12.09.2021
Jeremiah Burroughs (1600–1646) foi um pastor Congregacional inglês e renomado pregador puritano. Atuou como pastor em duas congregações, em Londres. Foi membro da Assembléia de Westminster – a qual deu à luz a Confissão de Fé de Westminster e seus dois Catecismos: o Breve Catecismo e o Catecismo Maior de Westminster. Burroughs foi um dos poucos que se contrapunha à maioria Presbiteriana da Assembleia. Dois anos após sua morte publicou-se (em 1648) em Londres um livro excepcional, de fato, um clássico dentre as obras produzidas pelos Puritanos do século XVII: A joia rara do contentamento cristão. No Brasil há uma publicação abreviada e simplificada deste trabalho, disponibilizada pela editora PES, intitulada Aprendendo a estar contente.
O livro de Burroughs é uma exposição de Filipenses 4.11: “Não digo isso por estar necessitado, pois aprendi a ficar satisfeito [ARA: aprendi a viver contente] com o que tenho.” À partir desse texto paulino, Burroughs examinou o tema do contentamento de vários ângulos, ressaltando que a felicidade, a satisfação, o contentamento provém de se ser cristão – de Cristo ser o real Tesouro do coração. Para se ter uma ideia de como esse puritano tratava desse tema, deguste esta colherinha de verdade extraída de um sermão baseado na carta de Paulo aos colossenses – O Tesouro dos Santos – , onde Burroughs afirmou algo que esta geração, talvez mais do que qualquer outra da história, precisa ouvir urgentemente: “Certamente Cristo é um objeto suficiente para a satisfação do Pai. Certamente, então, Cristo é suficiente para satisfazer qualquer alma!”
Definindo o termo, Burroughs expressou-se dizendo que “contentamento cristão é aquele estado doce, interior, sereno e gracioso de espírito, que livremente se submete e se delicia na disposição sábia e paternal de Deus em toda e qualquer situação.” Burroughs sabia que não é fácil. Para ele, o contentamento é um mistério difícil para o homem perceber e praticar, e que requer ser aprendido. E somente a graça de Deus é que pode nos ensinar a combinar tristeza e alegria numa experiência comum de paz e contentamento. Mas como estar contente? C. S. Lewis, outro autor britânico, colocou a resposta numa cápsula para dose única:
Deus não nos criou para a felicidade, mas para amar a Deus e sermos amados por ele. A felicidade como um fim em si mesma pode parecer que só será encontrada na próxima curva, no horizonte distante, no produto a ser adquirido, no prazer a ser encontrado, no objeto a ser consumido […] Mas quando buscamos amar a Deus e ser amados por ele em Cristo, encontramos a felicidade [o contentamento] onde estamos [com o que temos]. Não precisamos de mais nada. Basta.
A indústria da publicidade e propaganda, como em qualquer área do conhecimento, apresenta algumas enormes dificuldades da perspectiva da cosmovisão judaico-cristã. Visando fisgar o coração humano, a missão de alguns é dizer que há sempre algo a mais que precisamos ter ou fazer para sermos felizes: uma viagem, um produto, uma bebida, uma comida, um objeto, um romance, uma experiência, uma bênção… Montserrat Planella i Serra, autora de A Publicidade e a Projeção dos Desejos, escreveu que
Em vez de fornecer informações para um consumo consciente e racional, a publicidade pode apelar para as sensações e as ilusões de que o consumo daquele bem ou serviço modificará positivamente a vida do consumidor. Nesse caso, explora os desejos, gostos, ideias e necessidades, cada vez mais complexas, dos consumidores.
PUBLICIDADE E CONSUMO, texto do INMETRO de 2002, na página 12, discorrendo sobre estratégias de publicidade, atenuou que para ser tecnicamente eficaz, a publicidade deverá: [a] chamar a atenção do leitor, ouvinte ou telespectador; [2] provocar o interesse do consumo; [3] estimular o desejo de compra; [4] imprimir o nome do produto, criando a convicção; e [5] transformar o desejo em ação. Desse modo, a publicidade poderá se valer de três recursos: [1] “a ordem [o imperativo]” (fazendo agir) – p.ex.: “Beba Coca-Cola”; [2] a “persuasão” (fazendo crer) – p.ex.: “Só Omo lava mais branco; e [3] “a sedução” (buscando o prazer) – p.ex.: “Com Avanço elas avançam”.
O que geralmente não se sabe é que anúncios vão além da venda de produtos. Nas palavras de Everaldo P. Guimarães Rocha, no texto Magia e Capitalismo: Um Estudo Antropológico da Publicidade:
Em cada anúncio, vendem-se estilos de vida, sensações, emoções, visões de mundo, relações humanas, sistemas de classificação, hierarquia em quantidades significativamente maiores que geladeiras, roupas ou cigarros.
Percebeu?
Os profetas da sedução visam a vender a magia dos produtos, com promessas de felicidade e realização. Mas o resultado é bem diferente, pois [1] as pessoas continuam insatisfeitas e descontentes [talvez mais nesta geração do que em qualquer outra], [2] as contas bancárias e as faturas dos cartões de crédito estão arrombadas – com limites para lá de estourados, [3] os valores sociais são cada vez mais materialistas, [4] os relacionamentos estão cada vez mais utilitários… E Deus se tornou um meio de consumo (as pessoas querem Deus para ter algo mais – as bênçãos de Deus). Ora, isto não é de hoje:
João 2.23-25 23Por causa dos sinais que Jesus realizou em Jerusalém durante a festa da Páscoa, muitos creram nele. 24Jesus, porém, não confiava neles, pois conhecia a todos. 25Ninguém precisava lhe dizer como o ser humano é de fato, pois ele conhecia a natureza humana.
João 6.26 Jesus respondeu: “Eu lhes digo a verdade: vocês querem estar comigo não porque entenderam os sinais, mas porque lhes dei alimento.
Desde o início, pessoas buscam Jesus não para estar com ele, mas porque querem dele suas bênçãos para gastar em seus próprios prazeres. Ouça o que o apóstolo Tiago escreveu em sua epístola, quando denunciou a fé em Deus como meio de se satisfazer a cobiça (o que “crentes” são capazes de fazer) – leio na NVI:
Tiago 4.1-6 (NVI) 1De onde vêm as guerras e contendas que há entre vocês? Não vêm das paixões que guerreiam dentro de vocês? 2Vocês cobiçam coisas, mas não as têm; matam e invejam, mas não conseguem obter o que desejam. Vocês vivem a lutar e a fazer guerras. Não têm, porque não pedem. 3Quando pedem, não recebem, pois pedem por motivos errados, para gastar em seus prazeres. 4Adúlteros, vocês não sabem que a amizade com o mundo é inimizade com Deus? Quem quer ser amigo do mundo faz-se inimigo de Deus. 5Ou vocês acham que é sem razão que a Escritura diz que o Espírito que ele fez habitar em nós tem fortes ciúmes? 6Mas ele nos concede graça maior. […]
Precisamos dessa “graça maior” para aprender a viver contente. Deste contentamento – em Cristo – depende a nossa vida (a vida aqui e a vida eterna). A parábola do tesouro escondido, contada por Jesus, é pontual sobre isto:
Mateus 13.44 (NVI) O Reino dos céus é como um tesouro escondido num campo. Certo homem, tendo-o encontrado, escondeu-o de novo e, então, cheio de alegria, foi, vendeu tudo o que tinha e comprou aquele campo.
Quem encontra Cristo, encontra um tesouro (que é escondido aos olhos naturais), encontra alegria, encontra contentamento, tudo o mais se torna um meio para se chegar a Jesus (“vendeu tudo o que tinha e comprou aquele campo” para ter Jesus).
Mas, como aprender estar contente?
Em busca desta resposta é que iniciaremos uma série de quatro mensagens em Ageu. O SEGREDO DO CONTENTAMENTO, conforme revelado por este profeta pós-exílico, pós-cativeiro babilônico, é uma mensagem urgente de Deus à Igreja e ao homem deste tempo. O segredo está dividido em quatro partes [as quais estudaremos hoje e, Deus permitindo, nas mensagens subsequentes] – estas são AS QUATRO PARTES DO SEGREDO DO CONTENTAMENTO no livro de Ageu: [1] defina suas prioridades (1.1-15); [2] domine seus pensamentos (2.1-9); [3] descarte seus pecados (2.10-19); e [4] dependa das promessas de Deus (2.20-23).
Abra, portanto, o antepenúltimo livro do Antigo Testamento (o terceiro de trás para frente: Malaquias, Zacarias, Ageu), acompanhe a leitura e prove e veja o que Deus nos ensina sobre O SEGREDO DO CONTENTAMENTO.
Ageu 1 (NVT) 1Em 29 de agosto do segundo ano do reinado de Dario, o SENHOR transmitiu esta mensagem por meio do profeta Ageu ao governador de Judá, Zorobabel, filho de Sealtiel, e ao sumo sacerdote Josué, filho de Jeozadaque. 2“Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Este povo diz: ‘Ainda não chegou a hora de reconstruir a casa do SENHOR’”. 3Então o SENHOR enviou esta mensagem por meio do profeta Ageu: 4“Por que vocês vivem em casas luxuosas enquanto minha casa continua em ruínas? 5Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Vejam o que tem acontecido com vocês! 6Plantam muito, mas colhem pouco. Comem, mas não se saciam. Bebem, mas ainda têm sede. Vestem-se, mas não se aquecem. Seus salários desaparecem como se vocês os colocassem em bolsos furados. 7“Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Vejam o que tem acontecido com vocês! 8Agora, subam as colinas, tragam madeira e reconstruam minha casa. Então me alegrarei nela e serei honrado, diz o SENHOR. 9Vocês esperavam colheitas fartas, mas elas foram escassas. E, quando trouxeram esse pouco para casa, eu o fiz desaparecer com um sopro. Por quê? Porque minha casa continua em ruínas, diz o SENHOR dos Exércitos, enquanto vocês estão ocupados construindo suas casas. 10É por causa de vocês que os céus retêm o orvalho e a terra não produz colheitas. 11Enviei uma seca sobre seus campos e sobre as colinas, uma seca que fará murchar o trigo, as uvas, as azeitonas e todas as suas plantações, que fará vocês e seus animais passarem fome e destruirá tudo que vocês trabalharam para conseguir”. 12Então Zorobabel, filho de Sealtiel, e o sumo sacerdote Josué, filho de Jeozadaque, e todo o remanescente do povo obedeceram à mensagem do SENHOR, seu Deus. Quando o povo ouviu as palavras do profeta Ageu, que o SENHOR, seu Deus, tinha enviado, temeu o SENHOR. 13Então Ageu, o mensageiro do SENHOR, transmitiu ao povo esta mensagem do SENHOR: “Estou com vocês, diz o SENHOR!”. 14E o SENHOR deu ânimo ao governador de Judá, Zorobabel, filho de Sealtiel, ao sumo sacerdote Josué, filho de Jeozadaque, e a todo o remanescente do povo. Começaram a trabalhar na casa de seu Deus, o SENHOR dos Exércitos, 15em 21 de setembro do segundo ano do reinado de Dario.
O período de Ageu
Há 16 profetas, 16 autores de livros proféticos no Antigo Testamento. Ageu é um profeta do período pós-cativeiro babilônico. Isto é, entre 586 e 400 a.C. De fato, Ageu, Zacarias e Malaquias foram os únicos profetas com mensagens de Deus para o povo após a libertação das garras da Babilônia. Todos os outros profetas (11 deles) viveram antes do período babilônico (Isaías, Jeremias, Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque e Sofonias). E apenas dois, Ezequiel e Daniel, profetizaram durante o exílio.
Ageu viveu em um dos períodos mais importantes da história mundial.
FOI UM PERÍODO DE EFERVESCÊNCIA RELIGIOSA – São deste mesmo período: Zoroastro (Zaratustra) na Pérsia, Lao-Tsé (fundador do Taoismo) e Confúcio na China, Sidarta Gautama (Buda) e os Upanixades (escritos do hinduísmo) na Índia.
FOI UM PERÍODO DE FLORESCIMENTO CULTURAL – Este foi o período dos grandes poetas líricos gregos: Safo, Arquíloco, Anacreonte, e Pythermus. O código de leis de Sólon (um dos sete sábios da Grécia antiga) também data deste período. A idade de ouro de Péricles, na Grécia do período de Ageu, foi um dos maiores avanços culturais em toda a história. Grandes pensadores como Sócrates (469-399 a.C.) e Platão (427-347 a.C.) também viveram neste momento da história.
A profecia de Ageu
Depois de a Assíria conquistar o reino do norte de Israel e a Babilônia conquistar o reino do sul (Judá), em 538 a.C., Ciro da Pérsia (conquistador da Babilônia), promulgou um decreto que permitiu que os judeus voltassem para Jerusalém e reedificassem o templo, os muros e a cidade. Esdras conta essa história:
Esdras 1.1-5 1No primeiro ano de Ciro, rei da Pérsia, o SENHOR cumpriu a profecia que havia anunciado por meio de Jeremias. Despertou o coração de Ciro para registrar por escrito a seguinte proclamação e enviá-la a todo o seu reino: 2“Assim diz Ciro, rei da Pérsia: “O SENHOR, o Deus dos céus, me deu todos os reinos da terra. Ele me encarregou de lhe construir um templo em Jerusalém, em Judá. 3Quem pertence ao povo de Deus, volte a Jerusalém, em Judá, para reconstruir o templo do SENHOR, o Deus de Israel, que habita em Jerusalém. E que seu Deus esteja com vocês! 4Onde quer que se encontre esse remanescente judeu, que seus vizinhos ajudem com as despesas, dando-lhes prata e ouro, suprimentos e animais, além de ofertas voluntárias para o templo de Deus, em Jerusalém”. 5Então o SENHOR despertou o coração dos sacerdotes, dos levitas e dos chefes das tribos de Judá e Benjamim, para que fossem a Jerusalém e reconstruíssem o templo do SENHOR.
Esdras 6.2-5 “Memorando: 3“No primeiro ano do reinado do rei Ciro, foi publicado um decreto a respeito do templo de Deus, em Jerusalém. “Que o templo seja reconstruído para ser um local onde se ofereçam sacrifícios, usando os alicerces originais. Ele terá 27 metros de altura e 27 metros de largura. 4 A cada três camadas de grandes pedras, será colocada uma camada de madeira. Todas as despesas serão pagas pela tesouraria real. 5 Além disso, os utensílios de ouro e de prata que Nabucodonosor levou do templo de Deus, em Jerusalém, para a Babilônia devem ser devolvidos a Jerusalém e colocados em seus devidos lugares. Que sejam levados de volta ao templo de Deus”.
O “segundo êxodo” para Jerusalém [o primeiro: saída do Egito; o segundo: saída da Babilônia] ocorreu em três etapas: [1] a primeira etapa foi liderada por Zorobabel (governador de Judá, acompanhado dos profetas Ageu e Zacarias), para a reconstrução do Templo; [2] a segunda etapa foi comandada por Esdras (sábio escriba judeu), para o ensino da Lei; e [3] a terceira etapa foi dirigida por Neemias (copeiro do rei Artaxerxes, sucessor de Ciro), para a reconstrução dos muros.
Zorobabel liderou um grupo de cerca de 50 mil pessoas apenas (Ed 2.64-67). Todos os demais preferiram tocar a vida no conforto, desfrutando da prosperidade que eles haviam conquistado na Babilônia. Porém, os poucos que partiram de lá chegaram entusiasmados para reconstruir o templo em Jerusalém. Eram todos piedosos. Estima-se que de cada sete dos exilados que voltaram, um era sacerdote. Ao todo, eles doaram cerca de meia tonelada de ouro, três toneladas de prata e cem vestes sacerdotais para o início das obras (Ed 2.68-69).
Esdras 2.64-69 64Portanto, os que regressaram para Judá foram 42.360, 65além dos 7.337 servos e servas e dos 200 cantores e cantoras. 66 Levaram consigo 736 cavalos, 245 mulas, 67 435 camelos e 6.720 jumentos. 68Quando chegaram ao templo do SENHOR, em Jerusalém, alguns dos chefes das famílias entregaram ofertas voluntárias para a reconstrução do templo de Deus em seu local original. 69Cada chefe contribuiu com o que pôde. Suas ofertas totalizaram 525 quilos de ouro, 3.000 quilos de prata e 100 vestes para os sacerdotes.
Os trabalhos de construção do segundo templo tiveram início em 536 a.C., sobre os alicerces de Salomão, que os babilônios (50 anos antes) reduziram ao nível do chão. Dois anos depois, em 534 a.C., os alicerces do templo já haviam sido assentados entre louvores e lágrimas (Ed 3.8-13). Tudo parecia ir muito bem. Mas agora, 14 anos depois do início promissor de reconstrução (520 a.C.), o templo continuava inacabado, e os alicerces tinham sido cobertos de entulhos. A apatia tinha tomado o lugar do entusiasmo no coração dos judeus repatriados, e o afã de prosperar materialmente tinha absorvido o interesse espiritual inicial do povo.
Com o objetivo de erradicar a paralisia espiritual da nação foi que Ageu (e dois meses depois dele Zacarias – Zc 1.1) se levantou com poderosa pregação. Quatro anos depois, em 516 a.C., os líderes e o povo tinham terminado a construção do templo! Ouça, com efeito, como as profecias de Ageu e de Zacarias foram fundamentais para que se desse continuidade à obra e o templo fosse terminado:
Esdras 6.14 Com isso, os líderes dos judeus puderam continuar seu trabalho e foram encorajados pela pregação dos profetas Ageu e Zacarias, filho de Ido. Finalmente, o templo foi terminado, como havia sido ordenado pelo Deus de Israel e decretado por Ciro, Dario e Artaxerxes, reis da Pérsia.
S.D.G. L.B.Peixoto
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