29.10.2023
DE ONDE VIM? ONDE ESTOU? AONDE VOU? Ainda que inconscientemente, ainda que sem perceber, é a partir dessas perguntas que nós operamos. Essas questões descortinam meu passado (de onde vim?), meu presente (onde estou?) e meu futuro (aonde vou?). — Quer ver uma coisa? — Faça este exercício mental: dê um branco na memória… apague o seu passado da lembrança, apague a sua história… tente imaginar-se sem saber onde você nasceu, quem são ou foram seus pais, onde você cresceu, com quem brincou e conviveu, onde estudou e trabalhou… Faça isso. Ou ainda: apague a luz do seu futuro… escureça as suas certezas para o amanhã… tente imaginar-se sem saber aonde você está indo, enxergue-se sem planos nem projetos… Como será viver assim?
Jordan B. Peterson, professor de psicologia na Universidade de Toronto, no Canadá, sustenta que o propósito da memória não é meramente o de relembrar o passado, “o propósito da memória é extrair lições do passado para estruturar o futuro. Esse é o propósito da memória pessoal.” Portanto, uma pessoa sem memória do passado, consciência do presente e esperança quanto ao amanhã é um ser vegetativo, por assim dizer. E ainda que você viva com apenas uma ou duas dessas respostas (De onde vim? Onde estou? Aonde vou?), você trilhará esta existência como alguém que manca e geme de dor. Simplesmente não dá para viver assim. Não dá para existir – existir com abundância – sem saber contar minha origem, discernir meu estado presente e olhar com esperança para o amanhã (com todas as lições extraídas do passado, boas e más). Pessoas que não sabem contar a história do seu passado ou que vivem suprimindo o passado… pessoas que não sabem dar a correta interpretação para o estado presente… pessoas que não conseguem olhar com esperança para o amanhã estão todas privadas de vida plena.
O livro de Gênesis traz de forma completa a nossa memória biográfica mais fundamental: passado, presente e futuro. Gênesis nos revela de onde todos nós viemos, explica o nosso estado presente e aponta o amanhã glorioso daqueles com os quais Deus fez uma aliança graciosa. Desse modo, este livro de Moisés é indispensável para você saber tecer a narrativa da sua vida – passada, presente e futura.
Todos nós vivemos de narrativas, aliás, metanarrativas. Pergunte aos fãs de O Poderoso Chefão, Star Wars, Matrix, Harry Potter, Jogos Vorazes, Velozes e Furiosos, Vingadores, Friends ou Gilmore girls… pergunte aos fãs de As Crônicas de Nárnia, O Hobbit ou O Senhor dos Anéis… pergunte a eles e a elas o que os move nessas histórias. Quer saber? A narrativa os move, e para essas narrativas – ou melhor: metanarrativas – as pessoas se projetam, inquestionavelmente.
Há uma enorme questão filosófica envolvida neste ponto.
Na filosofia e na teoria da cultura, uma metanarrativa assume o sentido de uma grande narrativa, uma narrativa de nível superior capaz de explicar para alguém todo o conhecimento existente, capaz de representar para alguém uma verdade absoluta sobre o universo ou capaz de explicar e projetar para alguém o que é a própria vida. A Bíblia (livro sagrado dos cristãos), o Alcorão (livro sagrado dos islã), o Páli Tripitakan (ou Cesto Triplo, texto sagrado budista), O Livro dos Espíritos (que fundamenta os ensinamentos do espiritismo) são apenas alguns exemplos de metanarrativas conhecidas. Pois bem, contra essa crença nos absolutos e na capacidade de uma metanarrativa (de uma história sobre todas as histórias) para aglutinar todo o conhecimento possível está a pós-modernidade (o nosso momento presente), como uma reacção à confiança nesta “utopia” (de uma verdade absoluta), como costumam chamar. O filósofo francês Jean-François Lyotard escreveu que “o ‘pós-moderno’ é a incredulidade em relação às metanarrativas.”
Agora, sinceramente!, é impossível viver sem metanarrativa; é impossível viver sem uma história maior, superior que explique ou que ajuste a minha história de vida. Tão impossível que o ser humano vive atrás de metanarrativas. Por exemplo, as metanarrativas religiosas: judaísmo, cristianismo, espiritismo ou espiritualismo, islamismo, budismo e qualquer uma das religiões orientais, etc. E ainda, as metanarrativas filosóficas: iluminismo, romanticismo, existencialismo, cientificismo, marxismo, materialismo, feminismo e uma infinidade de outras cosmovisões, dentre as quais, o ateísmo. Sejamos sinceros: ninguém vive sem metanarrativa. Estamos todos atrás de alguma, seja nos livros que lemos, nas séries, filmes e novelas que assistimos, nas músicas que ouvimos e assim por diante. A bem da verdade, todas essas peças de entretenimento (livros, filmes, séries, músicas ou novelas) carregam em si pílulas filosóficas, altas doses de filosofias, ideologias ou crenças de alguma natureza que são em si metanarrativas. E daí, todos nós nos projetamos para essas histórias – e de repente começamos a pensar, falar e até vestir como o personagem preferido. Por quê? Todos ansiamos por uma história que explique ou dê sentido para a minha, a nossa história. É só você ser honesto que irá perceber.
A questão, portanto, passa a ser a seguinte: qual metanarrativa deverá explicar e nortear a minha vida? Matrix? Vingadores? Che Guevara? Iron Maiden, Roger Walters ou U2? Qual eu vou adotar? Qual narrativa de nível superior capaz de explicar todo o conhecimento existente ou capaz de representar a verdade absoluta sobre o universo e a vida (e a minha própria vida) eu vou adotar? — Posso falar? — Que tal você adotar a palavra de Deus, começando em Gênesis? Que tal a metanarrativa bíblica?
O PROPÓSITO GERAL DO LIVRO DE GÊNESIS é fornecer a história precisa de como Deus, soberanamente, estabeleceu uma aliança graciosa com o seu povo escolhido: Abraão e seus descendentes, de modo que eles pudessem abençoar o mundo inteiro.
Agora, o contexto da aliança com Abraão inclui a criação e a preparação da terra e da raça humana, iniciada com Adão e Eva (sim!, personagens históricos, reais), passa pela queda do homem no pecado, as consequências e os julgamentos resultantes dela, e abrange os meios pelos quais Deus restabeleceria o seu domínio sobre a criação, isto é, através de aliança com Noé e, principalmente, com Abraão e seus descendentes.
Ademais, Gênesis foi escrito para [1.] revelar a Israel o poder, a soberania e a graciosidade de seu Deus (que está acima de todos os deuses), [2.] explicar suas origens e razão pelo estado de tantos sofrimentos, [3.] instruir Israel a respeito de sua aliança com Deus (com o propósito de abençoar toda a terra, todas as nações) e [4.] lembrar a nação da fidelidade absoluta do seu Deus. E é para este livro que nos voltamos agora.
GÊNESIS 1. O primeiro capítulo da Bíblia, já no seu primeiro versículo, estabelece o fundamento da fé cristã. É tanto que o primeiro artigo do Credo Apostólico afirma:
Creio em Deus Pai Todo-Poderoso,
Criador dos céus e da terra;
Deixar de perceber essa tão fundamental mensagem minará completamente a fé cristã. Mas tem mais neste primeiro capítulo da Bíblia. Embora não seja tão óbvio como em outras narrativas, ainda se pode detectar uma trama em Gênesis 1.1–2.4a. Observe:
Colocando tudo isso em uma frase, ficaria assim – a grande ideia desta seção de Gênesis: “Pela ação poderosa de sua palavra pronunciada e o agir silencioso, gerador de vida de seu Espírito, Deus, o Rei do universo, criou a terra como o seu reino e os seres humanos como seus regentes, e tudo isso de uma forma muito boa, perfeita.” Essa é a mensagem de Gênesis 1.1—2.4a. Agora, leiam comigo o nosso texto, sob estes temas: [1.] a criação em resumo (1.1); [2.] a condição inicial da criação (1.2); [3.] os seis dias da criação (1.3-31); e [4.] o sétimo dia da criação (2.1-4a). No final, faremos aplicações para a nossa vida.
1. A criação em resumo (Gn 1.1)
Deus é o criador do tempo, da energia, da matéria e do espaço; ele é o criador da vida – e da totalidade de tudo o que há, na terra e no espaço, em todo o universo (visível e invisível; macro e micro). Gênesis 1.1 — “No princípio, Deus criou os céus e a terra.”
2. A condição inicial da criação (Gn 1.2)
O que agora vemos no universo físico já existiu em uma condição de caos e vazio; isto é, em condição inapropriada para a habitação de qualquer ser vivo, sobretudo o humano.
Gênesis 1.2 A terra era sem forma e vazia, a escuridão cobria as águas profundas, e o Espírito de Deus se movia sobre a superfície das águas.
A terra primeva era sem luz e sem chão; estava em desordem e era desabitada, de fato, era inabitável, ainda. O que se lê aqui não é a respeito de uma recriação da terra após alguma catástrofe cósmica-espiritual, mas o estado mesmo da terra em sua origem, em sua idade mais primitiva: a terra ainda precisava ser preparada para o ser humano. Com efeito, a expressão “sem forma e vazia”, utilizada por Moisés, foi adotada mais tarde para descrever a terra como um caos inabitável ou desabitada. Veja, lá adiante, aqui mesmo no Pentateuco, quando Moisés vai cantar os grande feitos de Deus, ele entoa:
Deuteronômio 32.9-10 9“Pois o povo de Israel pertence ao SENHOR; Jacó é sua propriedade especial. 10Encontrou-os numa terra deserta [sem forma, inabitável], numa região desolada [vazia] e de ventos uivantes. Cercou-os e cuidou deles, protegeu-os como a pupila de seus olhos.
Os profetas também falaram assim nesses termos a respeito da terra. Veja o caso do profeta Isaías:
Isaías 45.18 Pois o SENHOR é Deus; criou os céus e a terra e pôs todas as coisas no devido lugar. Fez o mundo para ser habitado, e não para ser um lugar de vazio e caos [sem forma]. Ele diz: “Eu sou o SENHOR, e não há outro.
Agora, Jeremias. Esse profeta, “o profeta chorão”, como ficou conhecido, descrevendo as condições da terra de Israel após o massacre dos assírios e dos babilônios (lá entre os séculos 722–598 a.C.), resultando no desterro completo do povo de Deus para o estrangeiro, escreveu sobre o que viu, abismado:
Jeremias 4.23-26 23Olhei para a terra, e ela estava sem forma e vazia; olhei para os céus, e não havia luz alguma. 24Olhei para os montes e para as colinas, e eles estremeciam e balançavam. 25Olhei, e todo o povo tinha desaparecido; as aves do céu voaram para longe. 26Olhei, e os campos férteis haviam se transformado em deserto; as cidades estavam em ruínas, por causa da ira ardente do SENHOR.
Jeremias estava dizendo que a terra de Israel, quando houve o Exílio, podia ser retratada em seu estado mais primevo, antes da graciosa preparação da terra por Deus na Criação em Gênesis 1.2. Portanto, a descrição da terra em Gênesis 1.2 se ajusta bem à visão do futuro de Israel. A terra está vazia, escura e estéril, aguardando o chamado de Deus para a luz e a vida. E assim como a luz do sol irrompeu nas trevas primevas da terra, anunciando o amanhecer da bênção de Deus (1.3 – “Então Deus disse: ‘Haja luz’, e houve luz.”), os profetas e os apóstolos descreverão o início da era da salvação, e a salvação mesma, com a chegada da luz – o sol da justiça, o SENHOR Jesus Cristo – que prevalecerá sobre as trevas (Is 8.22–9.2; Mt 4.13-17; Jo 1.5, 8-9; 2Co 4.4-6).
Pois bem, essa era a condição da terra no ato da criação: terra inabitável, “sem forma e vazia”; mas Deus não parou por aí, ele completou essa obra, e assim ele agiu de duas maneira: pelo Espírito que sopra a vida (Jó 33.4), o Espírito que sopra o fôlego divino, gera novos seres e renova a face da terra (Sl 104.30)… Deus agiu pelo Espírito que “se movia sobre a superfície das águas.” (Gn 1.2)… e Deus agiu pela Palavra. De fato, na sequência, Deus, por dez vezes, dará ordens à criação.
3. Os seis dias da criação (Gn 1.3-31)
Gênesis 1.3-31 narrará o progresso da criação (pelo agir do Espírito, mediante a palavra proferida de Deus, dez vezes proferida); Deus agirá para dar forma (os três primeiros dias) e preencher o vazio (os três últimos dias)… Deus agirá para tornar muito bom (1.31) o estado primevo que ainda não era nada bom para a habitação do ser humano (1.2).
O primeiro dia: luz (forma requer luz)
Gênesis 1.3-5 3Então Deus disse: “Haja luz”, e houve luz. 4E Deus viu que a luz era boa, e separou a luz da escuridão. 5Deus chamou a luz de “dia” e a escuridão de “noite”. A noite passou e veio a manhã, encerrando o primeiro dia.
O segundo dia: céu e água (forma requer a separação das águas profundas)
Gênesis 1.6-8 6Então Deus disse: “Haja um espaço entre as águas, para separar as águas dos céus das águas da terra”. 7E assim aconteceu. Deus criou um espaço para separar as águas da terra das águas dos céus. 8Deus chamou o espaço de “céu”. A noite passou e veio a manhã, encerrando o segundo dia.
O terceiro dia: terra e vegetação (forma requer terra, rios, mares e vegetação)
Gênesis 1.9-13 9Então Deus disse: “Juntem-se as águas que estão debaixo do céu num só lugar, para que apareça uma parte seca”. E assim aconteceu. 10Deus chamou a parte seca de “terra” e as águas de “mares”. E Deus viu que isso era bom. 11Então Deus disse: “Produza a terra vegetação: toda espécie de plantas com sementes e árvores que dão frutos com sementes. As sementes produzirão plantas e árvores, cada uma conforme a sua espécie”. E assim aconteceu. 12A terra produziu vegetação: toda espécie de plantas com sementes e árvores que dão frutos com sementes. As sementes produziram plantas e árvores, cada uma conforme a sua espécie. E Deus viu que isso era bom. 13A noite passou e veio a manhã, encerrando o terceiro dia.
O quarto dia: os luminares (sol e lua aparecem, preenchendo o vazio do céu)
Gênesis 1.14-19 14Então Deus disse: “Haja luzes no céu para separar o dia da noite e marcar as estações, os dias e os anos. 15Que essas luzes brilhem no céu para iluminar a terra”. E assim aconteceu. 16Deus criou duas grandes luzes: a maior para governar o dia e a menor para governar a noite, e criou também as estrelas. 17Deus colocou essas luzes no céu para iluminar a terra, 18para governar o dia e a noite e para separar a luz da escuridão. E Deus viu que isso era bom. 19A noite passou e veio a manhã, encerrando o quarto dia.
Quinto dia: (peixes e aves, preenchendo o vazio dos mares e dos ares)
Gênesis 1.20-23 20Então Deus disse: “Encham-se as águas de seres vivos, e voem as aves no céu acima da terra”. 21Assim, Deus criou os grandes animais marinhos e todos os seres vivos que se movem em grande número pelas águas, bem como uma grande variedade de aves, cada um conforme a sua espécie. E Deus viu que isso era bom. 22Então Deus os abençoou: “Sejam férteis e multipliquem-se. Que os seres encham os mares e as aves se multipliquem na terra”. 23A noite passou e veio a manhã, encerrando o quinto dia.
Sexto dia: (animais terrestres e o ser humano, preenchendo o vazio da terra)
Gênesis 1.24-25 24Então Deus disse: “Produza a terra grande variedade de animais, cada um conforme a sua espécie: animais domésticos, animais que rastejam pelo chão e animais selvagens”. E assim aconteceu. 25Deus criou grande variedade de animais selvagens, animais domésticos e animais que rastejam pelo chão, cada um conforme a sua espécie. E Deus viu que isso era bom.
Gênesis 1.26-31 26Então Deus disse: “Façamos o ser humano à nossa imagem; ele será semelhante a nós. Dominará sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos, sobre todos os animais selvagens da terra e sobre os animais que rastejam pelo chão”. 27Assim, Deus criou os seres humanos à sua própria imagem, à imagem de Deus os criou; homem e mulher os criou. 28Então Deus os abençoou e disse: “Sejam férteis e multipliquem-se. Encham e governem a terra. Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que rastejam pelo chão”. 29Então Deus disse: “Vejam! Eu lhes dou todas as plantas com sementes em toda a terra e todas as árvores frutíferas, para que lhes sirvam de alimento. 30E dou todas as plantas verdes como alimento a todos os seres vivos: aos animais selvagens, às aves do céu e aos animais que rastejam pelo chão”. E assim aconteceu. 31Então Deus olhou para tudo que havia feito e viu que era muito bom. A noite passou e veio a manhã, encerrando o sexto dia.
Pois bem, esse foi o progresso da criação. Nos primeiros três dias, pelo agir do Espírito, mediante a palavra de Deus, Deus deu forma à terra, separando a luz das trevas, o mar abaixo das nuvens acima e a terra seca com vegetação das águas de rios e mares. Nos últimos três dias, Deus preencheu esses espaços com sol, lua, peixes, aves, animais e, finalmente, de modo especial, o ser humano. O padrão de cada dia é semelhante: um anúncio (“Deus disse”); um comando (“haja”, “juntem-se”, “produza”, “encham-se”; “façamos”, etc.); um relatório (“e assim aconteceu”); uma avaliação (“foi bom”, “foi muito bom”); e uma estrutura cronológica (por exemplo, “o primeiro dia”, “o segundo dia” e assim por diante). Assim, Deus, do nada, criou tudo o que há, e ficou tudo muito bom!
Vimos, pois, a criação em resumo, a condição inicial da criação e os seis dias da criação. Veremos, por fim, o sétimo dia da criação.
4. O sétimo dia da criação
No sétimo dia não houve criação, apenas o desfrute da perfeição.
Gênesis 2.1-4 1Desse modo, completou-se a criação dos céus e da terra e de tudo que neles há. 2No sétimo dia, Deus havia terminado sua obra de criação e descansou de todo o seu trabalho. 3Deus abençoou o sétimo dia e o declarou santo, pois foi o dia em que ele descansou de toda a sua obra de criação. 4Esse é o relato da criação dos céus e da terra.
O RELATO DA CRIAÇÃO TERMINA COM DEUS DESCANSANDO no sétimo dia da obra da criação. Esse descanso tem implicações para os seres humanos porque Deus também abençoou o sétimo dia e o declarou santo. A bênção sobre esse dia significa que o dia será frutífero no que diz respeito aos propósitos de Deus para ele; ou seja, se no SEXTO DIA Deus abençoou Adão e Eva e lhes disse: “Sejam férteis e multipliquem-se. Encham e governem a terra. Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que rastejam pelo chão” (1.28), no SÉTIMO DIA, Deus abençoou este dia e o fez santo para o “descanso”; se no sexto dia a benção de Deus produziu fertilidade e multiplicação, e domínio do ser humano sobre toda a terra, no sexto dia a benção de Deus produziu descanso.
A FORMA COMO OS SERES HUMANOS PARTICIPAM NO DESCANSO do sétimo dia não está explicada explicitamente em Gênesis 2.1-4a, mas a bênção de Deus sobre o sétimo dia deve ter (e tem) implicações para os seres humanos. Incluirá, por exemplo, imitar a Deus ao interromper a atividade de trabalho para descansar, o que deve incluir não apenas descanso físico, mas também descanso espiritual do povo de Deus. Deus não se cansa e mesmo assim descansou no sétimo dia, e ficará claro que os seres humanos também devem entrar nesse descanso. A queda no pecado (narrada em Gênesis 3) destacará inda mais a necessidade de descanso do cansaço do trabalho árduo e também a necessidade de descanso espiritual que só pode ser encontrado em Cristo. Desse modo, em Gênesis 2.1-4a está estabelecido um padrão de trabalho e descanso que os seres humanos imitarão em honra e para a glória de Deus – e o seu próprio bem.
O CONCEITO DE DESCANSO SERÁ PERDIDO NA QUEDA, quando Adão e Eva serão expulsos do jardim do Éden (Gn 3). Deus, no entanto, buscará restaurar esse descanso através da restauração da comunhão em alianças com a humanidade e do estabelecimento de locais de descanso que exemplifiquem sua presença com seu povo, como o tabernáculo e a terra de Canaã. Esse descanso, porém, será de novo perdido pelo pecado de Israel, de modo que eles perderão o lugar de descanso na destruição do templo de Jerusalém e a perda da terra, quando serão levados para o cativeiro babilônico.
Entretanto, Jesus virá para restaurar o descanso de Deus, estabelecendo a comunhão com Deus através da morte do Filho na cruz. Jesus revelará ser ele próprio o templo de Deus, o qual veio estabelecer sua morada em um novo templo, a igreja (ajuntada sob suas asas, como a galinha ajunta os seus pintinhos: Mt 24.37). Assim, Cristo oferecerá descanso aos cansados (Mt 11.28) e tornará possível que o povo de Deus entre no seu verdadeiro descanso (Hb 4), tanto agora através da fé em Cristo, como também no futuro, quando o descanso completo será restaurado na presença de Deus no novo céu e na nova terra. Não haverá templo naquele lugar de descanso eterno porque o próprio Deus estará com seu povo, e os salvos em Jesus terão vencido as lágrimas, a dor, a tristeza e a morte (Ap 21.1-4).
Acabamos de estudar O PRINCÍPIO – a história da criação; e a pergunta que eu faço a você é a seguinte: faz qualquer diferença você saber de onde este mundo veio, de onde você realmente, em última instância, veio? Faz mesmo diferença saber que o mundo não veio da geração espontânea de matéria inanimada, de forma evolutiva como se apregoam os arautos do cientificismo moderno, mas que viemos da criação direta de Deus, conforme estudamos há pouco? Faz diferença mesmo se você acredita na evolução ou na criação? Digo que sim. Faz muita diferença. Ora, mas que diferença faz?
Faz toda a diferença saber a quem toda a gratidão e todo o louvor é devido:
Apocalipse 4.11 “Tu és digno, ó Senhor e nosso Deus, de receber glória, honra e poder. Pois criaste todas as coisas, e elas existem porque as criaste segundo a tua vontade”.
Faz toda a diferença saber que ser humano nenhum é sem importância:
Salmo 139.13-18 13Tu formaste o meu interior e me teceste no ventre de minha mãe. 14Eu te agradeço por me teres feito de modo tão extraordinário; tuas obras são maravilhosas, e disso eu sei muito bem. 15Tu me observavas quando eu estava sendo formado em segredo, enquanto eu era tecido na escuridão. 16Tu me viste quando eu ainda estava no ventre; cada dia de minha vida estava registrado em teu livro, cada momento foi estabelecido quando ainda nenhum deles existia. 17Como são preciosos os teus pensamentos a meu respeito, ó Deus; é impossível enumerá-los! 18Não sou capaz de contá-los; são mais numerosos que os grãos de areia. E, quando acordo, tu ainda estás comigo.
Faz a diferença saber que a ética e a moral necessárias para um mundo civilizado (os 10 Mandamentos e as leis de Deus que construíram a humanidade, sobretudo a civilização ocidental) vieram dos mesmos lábios de quem, com suas próprias palavras, criou o universo (criou com dez palavras! será coincidência? claro que não!). Claro que falo aqui antropomorficamente – atribuindo forma (lábios) a Deus, que é espírito. Faz diferença sim saber que ética e moral não são resultado de evolução e revolução cultural (por isso, são mutáveis e estão em mutação), mas de revelação divina (portanto, atemporal e transcultural).
Faz a diferença saber que há um Deus: criador (Deus criou), autoexistente (no princípio), onipotente (Disse Deus…), onipresente (o espírito de Deus se movia sobre a face das águas), soberano (deu nomes, estabeleceu as coisas, determinou limites e leis naturais…) e bom (tudo o que ele criou é bom). Faz diferença ter um Deus assim, e viver conscientemente diante de um Deus assim. Faz toda a diferença, pois eu sei que para ele não há impossíveis, não depende de minha performance, ele esta comigo em todos os momentos e lugares, ele tem domínio sobre céus, terra e minha vida, e ele é bom, em todo o tempo ele é bom.
Faz a diferença saber que [1.] fomos criados para refletir a glória de Deus (fomos criados à sua própria imagem), [2.] fomos sim criados homem e mulher (binários, heterossexuais), [3.] fomos abençoados para reproduzir e multiplicar sobre a terra, exercendo domínio sobre a criação e [4.] fomos supridos com todos os frutos da criação. Tudo isso demonstra para quê existimos: glorificar a Deus; demonstra o valor da vida humana (do ventre ao leito de hospital): a imagem de Deus no ser humano; o valor do casamento e da família; o valor do trabalho; e o valor das coisas boas criadas por Deus para o nosso desfrute e alegria:
1Timóteo 4.3-5 3Tais pessoas afirmam que é errado se casar e proíbem que se comam certos alimentos, que Deus criou para serem recebidos com ação de graças pelos que são fiéis e conhecedores da verdade. 4Porque tudo que Deus fez é bom, não devemos rejeitar nada, mas a tudo receber com ação de graças, 5pois sabemos que se torna aceitável pela palavra de Deus e pela oração.
Faz a diferença saber que o Deus que nos criou sabe das nossas limitações, pois da mesma forma que ele nos abençoou para trabalhar (no sexto dia da criação) ele também abençoou um dia para o nosso descanso (no sétimo dia da criação). Esse mesmo Deus, por meio do salmista, declarou a nós, para o nosso alívio e padrão (tanto para a nossa própria vida como para o nosso trato com o próximo, sobretudo empregados):
Salmo 127.1-2 1Se o SENHOR não constrói a casa, o trabalho dos construtores é vão. Se o SENHOR não protege a cidade, de nada adianta guardá-la com sentinelas. 2É inútil trabalhar tanto, desde a madrugada até tarde da noite, e se preocupar em conseguir o alimento, pois Deus cuida de seus amados enquanto dormem.
Faz toda a diferença saber que o modo de Deus trazer forma a vidas quebradas pelo pecado e preencher a alma de gente vazia ainda não mudou: é pelo mover silencioso e o sopro gerador de vida do Espírito, mediante a palavra de Deus. Se você sabe disso, você se coloca sob a palavra de Deus com muita oração; você congrega em igreja que entende que a letra, ungida pelo Espírito, não mata, mas vivifica – a palavra, com o Espírito, dá forma e preenche vazio: João 6.63 — “Somente o Espírito dá vida. A natureza humana não realiza coisa alguma. E as palavras que eu lhes disse são espírito e vida.”
Faz a diferença saber que esse Deus criador, do mesmo modo que ele criou e formou a terra, ainda cria e forma novas criaturas em Cristo: 2Coríntios 4.6 — “Pois Deus, que disse: ‘Haja luz na escuridão’, é quem brilhou em nosso coração, para que conhecêssemos a glória de Deus na face de Jesus Cristo.” E seguindo-se à luz da regeneração, inicia-se um processo de santificação, processo de dar forma ao caos e de preencher com beleza e frutos o vazio da vida outrora entregue à vida feia e infrutífera do pecado.
Faz toda a diferença saber a quem de fato se deve temer:
Salmo 33.6-11 6O SENHOR falou, e os céus foram criados; pelo sopro de sua boca as estrelas nasceram. 7Determinou os limites do mar e juntou os oceanos em reservatórios. 8Que o mundo inteiro tema o SENHOR, e todos os habitantes da terra tremam diante dele. 9Pois, quando ele falou, o mundo veio a existir; tudo surgiu por sua ordem. 10O SENHOR desfaz os planos das nações e frustra os projetos dos povos. 11Mas os planos do SENHOR permanecem para sempre; seus propósitos jamais serão abalados.
MAS PRINCIPALMENTE: faz toda a diferença saber que o Criador assumiu a forma de homem, a forma de servo; o autoexistente nasceu entre nós; o todo-poderoso e onipotente foi morto na cruz e sepultado; o soberano se submeteu a autoridades; o perfeitamente bom se fez maldição no lugar do pecador. Essa é uma verdade gloriosa, e não foi acidentalmente ou aleatoriamente que João tenha iniciado o seu Evangelho fazendo eco às palavras de Gênesis que descrevem O PRINCÍPIO:
João 1.1-5, 10-13 1No princípio, aquele que é a Palavra já existia. A Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus. 2Ele existia no princípio com Deus. 3Por meio dele Deus criou todas as coisas, e sem ele nada foi criado. 4Aquele que é a Palavra possuía a vida, e sua vida trouxe luz a todos. 5A luz brilha na escuridão, e a escuridão nunca conseguiu apagá-la. […] 10Veio ao mundo que ele criou, mas o mundo não o reconheceu. 11Veio a seu próprio povo, e eles o rejeitaram. 12Mas, a todos que creram nele e o aceitaram, ele deu o direito de se tornarem filhos de Deus. 13Estes não nasceram segundo a ordem natural, nem como resultado da paixão ou da vontade humana, mas nasceram de Deus.
E você, permita-me perguntar: de onde veio? onde está você? aonde vai? Eu lhe digo: você foi criado por Deus, mas o pecado destruiu sua vida, e se não for por meio de Cristo, pela vida e obra de Cristo, seu destino é a condenação eterna. Você sabia disso?
Volte-se para Aquele de onde você veio, ande naquele que morreu pelos pecadores e espere pelo novo céu e a nova terra sem pecado, sem lágrimas, sem dor. Arrependa-se do seu pecado. Receba agora mesmo a Jesus Cristo. E você terá o direito de se tornar filho(a) de Deus: uma nova criação, uma nova criatura em Cristo Jesus. Sua vida terá um novo PRINCÍPIO.
S.D.G. L.B.Peixoto
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