03.03.2024
FÉ BIFOCAL. Já ouviu falar em fé bifocal? Talvez não, mas já ouviu falar de lentes bifocais! Certo? Você sabe o que são essas lentes? Você faz uso de lentes bifocais?
AS LENTES BIFOCAIS são uma das maravilhas da tecnologia. São um tipo de lente oftálmica – lente de óculos – que possui duas áreas distintas com diferentes graus de correção visual. Geralmente, a parte superior da lente é ajustada para visão de longe, enquanto a parte inferior é projetada para visão de perto. Isso permite que pessoas como eu, com presbiopia ou vista cansada tenham uma visão clara tanto de objetos distantes quanto próximos sem a necessidade de trocar de óculos constantemente.
A MESMA TECNOLOGIA – isto é, a capacidade de ajustar a visão de longe e a visão de perto – É NECESSÁRIA TAMBÉM PARA A FÉ. Ou seja: o que as lentes bifocais são para os olhos, a fé bifocal deve ser para o coração. — Do que estamos falando? — Estamos falando do tipo de fé que enxerga a realidade desesperadora do momento presente sem perder de vista, sem perder a esperança no triunfo do reino de Deus no porvir; é o tipo de fé que faz crer na vitória final da justiça, não importa quão escuros e instáveis sejam os céus do momento; é o tipo de fé que permite você ver a tragédia e a necessidade diante de seus olhos, mas também enxergar, mais adiante, a providência do bom Deus realizando, no mundo que ele criou, o seu plano bom, agradável e perfeito; é o tipo de fé que sente a dor do sofrimento presente, mas respira o alívio de saber que no futuro o próprio Cristo “enxugará dos olhos toda lágrima, e não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor. Todas essas coisas passaram para sempre” (Ap 21.4).
ABRÃO pode ter sido o primeiro homem desde Noé a usar OS ÓCULOS BIFOCAIS DA FÉ. Sua história – que tem início, formalmente, em Gênesis 12 –, na verdade, começa em Gênesis 11.27, à partir de onde Moisés registrou com brevidade a árvore genealógica de Abrão, descendendo da família de Sem (11.10-26), filho de Noé. Leia:
Gênesis 11.27-32 27Este é o relato da família de Terá, pai de Abrão, Naor e Harã. Harã, que foi o pai de Ló, 28morreu em Ur dos caldeus, sua terra natal, enquanto seu pai, Terá, ainda vivia. 29Tanto Abrão como Naor se casaram. A mulher de Abrão se chamava Sarai, e a mulher de Naor, Milca. (Milca e sua irmã, Iscá, eram filhas de Harã, irmão de Naor.) 30Sarai, porém, não conseguia engravidar e não tinha filhos. 31Certo dia, Terá tomou seu filho Abrão, sua nora Sarai (mulher de seu filho Abrão) e seu neto Ló (filho de seu filho Harã) e se mudou de Ur dos caldeus. Partiram em direção à terra de Canaã, mas pararam em Harã e se estabeleceram ali. 32Terá viveu 205 anos e morreu enquanto ainda estava em Harã.
Sabemos que a família de Abrão, ele inclusive, ERAM TODOS PAGÃOS POR NATUREZA. Josué, recontando a história deles, tendo como intuito destacar a graça de Deus escrevendo essa história, atestou o seguinte:
Josué 24.2-3 2Josué disse a todo o povo: “Assim diz o SENHOR, o Deus de Israel: ‘Muito tempo atrás, seus antepassados, incluindo Terá, pai de Abraão e de Naor, viviam além do rio Eufrates e serviam outros deuses. 3Mas eu tirei seu antepassado Abraão da terra além do Eufrates e o conduzi à terra de Canaã. […]
Estêvão, o primeiro mártir da Igreja Primitiva, pregando aos sacerdotes, momentos antes de ser apedrejado até a morte, contou-nos que o chamado de Abrão, de fato, ocorreu lá em Ur dos caldeus:
Atos 7.2-4 2[…] “Irmãos e pais, ouçam-me! O Deus glorioso apareceu a nosso antepassado Abraão na Mesopotâmia, antes de ele se estabelecer em Harã, 3e lhe disse: ‘Deixe sua terra natal e seus parentes e vá para a terra que eu lhe mostrarei’. 4Então Abraão saiu da terra dos caldeus e morou em Harã até seu pai morrer. Depois, Deus o trouxe aqui para a terra onde vocês agora vivem.
Há quem faça referência à cidade de Harã (descrita em Gn 11.31-32 e em Atos 7.2) como sendo a pátria mãe dos parentes de Abrão, ou a região onde teve origem a família estendida de Abrão, sendo provavelmente a cidade desconhecida onde habitava seu irmão Naor (avô de Rebeca), Betuel (pai de Rebeca), Labão (irmão de Rebeca) e Rebeca (que veio a ser esposa de Isaque, filho de Abraão). Portanto, tudo indica que será para lá, Harã, que Abraão enviará seu servo mais velho em busca de uma esposa para Isaque. Essa história será contada em Gênesis 24.
Dizemos que ABRAÃO POSSUÍA UMA FÉ COM LENTES BIFOCAIS porque, tal como Noé, o patriarca precisou encarar os desafios do presente com olhos no futuro. Ele abandonou tudo o que conheceu durante toda a sua vida para começar tudo de novo em um novo mundo, um desafio que provavelmente exigiu maior fé do que a de Moisés. E isto fez de Abraão o exemplo de fé por excelência em toda a Bíblia. O autor de Hebreus o descreveu deste modo, ao colocá-lo na galeria dos heróis da fé [note a sua fé bifocal]:
Hebreus 11.8-10 8Pela fé, Abraão obedeceu quando foi chamado para ir à outra terra que ele receberia como herança. Ele partiu sem saber para onde ia. 9E, mesmo quando chegou à terra que lhe havia sido prometida, viveu ali pela fé, pois era como estrangeiro, morando em tendas. Assim também fizeram Isaque e Jacó, que herdaram a mesma promessa. 10Abraão esperava confiantemente pela cidade de alicerces eternos, planejada e construída por Deus.
Paulo, o apóstolo, também tratando de Abraão como exemplo de fé salvadora, colocou assim [e de novo nós podemos ver a fé bifocal de Abraão]:
Romanos 4.1-3, 11-12, 18-22 1Do ponto de vista humano, Abraão foi o fundador de nossa nação. O que descobriu ele? 2Se suas boas obras o tivessem tornado justo, ele teria motivo para se vangloriar, mas não perante Deus. 3Pois as Escrituras dizem: “Abraão creu em Deus, e assim foi considerado justo”. […] 11Pela fé, até mesmo Sara, embora estéril e idosa, pôde ter um filho. Ela creu que Deus era fiel para cumprir sua promessa. 12E, assim, uma nação inteira veio desse homem velho e sem vigor [já amortecido], uma nação numerosa como as estrelas do céu e incontável como a areia da praia. […] 18Mesmo quando não havia motivo para ter esperança, Abraão a manteve, crendo [mesmo contra a esperança, Abraão creu] que se tornaria o pai de muitas nações. Pois Deus lhe tinha dito: “Esse é o número de descendentes que você terá!”. 19E sua fé não se enfraqueceu, embora ele soubesse que, aos cem anos, seu corpo, bem como o ventre de Sara, já não tinham vigor. 20Em nenhum momento a fé de Abraão na promessa de Deus vacilou. Na verdade, ela se fortaleceu e, com isso, ele deu glória a Deus. 21Abraão estava plenamente convicto de que Deus é poderoso para cumprir tudo que promete. 22Por isso, por sua fé, ele foi considerado justo.
É, portanto, neste homem de fé bifocal – Abraão – que nós empregaremos agora a nossa atenção no livro de Gênesis. Faremos de forma panorâmica (de Gênesis 12.1 a 25.18). Quem sabe, no futuro, permitindo Deus, nós voltemos a Gênesis para caminhar mais vagarosamente por entre as gigantescas e elegantes árvores desta lindíssima floresta que é o primeiro livro da Bíblia. Por ora, como temos feito até aqui nesta série de mensagens, passaremos por cima, sobrevoando a vida de Abraão, o primeiro patriarca – que será seguido por Isaque, Jacó e José.
Recapitule comigo o que vimos até aqui (nesta série de mensagens em Gênesis): nós argumentamos que o primeiro livro de Moisés é, de fato, o primeiro da saga com cinco capítulos (Pentateuco): Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.
Gênesis ocupa a posição de destaque, em particular, no Pentateuco e, como um todo, no Cânon da Bíblia. Sendo o primeiro livro da Bíblia, Gênesis apresenta Deus, Israel e a importância desse povo na história da salvação oferecida por Deus; e, em tudo, demonstra como a aliança de Deus o une a Israel.
Gênesis também estabelece Deus – o Deus da aliança com Israel – como o único criador, sustentador e juiz de todo o mundo, independentemente de raça ou nacionalidade. Como o primeiro livro do Pentateuco, Gênesis atua como prelúdio fundamental para aquele que, talvez, no Antigo Testamento, seja o maior personagem humano de Israel (Moisés), o evento mais crucial de Israel (o Êxodo), o momento definidor de Israel (a Lei sendo entregue no Sinai) e o futuro imediato de Israel (a conquista de Canaã). Gênesis ainda revela as raízes e os resultados da rebelião humana contra Deus (individualmente e mundialmente) e o lugar de Israel no remédio para essa rebelião.
O Gênesis se divide em duas partes grandes partes, com quatro partes menores dentro de cada uma das duas grandes partes. A primeira parte, que já estudamos, é esta:
Capítulos 1—11: A HISTÓRIA PRIMEVA
1. 1.1—2.4a | O PRINCÍPIO DA HISTÓRIA (a história da criação)
2. 2.4b-25 | O PARAÍSO NA TERRA (a história do Éden)
3. 3.1–5.32 | O PECADO DO HOMEM (a história da queda e resultado)
4. 6.1–11.32 | A PUNIÇÃO DE DEUS (a história de Noé, dilúvio e nações)
A segunda parte, que começamos a estudar hoje, é esta:
Capítulos 12—50: A HISTÓRIA PATRIARCAL
1. 12.1–25.18 | O PACTO DIVINO (a história de Abraão)
2. 25.19–28.9 | O PERIGO DE POR A PERDER (a história de Isaque)
3. 28.10–37.1 | O POVO DE DEUS (a história de Jacó)
4. 37.2–50.26 | A PROVIDÊNCIA DE DEUS (a história de José)
A HISTÓRIA DA VIDA DE ABRAÃO É DECISIVA – tanto em Gênesis, como no Pentateuco e na Bíblia como um todo. POR EXEMPLO: ao se revelar a Moisés, lá no livro de Êxodo, Deus irá se apresentar como “o SENHOR […] o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó […] Esse é meu nome para sempre, o nome pelo qual serei lembrado de geração em geração” (Êx 3.15). E assim Deus se apresentará ao longo de todo o Antigo Testamento. Mais adiante ainda na revelação bíblica, abrindo o Novo Testamento, Mateus dará este título ao Evangelho (Mt 1.1): “Este é o registro dos antepassados [Livro da genealogia] de Jesus Cristo, descendente de Davi e de Abraão”. Abraão é a pessoa mais citada no Antigo Testamento, atrás de Moisés e de Davi. No Novo Testamento, Abraão fica atrás apenas de Moisés, em número de citações. Com efeito, Abraão é um dos patriarcas mais importantes do judaísmo, cristianismo e islamismo.
Entretanto, diferentemente das histórias que não estão na Bíblia, a grande importância de Abraão (ou de qualquer outro personagem humano na Bíblia) não está baseada em quem ele – o personagem – foi (ou eles foram), nem em seus grandes feitos ou nos seus lamentáveis fracassos. Na verdade, A IMPORTÂNCIA DE ABRAÃO (e de qualquer outro personagem humano na Bíblia) consiste no que Deus fez nele, por ele e através dele (para a própria glória dele: Deus). Portanto, ao estudar a história de qualquer personagem bíblico, concentre-se em Deus – na ação soberana, graciosa e decisiva de Deus. Deus é o personagem principal na Bíblia, do início (em Gênesis) ao fim (em Apocalipse).
PARA VOCÊ TER UMA IDEIA, eis como começa a Bíblia (Gn 1.1): “No princípio, Deus criou os céus e a terra.” Eis como ela termina (Ap 22.20-21): “Aquele que é testemunha fiel de todas essas coisas diz: ‘Sim, venho em breve!’. Amém! Vem, Senhor Jesus! Que a graça do Senhor Jesus esteja com todos.” Ora, a Bíblia é sobre Deus, que criou todas as coisas (pela Palavra e o Espírito) para a sua própria glória e nos chamou (também pela Palavra e o Espírito) para uma doce e gloriosa comunhão de amor consigo mesmo, Deus trino: Pai, Filho e Espírito Santo. E tudo o que se passa entre Gênesis 1.1 e Apocalipse 22.20-22 é a revelação de como isso aconteceu e se tornou possível.
Pois bem… O CHAMADO DE ABRAÃO, – Gênesis 12.1-3 –, que é o ponto de partida da mensagem de hoje, está posta em contraste com o caos que virou a humanidade, conforme se lê em Gênesis 11.1-9 (o relato da torre de Babel).
PRESTE ATENÇÃO: Deus criou todas as coisas perfeitas, para a sua glória e doce e gloriosa comunhão com a criação, sobretudo com a espécie humana (Gn 1—2). O pecado, no qual caiu Adão e Eva, arrastou tudo e todos para o buraco negro da destruição (Gn 3—5). Deus, soberana e graciosamente, decidiu resetar tudo com o dilúvio, salvando Noé e seus filhos e noras na arca; mas não adiantou muito, pois o vírus do pecado está instalado no coração da espécie humana e a coisa piorou (Gn 6–10).
QUANDO CHEGAMOS A GÊNESIS 11, o que encontramos é a espécie humana inteira em rebelião contra Deus, em total rebeldia contra uma palavra direta de Deus – uma vez proferida no mandado da criação, em Gênesis 1.28: “Então Deus os abençoou e disse: “Sejam férteis e multipliquem-se. Encham e governem a terra.”; e outra vez, após o dilúvio, na aliança de Deus com Noé, em Gênesis 9.1: “Então Deus abençoou Noé e seus filhos e lhes disse: “Sejam férteis e multipliquem-se. Encham a terra.” Pois bem, eis como estava a espécie humana, lá em Babel [preste atenção às palavras dos homens em frontal colisão com as palavras de Deus, em Gn 1.28 e Gn 9.1]:
Gênesis 11.1-4 1Houve um tempo em que todos os habitantes do mundo falavam a mesma língua e usavam as mesmas palavras. 2Ao migrarem do leste [partindo do Oriente], encontraram uma planície na terra da Babilônia [Sinar], onde se estabeleceram. 3Começaram a dizer uns aos outros: “Venham, vamos fazer tijolos e endurecê-los no fogo”. (Naquela região, era costume usar tijolos em vez de pedras, e betume em vez de argamassa.) 4Depois, disseram: “Venham, vamos construir uma cidade com uma torre que chegue até o céu. Assim, ficaremos famosos e não seremos espalhados pelo mundo”.
Isso aqui não tem outro nome: é rebelião, flagrante rebeldia contra Deus mesmo (sua pessoa) e a palavra de Deus também (a lei de Deus). Ora, não tinha, portanto, como dar certo. E foi Deus mesmo quem cuidou de abortar esses planos diabólicos:
Gênesis 11.5-9 5O SENHOR, porém, desceu para ver a cidade e a torre que estavam construindo. 6“Vejam!”, disse o SENHOR. “Todos se uniram e falam a mesma língua. Se isto é o começo do que fazem, nada do que se propuserem a fazer daqui em diante lhes será impossível. 7Venham, vamos descer e confundi-los com línguas diferentes, para que não consigam mais entender uns aos outros.” 8Assim, o SENHOR os espalhou pelo mundo inteiro, e eles pararam de construir a cidade. 9Ela recebeu o nome de Babel [ou Babilônia, confusão], pois ali o SENHOR confundiu as pessoas com línguas diferentes e as espalhou pelo mundo.
Neste ponto da história, alguém poderia pensar: “Pronto! Fracassaram os planos de Deus. A humanidade virou as costas para Deus e Deus, em troca, puniu todo mundo, mandando-os para bem longe.” Só que não. O que, de fato, nós lemos na sequência de Gênesis é, primeiro, um resumo da história da família que deu origem a Abraão, desde Sem, filho de Noé (11.10-32). Segundo, logo na sequência (12.1ss.), está o relato do chamado de Abrão (que será chamado de Abraão). E neste chamado, o que se lerá será o plano de Deus, a proposta original de Deus, e o plano reverso da torre de Babel. Leia:
Gênesis 12.1-3 1O SENHOR tinha dito a Abrão: “Deixe sua terra natal, seus parentes e a família de seu pai e vá à terra que eu lhe mostrarei [isso está em harmonia com Gn 1.28 e 9.1; está também em contraste com o “venham” de Babel, em Gn 11.2-3]. 2Farei de você uma grande nação, o abençoarei [como Deus abençoou Adão e Noé, em Gn 1.28 e 9.1, respectivamente] e o tornarei famoso, e você será uma bênção para outros. 3Abençoarei os que o abençoarem e amaldiçoarei os que o amaldiçoarem. Por meio de você, todas as famílias da terra serão abençoadas”.
Se você contou, então chegou ao número de sete bênçãos prometidas a Abraão (nos versículos 2-3); ou seja, a resposta de fé ao chamado de Deus (no versículo 1) conferiria a Abraão os seguintes (vs. 2-3):
1. “Farei de você uma grande nação”
Essa promessa significa que Deus começaria a redimir a humanidade pecadora chamando um único indivíduo, mas pretendia que esse número crescesse. Assim, não só um casal estéril e sem filhos daria origem a uma nação, mas também o mundo moralmente estéril floresceria novamente.
2. “O abençoarei”
Para que, assim como foi dito a Adão e Noé, Abraão pudesse ser fértil, multiplicar e encher a terra com filhos da aliança com Deus.
3. “O tornarei famoso”
O nome grande ou famoso, a reputação do nome, destaca a propagação da influência de Abrão e um mundo que precisava imitar a sua fé em Deus. O nome de Deus seria honrado como o de Abrão era honrado, portanto as bênçãos por esse nome famoso contribuiriam para aumentar reputação de Deus, a fama do nome de Deus.
4. “Você será uma bênção para os outros”
Abraão abençoaria os outros na medida em que apresentasse a eles a fama do nome do Deus de sua aliança.
5. “Abençoarei os que o abençoarem”
“Farei bem aos que lhe fizerem bem, revelando a minha graça.”
6. “Amaldiçoarei os que o amaldiçoarem”
A proteção de Deus garantiria o futuro da nova nação. O próprio Abrão não precisaria temer aqueles que lhe intentassem mal, pois Deus protegeria o homem escolhido e sua família. A tutela do Senhor garantiria o sucesso desse plano divino. Mais especificamente, à medida que Abrão viajasse em direção à terra que Deus lhe mostraria, ele estaria em segurança.
7. “Por meio de você, todas as famílias da terra serão abençoadas”
A noção de todas as nações serem abençoadas por Abrão sela o plano de Deus para a restauração global dos seres humanos. Todas as pessoas estão infectadas e foram afetadas pelo pecado. Os resultados deste fato foram catastróficos. Agora, entretanto, Deus identificava um indivíduo através do qual o plano do Senhor podia ser revelado e levado a cabo – e sobre o qual o salmista pôde cantar:
Salmos 67.2-4 2Que teus caminhos sejam conhecidos em toda a terra, e tua salvação, entre as nações de toda parte. 3Que os povos te louvem, ó Deus, sim, que todos os povos te louvem. 4Que o mundo inteiro cante de alegria, pois governas os povos com justiça e guias as nações de toda a terra. Interlúdio 5Que os povos te louvem, ó Deus, sim, que todos os povos te louvem. 6Então a terra dará suas colheitas, e Deus, o nosso Deus, nos abençoará ricamente. 7Sim, Deus nos abençoará, e todos os habitantes da terra o temerão.
Esse, pois, foi o chamado de Abrão (Gn 12.1), seguido das promessas de Deus (Gn 12.2-3). Trata-se do evento mais crucial na Bíblia entre a queda de Adão e o nascimento de Cristo, sem exagero. — Você sabia disso? — O chamado de Abraão em Gênesis 12.1-3 deu início à história do restante da Bíblia: a história da redenção. Pois bem, daqui em diante, a história se desdobrará conforme a seguir:
Essa é, em resumo, a história de Abraão.
Um passo atrás agora: o que se pode extrair desta vida monumental, a vida de Abraão?
PRIMEIRA LIÇÃO: O pecado e a rebelião dos homens contra Deus não são fortes o bastante para impedirem o avanço dos planos redentores de Deus. Não foi no passado, não será no presente nem no futuro. VEJA: o pecado de Adão, o pecado da humanidade nos dias de Noé, o pecado de Noé, o pecado dos homens na torre de Batel… nada disso parou o SENHOR Deus, que agiu para escrever a história da nossa salvação através de Abraão: reunindo para si um povo dessa descendência, Cristo:
Mateus 1.1-2, 16-17 1Este é o registro dos antepassados de Jesus Cristo, descendente de Davi e de Abraão: 2Abraão gerou Isaque. Isaque gerou Jacó. Jacó gerou Judá e seus irmãos. […] 16Jacó gerou José, marido de Maria. Maria deu à luz Jesus, que é chamado Cristo. 17Portanto, são catorze gerações de Abraão até Davi, catorze de Davi até o exílio na Babilônia e catorze do exílio na Babilônia até Cristo.
Mateus 28.19-20 19Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. 20Ensinem esses novos discípulos a obedecerem a todas as ordens que eu lhes dei. […]
Gálatas 3.16 Pois bem, Deus fez a promessa a Abraão e a seu descendente. Observem que as Escrituras não dizem “a seus descendentes”, como se fosse uma referência a muitos, mas sim “a seu descendente”, isto é, Cristo.
Apocalipse 7.9-10 9Depois disso, vi uma imensa multidão, grande demais para ser contada, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro. Usavam vestes brancas e seguravam ramos de palmeiras. 10E gritavam com grande estrondo: “A salvação vem de nosso Deus, que está sentado no trono, e do Cordeiro!”.
SEGUNDA LIÇÃO: A graça soberana e decisiva de Deus, escolhendo, chamando e santificando o pecador é a nossa única esperança. Olhe para Abraão. Nada nele fazia sentido da perspectiva humana para que Deus, usando-o, escrevesse a história da salvação tal como os planos do próprio Deus. VEJA: Abrão era pagão. Ele não buscava o SENHOR Deus. Era idólatra. A esposa era estéril. Era apenas mais um entre irmãos de uma família patriarcal. De fato, quando se lê a genealogia de Abrão em Gênesis 11.10-32, o que se descobre é que ele parece tão comum quanto qualquer outra pessoa citada na tabela genealógica. Em Gênesis 12.1-9, porém, Abrão se torna o ponto focal do relacionamento de Deus com a raça humana. — Por quê? — Através de um ato de revelação direta e pessoal, de iniciativa do próprio Deus, o Senhor ordenou a Abrão que deixasse sua terra natal e a casa de seu pai (cf. Gn 2.24) e fosse para um local não especificado que lhe seria, futuramente, revelado. Deus foi quem escreveu a história de Abrão, do começo ao final. A graça soberana e decisiva de Deus foi a sua única esperança.
TERCEIRA LIÇÃO: A resposta humana à iniciativa soberana e decisiva de Deus terá de ser, sempre!, a fé. O tipo de fé que nos impele a agir, obedecendo e praticando obras de amor. Tiago, olhando para a vida de Abraão, disse assim:
Tiago 2.21-24 21Não lembram que nosso antepassado Abraão foi declarado justo por suas ações quando ofereceu seu filho Isaque sobre o altar? 22Como veem, sua fé e suas ações atuaram juntas e, assim, as ações tornaram a fé completa. 23E aconteceu exatamente como as Escrituras dizem: “Abraão creu em Deus, e assim foi considerado justo”. Ele até foi chamado amigo de Deus! 24Vejam que somos declarados justos pelo que fazemos, e não apenas pela fé. [Somos declarados justos pelo tipo de fé que nos impele a agir, confiados em Deus, para praticar a justiça, obedientemente.]
E assim foi a vida de Abraão: uma vida de fé. É tanto que em nenhum lugar em todo o Antigo Testamento a justificação somente pela fé aparece tão claramente como no relato da vida de Abraão – pelo menos é isso que os autores do Novo Testamento, sob a inspiração do Espírito Santo nos revelam. Por exemplo: em Romanos 4 e Gálatas 3, os capítulos do Novo Testamento que são mais clara e cuidadosamente dedicados à justificação somente pela fé, Paulo aponta para Abraão e sua fé; o apóstolo não aponta para Moisés, nem Davi, nem qualquer dos profetas. Em particular, Paulo voltou-se para a declaração em Gênesis 15.6: “Abrão creu no SENHOR, e assim foi considerado justo.” Se você tem o hábito de destacar versículos na sua Bíblia, este é um versículo que você deve destacar com a cor mais fluorescente possível. De acordo com que o Novo Testamento faz do Antigo Testamento, Gênesis 15.6 é um dos versículos mais importantes. Repetidamente nós o encontramos citado. Por quê? Porque é o início da nossa fé.
Ao longo da história de Abraão, em Gênesis 12—25, o patriarca ouve, crê e obedece à palavra de Deus. Abraão obedece quando Deus o chama para deixar a casa de seu pai em Harã (12.1, 4). Abraão crê nas promessas de Deus, de lhe dar descendência, de abençoar essa descendência e de multiplicá-la grandemente, embora ele e Sara já tivessem passado da idade fértil (12.2; 15.1-6; 17.2, 6; 18.10; 21.2-5). Abraão crê na promessa de Deus, de lhe dar terras (13.15; 15.18-21; 17.8). Abraão obedece à ordem de Deus de circuncidar a si mesmo e a sua descendência, como uma confirmação da aliança (17.10, 23). No entanto, de todas as demonstrações de fé de Abraão, observamos mais claramente a notável fé deste patriarca em Gênesis 22, quando Deus chama Abraão para sacrificar Isaque, seu único filho com Sara.
Quando Abraão diz a Isaque que Deus providenciaria o sacrifício (22.8), não temos razão para pensar que Abraão tinha em mente o cordeiro que Deus eventualmente forneceria (22.13). Seu filho fez uma pergunta simples e não teológica (22.7): “Temos fogo e lenha […] Mas onde está o cordeiro para o holocausto?” Abraão cria que Deus havia providenciado o sacrifício, e era Isaque. Abraão, portanto, planejou entregar a vida de seu único filho a Deus, por ordem de Deus. O que passava na cabeça de Abraão? O escritor aos Hebreus nos ajuda a entender (Hb 11.19): Abraão “Concluiu que, se Isaque morresse, Deus tinha poder para trazê-lo de volta à vida.”
Essa era a fé de Abraão. Ele conhecia o seu Deus tão bem que se esse Deus o chamasse para entregar o próprio filho em sacrifício, Abraão poderia obedecer porque sabia que Deus seria fiel para ressuscitar o menino. Abraão sabia que aquele que criou o mundo e deu a vida poderia dar vida novamente ao seu filho, por meio da ressurreição. Isso sim é conhecer a Deus e crer em sua palavra! Essa é a única fé que salva! Louvado seja Deus por ter dado a Abraão um conhecimento tão íntimo de si mesmo e um relacionamento tão próximo com ele: “amigo de Deus”.
QUARTA LIÇÃO: A fé não deve ser medida pelo tamanho ou medida dela mesma; a fé deve ser considerada pelo objeto ou sujeito de sua crença. Explico. A fé de Abraão, por vezes, despencava para o vale da incredulidade e do medo. Por exemplo: por duas vezes ele mentiu a respeito de Sara, tentando poupar a própria vida. Deus, no entanto, havia prometido amaldiçoar aqueles que o amaldiçoassem. Abraão sabia disso, mas, por vezes, não conseguiu crer o bastante. Era quando o próprio Deus vinha em seu resgate. Daí a lição: A fé não deve ser medida pelo tamanho ou medida dela mesma [não olhe para a sua fé ou a sua circunstância]; a fé deve ser considerada pelo objeto ou sujeito de sua crença [olhe para Deus, olhe para Cristo, olhe para o Cordeiro que Deus proveu para a sua, a minha, a nossa salvação].
IMPORTANTE: Não se escandalize com Deus. Quando Deus pediu a Abraão que entregasse Isaque em sacrifício, Deus não estava querendo o filho do patriarca; Deus queria que nós sentíssemos o horror, o quanto custaria para ele (Deus) nos perdoar: Deus, o Pai, teria de sacrificar, em nosso lugar, o seu próprio Filho eterno, Jesus Cristo, lá na cruz, como propiciação pelos nossos pecados. E o sangue derramado por Jesus é a nova aliança, o novo pacto de Deus com o homem.
Você crê no Filho eterno de Deus?
Arrepende-se de seu pecado?
Recebe Jesus como seu substituto, Salvador único e pessoal?
Este é o pacto de Deus: o sangue de Jesus Cristo.
S.D.G. L.B.Peixoto
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