis vigentes no mundo antigo, tampouco a torna um plágio. Pelo contrário, evidencia tanto a graça comum de Deus quanto a tendência humana de perverter a verdade.
Pense comigo.
A graça comum de Deus é percebida nas formas jurídicas existentes no antigo Oriente Próximo, sobretudo as que foram inseridas na lei de Moisés. — Como? — Ora, é possível que, através da tradição oral, a revelação divina tenha sido transmitida de Adão até os dias de Moisés, de geração em geração, e assim se espalhado. Quando não ocorreu dessa maneira, a lei de Deus, gravada no coração de todos os homens, em todas as épocas e lugares, foi, de fato, de algum modo transmitida e, assim, disseminada pelo mundo. Tudo isso se percebe nas formas jurídicas existentes no antigo Oriente Próximo.
Por outro lado, a perversão da verdade pelo homem, quando entregue a si mesmo, é uma consequência natural. O homem distorce os propósitos divinos que foram revelados por meio da tradição oral. Ele também distorce a aplicação da lei de Deus gravada no coração humano, o que explica as diversas formas de perversões encontradas nas tradições e leis do mundo antigo, inclusive naquelas vigentes nos dias de Moisés.
Assim, a existência de leis, tratados e alianças no antigo Oriente Próximo não diminui o valor da lei dada por Deus a Moisés e a Israel. Pelo contrário, essa diversidade legal exigiu a introdução do padrão de verdade revelado pelo próprio Deus ao homem. E é exatamente isso que encontramos na lei de Moisés: o diapasão divino da verdade.
Os Dez Mandamentos
Os Dez Mandamentos ou Dez Palavras (Êxodo 20.1-17) constituem a primeira das três partes da lei mosaica. A segunda parte abrange os “estatutos” (Êxodo 20.18—24.18), que detalham normas ou regra, que, de fato, regulamentam a forma de convivência e comportamento do povo – assunto que abordaremos na próxima mensagem, sob o título Os Regulamentos de Deus. A terceira e última parte da lei mosaica trata das instruções sobre a “liturgia” (Êxodo 25.1—Levítico 27.34) e dos preparativos para a continuidade da jornada no deserto (Números 1.1—10.10). Além disso, outras leis serão promulgadas ao longo da peregrinação entre o Sinai e Moabe, sendo que, em Deuteronômio, a aliança será renovada, reafirmando o compromisso do povo com Deus.
Destacam-se três aspectos principais na lei de Deus: [1.] o relacionamento correto do homem com Deus, [2.] o relacionamento apropriado entre os homens e [3.] o povo de Deus reunido em adoração. A lei, portanto, aborda santidade, comunidade e adoração, estabelecendo a base para uma vida em conformidade com a vontade divina. Ela é, obviamente, muito boa, pois não apenas orienta os relacionamentos com Deus e o próximo, mas também reflete a santidade de Deus e seu desejo de formar uma comunidade justa e adoradora. Através da lei, o povo de Deus é chamado a viver em santidade e comunhão, demonstrando a bondade e sabedoria divinas em todas as áreas da vida.
Agora, sim, os Dez Mandamentos ou as Dez Palavras.
Os Dez Mandamentos são introduzidos por um preâmbulo – um relatório preliminar – que enfatiza o papel do SENHOR como libertador, ao lembrar que foi ele próprio quem resgatou Israel da escravidão no Egito. Esse ato de libertação não só confere a Deus o direito de exigir a obediência do povo, mas também constitui um chamado à fé e à confiança no Deus que os redimiu e, portanto, os preservaria.
Êxodo 20.1-2 (NVT)
1Então o Senhor deu ao povo todas estas palavras:
2“Eu sou o Senhor, seu Deus, que o libertou da terra do Egito, onde você era escravo.
DADO IMPORTANTE. Fica claro em várias passagens bíblicas que o cumprimento da lei de Moisés ou a obediência à lei de Moisés deveria ser buscado como fruto da fé. Isso é muito importante porque demonstra que, desde o princípio, mesmo antes da lei e, depois, com a própria lei, tudo sempre foi pela graça, por meio da fé. Nunca houve um tempo em que se vivesse apenas pela lei e, depois, pela graça. Jamais. Sempre foi graça, sempre foi pela fé. Aqui estão apenas dois exemplos claros:
Números 14.11 (NVT) e o SENHOR disse a Moisés: “Até quando este povo me tratará com desprezo? Será que nunca confiarão em mim, mesmo depois de todos os sinais que realizei entre eles?
Deuteronômio 1.32-33 (NVT) 32“No entanto, mesmo depois de tudo que ele fez, vocês se recusaram a confiar no SENHOR, seu Deus, 33que vai adiante de vocês buscando lugares para acamparem e guiando-os com uma coluna de fogo durante a noite e uma coluna de nuvem durante o dia.
Mais tarde, ao interpretar a história dos fracassos de Israel no deserto, o salmista atestou o seguinte:
Salmo 78.15-22 (NVT) 15No deserto, partiu as rochas para lhes dar água, como a que jorra de um manancial. […] 17Ainda assim, continuaram a pecar contra ele e se rebelaram contra o Altíssimo no deserto. 18Puseram Deus à prova em seu coração […] 22pois não creram em Deus nem confiaram em seu cuidado.
Os profetas também entenderam que a lei deveria ser cumprida por fé, pois, de outro modo, o ato de cumpri-la não passaria de orgulho e vaidade, à semelhança dos povos pagãos que não viviam pela fé. Confira, por exemplo, Habacuque 2.4 (ARA): “Eis o soberbo! Sua alma não é reta nele [NVT: ‘em si mesmos confiam’]; mas o justo viverá pela sua fé [NVT: ‘viverá por sua fidelidade a Deus.’].”
Mais tarde, o apóstolo Paulo, ao olhar para o Antigo Testamento, também compreendeu, tal como os profetas que chamaram Israel de volta para o livro da lei de Deus, que a lei se cumpre pela fé em Deus. Confira:
Romanos 4.11-17 (NVT)
11A circuncisão era um sinal de que Abraão já possuía fé e de que Deus já o havia declarado justo, mesmo antes de ele ser circuncidado. Portanto, Abraão é o pai daqueles que têm fé mas não foram circuncidados. Eles são considerados justos por causa de sua fé. 12E Abraão também é o pai daqueles que foram circuncidados, mas somente se tiverem o mesmo tipo de fé que Abraão tinha antes de ser circuncidado.
13A promessa de que Abraão e seus descendentes herdariam toda a terra não se baseou em sua obediência à lei de Deus, mas sim no fato de ele ter sido considerado justo quando teve fé. […]
16É por isso que a promessa vem pela fé, para que ela seja segundo a graça e, assim, alcance toda a descendência de Abraão, não somente os que vivem sob a lei, mas todos que têm fé como a que teve Abraão. Pois ele é o pai de todos que creem. 17Conforme aparece nas Escrituras: “Eu o fiz pai de muitas nações”. Isso aconteceu porque Abraão creu no Deus que traz os mortos de volta à vida e cria coisas novas do nada.
Cumprir ou obedecer os mandamentos de Deus deveria ser o fruto natural da fé — uma fé que se alimenta dos poderosos e graciosos atos de Deus, como já havia acontecido no passado. Os feitos divinos, demonstrados repetidamente na história de Israel, serviam de base para a confiança e obediência do povo, mostrando que a resposta à lei deveria sempre brotar de um coração que crê por se lembrar da graça e provisão de Deus. Por exemplo, Êxodo 14.31 (NVT): “Quando o povo de Israel viu o grande poder do SENHOR contra os egípcios, encheu-se de temor diante dele e passou a confiar no SENHOR e em seu servo Moisés.”
Pode-se afirmar com segurança que o centro da teologia bíblica é a mensagem de que a vontade de Deus deve ser cumprida – pela fé em Deus – para a glória dele próprio. A expressão mais importante dessa vontade se encontra nos Dez Mandamentos, os quais, por sua profundidade e relevância, merecem os seguintes destaques.
Os Dez Mandamentos podem ser divididos em três categorias principais. I—III: Os três primeiros tratam diretamente de Deus e da adoração que lhe é devida; V—X: os seis últimos dizem respeito ao relacionamento com o próximo e ao cuidado com as outras pessoas; e IV: o quarto mandamento (sobre o sábado) serve como uma transição.
I—IV: Os quatro primeiros mandamentos são acompanhados de justificativas, pois estabelecem leis únicas que diferenciam Israel e seu Deus de qualquer outra nação.
V—X: Já os seis últimos são apresentados sem qualquer justificativa. Outra coisa: exceto, talvez, o décimo mandamento, a maioria dessas leis é encontrada sim em diversas culturas, uma vez que proibições contra assassinato, roubo e adultério são essenciais para a sobrevivência de qualquer sociedade. Essas normas fazem parte da lei moral inscrita na consciência humana, e, por isso, são apresentadas de forma direta, sem necessidade de explicação adicional.
Os Mandamentos em Relação a Deus
Êxodo 20.3-7 (NVT)
3“Não tenha outros deuses além de mim.
4“Não faça para si espécie alguma de ídolo ou imagem de qualquer coisa no céu, na terra ou no mar. 5Não se curve diante deles nem os adore, pois eu, o Senhor, seu Deus, sou um Deus zeloso. Trago as consequências do pecado dos pais sobre os filhos até a terceira e quarta geração dos que me rejeitam, 6mas demonstro amor por até mil gerações dos que me amam e obedecem a meus mandamentos.
7“Não use o nome do Senhor, seu Deus, de forma indevida. O Senhor não deixará impune quem usar o nome dele de forma indevida.
O Mandamento de Transição
Êxodo 20.8-11 (NVT)
8“Lembre-se de guardar o sábado, fazendo dele um dia santo. 9Você tem seis dias na semana para fazer os trabalhos habituais, 10mas o sétimo dia é o sábado do Senhor, seu Deus. Nesse dia, ninguém em sua casa fará trabalho algum: nem você, nem seus filhos e filhas, nem seus servos e servas, nem seus animais, nem os estrangeiros que vivem entre vocês. 11O Senhor fez os céus, a terra, o mar e tudo que neles há em seis dias; no sétimo dia, porém, descansou. Por isso o Senhor abençoou o sábado e fez dele um dia santo.
ESTE É UM MANDAMENTO DE TRANSIÇÃO: é santo para Deus, e é santo porque aponta que os seres humanos devem entrar em descanso eterno com ele. O apóstolo Paulo, portador de revelação progressiva, adicional da parte de Deus, escreveu assim,
Colossenses 2.16-17 (NVT)
Portanto, não deixem que ninguém os condene pelo que comem ou bebem, ou por não celebrarem certos dias santos, as cerimônias da lua nova ou os sábados. Pois essas coisas [“lei”] são apenas sombras da realidade futura, e o próprio Cristo é essa realidade.
Portanto, Cristo é o cumprimento do dia de descanso, e por meio dele nós entramos no descanso eterno com Deus. Cristo é também o cumprimento de todas as outras regulamentações cerimoniais: rituais, alimentação, circuncisão, etc.
Embora – por causa de Cristo – a guarda do dia de descanso já não seja uma característica distintiva do povo de Deus, a maioria das razões para observá-lo ainda permanece válida. Principalmente, embora não estejamos mais debaixo das leis cerimoniais de Israel— e a Bíblia não ordene ao cristão que guarde o sábado —, há em nosso coração o desejo e a necessidade de separar um dia, santificando-o para descanso, adoração e reflexão. Portanto, a pessoa que se sente inclinada a trabalhar sete dias por semana deve refletir sobre qual deus ela realmente está adorando.
As funções do sétimo dia ou do sábado, agora se cumprem no primeiro dia da semana, quando celebramos a ressurreição de Cristo dentre os mortos: o domingo. De fato, os crentes no Cristo ressurreto passaram a se reunir no primeiro dia da semana, o dia do Senhor (Ap 1.10). Nesses encontros, partiam o pão, liam, ensinavam e estudavam as Escrituras (Jo 20.1, 19-23; At 20.7; 1Co 16.2), celebrando a ressurreição de seu Senhor, que abrira com sua vida, morte e ressurreição a porta do descanso. Ele mesmo, Cristo, disse em Mateus 11.28-29 (ARA): “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei […] e achareis descanso para a vossa alma.”
Os Mandamentos em Relação aos Homens
Êxodo 20.12-17 (NVT)
12“Honre seu pai e sua mãe. Assim você terá vida longa e plena na terra que o Senhor, seu Deus, lhe dá.
13“Não mate.
14“Não cometa adultério.
15“Não roube.
16“Não dê falso testemunho contra o seu próximo.
17“Não cobice a casa do seu próximo. Não cobice a mulher dele, nem seus servos ou servas, nem seu boi ou jumento, nem qualquer outra coisa que lhe pertença”.
Os Dez Mandamentos, ou Dez Palavras, resumem os relacionamentos que Israel deveria manter tanto com o Senhor quanto entre si, como povo da aliança (Êx 20.3-17). Esses mandamentos estabeleceram as bases para a fidelidade a Deus e para a convivência harmoniosa entre os membros da comunidade da aliança. Eles devem ser a base sólida para toda e qualquer lei criada pelo ser humano, independentemente da cultura.
A Resposta do Povo da Aliança: Temor e Fé
Diante da manifestação direta do SENHOR no monte Sinai, Israel reagiu com temor e admiração, reconhecendo a santidade e o poder de Deus. O povo, profundamente impactado pela majestade divina, demonstrou reverência diante da grandeza do Senhor.
Êxodo 20.18-21 (NVT)
18Quando o povo ouviu os trovões e o som forte da trombeta, e quando viu o clarão dos raios e a fumaça que subia do monte, ficou a distância, tremendo de medo.
19Disseram a Moisés: “Fale você conosco e ouviremos; mas não deixe que Deus nos fale diretamente, pois morreríamos!”.
20Moisés respondeu: “Não tenham medo, pois Deus veio desse modo para prová-los e para que o temor a ele os impeça de pecar”.
[Deus os estava ensinando a viver com temor e pela fé]
Deuteronômio 6.1-3 (NVT) 1“Estes são os mandamentos, os decretos e os estatutos que o SENHOR, seu Deus, me encarregou de lhes ensinar. Não deixem de cumpri-los na terra que em breve vocês possuirão. 2Vocês, seus filhos e netos temerão o SENHOR, seu Deus, enquanto viverem. Se obedecerem a todos os seus decretos e mandamentos, desfrutarão de vida longa. 3Ouça com atenção, Israel, e tenha o cuidado de obedecer. Então tudo irá bem com vocês e terão muitos filhos na terra que produz leite e mel com fartura, exatamente como lhes prometeu o SENHOR, o Deus de seus antepassados.
21Enquanto o povo continuava a distância, Moisés se aproximou da nuvem escura onde Deus estava.
A Adoração do Povo da Aliança
Uma vez apresentados os Dez Mandamentos (Êx 20.3-17) e o que se requer do povo da aliança, isto é, temor e fé (Êx 20.18-21), e antes de se passar aos Regulamentos de Deus (Êx 21.1—24.18), encontra-se o que poderíamos chamar de prólogo (Êx 20.22-26) para o que se seguirá – e o que se seguirá serão estatutos, regulamentos ou leis que regerão os relacionamentos interpessoais.
Esse prólogo (Êx 20.22-26) remete o povo da aliança aos mandamentos referentes a Deus nos Dez Mandamentos (Êx 20.3-7), destacando que tudo o mais no Livro da Lei será um desdobramento da adoração correta ao Senhor. Ou seja, o culto de Israel deve refletir a exclusividade, a glória e a santidade de Deus, em vez de promover a idolatria, exaltar o homem ou outros deuses e estimular a sensualidade.
Êxodo 20.22-26 (NVT)
22O SENHOR disse a Moisés: “Diga ao povo de Israel: Vocês viram com os próprios olhos que eu lhes falei do céu. 23Lembrem-se de que não devem fazer ídolos de prata ou ouro que tomem o meu lugar.
24“Construam para mim um altar feito de terra e nele ofereçam holocaustos e ofertas de paz, sacrifícios de ovelhas e bois. Em todo lugar onde eu exaltar meu nome, construam um altar. Eu virei até vocês e os abençoarei. 25Se usarem pedras para construir meu altar, que sejam apenas pedras inteiras, em sua forma natural. Não alterem a forma das pedras com alguma ferramenta, pois isso tornaria o altar impróprio para o uso sagrado. 26E não usem degraus para chegarem diante do meu altar, para que sua nudez não seja exposta.”
Deus lhes diz a quem deveriam adorar: somente a ele, o Senhor. Deus também lhes ensina como adorá-lo: com simplicidade (v. 24a, 25), sacrifícios (v. 24b), sem a ideia de lugares sagrados (v. 24c), sem idolatria (v. 25) e com toda pureza e santidade (v. 26).
Tendo explicado a quem e como deveriam adorar, Deus não desejava apenas que Israel não adorasse deuses pagãos; o Senhor também queria que o povo da aliança não adorasse como os pagãos adoravam.
Os modestos altares feitos de terra ou de pedras inteiras visavam, pelo menos, dois propósitos: evitar a ostentação e a idolatria. Walter Kaiser, eminente estudioso do Antigo Testamento, escreveu em seu comentário sobre Êxodo que altares de pedra não deveriam ser talhados com “alguma ferramenta” (v. 25), possivelmente para que ninguém pudesse transformá-los em uma imagem ou outro tipo de fetiche. Assim, combatia-se a idolatria. Além disso, visava-se impedir que o altar se tornasse “impróprio para o uso sagrado” (v. 25b). Mas o que isso significa?
Philip Ryken, em seu Comentário Expositivo Reformado: Êxodo, escreveu que um altar feito de pedras caras e esteticamente agradáveis seria um tributo à habilidade humana, mas, do ponto de vista do Senhor, seria profanado, pois desviaria a atenção de Deus e de sua graça para o homem e sua performance. Os altares pagãos, por exemplo, eram construídos com materiais caros e e muito bem talhados para se exibir. No entanto, Deus ordenou a Israel que construísse o altar de terra ou de pedras inteiras. O Senhor não queria que o coração da adoração fosse desviado. Se um altar fosse ornamentado e custoso, alguém poderia ser tentado a adorar o próprio altar ou a habilidade de quem o construiu! Assim, o altar deveria ser simples — apenas pedras ajustadas em um retângulo à altura da cintura, sobre o qual se colocaria madeira para queimar o sacrifício.
Degraus não deveriam ser construídos para acessar o altar. A razão é que a veste solta e esvoaçante, lá em cima, poderia expor a nudez da pessoa que conduzisse o sacrifício. Mais tarde, quando altares com degraus foram permitidos (Lv 9.22; Ez 43.13-17), os sacerdotes foram instruídos a usar calções de linho (Êx 28.40-42; Ez 44.18).
O que se aprende com isso?
Nada nos cultos de adoração deve promover idolatria, ostentação ou sensualidade. Deve-se evitar intencionalmente o que é extravagante ou excessivamente ornamentado. Da mesma forma, deve-se evitar a exposição ou o relevo de partes do corpo que possam provocar sensualidade. Deus deve ser o foco da adoração, não um prédio ou mesmo um líder. Deus se deleita no louvor de seu povo, quer eles se reúnam em templos ou catedrais, quer em uma cabana de barro ou sob uma árvore em qualquer lugar. Estruturas impressionantes, habilidades artísticas, posturas extravagantes, comportamentos inadequados ou vestes sensuais jamais devem capturar nossos corações e nos afastar do verdadeiro objeto da adoração: o Deus triúno.
As Tábuas de Pedra, ou, se preferir, Os Dez Mandamentos, ou ainda, se desejar ser mais literal, As Dez Palavras, colocam-nos à sombra da majestade de Deus. Lembrando que este é o investimento mais valioso da vida: chegar-se à majestade de Deus, frente a frente, cara a cara. Esses mandamentos não são meramente um conjunto de regras, mas uma revelação do caráter divino e uma expressão da vontade soberana de Deus para o seu povo. Eles refletem a santidade e o poder do Deus que os proclamou, e são um convite para vivermos em obediência, pela fé, à luz da grandeza de sua presença e no poder de sua graça.
Concluindo, uma estrutura detalhada que explora a profunda relação dos Dez Mandamentos com o caráter de Deus, o evangelho e o Novo Testamento.
I. Considere o Deus Santo que Proclamou os Mandamentos (Êxodo 19.1–20.1)
A. O Chamado de Deus (Êxodo 19.1-6)
Deus chamou Israel para ser seu povo santo, estabelecendo o fundamento da aliança e revelando seu propósito: uma nação de sacerdotes e uma possessão exclusiva.
B. A Santidade de Deus (Êxodo 19.7-25)
A preparação para a entrega da lei destaca a santidade e a majestade de Deus. A manifestação no Sinai demonstra o poder de Deus e a seriedade do momento, preparando o povo para receber Seus mandamentos.
II. Considere o Padrão do Evangelho nos Dez Mandamentos (Êxodo 20.1-2)
Antes de apresentar os mandamentos, Deus afirma Sua identidade como o libertador de Israel: “Eu sou o Senhor, seu Deus, que o tirou da terra do Egito, onde você era escravo.” Da mesma forma, o evangelho começa com a obra de Deus, que nos liberta do pecado antes de exigir obediência. A obediência, portanto, não é a base da libertação, mas seu fruto. Deus nos liberta, e a nossa obediência surge como resposta a essa graça.
III. Considere a Estrutura dos Dez Mandamentos (Êxodo 20.3-17)
Os Dez Mandamentos estão divididos em duas partes: a primeira seção trata do relacionamento do homem com Deus (mandamentos 1 a 4), e a segunda trata do relacionamento entre as pessoas (mandamentos 5 a 10). Essa divisão reflete o duplo amor exigido por Deus — amor a Deus e amor ao próximo. Essa é a essência do evangelho.
IV. Considere os Atributos de Deus Revelados em Cada um dos Dez Mandamentos (Êxodo 20.3-17)
V. Considere como os Escritores do Novo Testamento Enfatizam os Dez Mandamentos
Os escritores do Novo Testamento reafirmam a lei como princípios morais contínuos. Jesus, Paulo e Tiago ensinam que a lei é cumprida no amor (Rm 13.8-10, Tg 2.8-12). O chamado para viver de acordo com a lei continua relevante, mas agora é entendido à luz da fé em Cristo, pelo poder do Espírito Santo.
VI. Veja Como Jesus os Cumpre
Jesus não apenas confirma os mandamentos, mas os aprofunda. Ele ensina que o verdadeiro cumprimento da lei vai além da obediência externa e alcança o coração. Por exemplo, Jesus amplia o sexto mandamento ao ensinar que até mesmo a ira contra o próximo é uma forma de assassinato (Mt 5.21-22), e o sétimo mandamento ao afirmar que o adultério começa no olhar cobiçoso (Mt 5.27-28).
Jesus cumpre a lei perfeitamente e oferece seu cumprimento a nós. Em Cristo, os mandamentos se tornam não apenas um código moral, mas uma expressão de nossa nova vida de fé, movida pela graça e capacitada pelo Espírito Santo.
Romanos 8.3-4 (NVT)
3A lei não era capaz de nos salvar por causa da fraqueza de nossa natureza humana, por isso Deus fez o que a lei era incapaz de fazer ao enviar seu Filho na semelhança de nossa natureza humana pecaminosa e apresentá-lo como sacrifício por nosso pecado. Com isso, declarou o fim do domínio do pecado sobre nós, 4de modo que nós, que agora não seguimos mais nossa natureza humana, mas sim o Espírito, possamos cumprir as justas exigências da lei.
Hoje, nos encontramos face a face com Deus, não por meio de Moisés, mas através de Cristo. Ele não apenas nos chama a Si — “vinde a mim…” — mas é, ele próprio, o reflexo da glória de Deus e a expressão exata do seu ser. Em Cristo, contemplamos plenamente a presença e a essência divina, revelada em toda a sua glória. E contemplá-lo, pela fé, é o maior investimento da vida!
S.D.G. L.B.Peixoto
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