18.08.2019
O REFRÃO DOS REDIMIDOS
Salmo 46.11
(Nova Almeida Atualizada) O Senhor dos Exércitos está conosco; o Deus de Jacó é o nosso refúgio.
O REFRÃO DOS FILHOS DE CORÁ
Já percebeu o quanto algumas musicas grudam e não saem da cabeça da gente? Pois é! Não é por acaso. Foram compostas para nos “fisgar”.
Artifícios para a captação da atenção ou a fixação da mensagem musical no coração são tão antigos quanto as composições líricas, odes ou canções. Refrões(ou estribilhos), por exemplo, são versos ou conjunto de versos repetidos em intervalos regulares, e são utilizados, dentre outras coisas, para memorização dos textos.
A Bíblia contém alguns refrões inesquecíveis. Um deles é o texto que lemos inicialmente: o refrão do Salmo 46. Ele se repete duas vezes neste mesmo salmo composto pelos filhos de Corá: uma vez no meio (v. 7) e outra vez no final (v. 11):
O Senhor dos Exércitos está conosco; o Deus de Jacó é o nosso refúgio.
Outra informação importante (que é também um recurso literário) é que em ambas as recorrências, o refrão está seguido pela expressãoselá, pausa ou interlúdio. Comentando sobre este refrão que vem, nas duas vezes, seguido de selá, Spurgeon escreveu que
Duas vezes o refrão. Planejou-se que fosse cantado duas vezes. É uma verdade da qual crente nenhum deveria se cansar, mas é um fato muitas vezes esquecido, é um privilegio precioso sobre o qual nunca será demais considerar. Deus está do nosso lado. Ele é Emanuel, Deus conosco. O Senhor selou um pacto conosco. Demonstre sua alegria através do santo canto, e em tempos de adversidade continue levando canções ao Senhor.
Selá. Tanto aqui [no verso 11] como anteriormente [no verso 7], enleve o coração. Descanse em contemplação após o louvor. Continue mantendo a alma em sintonia. É mais fácil cantar um hino de louvor do que manter um espírito de louvor, mas que seja o alvo manter insurreta a devoção do nosso coração agradecido, e que termine a nossa canção como se desejássemos que ela continuasse.
É óbvio que os filhos de Corá, ao comporem o refrão para este salmo, almejaram que mantivéssemos na cabeça e no coração, de forma a moldar nossas posturas e comportamento, as grandes verdades contidas neste que podemos chamar de jingleda graça ou refrão dos redimidos. Jingle, afinal, “é uma peça publicitária musicada que consiste em refrãosimples e de curta duração, próprio para ser lembrado e cantado com facilidade”. O salmista, portanto, deseja que nos lembremos e cantemos com facilidade as verdades deste jingle da graçaou refrão dos redimidos. É o que passaremos a fazer.
O que temos aqui no refrão dos redimidos (1) encanta a imaginaçãocom o poder de Deus, (2) encoraja o coraçãocom a presença de Deus e (3) expressa compaixãoatravés da providência de Deus. Vejamos um de cada vez e, no final, façamos algumas aplicações.
1 O REFRÃO DOS REDIMIDOS ENCANTA A IMAGINAÇÃO COM O PODER DE DEUS — O SENHOR DOS EXÉRCITOS ESTÁ CONOSCO
Uma das desvantagens de se envelhecer é que a gente vai perdendo a imaginação e o encanto. Crianças não, elas são doutoras nessas coisas. A imaginação delas é fértil. Na cabecinha infantil o mundo é todo encantado.
Os pequeninos se encantam com qualquer coisa por menor ou por mais insignificante que seja aos olhos dos adultos. Na mente e nas mãos desses meninos e meninas, tampinhas de garrafa se transformam em botões de controle de uma espaçonave; atrás da cortina elas dão de cara com a caverna do dragão; toalha vira capa de super-herói; cabo de vassoura vira cavalo; colchão de ar vira gigante Golias; com cobertor, travesseiros, colchão e algumas vassouras eles constroem tendas e cabanas fortificadas; e por aí vai. Não há limites para o mundo encantado das crianças. E por isto elas são felizes.
Vestidas com a camisa de um herói ou deitadas ao lado de papai e ou mamãe, esses pequenos dormem em paz o sono dos justos. Por quê? Eles confiam e descansam. Sentem-se seguros e imbatíveis. Ah! Que saudade que me dá alguns momentos de minha infância! Como é bom e belo o mundo da imaginação encantada! A vida fica mais feliz. A gente se sente mais seguro e confiante. Tudo fica mais gostoso.
Depois que a gente cresce, parece que a rotina e as responsabilidades vão sufocando a imaginação e matando aos poucos o encanto. Desencantados, vamos perdendo lentamente a fé e a esperança e, por fim, o amor. E quando os problemas se despejam sobre nós, assim como no caso de Sansão — que teve seus cabelos cortados por Dalila! (Jz 16.19-21), tentamos reagir, mas é tudo em vão, pois nem nos damos conta de que o poder nos deixou, quando pelo caminho nós fomos perdendo o encanto por Deus.
Sem imaginação e encanto e temor no e pelo poder de Deus em nós e por nós, a vida mesmo, contaminada pelo pecado, cuida de acabar de nos destruir. Com Sansão foi assim (Jz 16.19-21):
19Dalila fez Sansão dormir com a cabeça em seu colo e então chamou um homem para cortar as sete tranças do cabelo dele. Desse modo, começou a enfraquecê-lo, e suas forças o deixaram. 20Então ela gritou: “Sansão! Os filisteus vieram atacá-lo!”. Ao acordar, ele pensou: “Farei como das outras vezes e me livrarei deles”. Não sabia, porém, que o SENHOR o havia deixado. 21Os filisteus o capturaram e furaram seus olhos. Levaram-no para Gaza, onde o prenderam com duas correntes de bronze, obrigando-o a moer cereais na prisão.
Sem temor e sem o poder do encanto, Sansão terminou cego e escravo!
Os filhos de Corá, inspirados por Deus, compuseram o Salmo 46 para celebrar a vitória do rei Ezequias e do povo de Judá sobre Senaqueribe e suas aterrorizantes tropas assírias. O salmo é belíssimo. Era o preferido de Martinho Lutero. Era tanto que serviu, inclusive, de base para o reformador compor seu famoso hino Castelo Forte é o Nosso Deus.
O momento era de crise. Senaqueribe, rei da Assíria, não só havia cercado a cidade santa, como também humilhava o povo de Deus, zombando e desdenhado do Senhor. Ezequias, rei de Judá, apavorado, foi ao profeta Isaías em busca de conselho. A resposta divina foi clara: Jerusalém não será tocada (Is 37.33-35).
Realmente, Deus agiu pelo seu povo e destruiu o poder inimigo (Is 37.36-38). E os filho de Corá compuseram o Salmo 46, celebrando aquela vitória, encorajando o povo de Deus em todos os tempos e lugares, afirmando que nos piores momentos da vida sempre haverá socorro em Deus.
A forma como Senaqueribe e suas tropas foram derrotados está descrita em 2Reis 19.35-37 (também em Is 37.36-38), onde na NVT se lê assim:
35Naquela noite, o anjo do SENHOR foi ao acampamento assírio e matou 185 mil soldados assírios. Quando os sobreviventes acordaram na manhã seguinte, encontraram cadáveres por toda parte. 36Então Senaqueribe, rei da Assíria, levantou acampamento e partiu para sua terra. Voltou para Nínive e ali ficou. 37Certo dia, enquanto ele adorava no templo de seu deus Nisroque, seus filhos Adrameleque e Sarezer o mataram à espada. Fugiram para a terra de Ararate, e outro filho, Esar-Hadom, se tornou seu sucessor na Assíria.
O que de fato teria acontecido, como o anjo do SENHOR teria matado 185 mil soldados assírios de uma só vez e numa só noite nós não sabemos ao certo. Flávio Josefo diz que foi “uma peste enviada por Deus”. Em todo caso, o que Senaqueribe testemunhou o deixou “tão impressionado que,” segundo Josefo, o rei assírio “retirou-se a toda pressa para Nínive, capital de seu reino” para lá ser morto pelos próprios filhos.
Senaqueribe era, com efeito, muito mal, mas não intimidava Deus; ele era poderoso, mas não mais do que Deus; sentia-se dono do pedaço, mas a terra, de fato, é de Deus. O feito do SENHOR (2Rs 19.35-37) foi tão maravilhoso que o salmista colocou tudo em uma linguagem deslumbrante (Sl 46):
8Venham, contemplem as gloriosas obras do SENHOR! Vejam como ele traz destruição sobre o mundo! 9Acaba com as guerras em toda a terra, quebra o arco e parte ao meio a lança, e destrói os escudos com fogo. 10“Aquietem-se e saibam que eu sou Deus! Serei honrado entre todas as nações; serei honrado no mundo inteiro.”
Agora, tão impressionante quanto o fato em si é a forma como o salmista colocou esse acontecimento cinematográfico no refrão (vs. 7 e 11):
O Senhor dos Exércitos está conosco; o Deus de Jacó é o nosso refúgio.
“OSenhor dos Exércitosestá conosco”!
Percebeu?
O poder de Deus encantou a imaginação do salmista, pois disse: “O Senhor dos Exércitosestá conosco”! Os filhos de Corá estavam, com efeito, destacando o poderde Deus que a tudo e a todos sobressaiu na batalha, colocando um fim naquela aflição. Mas o salmista não se contentou em apenas dizer: “O poder de Deus nos resgatará ou resgatou!”ou “O Deus todo-poderoso nos livrará ou livrou!”ou algo neste sentido. Para destacar o poder de Deus, o salmista lançou mão de uma imagem encantadora: “O Senhor dos Exércitosestá conosco”!
Claro que os “Exércitos” de que se fala neste refrão não são os exércitos de homens ou de astros e estrelas do céu, mas os exércitos celestiais, as hostes angelicais — e todos eles à disposição de Deus para servir a Deus e aos filhos de Deus conforme o comando do próprio Deus (Sl 91.11; Hb 1.14).
O poder de Deus é para encantar os redimidos!
Tendo previamente já apavorado e arrasado dezenas de outras nações e ou fortalezas em redor, o exércitode Senaqueribe, a tropa real da toda-poderosa Assíria, até poderia intimidar Ezequias e o povo de Judá (como de fato o fez em 2Rs 18.17), mas Deus, o SENHOR, o Senhor dos Exércitos,o Todo-Poderoso está com seu povo.
Eu tiro dessa expressão que Deus não se contenta em apenas demonstrarseu poder, mas também em encantara nossa imaginação, arrancando de nós fé, esperança e louvor.
Quer ver uma coisa?
Temos uma visão maravilhosa do poder dos Exércitosdo Senhor na história de Eliseu em Dotã. Você se lembra? Está em 2Reis. Ouça (2Rs 6.14-17):
14Assim, certa noite, o rei da Síria mandou um grande exército com muitos carros de guerra e cavalos para cercar a cidade. 15Na manhã seguinte, o servo do homem de Deus se levantou bem cedo. Ao sair, viu que havia soldados, cavalos e carros de guerra por toda parte. “Ai, meu senhor, o que faremos agora?”, exclamou o servo. 16“Não tenha medo!”, disse Eliseu. “Pois do nosso lado há muitos mais que do lado deles!” 17Então Eliseu orou: “Ó SENHOR, abre os olhos dele, para que veja”. O SENHOR abriu os olhos do servo, e ele viu as colinas ao redor de Eliseu cheias de cavalos e carruagens de fogo.
O refrão dos redimidos encanta a imaginação com o poder de Deus! E como nós, o povo de Deus, precisamos redescobrir e nos regozijar com a imaginação encantada pelo SENHOR! Por quê?
C. S. Lewis dizia que a “razão é o órgão natural da verdade”, enquanto a “imaginação é o órgão do sentido”. O que Lewis estava dizendo é que nós não compreendemos realmente o significado de palavras ou de conceitos até visualizarmos quadros ou imagens nítidas aos quais conectar o conceito. Por isso que mesmo no meio de argumentos apologéticos, por exemplo, Lewis fornecia quadros, imagens ou metáforas precisos para ajudar o ouvinte ou o leitor a compreender o significado de um argumento.
Pois bem, uma coisa teria sido os filhos de Corá dizerem:“O poder de Deus nos libertou ou libertará!”(o que seria verdadeiro), outra coisa é o que eles de fato disseram: “O Senhor dos Exércitosestá conosco”. Uma coisa era Eliseu ter apenas dito o que de fato ele disse ao seu servo (2Rs 6.16): “Não tenha medo! […] Pois do nosso lado há muitos mais que do lado deles!”, outra coisa foi o que aconteceu (2Rs 6.17): “‘Então Eliseu orou: “Ó SENHOR, abre os olhos dele, para que veja’. O SENHOR abriu os olhos do servo, e ele viu as colinas ao redor de Eliseu cheias de cavalos e carruagens de fogo”.
Isso muda a forma como nós devemos pregar e anunciar a verdade; muda a forma como buscamos aprender de Deus — não basta conceitos, precisamos experimentá-los e nos encantar com eles a ponto de nos empoderar; muda a forma como oramos: “Senhor, faça-me ver! Senhor, encante minha mente! Senhor, encoraje-me com a realidade das hostes celestiais!”
O refrão dos redimidos encanta a imaginação com o poder de Deus: “O Senhor dos Exércitos está conosco…”
S.D.G. L.B.Peixoto
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