29.10.2017
500 anos da Reforma: E agora? Como trabalharemos?
O pensamento da Reforma sobre o trabalho
Efésios 2.8-10
[NVT] 8Vocês são salvos pela graça, por meio da fé. Isso não vem de vocês; é uma dádiva de Deus. 9Não é uma recompensa pela prática de boas obras, para que ninguém venha a se orgulhar. 10Pois somos obra-prima de Deus, criados em Cristo Jesus a fim de realizar as boas obras que ele de antemão planejou para nós.
Justificação para as obras
Na Reforma Protestante, a ênfase teológica da salvação somente pela graça (ou Sola Gratia) e somente por meio da fé (ou Sola Fide) contestou as obras humanas em sua busca de autojustificação ou justificação pelas obras. Ecoando o que a Reforma resgatou e nos legou, nós cremos, defendemos e propagamos o que Paulo escreveu aos Efésios (2.8-9):
8Vocês são salvos pela graça, por meio da fé. Isso não vem de vocês; é uma dádiva de Deus. 9Não é uma recompensa pela prática de boas obras, para que ninguém venha a se orgulhar.
Então, a justificação somente pela graça, por meio da fé somente, isenta os cristãos da necessidade de boas obras? Parece que não, afinal, o mesmo Paulo, conforme já lemos, declarou, na sequência do texto, o que vale a pena ser repetido:
10Pois somos obra-prima de Deus, criados em Cristo Jesus a fim de realizar as boas obras que ele de antemão planejou para nós.
O comentário de R. C. Sproul sobre este texto de Paulo é elucidativo, ao declarar que
A fórmula católica romana para a justificação era a seguinte: fé mais obras é igual a justificação. A visão da Reforma Protestante sobre tal doutrina se contrapunha da seguinte maneira: fé que conduz às obras é igual a justificação. Ou seja, se uma pessoa é justificada, ela não é justificada com base nas obras, pelas obras ou através das obras, mas é justificada para as obras. O desempenho das obras é o resultado da fé e o fruto da justificação. […] O propósito para o qual nós fomos eleitos é o de sermos transformados à imagem de Cristo, sermos servos de Deus, sermos pessoas obedientes, que vivem vidas piedosas e justas.
Sobre a forma como nós realizamos as boas obras de maneira a render somente a Deus glória (ou Soli Deo Gloria), William Hendriksen foi incomparável em sua explicação do texto paulino que lemos inicialmente. Disse ele:
Ora, em concomitância com o ato de nos criar Deus também preparou as boas obras. Ele fez isso, primeiramente, dando-nos seu Filho, nosso grande Habilitador, em quem as boas obras encontram sua mais gloriosa expressão (Lc 24.19; At 2.22). Cristo não só nos habilita a realizar boas obras, mas ele também é nosso exemplo na prática delas (Jo 13.14-15; 1Pe 2.21). Em segundo lugar, Deus fez isso nos dando fé em seu Filho. A fé é dom de Deus (v. 8). Ora, ao plantar a semente da fé em nossos corações, fazendo-a brotar, assistindo-a com grande solicitude, dando-lhe crescimento, etc. Deus também, nesse sentido, nos preparou para as boas obras, porquanto elas são o fruto da fé. […] resumindo, podemos dizer que, ao nos dar seu Filho, e ao nos conceder a fé nesse Filho, Deus preparou de antemão nossas boas obras. Quando Cristo, por meio de seu Espírito, habita os corações dos crentes, seus dons e graças lhes são concedidos, de modo que eles também produzem frutos, tais como “amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio” (Gálatas 5.22-23).
Hendriksen, Sproul e todos os teólogos da tradição reformada (Kuyper, Bavinck, dentre outros) construíram seus argumentos à partir do fundamento lançado (redescoberto) por Martinho Lutero. Ou seja: o pai da Reforma entendeu e ensinou que o pecador é justificado apenas pela graça, por meio da fé, e as obras não contribuem para a salvação, mas são dela fruto. Disse Lutero:
Boas obras, no entanto, ou para dar-lhes o seu nome devido: os frutos da fé, na verdade não pertencem à remissão de pecados e a uma consciência serena, mas são frutos de um perdão já concedido, e ainda presente, bem como de uma boa consciência.
Lutero não apenas ensinou que boas obras são o fruto da fé ou da justificação (em vez de meio para a justificação); ele cria e afirmava que é a fé que faz uma boa obra, pois obra ou trabalho nenhum poderá ser considerado boa ou bom, a menos que proceda da fé e de uma pessoa que tenha fé: “as obras que ocorrem fora da fé não são nada e estão mortas”, afirmou Lutero. Paulo, aliás, escreveu que “tudo o que não provém da fé é pecado” (Rm 14.23).
Não é, portanto, qualquer exagero afirmar que a Reforma Protestante não apenas resgatou a justificação pela graça e por meio da fé em Cristo (em vez de ser pelas obras), como também reafirmou que a nossa justificação é comprovada pelas nossas boas obras, pois elas são fruto da fé que Deus graciosamente plantou e nutre em nossos corações. Assim é que o movimento despertado por Lutero no século XVI transformou não apenas a forma como nós adoramos a Deus dominicalmente, esclarecendo-nos os motivos que nos fazem reunir coletivamente para prestar cultos a Deus (cf. Rm 15.7-12), mas também revolucionou a forma como nós trabalhamos semanalmente, informando-nos que a justificação pela graça, por meio da fé, produz cristãos zelosos em boas obras ou na prática do bem (Ef 2.8-10 e 1Pe 3.13).
Lutero e a defesa do trabalho comum
O entendimento de Lutero sobre o evangelho e o seu ensino do mesmo (o justo viverá pela fé) não apenas abriram as portas do paraíso, de par em par, aos pecadores que precisam de salvação, abriu também o caminho para uma definição mais ampla de boas obras; a saber: as ações cotidianas (trabalho, emprego) são tão válidas quanto as diretamente conectadas à igreja. No ensino de Lutero, a fé liberta as obras ou o trabalho da hierarquia de uma escala religiosa de valores, em que algumas atividades ou funções são mais meritórias ou santas do que outras. Lutero, em seu Tratado sobre as boas obras, escreveu:
Nesta fé todas as obras [trabalhos] se tornam iguais, e uma é como outra, e todas as distinções entre as obras caem por terra… sejam elas grandiosas ou pequenas, rápidas ou demoradas, muitas ou poucas; pois as obras [trabalhos] não são agradáveis por conta própria ou por si mesmas, mas por causa da fé.
Esta linha de pensamento fez Lutero rejeitar a distinção que havia no catolicismo romano entre clérigos e leigos, fazendo-o abraçar e repercutir sua ideia hoje famosa de “sacerdócio de todos os crentes”, expressa, por exemplo, nos tratados À nobreza cristã e Da liberdade do cristãos. Mas, de onde Lutero aprendeu tudo o que ensinou?
A maioria da grande energia do reformador era queimada em seus estudos e ensinos das Escrituras. Rompendo com o escolasticismo (i.e., fidelidade estrita a doutrinas e métodos pedagógicos tradicionais), Lutero trabalhou duro para construir seu sistema de doutrinas e de ética cristã tão somente à partir dos Textos Sagrados. Assim, em defesa do trabalho comum, na exposição do Salmo 82, Lutero pôde dizer do trabalho o que segue:
A Palavra de Deus santifica e torna divino tudo o que dela se aplica. Portanto, aqueles estados ou posições que são designados pela Palavra de Deus são todos estados sagrados e divinos, mesmo que as pessoas que os ocupam não sejam. Assim, pai, mãe, filho, filha, mestre, dona de casa, empregada, pregador, pastor, etc., todas estas são posições sagradas e divinas na vida, mesmo que as pessoas nessas posições sejam patifes e malandras.
Lutero insistiu que, para ser santo, para se viver uma vida piedosa ou consagrada diante de Deus, não é necessário alguém se tornar monge ou freira, nem continuar fazendo atividades “religiosas”. Em vez disso, no trabalho comum e na vida familiar normal, pode-se viver uma vida plenamente agradável a Deus. No Tratado sobre as boas obras, o reformador escreveu com desprezo sobre o estilo de vida recomendado pela Igreja Católica Romana (ICR) que, segundo ele, era de que se vivesse
cantarolando, fazendo leituras devocionais, tocando o órgão, lendo a missa, repetindo os cânticos matinais, de vésperas e das outras horas (canônicas), fundando e decorando igrejas, altares e mosteiros, coletando cálices, jóias, roupas, bugigangas e tesouros, e correndo para Roma e para os santos.
Lutero não cria que esse era um viver realmente piedoso; isso não era boas obras. Aliás, ele era severo com relação àqueles que
correm para Santiago, Roma e Jerusalém, vivem de um lado pro outro; fazem a oração da santa tal e do santo tal, além dessa e daquela outra oração; jejuam neste dia e naquele outro dia, fazem confissões aqui e confessam também acolá…
Lutero negou categoricamente o ensino da ICR de que esses tipos de atividades sejam de fato boas obras. Muito pelo contrário, argumentou o reformador, são
boas obras quando alguém trabalha no seu comércio, anda, ergue, come, bebe, dorme e faz todos os tipos de trabalhos para a alimentação de seu próprio corpo ou para o bem-estar comum, e… Deus, com eles, está satisfeito.
No Tratado sobre as Boas Obras, de onde as citações acima foram retiradas, Lutero prosseguiu e expôs os Dez Mandamentos, enfatizando como cada um deles pode ser profundamente obedecidos no decurso da vida profissional ordinária e também da vida familiar. Em muitos lugares, a exposição perde contato totalmente com o significado histórico-gramatical original do texto bíblico. No entanto, os argumentos de Lutero apresentam um belo retrato de como a vida cotidiana ou ordinária pode se tornar um serviço piedoso dedicado a Deus ou expressão de adoração.
A tese de Lutero é que a ajuda de Deus ao próximo pode fluir, por exemplo, através das mães e dos pais (no círculo familiar), através das autoridades (na esfera social e política) e, em níveis gerais, através de cada pessoa em relação ao seu próximo. A ajuda de Deus não acontece de forma mágica, não cai, simplesmente, do céu, e não se dá apenas no nível espiritual e individual. Deus tem os seus meios, seus instrumentos através dos quais faz chegar a sua ajuda concreta às pessoas necessitadas. Esses “intermediários” entre Deus e as pessoas necessitadas têm ordens divinas para fazer o bem. Ouça o que ele diz na explicação do Primeiro Mandamento (extraído do Catecismo Maior):
Pois embora também experimentemos muitas coisas boas das pessoas, ainda assim, na verdade, tudo é recebido de Deus — com base em sua providência e ordem. Pois nossos pais, todos os governantes e todos os outros receberam de Deus a ordem de fazer a nós todo tipo de bem — e também a seu próximo, de maneira que não o recebemos deles, senão de Deus por intermédio deles. Pois as pessoas, como criaturas de Deus, são apenas as mãos, os canais e os meios pelos quais Deus concede todas as coisas — à mãe ele concede mamas e leite para alimentar seu filho; e [pelo agricultor] cereais e todos os produtos da terra para alimento de todos. Nenhuma dessas coisas poderia ser produzida por qualquer criatura por si só. Por isso, pessoa alguma deve presumir que pode pegar ou dar algo a não ser que Deus ordene isso a ela, e que tudo seja reconhecido como dádiva de Deus e que agradeçamos a ele por isso, como esse mandamento exige. É por essa razão que aqueles meios, pelos quais recebemos as boa dádivas, não devem ser rejeitados, nem deveríamos em nossa presunção buscar outros caminhos e meios que Deus não ordenou. Pois isso não seria receber da parte de Deus, mas buscar a dádiva em si mesmo.
Aqueles que Deus usa como mãos ou como canais, para tudo conceder aos outros com necessidades, exercem seu papel como fruto da fé e em obediência aos mandamentos de Deus. Por isso, Lutero cria que para as pessoas que trabalham para o próximo
nada é mais necessário do que viver continuamente nos ouvidos de Deus, clamando e pedindo que nos dê, preserve e multiplique a fé e o cumprimento dos Dez Mandamentos e remova tudo o que está em nosso caminho e nos impede.
Para preencher ainda mais essa bela imagem pintada por Lutero do trabalho ou das boas obras que engloba o todo da vida, valerá a pena ler uma citação completa do reformador, retirada do tratado intitulado Da vida matrimonial (Estate of Marrige):
Agora, observe que quando aquela prostituta esperta, [ou seja:] nossa razão natural (a mesma que os pagãos seguiram ao tentarem ser mais espertos), olha para a condição de casado, ela empina o nariz e diz: “Ai de mim! Devo balançar o bebê, lavar suas fraldas, respirar o fedor, arrumar o berço, ficar noites acordado, cuidar dele quando chorar, curar seu umbigo e suas assaduras; além do mais, importar-me com minha esposa, cuidar dela, trabalhar no meu comércio, tomar cuidado disso e daquilo outro, fazer isso e aquilo mais, suportar esse e aquele tanto, e tudo mais de amargo e de pesado que a vida de casado envolve? Meu Deus! Misericórdia desse estado de tamanha miséria e amargura! É melhor permanecer livre e levar uma vida mais sossegada e sem preocupações; vou me tornar um sacerdote ou uma freira.”
O que, em resposta, a vida cristã diz a tudo isso? Ela abre seus olhos e, pelo Espírito, olha todas essas coisas insignificantes, desagradáveis e desprezíveis, e fica ciente de que todas elas são adornadas com a aprovação divina, como que com ouro e as joias mais caras. Diz, então: “Ó Deus, como é que eu, sem qualquer mérito, tenho chegado a essa distinção de ter certeza de que estou servindo às suas criaturas, fazendo a sua vontade mais preciosa? Porque sei que tu me criaste e geraste de mim esta criança, também sei com certeza que isto te agrada da melhor maneira; confesso que não sou digno de embalar o bebê, nem de lavar suas fraldas, nem de tomar conta dele e de sua mãe. Como foi que me tornei digno, sem qualquer mérito, de ter reconhecido que estou servindo a tua criatura e a tua boa vontade? Com todo prazer abraçarei a tarefa, embora os deveres sejam por tantos ainda mais insignificantes e desprezíveis. Nem o frio nem o calor, nem a dureza nem a preguiça, nada me afligirá ou me convencerá, pois tenho certeza de que isso é agradável aos teus olhos.”
Para tornar a visão de Lutero absolutamente clara, permitam-me apresentar uma citação, extraída da exposição que ele fez do Salmo 111. Ela revelará que esta defesa do trabalho comum (i.e., espiritualidade do secular, família e matrimônio, Estado e sociedade) era um tema ao qual Lutero gostava de retornar:
Certamente que qualquer um deveria sorrir de alegria em seu coração por se encontrar na condição em que Deus o instituiu ou o ordenou. Ele deve bradar e dançar enquanto agradece a Deus por um ato tão divino, porque ele ouviu e está certo de que sua posição está cheia de honra e de adorno diante de Deus… isso significa que um servo, empregada, filho, filha, homem, mulher, patrão, empregado, ou qualquer outra pessoa que exerça uma ocupação ordenada por Deus, enquanto ele preencha sua função, é tão lindo e glorioso à vista de Deus como uma noiva adornada para o seu casamento… Mas o mundo cego e insensível não verá isso. Ele despreza de forma tão vergonhosa essas ocupações, fazendo um coração piedoso sangrar. “Nunca”, ele diz, “o que devo fazer com uma ocupação secular tão insignificante? Eu servirei a Deus e me tornarei um monge ou uma freira, um sacerdote ou um ermitão”. E desta sabedoria desenvolveu-se um fanatismo tão forte que o mundo está cheio de mosteiros e de instituições de muitas ordens e facções diferentes, formigando e pingando de pessoas que se julgam mais espirituais.
A natureza revolucionária de tal ensino, nos dias de Lutero e no decorrer da história, é óbvia. Owen Chadwick escreveu que
Lutero era um homem do povo e lutou para levar a fé verdadeira para os corações e as casas do povo; lutou para mostrar que a fé não é um ato ritual clerical e eclesiástico, realizado na igreja, mas a encarnação do Evangelho na vida.
Embora todas essas citações sejam de apenas alguns dos escritos de Lutero, sua crença no valor do trabalho ordinário ou comum se expressa em muitas de suas obras. Por exemplo, em seu tratado seminal: À nobreza cristã da nação alemã acerca da reforma do Estado cristão, um de seus muitos apelos foi pela abolição dos “dias santos”. Ele observou:
Eles estariam fazendo algo muito melhor se honrassem o santo transformando o dia do santo em um dia de trabalho.
Em sua exposição de Gênesis 2.15 ele enfatizou que “o homem não foi criado para o lazer, mas para o trabalho, mesmo em seu estado de inocência”. Na exposição de 1Pedro 4.8-11, várias de suas ideias sobre o trabalho estão claramente definidas; Pedro, o apóstolo, escreveu assim:
8Acima de tudo, amem uns aos outros sinceramente, pois o amor cobre muitos pecados. 9Abram sua casa de bom grado para os que necessitam de um lugar para se hospedar. 10Deus concedeu um dom a cada um, e vocês devem usá-lo para servir uns aos outros, fazendo bom uso da múltipla e variada graça divina. 11Você tem o dom de falar? Então faça-o de acordo com as palavras de Deus. Tem o dom de ajudar? Faça-o com a força que Deus lhe dá. Assim, tudo que você realizar trará glória a Deus por meio de Jesus Cristo. A ele sejam a glória e o poder para todo o sempre! Amém.
À partir desse texto, Lutero critica aqueles que
não usam seus talentos em seu chamado ou no serviço pelos seus vizinhos; eles os usam apenas para sua própria glória e vantagem… O Evangelho quer que todos sejam o servo da outra pessoa e, além disso, quer o Evangelho que o cristão permanece no dom que ele recebeu, naquilo que Deus mesmo lhe deu, isto é, na posição em que ele foi chamado. Deus não quer que um mestre sirva seu aluno, que a empregada tome o lugar da patroa, o príncipe sirva o mendigo… pois Deus não quer destruir o estado de governo. Mas o apóstolo intenciona dizer que uma pessoa deve servir a outra pessoa espiritualmente e de coração. Mesmo se você estiver em uma posição elevada e seja um grande senhor, contudo, você deve empregar seu poder com a finalidade de, com ele, servir seu vizinho. Assim, todos deveriam se considerar servos… O mesmo se aplica a outros estados ou ocupações da vida.
Acadêmicos entendem que, na teologia de Lutero, o serviço obediente no chamado de Deus é o primeiro dever de um cristão; afinal, o trabalho, para Lutero, é a maneira principal pela qual podemos servir os nossos semelhantes.
A justificação, isto é: salvação somente pela graça, por meio da fé somente, produz homens e mulheres de amor pelo próximo. No tratado Da liberdade do cristão, ele anotou:
Um homem não vive apenas para si mesmo neste corpo mortal, trabalhando apenas para si mesmo; mas também vive para todos os homens na terra; ele vive apenas para os outros e não para si. Para este fim, ele coloca seu corpo em sujeição para que ele possa mais sinceramente e livremente servir aos outros.
Como forma de alguém servir ao próximo, Lutero menciona especificamente a profissão (estado ou ocupação) como uma das maneiras pelas quais um homem coloca em prática esse princípio do amor através do serviço. Neste quesito, Lutero não dizia nada novo. Agostinho e Crisóstomo disseram o mesmo, mil anos antes do reformador alemão. A afirmação de Crisóstomo, a seguir, pode ter sido bem conhecida de Lutero:
Em assuntos mundanos, nenhum homem vive para si mesmo; artesãos, soldados, maridos, comerciantes etc., todos eles contribuem para o bem comum e para o benefício dos seus semelhantes.
A insistência de Lutero sobre a “dedicação radical ao serviço”, fundamentada na Bíblia e ancorada nalguns ensinos dos Pais da Igreja, era um ingrediente valioso do seu ensino geral sobre a atitude do cristão em relação ao seu trabalho cotidiano.
O pensamento da Reforma para o trabalho era que nós fomos justificados para as boas obras. O nosso trabalho, como fruto da fé, é um meio de Deus abençoar as pessoas.
S.D.G. L.B.Peixoto
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