20.04.2025
“Mas Cristo de fato ressuscitou dos mortos.”
1Coríntios 15.20 (NVT)
O sábado chegou acompanhado do luto: pesado, imóvel, cheio de sombras que ninguém consegue espantar. O corpo de Jesus jazia em um túmulo emprestado. As mãos que curaram estavam frias. A voz que acalmou o vento agora se calava. O céu, naquele dia, não dizia nada. Nem uma palavra. Os que o amavam estavam feridos. Não havia mais o que fazer. Apenas esperar. Alguns mantiveram a vigília, ainda que com os olhos marejados e a alma em pedaços. Outros foram embora. A esperança parecia ter sido crucificada junto com o Cristo.
Mas graças a Deus, o sábado não foi o fim. Ele foi apenas o intervalo. O breve silêncio antes da nota mais alta. A madrugada antes do cântico da vitória.
No domingo, Jesus ressuscitou. E há quatro vozes que nos contam essa história: Mateus, Marcos, Lucas e João. Cada um contemplou a maravilha da ressurreição sob um ângulo distinto. Cada um escreveu com sua própria tinta, imprimindo seu próprio timbre. E quando essas vozes se encontram, não ouvimos uma só nota arrastada — ouvimos harmonia. Não há dissonância, há melodia.
Depois vem Pedro, em Atos 2. E o que temos já não é apenas um ajuntamento de vozes arranjadas — é um quinteto magnífico. O Quinteto da Ressurreição. Contratenor, tenor, barítono, baixo-barítono e baixo: cada voz com seu timbre, sua força, seu lugar. Todas sob a regência do Espírito Santo.
Essas cinco vozes entoam a mesma canção. Proclamam a mesma verdade: Cristo vive. Ele ressuscitou. Ele venceu a morte. Ele reina. e voltará Não há contradição entre elas.
Contudo, somos mais edificados — e conduzidos a uma compreensão mais profunda — quando reconhecemos e apreciamos a singularidade de cada timbre vocal, cada ênfase teológica, cada papel na grande sinfonia da ressurreição.
Mateus entoa a melodia principal com clareza e estrutura — é o primeiro-tenor do grupo. Com voz firme e equilibrada, conecta a ressurreição à história de Israel: Jesus é o Messias prometido, que venceu a morte e agora reina com autoridade total. Seu Evangelho culmina na Grande Comissão: o Cristo ressuscitado envia os discípulos a fazerem discípulos de todas as nações. Em Mateus, a ressurreição confirma que o Reino chegou, e a missão da Igreja está em marcha. E todos devem adorar o Cristo.
Marcos fala com urgência e impacto — é o segundo-tenor. Seu relato é enxuto, direto, e termina abruptamente, com mulheres fugindo do túmulo, tomadas de temor. Mas esse silêncio final ressoa como um poderoso chamado à fé: Você crê que ele ressuscitou? Está disposto a anunciá-lo? Marcos confronta o leitor com o túmulo vazio e o força a uma resposta. Sua voz reforça a harmonia, interagindo com a gravidade, apontando para a realidade concreta da morte e ressurreição — e convoca à ação imediata.
Lucas traz um timbre caloroso, cheio de empatia e compaixão — é o barítono. Sua narrativa está repleta de encontros, refeições, gestos de cuidado. O Cristo ressuscitado caminha com os discípulos, parte o pão, acalma corações temerosos. Em Lucas, a ressurreição é a prova de que Deus cumpre suas promessas e de que Jesus continua presente com seu povo. Sua voz transmite consolo, esperança e humanidade.
João é a voz aguda, luminosa, ornamental — o contratenor. Sua escrita transcende o chão da história para nos conduzir às alturas da revelação divina. A ressurreição, para ele, é a prova definitiva de que Jesus é o Verbo eterno, o Filho de Deus, a Luz que venceu as trevas. Em João, a fé é o objetivo: “para que vocês creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo nele, tenham vida pelo poder do seu nome” (Jo 20.31). Sua voz brilha com elevação doutrinária e beleza espiritual, trazendo convicção.
Pedro, em Atos 2, entra com o peso e a profundidade do baixo. Seu sermão no Pentecostes é a âncora teológica e apostólica da fé cristã. Ele interpreta os acontecimentos à luz das Escrituras, proclama que Jesus foi crucificado por mãos ímpias, mas Deus o ressuscitou dos mortos e o exaltou à sua destra. Então, com autoridade, Pedro conclama todos ao arrependimento, à fé e ao batismo. Sua voz lança os fundamentos da Igreja e da missão cristã.
E, hoje, nós nos unimos a esse quinteto, para proclamar que “Cristo de fato ressuscitou dos mortos.” (1Co 15.20, NVT).
Comecemos pela voz do que nos conclama a adorar: Mateus, o primeiro-tenor.
Mateus 28.1-10 (NVT)
1Depois do sábado, no primeiro dia da semana, bem cedo, Maria Madalena e a outra Maria foram visitar o túmulo.
2De repente, houve um grande terremoto, pois um anjo do Senhor desceu do céu, rolou a pedra da entrada e sentou-se sobre ela. 3Seu rosto brilhava como um relâmpago, e suas roupas eram brancas como a neve. 4Quando os guardas viram o anjo, tremeram de medo e caíram desmaiados, como mortos.
5Então o anjo falou com as mulheres. “Não tenham medo”, disse ele. “Sei que vocês procuram Jesus, que foi crucificado. 6Ele não está aqui! Ressuscitou, como tinha dito que aconteceria. Venham, vejam onde seu corpo estava. 7Agora vão depressa e contem aos discípulos que ele ressuscitou e que vai adiante de vocês para a Galileia. Lá vocês o verão. Lembrem-se do que eu lhes disse!”
8As mulheres saíram apressadas do túmulo e, assustadas mas cheias de alegria, correram para transmitir aos discípulos a mensagem do anjo. 9No caminho, Jesus as encontrou e as cumprimentou. Elas correram para ele, abraçaram seus pés e o adoraram. 10Então Jesus lhes disse: “Não tenham medo! Vão e digam a meus irmãos que se dirijam à Galileia. Lá eles me verão”.
A frase de destaque na narrativa de Mateus é a do versículo 2: “De repente, houve um grande terremoto, pois um anjo do Senhor desceu do céu, rolou a pedra da entrada e sentou-se sobre ela.” Trata-se de um detalhe exclusivo — nenhum outro evangelista o menciona. Com isso, Mateus revela que a ressurreição é um acontecimento sísmico — o qual, literalmente, abalou, agitou, fez tremer a terra. De fato, ele descreve esse evento como a explosão de uma força avassaladora que emite ondas de energia que abalam não só o planeta, mas o cosmos. O terremoto torna-se, assim, uma imagem dramática que expressa o impacto histórico e cósmico do Cristo ressuscitado.
Esse detalhe nos alerta para as consequências da ressurreição.
PENSE: Quando se noticia um terremoto, naturalmente queremos saber como ele afetou a comunidade: vidas foram perdidas, ou foram salvas? Houve atos de egoísmo ou heroísmo? Da mesma forma, o terremoto mencionado por Mateus desperta nosso interesse pelos desdobramentos daquele momento singular: à medida que as ondas de energia da ressurreição se espalharam, o que aconteceu? Como os homens reagiram?
Ao narrar o impacto sísmico da ressurreição na história humana, Mateus observa seis reações distintas, em Mateus 28:
Essas respostas formam um amplo espectro: do terror à mentira, do suborno ao temor reverente, da dúvida à grande alegria, culminando na adoração. Nenhuma dessas reações é trivial. E mais: a ressurreição não provocou uma reação uniforme — mas tampouco deixou alguém indiferente. Todos os que se encontravam nas imediações foram profundamente impactados por esse abalo sísmico da vida que venceu a morte.
Mateus distribui atenção quase igualitária a cada resposta, mas uma delas se sobressai: a adoração. As mulheres (v. 9) e os discípulos (v. 17) reagem adorando. Entre essas manifestações de reverência, inserem-se as atitudes de mentira e suborno — respostas que funcionam como contraste e, justamente por isso, realçam ainda mais a adoração. Para Mateus, esta é a resposta mais apropriada diante da ressurreição: adorar.
A escolha do vocabulário, pelo evangelista, reforça sua perspectiva. Os imperativos — verbos que exigem ação — estão presentes com frequência e imprimem à narrativa um dinamismo eletrizante. Dirigir uma ordem a alguém é convocá-lo à decisão. Por isso, as palavras de Mateus 28 evidenciam como as ondas da ressurreição atravessam até as células da vontade humana:
Nenhum outro evento da história rivaliza com a ressurreição em seu impacto sobre a vontade humana. A maneira como alguém responde a ela é a reação mais decisiva e reveladora de toda a sua vida. Com notável habilidade literária e teológica, Mateus constrói sua narrativa como um registro das reverberações sísmicas da ressurreição de Jesus — reverberações que continuam a ecoar através dos tempos, exigindo, de cada um de nós, uma resposta. E a resposta apropriada é adoração, uma adoração que faz sair em missão, buscando ainda mais adoradores para o Cristo — aquele que foi tirado da cruz, colocado em um túmulo, mas Deus o ressuscitou dentre os mortos (At 13.29-30).
Agora, ouçamos a voz do que conclama à conversão: Marcos, o segundo-tenor.
Marcos 16.1-8 (NVT)
1Ao entardecer do dia seguinte, terminado o sábado, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé foram comprar especiarias para ungir o corpo de Jesus. 2No domingo de manhã, bem cedo, ao nascer do sol, elas foram ao túmulo. 3No caminho, perguntavam umas às outras: “Quem removerá para nós a pedra da entrada do túmulo?”. 4Mas, quando chegaram, foram verificar e viram que a pedra, que era muito grande, já havia sido removida.
5Ao entrarem no túmulo, viram um jovem vestido de branco sentado do lado direito. Ficaram assustadas, 6mas ele disse: “Não tenham medo. Vocês procuram Jesus de Nazaré, que foi crucificado. Ele não está aqui. Ressuscitou! Vejam, este é o lugar onde haviam colocado seu corpo. 7Agora vão e digam aos discípulos, incluindo Pedro, que Jesus vai adiante deles à Galileia. Vocês o verão lá, como ele lhes disse”.
8Trêmulas e desnorteadas, as mulheres fugiram do túmulo e não disseram coisa alguma a ninguém, pois estavam assustadas demais.
O Evangelho de Marcos é uma narrativa ágil e incisiva acerca do que Jesus disse e ao vir ao mundo para entregar “a sua vida em resgate por muitos” (10.45). Sem preâmbulos — não há, por exemplo, qualquer menção ao nascimento de Jesus —, Marcos nos conduz por uma jornada ofegante e intensa, mergulhando-nos diretamente na ação. Expressões como “em seguida”, “certa vez”, “em tal dia”, “imediatamente” e “logo”, recorrentes nas traduções em português, imprimem ritmo e urgência à narrativa. Envolvidos por essa cadência acelerada, ansiamos saber o que acontecerá a seguir. Parece Netflix, o leitor fica querendo maratonar através dos dezesseis capítulos da “série”.
Esse estilo direto e dinâmico é mantido também no capítulo 16, — o “último episódio” — onde Marcos relata a ressurreição. Três mulheres vão ao túmulo e o encontram vazio (versículos 1-4). Um anjo lhes anuncia que Jesus ressuscitou e lhes transmite instruções (versículos 5-7). Em seguida, Marcos nos oferece uma de suas cenas mais impactantes (versículo 8): “Trêmulas e desnorteadas, as mulheres fugiram do túmulo e não disseram coisa alguma a ninguém, pois estavam assustadas demais.” E termina aí.
Ora, não é, à primeira vista, a reação que se esperaria diante de um acontecimento tão glorioso. Queremos saber o que vem depois. Como termina essa história? Marcos não nos conta. O que temos a seguir, do versículo 9 até o final do livro, é um compilado de relatos conhecidos na tradição da Igreja — um acréscimo posterior ao texto original.
Marcos nos deixa com as mulheres “trêmulas e desnorteadas, [fugindo,] pois estavam assustadas demais” (v. 8).
A experiência daquelas mulheres, mergulhadas em dor e dispostas a cumprir os ritos funerários, é o ponto de partida do relato da ressurreição. Sua devoção silenciosa é interrompida por duas surpresas: a pedra fora removida (16.4) e o túmulo agora está vazio (16.5-6). Nesse estado de perplexidade, elas recebem uma mensagem celestial, composta por quatro afirmações simples (16.6-7): [1.] Jesus ressuscitou; [2.] ele não está ali; [3.] o túmulo está vazio; e [4.] ele vai adiante para a Galileia. A isso se seguem duas ordens: [1.] “não tenham medo” (16.6) e [2.] “vão e digam aos discípulos, incluindo Pedro” (16.7). E, por fim, uma promessa: vocês verão Jesus (16.7).
Temos, assim, uma base factual (Jesus ressuscitou; não está ali; túmulo vazio; ele vai adiante para a Galileia); essa base de fatos sustenta uma dupla ordem (não temas; vão e digam), e faz também uma promessa (vocês verão Jesus).
Subjetivamente, reina o espanto; objetivamente, prevalece a mensagem divina.
Essa combinação produz uma experiência decisiva (Marcos 16.8): “Trêmulas e desnorteadas, as mulheres fugiram do túmulo e não disseram coisa alguma a ninguém, pois estavam assustadas demais.”
Psicologicamente, trata-se de uma situação que exige resolução. Há uma necessidade humana urgente de conclusão. Marcos nos posiciona no centro da ação e nos convida a sentir, pessoalmente, a emoção diante da súbita consciência de que Jesus ressuscitou. É impossível manter uma postura meramente analítica ou objetiva diante dessa cena. A narrativa clama por um desfecho. Ela evoca participação.
Contudo, como ja se disse, os manuscritos gregos mais antigos encerram-se precisamente nesse ponto, no versículo 8. Se Marcos escolheu deliberadamente terminar sua obra ali ou se o final do manuscrito original perdeu-se com o uso constante, não há consenso. O que se sabe é que ninguém — nem na Antiguidade, nem hoje — se sente plenamente satisfeito com esse encerramento (ou com a ausência dele). O vácuo precisa ser preenchido. Um final precisa ser fornecido. A própria história textual do Evangelho de Marcos registra a tentativa de “completar” o relato (16.9-20).
Esse impulso quase universal de adicionar um desfecho à narrativa revela o quanto Marcos foi eficaz em sua condução e o quão decisivo é o versículo 8. A ressurreição não se completa até que se realize na história pessoal. Quando alguém compreende que Cristo ressuscitou, pode reagir com subjetividade: temor, júbilo ou dúvida.
No entanto, essas reações, diante dos fatos, das ordens e da promessa contidas na mensagem divina, exigem uma resposta objetiva, concreta. A ressurreição demanda um desfecho — e esse desfecho só pode ser oferecido por meio da fé individual.
Além do relato das mulheres diante do túmulo vazio na manhã da Páscoa — episódio comum aos demais evangelhos —, Lucas apresenta dois relatos relativamente longos sobre aparições do Cristo ressuscitado: primeiro, a dois homens no caminho de Emaús, na tarde e noite daquele mesmo domingo (24.13-35); depois, a todos os discípulos reunidos em Jerusalém, naquela mesma noite (24.36-49).
Essas duas narrativas funcionam como veículos por meio dos quais Lucas amplia nossa compreensão da ressurreição. Seu relato impede que a reduzamos a um evento isolado — por mais impactante que seja — ou a uma experiência meramente subjetiva — por mais intensa que pareça. Lucas entrelaça o significado da ressurreição com o que a precede e com o que dela decorre. Para ele, toda a história anterior culmina nesse evento, e toda a história futura dele se origina.
Seu método é entrelaçar os acontecimentos com referências tanto às Escrituras quanto aos fatos recentes. POR EXEMPLO: Os dois homens no caminho de Emaús iam conversando “a respeito de tudo que havia acontecido” (24.14); ao encontrá-los, o Senhor Jesus os ouve recontarem os episódios marcantes da sua própria vida e ministério (24.19-24); em seguida, oferece-lhes uma exposição das Escrituras, relacionando-as com sua morte e ressurreição (24.27); mais tarde, eles mesmos reconhecem essa conexão entre o passado e o evento da ressurreição (24.32).
Ao reunir-se com os onze, Jesus os faz lembrar: “Enquanto ainda estava com vocês, eu lhes falei que devia se cumprir tudo que a lei de Moisés, os profetas e os salmos diziam a meu respeito” (24.44). Ele ancora a ressurreição na profecia antiga: “está escrito que o Cristo haveria de sofrer, morrer e ressuscitar no terceiro dia” (24.46). E, nos versículos finais do Evangelho (24.47-53), Lucas projeta o evento para o futuro, anunciando o arrependimento, o perdão dos pecados, a missão de pregar o evangelho, a vinda do poder prometido, a grande alegria e a adoração contínua:
47[está escrito também] que a mensagem de arrependimento para o perdão dos pecados seria proclamada com a autoridade de seu nome a todas as nações, começando por Jerusalém. 48Vocês são testemunhas dessas coisas.
49“Agora, envio a vocês a promessa de meu Pai. Mas fiquem na cidade até que sejam revestidos do poder do céu”.
50Depois Jesus os levou a Betânia e, levantando as mãos para o céu, os abençoou. 51Enquanto ainda os abençoava, deixou-os e foi elevado ao céu. 52Então eles o adoraram e voltaram para Jerusalém cheios de grande alegria. 53E estavam sempre no templo, louvando a Deus.
Entre os quatro Evangelhos, o relato de Lucas é o mais extenso. Ele oferece mais detalhes e os desenvolve com profundidade. Seu propósito é nos fazer compreender a ressurreição. Sua organização textual tem a intenção de expandir nossa imaginação e permitir que captemos a amplitude do acontecimento.
Em outras palavras, a ressurreição, segundo Lucas, é abrangente, e pé no chão. Ela reúne os fragmentos dispersos da vida histórica, religiosa e cultural da humanidade, e os integra em um todo coeso e redentor com o cotidiano da gente.
Trocando em miúdos: Cristo morreu e ressuscitou por gente como a gente — com os pés sujos de terra de tanto caminhar; gente cansada, que anda pra lá e pra cá, às vezes até decepcionada. Foi por gente assim que ele ressuscitou. Foi por nós. Foi para nos encher de grande alegria em Cristo, e nos inserir na igreja (24.52-53).
Crer na ressurreição de Jesus não é algo simples. Há muitos impostores no mundo, inúmeros enganos religiosos. Como saber se a ressurreição não foi uma farsa? Afinal, a história está repleta de fraudes espirituais. A ideia de ressurreição, inclusive, era tema recorrente nas religiões da Antiguidade. Que evidências temos de que a ressurreição de Jesus não foi apenas mais uma entre tantas histórias contadas?
O relato de João foi escrito precisamente para responder a essas perguntas legítimas com evidências convincentes. Sua narrativa possui um objetivo claro: persuadir.
João 20.30-31 (NVT)
30Os discípulos viram Jesus fazer muitos outros sinais além dos que se encontram registrados neste livro. 31Estes, porém, estão registrados para que vocês creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo nele, tenham vida pelo poder do seu nome.
No vocabulário de João, “crer” não significa apenas aceitar algo como verdadeiro; envolve uma entrega radical de vida àquele que sacia a fome e a sede da alma. Por isso, João deseja apresentar fatos que dissipem dúvidas sinceras e conduzam a um compromisso pessoal — fruto da experiência de quem provou e viu. Assim sendo, ao narrar a ressurreição, este evangelista se esforça em destacar a credibilidade histórica do evento, sublinhando detalhes que reforçam sua veracidade.
Em João 20.1-10, Pedro e João, informados por Maria Madalena de que o túmulo está vazio, correm para averiguar. O que veem os leva a crer. A disposição das faixas de linho que estiveram sobre a cabeça de Jesus constitui uma evidência visual contundente. Afinal, ladrões de túmulos jamais teriam se dado ao trabalho de deixar tudo dobrado e muito bem arrumado.
João 20.3-8 (NVT)
3Pedro e o outro discípulo foram ao túmulo. 4Os dois corriam, mas o outro discípulo foi mais rápido que Pedro e chegou primeiro ao túmulo. 5Abaixou-se, olhou para dentro e viu ali as faixas de linho, mas não entrou. 6Então Simão Pedro chegou e entrou. Também viu ali as faixas de linho 7e notou que o pano que cobria a cabeça de Jesus estava dobrado e colocado à parte. 8O discípulo que havia chegado primeiro ao túmulo também entrou, viu e creu.
Em João 20.11-18, Maria Madalena, chorando junto ao túmulo, encontra-se com Jesus. A princípio, não o reconhece. Mas, ao ouvir seu nome na voz de Jesus, reconhece-o e vê sua forma física. Sua declaração aos discípulos é reveladora: “Vi o Senhor!” (20.18).
Em João 20.19-23, os discípulos, reunidos com medo naquela noite, recebem a visita do Ressuscitado. Para confirmar a realidade do que estão presenciando, Jesus lhes mostra as marcas da crucificação em suas mãos e lado — então, “Eles se encheram de alegria quando viram o Senhor” (20.20).
Em João 20.24-29, Tomé, ausente no primeiro encontro, recusa-se a crer no testemunho dos demais. Jesus aparece novamente e oferece a ele prova palpável: “Ponha seu dedo aqui, e veja minhas mãos. Ponha sua mão na marca em meu lado. Não seja incrédulo. Creia!” (20.27).
Nesses quatro episódios, os sentidos da visão, audição e tato estão plenamente envolvidos. Em cada um, pessoas passam da incredulidade à fé com base em evidências diretas. João constrói uma estrutura narrativa que permite aos leitores atravessarem o vale da dúvida e do ceticismo.
Graças ao seu testemunho, há espaço na igreja para perguntas sinceras e incertezas honestas. João não exige que se creia “a qualquer custo”. Ele entende que a fé mais sólida nasce do coração que busca e da mente que reflete. Seu objetivo não é impor a crença, mas conduzir ao assentimento por meio de sinais claros e verificáveis.
Seu Evangelho está repleto desses “sinais” — poderíamos chamá-los, sem exagero, de “provas” —, eventos concretos na vida de Jesus que fornecem evidências autênticas de que ele é o Filho de Deus, o Salvador do mundo (20.30-31).
A última voz do quinteto: Pedro, o baixo.
Atos 2.32-33 (NVT)
32“Foi esse Jesus que Deus ressuscitou, e todos nós somos testemunhas disso. 33Ele foi exaltado ao lugar de honra, à direita de Deus. […]
Este trecho pertence à seção da proclamação de Pedro no dia de Pentecostes. Naquela ocasião, o apóstolo explicava os fenômenos presenciados pelo povo: o som como de um vento impetuoso, línguas semelhantes a fogo pousando sobre os discípulos e o fato de todos começarem a falar em diferentes idiomas, conforme o Espírito lhes concedia. Assim, judeus oriundos de diversas partes do mundo os ouviam proclamar as grandezas de Deus em suas próprias línguas (At 2.2-11).
Ao defender os discípulos da acusação de estarem embriagados (At 2.13), Pedro demonstrou coragem e evidenciou a transformação que havia experimentado. Aquele que outrora negara Jesus agora “deu um passo à frente com os onze apóstolos e dirigiu-se em alta voz à multidão” (At 2.14). Afirmou que aquelas manifestações extraordinárias eram sinais de que Jesus — rejeitado e crucificado pela nação — era, de fato, o Messias, ressuscitado dentre os mortos e exaltado à destra de Deus, tendo Ele concedido o Espírito prometido pelos profetas (At 2.22–36). Leia Atos 2.32-36 (NVT):
32“Foi esse Jesus que Deus ressuscitou, e todos nós somos testemunhas disso. 33Ele foi exaltado ao lugar de honra, à direita de Deus. E, conforme havia prometido, o Pai lhe deu o Espírito Santo, que ele derramou sobre nós, como vocês estão vendo e ouvindo hoje. […] 36“Portanto, saibam com certeza todos em Israel que a esse Jesus, que vocês crucificaram, Deus fez Senhor e Cristo!”.
Sim, Jesus ressuscitou. Pedro, aqui no livro de Atos, juntamente com os quatro Evangelhos, dá testemunho desse fato extraordinário — o maior da história. Ainda que céticos e críticos se oponham com sarcasmo ou até com perseguição, a ressurreição permanece como a verdade que transforma o mundo.
No quinteto da ressurreição, cada evangelista entoa sua própria melodia, com timbre e propósito distintos — como vozes de um conjunto sob a regência do Espírito Santo.
Juntas, essas cinco vozes não cantam em uníssono, mas em harmonia. Cada uma traz uma nuance indispensável à sinfonia da ressurreição. Elas proclamam a mesma verdade, mas com tonalidades diferentes — e é na beleza dessa diversidade que se revela a plenitude do evangelho.
Sim! Jesus ressuscitou. Mateus, Marcos, Lucas, João e Pedro dão testemunho desse fato maravilhoso — o maior de toda a história. E você? Que resposta dará? Creia. Insira sua história na história de Cristo. Viva pela verdade. Estude e proclame a Palavra. E viva para adorar ao Cristo que morreu, mas venceu a morte. Ele é Senhor e Rei!
“Mas Cristo de fato ressuscitou dos mortos.”
1Coríntios 15.20 (NVT)
S.D.G. L.B.Peixoto
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O Quinteto da Ressurreição
Pr. Leandro B. Peixoto