07.05.2017
CENAS MEMORÁVEIS
Neste Maio, que é mês da família, estamos estudando cenas memoráveis de famílias do Antigo Testamento. A nossa busca é por solidez nesses que são dias nada amigáveis à família, muito pelo contrário.
Como dissemos pela manhã, precisamos, portanto, reforçar fundamentos, limpar e polir princípios, defender verdades e apresentar esperança para o povo de Deus nestes tempos líquidos, em que os meios de comunicação e as mídias sociais bombardeiam o fundamento familiar sólido, erigido pelo pensamento judaico-cristão e sobre o qual toda a civilização ocidental construiu os seus valores.
Também destacamos, hoje cedo, que os efeitos causados pela liquidez desse tempo são inquestionáveis. A maioria das relações se tornou volúvel, sem qualquer base sólida, ou com muito pouca solidez sobre a qual subsistir. Precisamos, pois, reagir com fé, esperança e amor, fundamentados na Bíblia.
A primeira cena memorável que nós contemplamos foi a do genro que salvou o sogro. Agora, nós veremos a cena do pai que não soube educar os filhos. Pela manhã, o nosso texto foi Êxodo 18. Agora à noite, o nosso texto será 1Samuel 1 a 4. Para começarmos, abra a sua Bíblia e leia comigo em 1Samuel 2.
O PAI QUE NÃO SOUBE EDUCAR
1Samuel 2.12-13
12 Os filhos de Eli eram homens perversos, que não tinham nenhuma consideração pelo SENHOR, 13 nem por seus deveres de sacerdotes. […]
É muito triste quando uma família, aos poucos, vai se desintegrando. Principalmente se os seus membros professam fé em Jesus. Porém, infelizmente, esse tem sido o triste cenário dos dias em que vivemos: famílias, inclusive cristãs, que aos poucos vão sendo despetaladas. Os motivos são diversos. Para citarmos apenas alguns: desajustes na sexualidade, pornografia e traição, crises financeiras, brigas e desentendimentos — chegando até à agressões verbais e físicas, frieza espiritual, insubordinação dos filhos, falta de afeto, de romantismo e de diálogo, enfim, a família pede socorro.
Quando a família pede socorro
Um dos gritos de socorro mais comuns das famílias se dá quando a relação pais e filhos se torna falha. Geralmente isso acontece quando os filhos vão deixando a infância, chegando à adolescência e caminhando para a juventude. Sim, também ocorrem falhas na relação pais e filhos durante os anos da infância, mas eles são fáceis de maquiar. Quando a coisa começa a sair do controle, pais dão a bronca nos filhos pequenos, mandam eles calarem a boca, colocam eles de castigo e pronto, pensa-se que está tudo resolvido. Só que não!
Quando vai chegando a adolescência, à caminho da juventude, de repente, boom!, explode tudo de uma vez. Daí, não adiante mais mandar calar a boca, bater, colocar de castigo, etc. A fase da pré-adolescência e da adolescência são um pesadelo para muitos pais, precisamente porque não se consegue mais maquiar os problemas que não foram sendo resolvidos do berçário ao final da infância.
O que fazer quando a família pede socorro?
Convido você para juntos caminharmos em 1Samuel, do capítulo 1 ao 4. Veremos que quando a relação pais e filhos é falha, a família pede socorro; quando o pai não sabe educar, as coisas fogem do controle. Estudaremos a família do sacerdote Eli em busca de lições para pais e filhos.
1. O perfil da família
Quando lemos 1Samuel 1 a 4, descobrimos alguns dados importantes que contribuirão para a nossa compreensão da família que pede socorro.
O momento histórico era de impiedade | Eli e sua família viveram em um dos piores momentos da vida de Israel. Era a transição entre os juízes e os profetas, logo após o estabelecimento das tribos de Israel em Canaã, e pouco antes da instituição da monarquia em Israel. O livro de Juízes é concluído com a descrição de como eram aqueles dias:
Jz 21.19-25 | 19 Então eles se lembraram da festa anual do SENHOR, em Siló, ao sul de Lebona e ao norte de Betel, do lado leste da estrada que vai de Betel a Siquém. 20 Disseram aos homens de Benjamim que ainda precisavam de esposas: “Vão e escondam-se nos vinhedos. 21 Quando virem as moças de Siló irem para as danças, saiam correndo dos esconderijos e cada um leve uma delas para a terra de Benjamim, para ser sua esposa. 22 E quando os pais e os irmãos delas vierem se queixar a nós, diremos: ‘Por favor, tenham compaixão. Deixem que fiquem com suas filhas, pois não encontramos esposas para todos eles quando destruímos Jabes-Gileade. E vocês não são culpados de quebrarem seu juramento, pois, na verdade, não deram suas filhas para eles em casamento’”. 23 Os homens de Benjamim seguiram essas instruções. Cada um pegou uma das moças que dançavam na comemoração e a levou para ser sua esposa. Voltaram para sua terra, reconstruíram suas cidades e habitaram nelas. 24 Então os israelitas partiram, por tribos e famílias, e cada um voltou para sua terra. 25 Naqueles dias Israel não tinha rei; cada um fazia o que parecia certo a seus próprios olhos.
O problema era tão sério que em Israel já não se ouvia mais a voz de Deus:
1Sm 3.1 | Enquanto isso, o menino Samuel servia ao SENHOR ajudando Eli. Naqueles dias, as mensagens do SENHOR eram muito raras, e visões não eram comuns.
A impiedade social sempre afeta drasticamente a família, pois a sequestra das Escrituras.
A mãe sem nome | Leia e releia 1Samuel do capítulo 1 ao 4 e você não encontrará o nome da mãe dos filhos de Eli. Teria ela morrido? Teria sido ela tão insignificante na vida da família que não mereceu ser mencionada? Não sabemos, o fato é que, em contraste com Samuel, sobre quem pai e mãe são citados, a mãe dos filhos de Eli não aparece na história. Não é sempre, e todos sabemos que há felizes exceções, mas a ausência de um dos pais torna sempre mais difícil a construção saudável da família.
O pai Eli | Eli era um homem de posição importante. Ele era sacerdote e juiz (1Sm 2.11 e 4.18). Sua posição em Israel fazia dele um homem respeitado e bastante ocupado.
Observe, por exemplo, uma das cenas comuns no dia-a-dia de Eli:
1Sm 4.13 | Eli estava sentado numa cadeira, ao lado da estrada, esperando para ouvir as notícias da batalha, pois seu coração tremia pela segurança da arca de Deus. Quando o mensageiro chegou e contou o que havia acontecido, gritos ressoaram por toda a cidade.
Eli também era um homem crente, seu nome significa “Iahweh é meu Deus”. Como líder espiritual, ele conseguia, algumas vezes, ser sensível às manifestações do Senhor:
1Sm 3.8-9 | 8 O SENHOR o chamou pela terceira vez, e novamente Samuel se levantou e foi até Eli. “Estou aqui! O senhor me chamou?” Então Eli entendeu que era o SENHOR que chamava o menino. 9 Por isso, disse a Samuel: “Vá e deite-se novamente. Se alguém o chamar, diga: ‘Fala, SENHOR, pois teu servo está ouvindo’”. E Samuel voltou para a cama.
A cena que temos nos mostra que Eli já era um homem idoso e com saúde bastante comprometida. Aos noventa e oito anos, Eli sofria de cegueira e obesidade. A cegueira, provavelmente, era por causa do diabetes, fruto da obesidade. Observe alguns textos:
1Sm 2.22 | Eli, já estava muito idoso…
1Sm 3.2 | Certa noite, Eli, que estava quase cego, tinha ido se deitar.
1Sm 4.15 e 18 | 15 Eli estava com 98 anos e já não conseguia enxergar. […] 18 Quando ele [o mensageiro] mencionou o que havia acontecido com a arca de Deus, Eli caiu da cadeira para trás, ao lado do portão. Quebrou o pescoço e morreu, pois era velho e pesado. Havia sido juiz em Israel durante quarenta anos.
Dado curioso e, no mínimo, intrigante, é que na maior parte do tempo, o sacerdote e juiz Eli ou está sentado ou está deitado. A situação chega a ser tragicômica, pois a sua morte se dá quando ele cai de costas da cadeira e quebra o pescoço. Veja de novo:
1Sm 4.18 | Quando ele [o mensageiro] mencionou o que havia acontecido com a arca de Deus, Eli caiu da cadeira para trás, ao lado do portão. Quebrou o pescoço e morreu, pois era velho e pesado. Havia sido juiz em Israel durante quarenta anos.
O fato é que Eli sempre está sentado ou dormindo. O relato bíblico parece fazer questão de destacar sua apatia, sua preguiça e sua inércia espiritual. A vida dele parecia ser comer, sentar e dormir. Impressionante! Que testamento mais tragicômico!
Os filhos Hofni, Fineias e Samuel | Os dois filhos naturais de Eli são Hofni e Fineias:
1Sm 1.3 | Todos os anos, Elcana subia de sua cidade até Siló para adorar o SENHOR dos Exércitos e oferecer sacrifícios a ele. Nesse tempo, os sacerdotes do SENHOR eram Hofni e Fineias, os dois filhos de Eli. ”
Esses dois rapazes cresceram no ambiente da casa de Deus e também se tornaram sacerdotes, trabalhando ombro a ombro com seu pai, Eli. O problema é que eles não seguiram nos caminhos do Senhor. Hofni e Fineias eram incrédulos e ímpios ao extremo:
1Sm 2.12-17 | 12 Os filhos de Eli eram homens perversos, que não tinham nenhuma consideração pelo SENHOR, 13 nem por seus deveres de sacerdotes. Cada vez que alguém oferecia um sacrifício, vinha um servo do sacerdote com um garfo grande, de três dentes. Enquanto a carne do animal sacrificado ainda estava cozinhando, 14 o servo colocava o garfo na panela, no tacho ou no caldeirão, e exigia que tudo que viesse com o garfo fosse entregue aos filhos de Eli. Assim eles tratavam todos os israelitas que iam adorar em Siló. 15 Às vezes, o servo chegava antes mesmo que a gordura do animal fosse queimada no altar, exigindo: “Não dê a carne cozida, mas sim a carne crua, para que o sacerdote a asse”. 16 Se o homem que oferecia o sacrifício dizia: “Leve quanto quiser, mas antes é preciso queimar a gordura”, o servo retrucava: “Não! Entregue a carne agora, ou eu a tomarei à força”. 17 O pecado desses homens era muito sério aos olhos do SENHOR, pois eles tratavam com desprezo as ofertas para o SENHOR.
Note que eles se vestiam como sacerdotes, gostavam da pompa sacerdotal, aproveitavam-se da posição para satisfazer seus apetites carnais, mas eram incrédulos para o significado espiritual dos rituais, além de cruéis com os devotos que ofereciam seus sacrifícios a Deus. Além do que, eram imorais e insensíveis diante das exortações do pai:
1Sm 2.22-25 | 22 Eli já estava muito idoso, mas sabia o que seus filhos faziam ao povo de Israel, e que eles seduziam as moças que serviam junto à entrada da tenda do encontro. 23 Por isso lhes disse: “Ouvi de todo o povo o mal que vocês praticam. Por que continuam a agir assim? 24 Parem com isso, meus filhos! Não são bons os comentários que escuto entre o povo do SENHOR. 25 Se alguém peca contra outra pessoa, Deus poderá intervir em favor do culpado. Mas, se alguém peca contra o SENHOR, quem poderá interceder?”. Contudo, os filhos de Eli não deram atenção ao pai, pois o SENHOR já havia decidido matá-los.
Além de Hofni e Fineias, Eli também tinha um filho adotivo, Samuel:
1Sm 2.11 | Então Elcana [pai de Samuel] voltou para casa em Ramá. E o menino servia ao SENHOR ajudando o sacerdote Eli.
Esse menino Samuel se destacava de seus dois irmãos adotivos, tanto que, contrapondo ao exemplo de Hofni e Fineias, o livro, após relatar os pecados e a desobediência dos dois (1Sm 2.12-25), registra o seguinte:
1Sm 2.26 | Enquanto isso, o menino Samuel crescia e era cada vez mais estimado pelo SENHOR e pelo povo.
Foi Samuel, e não Hofni e Fineias, quem se tornou verdadeiro discípulo de Eli:
1Sm 3.1 e 19-21 | 1 Enquanto isso, o menino Samuel servia ao SENHOR ajudando Eli. Naqueles dias, as mensagens do SENHOR eram muito raras, e visões não eram comuns. […] 19 À medida que Samuel crescia, o SENHOR estava com ele, e todas as suas palavras se cumpriam. 20 E todo o Israel, desde Dã, ao norte, até Berseba, ao sul, sabia que Samuel havia sido confirmado como profeta do SENHOR. 21 O SENHOR continuou a aparecer em Siló e a transmitir mensagens a Samuel ali.
O segredo da piedade de Samuel com certeza reside nos poucos anos de educação cristã que ele recebeu de sua mãe, enquanto estava sendo por ela amamentado, da mesma forma que Moisés, ainda na infância, recebeu orientação espiritual de sua mãe Joquebede. Veja o que se diz sobre Samuel:
1Sm 1.24 | Quando o menino foi desmamado, Ana o levou à casa do SENHOR em Siló, embora ele ainda fosse pequeno. Também levou um novilho de três anos para o sacrifício, um cesto6 de farinha e uma vasilha de couro cheia de vinho.
Samuel deveria ter entre três e doze anos de idade quando foi levado e entregue ao sacerdote Eli. Ao receber o chamado de Deus em 1Samuel 3, Flávio Josefo nos informa que Samuel estava com doze anos de idade.
Este, portanto, é o perfil da família de Eli: seus filhos carnais eram incrédulos, ímpios, imorais e insensíveis. O final deles foi trágico:
1Sm 4.10-11 | 10 Então os filisteus saíram para a batalha, e Israel foi derrotado. A matança foi grande: trinta mil soldados israelitas morreram naquele dia. Os sobreviventes deram meia-volta e fugiram para suas tendas. 11 A arca de Deus foi tomada, e Hofni e Fineias, os dois filhos de Eli, foram mortos.
Que final infeliz!
2. Os problemas da família
O perfil da família de Eli já nos revelou um dos problemas principais por eles enfrentados, isto é: a relação pais e filhos era falha. No entanto, precisamos nos aprofundar um pouco mais nessa história para descobrir onde, quando e como a relação entre Eli e seus filhos falhou. Nosso texto nos dá três dicas importantes. Observem:
2.1 — Eli não soube ou não quis ver
A reação de Eli, diante do relato que ele recebeu da morte dos filhos e do roubo da arca pelos filisteus, revela algo de errado no coração daquele pai. Parece que ele nunca soube ou nunca quis “ver” os seus filhos. Observe:
1Sm 4.12-18 | 12 Um homem da tribo de Benjamim correu do campo de batalha e chegou a Siló ainda naquele dia. Tinha rasgado suas roupas e colocado pó sobre a cabeça. 13 Eli estava sentado numa cadeira, ao lado da estrada, esperando para ouvir as notícias da batalha, pois seu coração tremia pela segurança da arca de Deus. Quando o mensageiro chegou e contou o que havia acontecido, gritos ressoaram por toda a cidade. 14 Eli ouviu os gritos e perguntou: “O que é esse barulho todo?”. O mensageiro correu até Eli e contou-lhe a notícia. 15 Eli estava com 98 anos e já não conseguia enxergar. 16 “Acabo de chegar do campo de batalha”, disse o mensageiro. “Fugi de lá hoje mesmo.” Eli perguntou: “O que aconteceu, meu filho?”. 17 O mensageiro respondeu: “Israel foi derrotado pelos filisteus, e o povo foi massacrado. Seus dois filhos, Hofni e Fineias, também morreram, e a arca de Deus foi tomada. 18 Quando ele mencionou o que havia acontecido com a arca de Deus, Eli caiu da cadeira para trás, ao lado do portão. Quebrou o pescoço e morreu, pois era velho e pesado. Havia sido juiz em Israel durante quarenta anos.
Eli parecia estar mais preocupado com a religiosidade que ele nutria pela presença da arca entre eles do que com a saúde espiritual de seus filhos. Já a nora de Eli, esposa de Fineias, parece que tinha mais compaixão pelas pessoas (cf. 1Sm 4.19-21). O texto que acabamos de ler parece indicar que Eli nunca se preocupou em ver os filhos. Parece que ele sempre se escondeu atrás de seu status religioso ou de sua carreira profissional.
Já viu algum pai assim? Qualquer semelhança não é mera coincidência.
2.2 — Eli não soube ou não quis agir
As pessoas tentaram advertir Eli, mas ele parece nunca ter-lhes dado ouvidos. Parecia sempre estar dizendo: “Não! Meus filhos, não!” E quando os advertia, assim procedia por causa da opinião dos outros. Observem, mais uma vez, o que lemos anteriormente:
1Sm 2.22-25 | 22 Eli já estava muito idoso, mas sabia o que seus filhos faziam ao povo de Israel, e que eles seduziam as moças que serviam junto à entrada da tenda do encontro. 23 Por isso lhes disse: “Ouvi de todo o povo o mal que vocês praticam. Por que continuam a agir assim? 24 Parem com isso, meus filhos! Não são bons os comentários que escuto entre o povo do SENHOR. 25 Se alguém peca contra outra pessoa, Deus [ou os juízes!] poderá intervir em favor do culpado. Mas, se alguém peca contra o SENHOR, quem poderá interceder?”. Contudo, os filhos de Eli não deram atenção ao pai, pois o SENHOR já havia decidido matá-los.
Eli temia mais os homens do que a Deus. Só agia quando a pressão popular se tornava forte de mais. Ele até parece indicar que usava a sua influencia sobre os juízes sempre que precisava livrar a pele dos filhos.
Eli não soube ou não quis ver; não soube ou não quis agir, mas, também…
2.3 — Eli não soube ou não quis ouvir:
Outra falha de Eli foi não ter sabido ouvir a advertência de Deus, pela boca de um profeta:
1Sm 2.27-36 | 27 Certo dia, veio a Eli um homem de Deus e lhe transmitiu a seguinte mensagem: “Assim diz o SENHOR: Eu me revelei a seus antepassados quando eles eram escravos do faraó, no Egito. 28 Escolhi seus antepassados dentre todas as tribos de Israel para serem meus sacerdotes, oferecerem sacrifícios sobre meu altar, queimarem incenso e usarem o colete sacerdotal em minha presença. Além disso, designei as ofertas queimadas dos israelitas a vocês, sacerdotes. 29 Então por que você despreza meus sacrifícios e ofertas? Por que honra seus filhos mais que a mim? Pois você e eles engordaram com as melhores partes das ofertas de meu povo, Israel! 30 Portanto, assim declara o SENHOR, Deus de Israel: Prometi que membros de sua família, da tribo de Levi, sempre seriam meus sacerdotes. Agora, porém, declara o SENHOR: Isso não acontecerá! Honrarei aqueles que me honram, e desprezarei aqueles que me desprezam. 31 Está chegando o tempo em que acabarei com a força de sua família, e nenhum de seus descendentes chegará à velhice. 32 Você verá a aflição de minha casa, e, quando eu trouxer todo o bem sobre Israel, ninguém em sua família chegará à velhice para testemunhar! 33 Sobreviverão os poucos que eu não eliminar do serviço em meu altar, mas seus olhos ficarão cegos e seu coração se partirá, e seus filhos morrerão pela espada. 34 E, para provar que minhas palavras se cumprirão, farei que seus dois filhos, Hofni e Fineias, morram no mesmo dia! 35 “Então levantarei um sacerdote fiel que me servirá e fará tudo que desejo. Estabelecerei a família dele, e eles serão sacerdotes diante do meu ungido para sempre. 36 Então todos que restarem de sua família se curvarão diante dele, mendigando dinheiro e alimento e pedindo: ‘Por favor, consiga para nós algum trabalho entre os sacerdotes, para termos o que comer’”.
Os filhos faziam o que queriam, mas Eli não via. O povo falava, mas Eli não agia. Até Deus exortou, mas Eli não ouviu, ele preferiu entregar os pontos:
1Sm 3.17-18 | 17 “O que o SENHOR lhe disse?”, perguntou Eli. “Conte-me tudo. E que o SENHOR o castigue severamente se você esconder de mim alguma coisa do que ele disse!” 18 Então Samuel contou tudo a Eli e não escondeu nada. Eli respondeu: “É a vontade do SENHOR. Que ele faça o que lhe parecer melhor”.
Que falha a desse pai! Comentando sobre a vida de Eli, Jaime Kemp escreveu assim:
Que palavra contundente e significativa para nós pais! Um alerta que deve causar temor, responsabilidade e ação. Deus não nos julgará por nossas incapacidades, sejam elas profissionais ou relacionais. Ele nos julgará, e à nossa casa, pela ausência de um profundo, sério e comprometido relacionamento familiar.
Nossas falhas poderão nos custar muito caro! Mas, o que Eli poderia ter feito? Ele deveria ter seguido radicalmente as orientações da lei, levando-as às últimas consequências. No caso de Eli, a lei dizia assim:
Dt 21.18-21 | 18 Se um homem tiver um filho teimoso e rebelde, que não obedece ao pai nem à mãe, apesar de eles o disciplinarem, 19 o pai e a mãe levarão o filho até a porta da cidade e dirão às autoridades ali reunidas: 20 ‘Este nosso filho é teimoso e rebelde e se recusa a obedecer. É mau-caráter e vive bêbado’. 21 Então todos os homens da cidade o executarão por apedrejamento. Desse modo, vocês eliminarão o mal do seu meio, e todo o Israel ficará sabendo disso e temerá.
Deus encara com muita seriedade a disciplina dos que são desobedientes e rebeldes aos pais (quebra do quinto mandamento — Dt 5.16). Samuel, adiante, nos explica por quê:
1Sm 15.23 | “A rebeldia é um pecado tão grave quanto a feitiçaria, e persistir no erro é um mal tão grave quanto adorar ídolos. Assim como você [Saul] rejeitou a ordem do SENHOR, ele o rejeitou como rei”.
Precisamos lutar para não falhar como pais e mães. Precisamos saber ver, saber ouvir e saber agir com relação aos nossos filhos.
Quando necessário, peçamos ajuda. Usemos de medidas bíblicas e fortes, quando for preciso. A disciplina não pode jamais deixar de ser aplicada com graça e com verdade. Essa falha entre pai e filhos foi letal para Eli, Hofni e Fineias.
3. A prescrição para a família
Tendo visto o perfil e traçado o problema da família de Eli, recebamos a prescrição que o texto entrega para as famílias que pedem socorro ou antes que elas peçam socorro.
O que o pai que não soube educar teria a nos ensinar?
3.1 — Aqueça o coração para manter a piedade
O problema de Eli não começa com a sua relação com os filhos. Começa com a sua relação com Deus. Ele já não ouvia o Senhor, não via as manifestações de Deus nem agia segundo um homem de Deus.
1Sm 3.1 | Enquanto isso, o menino Samuel servia ao SENHOR ajudando Eli. Naqueles dias, as mensagens do SENHOR eram muito raras, e visões não eram comuns.
1Sm 1.12-16 | 12 Enquanto ela [Ana] fazia sua oração ao SENHOR, Eli a observava. 13 Viu que os lábios dela se moviam, mas, como não ouvia som algum, pensou que ela estivesse bêbada. 14 “Até quando vai se embriagar?”, disse ele. “Largue esse vinho!” 15 Ana respondeu: “Meu senhor, não bebi vinho, nem outra coisa mais forte. Eu estava derramando meu coração diante do SENHOR, pois sou uma mulher profundamente triste. 16 Não pense que sou uma mulher sem caráter! Estava apenas orando por causa de minha grande angústia e aflição”.
Se Eli não ouvia mais a Deus, não via mais o agir de Deus nem sabia mais agir como um homem de Deus, então, como ele conseguiria ver os filhos, ouvir os filhos e agir para ajudar os filhos? Jamais! Pais, mães e filhos precisam aquecer o coração para manter a piedade, do contrário a família continuará pedindo socorro.
3.2 — Estabeleça e aja de acordo com as suas prioridades
Olhando para a vida de Eli nós ficamos com a impressão de que ele optou por não exercer o papel de sacerdote e juiz de seu próprio lar. Algumas desculpas dadas por ele poderiam ter sido as seguintes: ausência da mãe na vida dos filhos, trabalho de mais no sacerdócio em Israel, idade avançada, saúde debilitada, os anciãos do templo que deveriam cuidar dos filhos do sacerdote, etc. Desculpas não faltaram para Eli. Deus, no entanto, não via assim.
Nossas responsabilidades e prioridades são inegociáveis e intransferíveis:
1Sm 3.11-13 | 11 Então o SENHOR disse a Samuel: “Estou prestes a realizar algo em Israel que fará tinir os ouvidos daqueles que ouvirem a respeito. 12 Cumprirei do começo ao fim todas as ameaças que fiz contra Eli e sua família. 13 Eu o adverti de que castigaria sua família para sempre, pois seus filhos blasfemaram contra Deus, e ele não os repreendeu por seus pecados.
Filhos, não culpem seus pais, ajam de acordo com suas responsabilidades e suas prioridades. Pais, estabeleçam e ajam de acordo com as suas prioridades — Deus, família, vocação, etc.
3.3 — Reconheça e combata o pecado
Se Eli não queria ou não conseguia mais corrigir os filhos, que ele, no mínimo, os afastasse do sacerdócio. No entanto, parece que Eli, de alguma forma, se beneficiava do pecado dos filhos ou tinha receio de confrontá-los:
1Sm 2.29 | Então por que você despreza meus sacrifícios e ofertas? Por que honra seus filhos mais que a mim? Pois você e eles engordaram com as melhores partes das ofertas de meu povo, Israel!
Pai e filhos se engordavam com o mesmo pecado, honrando mais os seus prazeres, luxos e confortos do que a glória de Deus.
Reconheça e combata o pecado.
O pai que não soube educar
Eli não soube educar. Não soube educar porque:
A esperança para pais e filhos, a esperança para a família está na conversão dos corações. Os últimos versículos do Antigo Testamento diz assim:
Ml 4.5-6 | 5 Vejam, eu lhes envio o profeta Elias antes da vinda do grande e terrível dia do SENHOR. 6 Ele fará que o coração dos pais volte para seus filhos e o coração dos filhos volte para seus pais. Do contrário, eu virei e castigarei a terra com maldição.
De que forma os corações de pais e filhos se convertem uns aos outros? Quando cada um desses corações se converte a Jesus. Em Cristo, o coração da família inteira se une em convergência e se entende em amor. Em Cristo, todos param de insistir em seus próprios caminhos e passam a seguir o caminho do evangelho: negam a si mesmos, tomam a cruz e seguem a Jesus — tornam-se pobres em espírito, choram pelo pecado, ficam humildes, têm fome e sede de justiça, ficam misericordiosos, purificam o coração, promovem a paz e se alegram até com as injustiças.
Portanto, a solução para o pai que não soube educar, a solução para as famílias que vivem em guerra, passa, inevitavelmente pelo caminho da conversão do coração a Cristo.
Essa é a lição do pai que não soube educar.
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