12.03.2017
O PROCESSO DA CAPTURA
Atos 9.1-31; 22.1-16; 26.4-18
At 9.1-6 | 1 Enquanto isso, Saulo, motivado pela ânsia de matar os discípulos do Senhor, procurou o sumo sacerdote. 2 Pediu cartas para as sinagogas em Damasco, solicitando que cooperassem com a prisão de todos os seguidores do Caminho, homens e mulheres, que ali encontrasse, para levá-los como prisioneiros a Jerusalém. 3 Quando se aproximava de Damasco, de repente uma luz do céu brilhou ao seu redor. 4 Ele caiu no chão e ouviu uma voz lhe dizer: “Saulo, Saulo, por que você me persegue?”. 5 “Quem és tu, Senhor?”, perguntou Saulo. E a voz respondeu: “Sou Jesus, a quem você persegue! 6 Agora levante-se e entre na cidade, onde lhe dirão o que fazer”.
A captura de Saulo de Tarso
Na semana passada, vimos que Saulo de Tarso, a caminho de Damasco, buscava capturar os do Caminho de Cristo. No entanto, ele é quem foi capturado por Cristo no caminho (Fl 3.12).
Olhar para o modo como a graça soberana de Deus capturou a vida de Paulo, salvando-o e transformando-o, é fundamental por uma razão: o próprio Paulo diz que a sua conversão serve de paradigma para mostrar como a graça de Deus age salvando o pecador. Observe o que ele disse, escrevendo a Timóteo:
1Tm 1.16-17 | 16 Mas foi por isso que eu, o pior dos pecadores, recebi misericórdia, para que assim Cristo Jesus mostrasse quanto é paciente. Desse modo, sirvo de exemplo a todos que vierem a crer nele para a vida eterna. 17 Honra e glória a Deus para todo o sempre! Ele é o Rei eterno, invisível e imortal; ele é o único Deus. Amém.
Pois bem, nos três episódios que narram a conversão de Saulo (Atos 9.1-31; 22.1-16; 26.4-18), há sete afirmações dele mesmo que descrevem o processo da captura divina na salvação e no comissionamento do pecador. São elas: 1 Vi no caminho uma luz do céu; 2 Caí por terra; 3 Ouvi uma voz; 4 Eu disse: quem é tu, Senhor?; 5 Então eu disse: Senhor, que farei?; 6 Não fui desobediente à visão celestial; 7 Até hoje continuo testemunhando.
1. “Vi no caminho uma luz do céu”
At 9.3 | Quando se aproximava de Damasco, de repente uma luz do céu brilhou ao seu redor.”
At 22.6 | Quando me aproximava de Damasco, por volta do meio-dia, de repente uma luz muito intensa brilhou ao meu redor.
At 26.13 | Por volta do meio-dia, ó rei, ainda a caminho, uma luz do céu, mais intensa que o sol, brilhou sobre mim e meus companheiros.
A luz era uma metáfora importante para Paulo. Ele tomou para si mesmo textos do profeta Isaías e fez deles a bandeira de sua vida e vocação:
Is 42.6-7 | 6 Eu, o SENHOR, o chamei para mostrar minha justiça; eu o tomarei pela mão e o protegerei. Eu o darei a meu povo, Israel, como símbolo de minha aliança com eles, e você será luz para guiar as nações: 7 abrirá os olhos dos cegos, libertará da prisão os cativos, livrará os que estão em calabouços escuros.
Is 49.6 | Ele diz: “Você fará mais que restaurar o povo de Israel para mim; eu o farei luz para os gentios, e você levará minha salvação aos confins da terra”.
Compare essas palavras de Isaías com algumas declarações de Paulo:
At 13.47 | Pois foi isso que o Senhor nos ordenou quando disse: “Fiz de você uma luz para os gentios, para levar a salvação até os lugares mais distantes da terra.”
At 26.15-18 e 23 | 15 ‘Quem és tu, Senhor?’, perguntei. E o Senhor respondeu: ‘Sou Jesus, a quem você persegue. 16 Agora levante-se, pois eu apareci para nomeá-lo meu servo e minha testemunha. Conte o que viu e o que eu lhe mostrarei no futuro. 17 E eu o livrarei tanto de seu povo como dos gentios. Sim, eu o envio aos gentios 18 para abrir os olhos deles a fim de que se voltem das trevas para a luz, e do poder de Satanás para Deus. Então receberão o perdão dos pecados e a herança entre o povo de Deus, separado pela fé em mim’. […] 23 que o Cristo sofreria e seria o primeiro a ressuscitar dos mortos e, desse modo, anunciaria a luz de Deus tanto aos judeus como aos gentios.
Paulo, enquanto fariseu, sempre creu que os gentios viviam em trevas espirituais, mas ele na luz. Agora, ele mesmo, judeu e fariseu de fariseu, viu que também andava em trevas e por isso precisava de luz. Deus havia aberto seus olhos para a luz de Jesus a fim de que ele pudesse levar essa luz. Saulo foi capturado das trevas, ele que pensava andar na luz.
Por isso que no caminho ele viu uma luz do céu que brilhava mais do que o sol, resplandecendo em torno dele e dos que estavam com ele, clareando a tudo e a todos. Pobres homens, viviam em trevas, mas pensavam andar na luz. Louvado seja Deus que capturou Saulo de Tarso das trevas com a luz que veio do céu. Deus faz isto ainda hoje.
2. “Caí por terra”
Ao ver a luz, Saulo caiu por terra (At 9.4; 22.7 26.14).
Lendo e comparando as narrativas de Atos (9.7; 22.10-11 e 26.14), nós descobrimos que os homens que acompanhavam Saulo também caíram por terra, mas depois se levantaram, enquanto Saulo permaneceu prostrado. Aliás, foram os seus companheiros que o ajudaram a se levantar.
Era o cumprimento da profecia de Simeão, dita a Maria: “Este menino está destinado a provocar a queda de muitos em Israel, mas também a ascensão de tantos outros. Foi enviado como sinal de Deus, mas muitos resistirão a ele.” (Lc 2.34).
A humildade à qual a presença de Cristo nos leva é como uma uma queda que em seguida nos eleva, colocando-nos em pé para vivermos uma nova vida em Cristo. Foi o que aconteceu com Saulo de Tarso. Observe o seu testemunho pessoal aos filipenses:
Fl 3.3-14 | 3 Pois nós, que adoramos por meio do Espírito de Deus, somos os verdadeiros circuncidados. Alegramo-nos no que Cristo Jesus fez por nós. Não colocamos nenhuma confiança nos esforços humanos, 4 ainda que, se outros pensam ter motivos para confiar nos próprios esforços, eu teria ainda mais! 5 Fui circuncidado com oito dias de vida. Sou israelita de nascimento, da tribo de Benjamim, um verdadeiro hebreu. Era membro dos fariseus, extremamente obediente à lei judaica. 6 Era tão zeloso que persegui a igreja. E, quanto à justiça, cumpria a lei com todo rigor. 7 Pensava que essas coisas eram valiosas, mas agora as considero insignificantes por causa de Cristo. 8 Sim, todas as outras coisas são insignificantes comparadas ao ganho inestimável de conhecer a Cristo Jesus, meu Senhor. Por causa dele, deixei de lado todas as coisas e as considero menos que lixo, a fim de poder ganhar a Cristo 9 e nele ser encontrado. Não conto mais com minha própria justiça, que vem da obediência à lei, mas sim com a justiça que vem pela fé em Cristo, pois é com base na fé que Deus nos declara justos. 10 Quero conhecer a Cristo e experimentar o grande poder que o ressuscitou. Quero sofrer com ele, participando de sua morte, 11 para, de alguma forma, alcançar a ressurreição dos mortos! 12 Não estou dizendo que já obtive tudo isso, que já alcancei a perfeição. Mas prossigo a fim de conquistar essa perfeição para a qual Cristo Jesus me conquistou. 13 Não, irmãos, não a alcancei, mas concentro todos os meus esforços nisto: esquecendo-me do passado e olhando para o que está adiante, 14 prossigo para o final da corrida, a fim de receber o prêmio celestial para o qual Deus nos chama em Cristo Jesus.
Se quisermos ser grandes diante de Deus, temos que, primeiro, “cair do cavalo”, assim como Saulo “caiu”; temos que cair e ficar prostrados até o SENHOR nos levantar; temos que nos despir de nós mesmos e vestirmos-nos da graça do SENHOR; temos que aprender a viver pela fé e não pelas obras ou pela força de vontade.
3. “Ouvi uma voz”
Saulo viu uma luz do céu, caiu por terra e ouviu uma voz (At 9.4; 22.7; 26.14). A voz dizia: “Saulo, Saulo, por que você me persegue? Não adianta lutar contra minha vontade [literalmente: é difícil dar coices contra o aguilhão]” (At 26.14).
Os homens que estavam com Saulo ouviram o som do céu mas não puderam distinguir as palavras (At 22.9) e Saulo não fazia a menor ideia de quem estava falando com ele.
Porém, antes de o locutor se identificar, ele revelou quem Saulo de Tarso realmente era: um touro furioso que queria as coisas só do jeito dele, que vivia em rebeldia contra a vontade de seu SENHOR, que vivia dando coices nas oportunidades que Deus colocava diante dele – nas espetadas que Deus dava nele – para que se arrependesse e cresse. A expressão “aguilhão” em At 26.16 permite-nos interpretar dessa maneira.
Quais foram os aguilhões que Deus usou para espetar Saulo de Tarso com convicção? Conforme vimos na semana retrasada, esses aguilhões ou espetadas de Deus foram: a pessoa e as palavras de Jesus; o martírio de Estevão; a fé e o testemunho corajoso dos cristãos e a sua incapacidade de mortificar o pecado através da lei de Deus.
Imaginem a seguinte cena: um homem sincero em sua fé, que fazia de tudo para agradar a Deus, mas que se via fracassado; olhava para Jesus e via algo diferente; quando lembrava de palavras e de ensinos de Jesus, experimentava brisas de vida; lembrava sem trégua da fé autêntica e vibrante de Estevão; impressionava-se com a fé inabalável dos cristãos que, alimentada pela esperança, não os permitia deixar de amar quem os perseguia… e ainda assim esse homem, Saulo de Tarso, não se curvava.
Até que um dia a voz no caminho lhe explicou que todas aquelas vozes e memórias, como espetadas de um aguilhão, feriam sua consciência com o amor de Deus, chamando-o ao arrependimento e à fé em Jesus – “Saulo, Saulo, por que você me persegue? Não adianta lutar contra minha vontade [literalmente: é difícil dar coices contra o agulhão]” (At 26.14). Era a voz da graça de Deus chamando Saulo, de forma irresistível, à salvação pela fé em Cristo.
Assim também é com muitos de vocês que não ouvem, não sentem nem se importam com o aguilhão de Deus, chamando-os ao arrependimento: 1 a religiosidade e a filosofia de vida de vocês não os satisfazem – por isso, vivem frustrados; 2 vira e mexe vocês sentem vontade de conhecer mais de Jesus – mas, não admitem; 3 a fé de alguns cristãos já impressionaram vocês – no entanto, vocês preferem criticá-los; etc.
Diante de tantas ferroadas da graça de Deus, o que vocês fazem? Ficam mais violentos, camuflando o conflito da alma.
Não ajam como Saulo de Tarso. Não se embruteçam como um touro furioso. Não saiam para perseguir e calar aqueles que Deus deve estar usando para cutucar vocês. Ouçam a voz do céu os chamando.
4. “Eu disse: Quem és tu, Senhor?”
No chão, sem enxergar e diante daquela voz graciosa, Saulo pergunta: “Quem és tu, Senhor?” (At 9.5; 22.8; 26.15).
Os rabis são reverenciados por fazerem as perguntas certas. Conta-se que certo jovem estudante judeu perguntou ao seu professor: “Rabi, por que todas as vezes que eu te faço uma pergunta, o senhor sempre responde com outra pergunta?”. O rabi replicou: “Por que eu não poderia?”.
Saulo, sabia fazer a pergunta certa: “Quem és tu, Senhor?”. E ele ouviu a resposta certa: “Sou Jesus, o nazareno, a quem você persegue.” (At 22.8). Jesus (Yeshua) era um nome comum entre os judeus por causa de Josué, sucessor de Moisés. O historiador Flavio Josefo lista em suas obras 20 homens diferentes com este mesmo nome. O nome significa “Jeová é Salvação”.
Para não ser confundido com nenhum outro Jesus, o SENHOR diz: “Sou Jesus, o nazareno, a quem você persegue”.
Paulo quer nos ensinar que ao sermos capturados pela graça de Deus, a pergunta mais importante a ser feita é: “Quem és tu, Senhor?” por que ela significa: “Quero te conhecer!”. Não podemos confundi-lo com nenhum outro.
5. “Então eu disse: Senhor, que farei?”
Mediante a declaração de Jesus, Saulo fez outra pergunta: “Que devo fazer, Senhor?” (At 22.10). A esta altura da experiência de Saulo no caminho, ele já tinha sido capturado, estava cego e humilhado, mas sabia que estava diante do SENHOR da Glória! Por isso ele estava pronto para ouvir do SENHOR qual era a missão de sua vida.
At 26.16-18 | 16 Agora levante-se, pois eu apareci para nomeá-lo meu servo e minha testemunha. Conte o que viu e o que eu lhe mostrarei no futuro. 17 E eu o livrarei tanto de seu povo como dos gentios. Sim, eu o envio aos gentios 18 para abrir os olhos deles a fim de que se voltem das trevas para a luz, e do poder de Satanás para Deus. Então receberão o perdão dos pecados e a herança entre o povo de Deus, separado pela fé em mim’.
Levante-se. Aprume-se. Olhe para mim. Fale de mim. Essa é a missão de todos aqueles que foram capturados no caminho.
6. “Não fui desobediente à visão celestial”
O perseguidor furioso passou a ser um pregador fiel. Ele nunca desistiu, mesmo sofrendo:
At 26.19-23 | 19 Portanto, rei Agripa, obedeci à visão celestial. 20 Anunciei a mensagem primeiro em Damasco, depois em Jerusalém e em toda a Judeia, e também aos gentios, dizendo que todos devem arrepender-se, voltar-se para Deus e mostrar, por meio de suas boas obras, que mudaram de rumo. 21 Alguns judeus me prenderam no templo por anunciar essa mensagem e tentaram me matar. 22 Mas Deus tem me protegido até este momento, para que eu dê testemunho a todos, dos mais simples até os mais importantes. Não ensino nada além daquilo que os profetas e Moisés disseram que haveria de acontecer, 23 que o Cristo sofreria e seria o primeiro a ressuscitar dos mortos e, desse modo, anunciaria a luz de Deus tanto aos judeus como aos gentios.
Os cativos da graça devem ser fieis. Deus será com eles, mesmo diante de lutas e pesares. É promessa do Pai: “Estou sempre com vocês, até o fim dos tempos” (Mt 28.20).
7. “Até hoje continuo testemunhando”
Uma coisa é começar bem, quando a visão e a voz ainda estão claras na mente, outra coisa é permanecer e perseverar, quando elas são apenas lembranças opacas e as perseguições permanecem vivas, covardemente severas. Paulo, no entanto, foi até o fim.
No texto que lemos há pouco, ele testemunhou dizendo que, anos depois, ele ainda continuava testemunhando de Jesus, nada o havia detido (At 26.22). Escrevendo a última carta de que temos registro, Paulo encorajou Timóteo com as seguintes palavras, reforçando o que ele havia dito a Agripa:
2Tm 4.5-8 | 5 Você, porém, deve manter a sobriedade em todas as situações. Não tenha medo de sofrer. Trabalhe para anunciar as boas-novas e realize todo o ministério que lhe foi confiado. 6 Quanto a mim, minha vida já foi derramada como oferta para Deus. O tempo de minha morte se aproxima. 7 Lutei o bom combate, terminei a corrida e permaneci fiel. 8 Agora o prêmio me espera, a coroa de justiça que o Senhor, o justo Juiz, me dará no dia de sua volta. E o prêmio não será só para mim, mas para todos que, com grande expectativa, aguardam a sua vinda.
Ei, você que segue caminho afora!
Devemos todos aprender algumas lições à partir da conversão de Saulo de Tarso.
É por isso que para muitos poderem ver a Deus no rosto de Cristo, o SENHOR precisará, primeiramente, derrubá-los do cavalo! Agostinho chama a conversão de Saulo de “A captura violenta de uma vontade rebelde”. E quem aqui não é assim, rebelde? Ou nunca foi assim, teimoso? Que não precise ou não precisou de captura semelhante?
Seja obediente à visão celestial
Pode ser que hoje a luz do céu tenha brilhado no seu coração, como um dia brilhou para Paulo: o SENHOR te faz ver que é pecador; chama-o a salvação; diz que você precisa aprender mais dele; fala que tem uma missão para você; e convida-o a perseverar até o final. Seja obediente à visão celestial!
Hoje pode ser o dia de seu momento especial com Jesus. O dia em que a graça te capturou para a salvação e te colocou em um novo e vivo caminho.
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