15.03.2020
Mateus 7.25
Quando vierem as chuvas e as inundações, e os ventos castigarem a casa, ela não cairá, pois foi construída sobre rocha firme.
A PANDEMIA DO CORONA VÍRUS
A Organização Mundial de Saúde (OMS), na última quarta-feira (11/03), declarou pandemia para o COVID-19 — i.e., Coronavírus Desease 2019, infecção causada pelo novo coronavírus. Casos, mortes e números de países atingidos devem aumentar, disse a organização.
Segundo a OMS, epidemia é uma doença de caráter transitório, que ataca simultaneamente grande número de indivíduos em uma determinada, já a pandemia é a disseminação mundial de uma nova doença.
Pandemia é um termo usado com mais frequência em referência à gripe e geralmente indica que uma epidemia se espalhou para dois ou mais continentes com transmissão sustentada de pessoa para pessoa. Números de ontem, 14/03, registram cerca de 150 mil casos da doença, em mais de 100 países, com cerca de 5.600 mortes.
A maior parte dos casos de COVID-19 está concentrada na China, onde por volta de 90 mil pessoas foram infectadas, entre as quais mais de 3 mil já morreram. Fora do país asiático, em números de 14/03, o país mais castigado é a Itália, com mais de 21 mil casos registrados e 175 mortes; seguido da Espanha, com 5.700 casos confirmados e 136 mortes pela doença. No Brasil, em números de ontem (14/03), os casos de coronavírus subiram para 121; Goiás tem 4 casos casos.
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse que a situação no país ainda não pode ser considerada epidemia, que é quando ocorre o contágio indiscriminado na sociedade sem que se consiga determinar a origem do vírus.
Segundo o ministro, o COVID-19 não apresenta grande letalidade individual e é “uma virose como outra qualquer”. Ele alertou que o Brasil passa atualmente por epidemias muito mais graves. Disse Mandetta:
Temos uma doença infecciosa no Brasil hoje chamada dengue. Tivemos milhares de casos e óbitos. Temos sarampo, que tem vacina, [mas as pessoas não se vacinam]. Estamos vendo surto de sarampo com óbitos. A tuberculose é a doença infecciosa que mais mata no mundo e o Rio de Janeiro, infelizmente, há séculos, é uma das cidades com maior índice de tuberculose no mundo.
Para Mandetta, a maior preocupação no momento é a sobrecarga no sistema de saúde que poderá não dar conta da demanda de casos. Ele lembrou, porém, que 80% dos infectados pelo COVID-19 não apresentam sintomas graves, sendo que 30% são assintomáticos, como crianças e adolescentes. “Vinte por cento vão ter algum grau de necessidade de cuidado”, disse o ministro, ressaltando que a morte tem ocorrido entre pessoas que apresentam outras doenças associadas. “São classicamente os que falecem por gripe todos os anos — no ano passado tivemos quase 550 mil internações por influenza e 9% de letalidade por gripe.”
Bem, todos você têm acesso fácil a esses números e dados. E eu não sou profissional da saúde para falar de prevenção de doença nem é o púlpito local para isto, primariamente falando. No entanto, entendo que devemos ter sim uma forma bíblica de abordar, pensar e reagir ao tema. Sei que muita gente está preocupada. Há muita especulação, fake news e coisas do tipo, e que só apavoram.
A coisa piora quando se leva em conta o que aconteceu em Nápoles, na Itália, por exemplo, e que Mark Oden, pastor local, escreveu para o site The Gospel Coalition:
Acordei esta manhã em Nápoles, a terceira cidade da Itália a ser totalmente trancada. Reuniões públicas, incluindo cultos na igreja, foram proibidas. Casamentos, funerais e batismos foram cancelados. Escolas e cinemas, museus e academias de ginástica foram todos fechados. Minha esposa e eu acabamos de voltar de uma ida ao supermercado que durou duas horas devido a longas filas nos caixas. Atualmente, a Itália tem o maior número relatado de casos de coronavírus fora da China: 9.172 casos e 463 mortes. Como resultado, 60 milhões de pessoas foram instruídas a permanecer em casa, a menos que seja absolutamente necessário.
Como devemos, enquanto cristãos, responder a essa crise? Com fé, não com medo. Salmo 112.7 diz que o justo “não teme más notícias; confia plenamente no cuidado do SENHOR.” Devemos, portanto, olhar nos olhos da tempestade e perguntar: Senhor, o que o SENHOR está querendo que eu aprenda com isso tudo? Como o SENHOR está tentando me transformar? O que do SENHOR está sendo revelado?
O PODER DE CRISTO
Você deve ter notado, no início desta mensagem, que nós lemos um texto que fala de chuvas, inundações e ventos que castigam a casa — provações de todo tipo que assolam, inclusive os cristãos, mas que não a derrubam, não abatem o cristão, posto que ela — a casa, a vida do crente — está construída sobre a rocha firme das palavras de Cristo (Mt 7.25). O cristão é ouvinte e praticante da palavra de Cristo, não apenas ouvinte (Mt 7.24). E pela Palavra ele se sustenta. Ele ouve e ele pratica a Palavra. Sustenta-se pela e na Palavra de Deus.
Lembrei-me desse texto com as palavras de Jesus na conclusão do Sermão do Monte quando li o que relatou o ministro da Saúde sobre o coronavírus no Brasil:
Nós ainda estamos na véspera. Essa doença vem como se fosse um vento, começa como uma brisa, vai ganhado força, ganhando força, até que chega num determinado momento que faz um movimento espiral, que é quando uma pessoa vai transmitindo para outra, transmitindo para outra, e essa espiral forma como se fosse um ciclone. Aí você faz um gráfico em que há um aumento muito rápido no número de casos.
Como foi reconfortante ler esta comparação! Primeiro, porque disse Jesus (Mt 5.25):
Quando vierem as chuvas e as inundações, e os ventos [os vírus, as enfermidades, o coronavírus, por exemplo] castigarem a casa, ela não cairá, pois foi construída sobre rocha firme.
O Senhor Jesus diz que ventos virão e castigarão, doenças e vírus e tantos outros males nos sobrevirão de forma castigadora, sem dó nem piedade, mas a casa construída sobre a rocha firme da palavra de Deus não cairá. E ainda que morra, viverá.
Segundo, lembrei-me das palavras dos discípulos sobre o meu Jesus (Lc 8.25): “Quem é este homem? Quando ele ordena, até os ventos [do coronavírus, por exemplo] e o mar [de tragédias] lhe obedecem!”. Isso é tão verdadeiro hoje como foi então. “Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e para sempre” (Hb 13.8). John Piper escreveu o seguinte sobre a pandemia de COVID-19:
Jesus tem todo o conhecimento e toda autoridade sobre as forças naturais e sobrenaturais deste mundo. Ele sabe exatamente onde o vírus começou e para onde vai a seguir. Ele tem poder total para impedi-lo ou não. E é isso que está acontecendo. Nem pecado, nem Satanás, nem doença, nem sabotagem são mais fortes que Jesus. Ele nunca se recuou em um canto; ele nunca é forçado a tolerar o que não quer. “Mas os planos do SENHOR permanecem para sempre; seus propósitos jamais serão abalados.” (Salmo 33.11).
“Sei que podes fazer todas as coisas”, disse Jó em seu arrependimento, “e ninguém pode frustrar teus planos” (Jó 42.2). Portanto, a questão não é se Jesus está supervisionando, limitando, guiando, governando todos os desastres e todas as doenças do mundo, incluindo todas as suas dimensões pecaminosas e satânicas. Ele está. A questão é, com nossas Bíblias abertas, como devemos entender tudo isso? Podemos fazer sentido disso tudo?
A POSTURA DO CRISTÃO
Pois bem, analisaremos agora algumas realidades bíblicas (apresentadas por Mark Oden e John Piper) que devemos usar como blocos de edificação em nosso esforço para construir entendimento e dar sentido a essa pandemia do coronavírus.
Tome consciência das consequências do pecado
Quando o pecado entrou no mundo através de Adão e Eva, Deus ordenou que a criação, incluindo nosso corpo físico, como pessoas criadas à sua imagem, experimentasse corrupção e futilidade, e que todos os seres vivos morressem. Os cristãos, ao serem salvos pelo evangelho da graça de Deus, não escapam a essa corrupção, futilidade e morte físicas. O fundamento desta verdade é Romanos 8.20-23:
20Toda a criação, não por vontade própria, foi submetida por Deus a uma existência fútil, 21na esperança de que, com os filhos de Deus, a criação seja gloriosamente liberta da decadência que a escraviza. 22Pois sabemos que, até agora, toda a criação geme, como em dores de parto. [E aqui está o versículo chave para os cristãos:] 22E nós, os que cremos, também gememos, embora tenhamos o Espírito em nós como antecipação da glória futura, pois aguardamos ansiosos pelo dia em que desfrutaremos nossos direitos de adoção, incluindo a redenção de nosso corpo.
A diferença para os cristãos, os crentes de verdade em Cristo, é que nossa experiência com essa corrupção não é condenação. Romanos 8.1: “Agora, portanto, já não há nenhuma condenação para os que estão em Cristo Jesus.” A dor para nós é purificadora, não punitiva. “Porque Deus decidiu nos salvar por meio de nosso Senhor Jesus Cristo, em vez de derramar sua ira sobre nós” (1Ts 5.9).
Morremos sim de doenças como todos os seres humanos, não necessariamente por causa de algum pecado em particular — isso é realmente importante. Nós morremos de doenças como todas as pessoas por causa da queda. Mas para aqueles que estão em Cristo, a vitória e o aguilhão da morte foram removidos (1Co 15.55).
Esse é o bloco de construção número um para entender o que está acontecendo: tome consciência das consequências do pecado.
Saiba que algumas doenças são atos de misericórdia divina
Às vezes, Deus inflige doença a seu povo como julgamento purificador e salvador, que não é condenação, mas um ato de misericórdia para seus propósitos de salvação. Esse ponto está fundamentado em 1Coríntios 11.29-32. O texto lida com o mau uso da ceia do Senhor, mas o princípio é mais amplo. Ouça:
29pois, se comem do pão ou bebem do cálice sem honrar o corpo de Cristo, comem e bebem julgamento contra si mesmos [refere-se aos cristãos à mesa do Senhor]. 30Por isso muitos de vocês [vocês, cristãos] estão fracos e doentes e alguns até adormeceram [descansaram no Senhor, morreram]. 31Se examinássemos a nós mesmos, não seríamos julgados dessa maneira. 32Mas, quando somos julgados pelo Senhor [com esta doença, fraqueza e morte], estamos sendo disciplinados para que não sejamos condenados com o mundo.
Agora, deixe isso de molho no seu coração.
O Senhor Jesus tira a vida de alguns de seus filhos amados usando fraquezas e doenças — as mesmas palavras, a propósito, usadas para descrever as fraquezas e doenças que Jesus curou (Mt 4.23 8.17; 14.14) — e os leva para o céu. Ele os leva para o céu, cortando o fluxo do pecado na vida do cristão. Não para puni-lo, mas para salvá-lo.
Em outras palavras, alguns de nós morrem de doenças “para que não sejamos condenados com o mundo” (1Co 11.32). Se ele fez isso em alguns de seus filhos queridos em Corinto, ele pode fazer isso para muitos ainda hoje, inclusive pelo coronavírus. E não apenas por abusar da ceia do Senhor, mas também por outros tipos de trajetórias pecaminosas — embora nem toda morte seja por causa de um pecado em particular.
Esse é o bloco de construção número dois para compreendermos o coronavírus: saiba que algumas doenças são ato de misericórdia divina.
Entenda que doenças podem ser atos de julgamento divino
Às vezes, Deus usa a doença para julgar aqueles que o rejeitam e se entregam ao pecado. Um exemplo: Em Atos 12, o rei Herodes se exaltou ao ser chamado de deus. O que aconteceu? Atos 12.23: “No mesmo instante, um anjo do Senhor feriu Herodes com uma enfermidade, pois ele não ofereceu a glória a Deus. Foi comido por vermes e morreu.” Deus pode fazer isso com todos os que se exaltam. O que deveria nos surpreender, portanto, é que mais de nossos governantes não caiam mortos todos os dias por causa de sua arrogância diante de Deus e do homem. Pura graça e misericórdia comuns.
Esse é o bloco número três do alicerce: Deus pode e usa doenças para, às vezes, julgar aqueles que o rejeitam e viram as costas para os seus caminhos.
Conscientize-se de que Deus troveja graça, chamando o pecador ao arrependimento, através de enfermidades e tragédias
Todos os desastres naturais — sejam inundações, fomes, gafanhotos, tsunamis, vírus ou doenças — são um trovão da misericórdia divina no meio do julgamento, chamando todas as pessoas de todos os lugares a se arrependerem e realinharem a vida, pela graça, com o valor infinito da glória de Deus.
A base para esse alicerce é Lucas 13.1-5, onde lemos que [1.] Pilatos havia assassinado friamente adoradores galileus no templo de Jerusalém e [2.] a torre de Siloé havia desabado e matado dezoito pessoas. A multidão queria saber de Jesus: “Ok, qual é o sentido de tudo isso, Jesus? Diga-nos o que você pensa sobre esses desastres naturais e essa crueldade. Essas pessoas estavam lá, todas elas do bem, e agora estão mortas. Foram tragicamente mortas!”. Aqui está a resposta de Jesus, em Lucas 13.2-5:
2“Vocês pensam que esses galileus eram mais pecadores que todos os outros da Galileia?”, perguntou Jesus. “Foi por isso que sofreram? 3De maneira alguma! Mas, se não se arrependerem, vocês também morrerão. 4E quanto aos dezoito que morreram quando a torre de Siloé caiu sobre eles? Eram mais pecadores que os demais de Jerusalém? 5Não! E eu volto a lhes dizer: a menos que se arrependam, todos vocês também morrerão.”
Essa é a mensagem de Jesus para o mundo neste momento da história, sob a pandemia do coronavírus — uma mensagem para todo ser humano. Eu e você, irmãos, e todos que estão nos ouvindo, e todos os governantes do planeta, todas as pessoas que ouvem esta palavra, estão ouvindo o trovejar da graça de Deus no meio do temporal, dizendo: “Arrependam-se! Arrependam-se e busquem a misericórdia de Deus para fazer sua vida — nossa vida — se alinhar ao valor infinito da glória de Cristo.”
Portanto, crentes,
O PODER DE CRISTO, A PANDEMIA DO CORONAVÍRUS E A POSTURA DO CRISTÃO
A pandemia global do coronavírus está nos desmascarando, mostrando-nos o quão frágeis somos como seres humanos. Veja o número de casos e de mortes. Isto porque não se trata de um vírus tão agressivo. Agora imagine um vírus ainda mais agressivo e contagioso que o COVID-19. Diante de tal ameaça, poderíamos impedir nossa própria extinção como espécie? A resposta é claramente não. É fácil esquecer, mas nós, humanos, somos fracos e frágeis.
As palavras do salmista soam verdadeiras (Sl 103.15-16):
15Nossos dias na terra são como o capim; como as flores do campo, desabrochamos. 16O vento [ou COVID-19] sopra, porém, e desaparecemos, como se nunca tivéssemos existido.
Como esta verdade a respeito de nossa fragilidade deve nos fazer pensar e mudar? Talvez lembrando-nos de não tomar a vida nesta terra como garantida: “Ajuda-nos a entender como a vida é breve, para que vivamos com sabedoria.” (Sl 90.12).
A vida é breve como um vapor e nós não temos controle sobre ela. Nossa única esperança é Cristo. João 11.25-26:
25Então Jesus disse: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim viverá, mesmo depois de morrer. 26Quem vive e crê em mim jamais morrerá. Você crê nisso, Marta?”.
Oremos:
C. S. LEWIS E O CORONAVÍRUS
Sabemos que o COVID-19 é uma pandemia global, grave e mortal, e que todas as precauções necessárias devem ser tomadas. Ainda assim, as palavras de C. S. Lewis — escritas há 72 anos — soam com alguma relevância para nós. Apenas substitua “bomba atômica” por “coronavírus”.
De certa forma, pensamos demais na bomba atômica. “Como devemos viver em uma era atômica?” Fico tentado a responder: “Ora, do mesmo jeito que você teria vivido no século XVI, quando a praga visitava Londres quase todos os anos, ou do mesmo jeito que você teria vivido em uma era Viking, quando invasores da Escandinávia poderiam aportar e cortar sua garganta a qualquer noite; ou, de fato, como você está vivendo agora em uma era de câncer, uma era de sífilis, uma era de paralisias, uma era de ataques aéreos, uma era de acidentes ferroviários, uma era de acidentes automobilísticos.”
Em outras palavras, não vamos começar exagerando a novidade de nossa situação. Acredite em mim, prezado senhor ou senhora, você e todos aqueles que amamos já foram sentenciados à morte antes mesmo que a bomba atômica fosse inventada: e uma grande porcentagem de nós já morreria de maneiras desagradáveis o bastante. Tínhamos, de fato, uma grande vantagem sobre nossos ancestrais — anestésicos; mas ainda temos isso. É perfeitamente ridículo continuar choramingando e desenhando rostos compridos, porque os cientistas acrescentaram mais uma chance de morte prematura e dolorosa a um mundo que já se arrastava com essas chances e no qual a própria morte não era uma chance, mas uma certeza.
Este é o primeiro ponto a ser sustentado: e a primeira ação a ser tomada é nos recompormos. Se todos nós formos destruídos por uma bomba atômica, deixe-a fazer quando nos encontrar fazendo coisas sensíveis e humanas — orando, trabalhando, ensinando, lendo, ouvindo música, banhando as crianças, jogando tênis, conversando com nossos amigos, jogando dardos — não amontoados como ovelhas assustadas e pensando em bombas. Elas podem destruir nosso corpo (um micróbio pode fazer isso), mas não precisam dominar nossa mente.
*Fonte: “On Living in an Atomic Age” (1948) em Present Concerns: Journalistic Essays.
Descansemos no poder de Deus.
S.D.G. L.B.Peixoto
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