21.02.2021
[João 13.1-20] 1Antes da festa da Páscoa, Jesus sabia que havia chegado sua hora de deixar este mundo e voltar para o Pai. Ele tinha amado seus discípulos durante seu ministério na terra, e os amou até o fim. 2Estava na hora do jantar, e o diabo já havia instigado Judas, filho de Simão Iscariotes, a trair Jesus. 3Jesus sabia que o Pai lhe dera autoridade sobre todas as coisas e que viera de Deus e voltaria para Deus. 4Assim, levantou-se da mesa, tirou a capa e enrolou uma toalha na cintura. 5Depois, derramou água numa bacia e começou a lavar os pés de seus discípulos, enxugando-os com a toalha que estava em sua cintura. 6Quando Jesus chegou a Simão Pedro, este lhe disse: “O Senhor vai lavar os meus pés?”. 7Jesus respondeu: “Você não entende agora o que estou fazendo, mas algum dia entenderá”. 8“Lavar os meus pés? De jeito nenhum!”, protestou Pedro. Jesus respondeu: “Se eu não os lavar, você não terá comunhão comigo”. 9Simão Pedro exclamou: “Senhor, então lave também minhas mãos e minha cabeça, e não somente os pés!”. 10Jesus respondeu: “A pessoa que tomou banho completo só precisa lavar os pés para ficar totalmente limpa. E vocês estão limpos, mas nem todos”. 11Pois Jesus sabia quem o trairia. Foi a isso que se referiu quando disse: “Nem todos vocês estão limpos”. 12Depois de lavar os pés deles, Jesus vestiu a capa novamente, retornou a seu lugar e perguntou: “Vocês entendem o que fiz? 13Vocês me chamam ‘Mestre’ e ‘Senhor’, e têm razão, porque eu sou. 14E uma vez que eu, seu Senhor e Mestre, lavei seus pés, vocês devem lavar os pés uns dos outros. 15Eu lhes dei um exemplo a ser seguido. Façam como eu fiz a vocês. 16Eu lhes digo a verdade: o escravo não é maior que o seu senhor, nem o mensageiro é mais importante que aquele que o envia. 17Agora que vocês sabem estas coisas, serão felizes se as praticarem.” 18“Não digo estas coisas a todos vocês; conheço os que escolhi. Mas isto cumpre as Escrituras que dizem: ‘Aquele que come do meu alimento voltou-se contra mim’. 19Eu lhes digo isso de antemão, para que, quando acontecer, vocês creiam que eu sou aquele de quem falam as Escrituras. 20Eu lhes digo a verdade: quem recebe aquele que envio recebe a mim, e quem recebe a mim recebe o Pai, que me enviou”.
O alistamento militar é obrigatório para os jovens brasileiros do sexo masculino que completam 18 anos. Ano passado, em todo o Brasil, cerca de 2 milhões de jovens se alistaram, dentre os quais, 90 mil foram incorporados às Forças Armadas – sendo 3 mil para a Marinha, 7 mil para a Aeronáutica e 80 mil para o Exército. O recrutamento moderno, o alistamento militar obrigatório de cidadãos nacionais, foi criado durante a Revolução Francesa, para permitir que a Primeira República Francesa se defendesse dos ataques das monarquias europeias nas guerras revolucionárias francesas. O deputado Jean-Baptiste Jourdan deu seu nome à lei de 5 de setembro de 1798, cujo primeiro artigo dizia: “Qualquer francês é um soldado e se deve à defesa da nação”. Ele também permitiu a criação do Grande Exército, que Napoleão Bonaparte chamou de “a nação em armas” – mais de 2,6 milhões de homens foram introduzidos nas forças armadas francesas entre os anos de 1800 e 1813.
A ordem do recrutamento em massa, baixada pela Convenção da Revolução Francesa a 23 de agosto de 1793 – o que, para muitos historiadores, foi o primeiro decreto de serviço militar universal e obrigatório –, trazia o seguinte:
Os homens jovens deverão lutar, os casados forjarão as armas e transportarão os suprimentos, as mulheres confeccionarão tendas e uniformes e servirão nos hospitais, os meninos transformarão a roupa branca em bandagem, os velhos serão levados às praças públicas para elevar o moral dos combatentes e pregar a unidade da República e o ódio aos reis…
O Brasil adotou o sistema de recrutamento obrigatório em 1916, quando a Primeira Guerra Mundial sangrava a Europa. A medida coincidiu com o processo de modernização e profissionalização das Forças Armadas sob inspiração francesa e deu ao Exército brasileiro sua feição atual: um corpo de oficiais permanentes e profissionais, além de um largo contingente de conscritos [soldados alistados]. O Artigo 142 da Constituição Federal Brasileira traz o seguinte:
As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
Guardadas as proporções, o texto de João que nós lemos no início, relata-nos o alistamento dos apóstolos de Jesus Cristo, que tinham a missão de preservar e propagar o evangelho. O Senhor havia terminado seu ministério público (Jo 1–12); agora, a portas fechadas, ele chamará seus discípulos a uma mentalidade de guerra (Jo 13–17), antes de seguir para a cruz, depois ao túmulo e ressurgir dentre os mortos (Jo 18–21). Jesus, portanto, está prestes a entrar em guerra. Sim, a linguagem é esta mesma: “guerra” – o Evangelho de Marcos, especialmente, usou uma linguagem quase militar para descrever o que Jesus está prestes a fazer; a firmeza com a qual ele encara a necessidade de ir a Jerusalém, sobretudo agora que ele está a poucas horas de distância da traição, o julgamento, a crucificação, a morte e o sepultamento. Leia comigo, Marcos 10.32-34:
32Por esse tempo, subiam para Jerusalém, e Jesus ia à frente. Os discípulos estavam muito admirados, e o povo que os seguia tinha grande temor. Jesus chamou os Doze à parte e, mais uma vez, começou a descrever tudo que estava prestes a lhe acontecer. 33“Ouçam”, disse ele. “Estamos subindo para Jerusalém, onde o Filho do Homem será traído e entregue aos principais sacerdotes e aos mestres da lei. Eles o condenarão à morte e o entregarão aos gentios. 34Zombarão dele, cuspirão nele, o açoitarão e o matarão, mas depois de três dias ele ressuscitará.”
Como Jesus preparará seus apóstolos para a guerra adiante?
Shakespeare colocou nos lábios de Henrique V, na Batalha de Agincourt, algumas palavras que ficaram famosas – as palavras do rei na noite anterior à batalha mais monumental da peça de Shakespeare:
Na paz não há nada que se torne um homem
Como modesta quietude e humildade:
Mas quando a explosão da guerra sopra em nossos ouvidos,
Então imite a ação do tigre;
Endureça os tendões, convoque o sangue,
Gosto desse tipo de texto! Li esta semana passada as palavras do Tenente Coronel Tim Collins (um dos líderes britânicos do Primeiro Batalhão de Fuzileiros da Royal Irish), enquanto ele preparava seus homens para atacar o Iraque na guerra de 2003. Não vou ler todas, mas suas palavras para os 800 soldados da coroa britânica, aos 19 de março de 2003, preparando-os para a invasão, são de arrepiar:
Vamos para libertar, não para conquistar. Não hastearemos nossa bandeira em seu país. Estamos entrando no Iraque para libertar um povo, e a única bandeira que será hasteada naquela terra ancestral é a deles. Demonstre a eles respeito.
Existem alguns que estão vivos neste momento que não estarão vivos em breve. Aqueles que não desejam fazer essa jornada, nós não os enviaremos. Quanto aos outros, espero que você estremeça o mundo deles. Elimine-os se for isso que eles escolherem. Mas se você é feroz na batalha, lembre-se de ser magnânimo na vitória.
O Iraque está repleto de história. É o local do Jardim do Éden, do Grande Dilúvio e o local de nascimento de Abraão. Pise aquela terra com cuidado.
Você verá coisas que nenhum homem poderia pagar para ver – e você terá que percorrer um longo caminho para encontrar um povo mais decente, generoso e justo do que os iraquianos. Você ficará constrangido com a hospitalidade deles, embora eles não tenham nada. Não os trate como refugiados porque estão em seu próprio país. Seus filhos ficarão pobres, mas nos próximos anos eles saberão que a luz da libertação foi levada por vocês.
Essas palavras são comovente! E ele prossegue com pitadas ainda maiores de comoção:
Se houver vítimas de guerra, lembre-se de que quando eles acordaram e se vestiram nesta manhã, não planejavam morrer hoje. Permita-lhes dignidade na morte. Enterre-os adequadamente e marque seus túmulos.
A minha principal intenção é trazer de lá cada um de vocês com vida. Mas pode haver pessoas entre nós que não verão o fim desta campanha. Vamos colocá-los em seus sacos de dormir e mandá-los de volta. Não haverá tempo para tristeza.
Nesse tom ele prossegue até o final do discurso, preparando os soldados para o combate adiante deles. É uma fala muito comovente. Suas palavras finais são as seguintes:
Quanto a nós, vamos trazer todos para casa e deixar o Iraque um lugar melhor por termos estado lá. Nosso negócio agora é o norte.
E Jesus, como ele prepara os seus discípulos para o combate, para a guerra que está prestes a explodir em poucas horas? Hoje e nas próximas semanas, nós nos trancaremos com Jesus e seus discípulos no cenáculo – o QG (quartel general) de Jesus: queremos ouví-lo; queremos saber como ele preparou seus discípulos alistados para o combate do evangelho. Os próximos capítulos – João 13—17 – ocupam-se de poucas horas na vida de Jesus, antes de ele passar pelo sofrimento do calvário (Jo 18–21).
O capítulo 13, portanto, é um ponto de transição no Evangelho de João.
Nos capítulos 1–12, nós estudamos o que é chamado pelos estudiosos de “o livro dos sinais” de Jesus (composto pelos sete milagres ou sinais, e as palavras poderosas de Jesus) – os quais João selecionou e escreveu com o propósito de revelar a identidade divina de Jesus como o Filho eterno de Deus.
Mas agora, no capítulo 13 (e até o final do capítulo 17), nós somos transportados para o andar superior, o cenáculo mobiliado e preparado para a última ceia do Senhor com seus discípulos. Este agora é “o livro da glória” de Jesus. Jesus se encobre para o mundo lá fora e se descortina aos seus – revela aos discípulos algo de sua glória íntima com o Pai. João Calvino diz assim em seu comentário sobre o Evangelho de João: “Se os outros evangelhos nos mostram o corpo de Cristo, João nos mostra sua alma.” John Stott escreveu que “Se a Escritura é como um templo, João 13–17 é o Santuário interior [o Santo dos Santos].”
Portanto, o que temos pela frente é coisa muito santa, especial, inspiradora; e visa a nos preparar para o combate do evangelho, uma vez que se somos de Cristo, o alistamento para o caminho do discipulado é obrigatório para todos os cristãos – cuja missão é transformar o mundo pelo evangelho.
Jesus está à sobra da cruz. Esta será sua última noite na terra (a noite anterior à festa da Páscoa dos judeus, quinta-feira), e a última refeição com os seus discípulos mais chegados. Ele precisa começar a prepará-los para a batalha do evangelho – para enviá-los ao meio de lobos –, e A PRIMEIRA LIÇÃO é que eles serão enviados como embaixadores de Deus Pai, apóstolos de Cristo, portadores da mensagem do reino de Deus:
João 13.20 Eu lhes digo a verdade: quem recebe aquele que envio recebe a mim, e quem recebe a mim recebe o Pai, que me enviou”.
Parece-me claro que tudo o que Jesus faz e fala nesses primeiros 20 versículos é para apresentar uma ilustração, um exemplo vivo do TIPO DE PESSOA QUE OS DISCÍPULOS DEVERIAM SER SE PRETENDESSEM REPRESENTÁ-LO (APRESENTÁ-LO) AOS HOMENS. De outro modo, para que essas palavras após tudo o que Jesus fez e falou – “Eu lhes digo a verdade: quem recebe aquele que envio recebe a mim, e quem recebe a mim recebe o Pai, que me enviou” (Jo 13.20)? Em outras palavras, o Senhor Jesus está dizendo algo mais ou menos assim:
Quando eu envio vocês em meu nome, sob minha autoridade e com minhas palavras, vocês me representam. Vocês me representam de tal forma que, se alguém os recebe com a mensagem de vocês, a mim também ele recebe. E se ele me recebe, ele recebe meu Pai. Na verdade, meu Pai se torna Pai dele, como prometi: “a todos que creram nele e o aceitaram, ele deu o direito de se tornarem filhos de Deus” (Jo 1.12). Foi assim que eu planejei: receba meu representante (meu discípulo), receba a mim, receba meu Pai, torne-se seu filho.
Portanto, saibam disso, meus discípulos, estou preparando e autorizando vocês para uma chamada indescritivelmente elevada. Se alguém recebe vocês e a mensagem do evangelho pregada por vocês, ele recebe o próprio Deus. Não existe uma vocação humana mais elevada do que me representar dessa maneira!
É isso o que Jesus está dizendo. É nessa direção que as palavras de João 13.1-19 nos apontam – ao clímax das palavras de João 13.20: “Eu lhes digo a verdade: quem recebe aquele que envio recebe a mim, e quem recebe a mim recebe o Pai, que me enviou.”
Agora, que tipo de pessoa eles deveriam ser para cumprir esta mais elevada vocação? Que tipo de pessoa o discípulo de Jesus deve ser para cumprir a Grande Comissão? E a resposta cristalina – a resposta que está na passagem em tela para que todos vejam ao lê-la é: O DISCÍPULO DEVE SER O TIPO DE PESSOA QUE SE REBAIXA NO SERVIÇO HUMILDE, NÃO O TIPO DE PESSOA QUE SE ENSOBERBECE NA POSIÇÃO PRIVILEGIADA DE SUA VOCAÇÃO. De fato, esse é o ponto principal do texto:
Estou dando a vocês uma posição espetacularmente elevada como meus representantes – aquele que os recebe, recebe a Deus! – e estou demonstrando que as únicas pessoas que se qualificam para esta posição elevada são aquelas que se rebaixam no serviço humilde do SENHOR, assim como eu fiz a vocês:
João 13.12-20 12Depois de lavar os pés deles, Jesus vestiu a capa novamente, retornou a seu lugar e perguntou: “Vocês entendem o que fiz? 13Vocês me chamam ‘Mestre’ e ‘Senhor’, e têm razão, porque eu sou. 14E uma vez que eu, seu Senhor e Mestre, lavei seus pés, vocês devem lavar os pés uns dos outros. 15Eu lhes dei um exemplo a ser seguido. Façam como eu fiz a vocês. 16Eu lhes digo a verdade: o escravo não é maior que o seu senhor, nem o mensageiro é mais importante que aquele que o envia. 17Agora que vocês sabem estas coisas, serão felizes se as praticarem.” 18“Não digo estas coisas a todos vocês; conheço os que escolhi. Mas isto cumpre as Escrituras que dizem: ‘Aquele que come do meu alimento voltou-se contra mim’. 19Eu lhes digo isso de antemão, para que, quando acontecer, vocês creiam que eu sou aquele de quem falam as Escrituras. 20Eu lhes digo a verdade: quem recebe aquele que envio recebe a mim, e quem recebe a mim recebe o Pai, que me enviou”.
O Servo de Jesus Cristo deve ser como o seu Senhor – ele deve fazer e falar como o seu Senhor. Tenho como certo que PRECISAMENTE POR NÃO FAZEREM COMO JESUS FEZ, AS IGREJAS DE HOJE, OS CRENTES DESTA GERAÇÃO PERDERAM O PODER PARA TRANSFORMAR COM O EVANGELHO. Aqueles que falam como Jesus, que pregam com autoridade o evangelho de Jesus, devem também fazer como Jesus fez: descer do trono e se enrolar na toalha para servir com humildade, rebaixar-se como servo de Jesus Cristo.
A mensagem do evangelho – que se propaga pela voz – deverá ser encarnada na vida dos servos humildes de Jesus Cristo. Contrastando-se aos orgulhosos de seus dias, Jesus fez um doce convite aos pecadores:
Mateus 11.28-29 28“Venham a mim todos vocês que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. 29Tomem sobre vocês o meu jugo. Deixem que eu lhes ensine, pois sou manso e humilde de coração, e encontrarão descanso para a alma.
Foi ao exemplo de humildade de Jesus Cristo que Paulo, o apóstolo, lançou mão para exortar os cristãos a servirem uns aos outros (e acabarem com suas rinhas):
Filipenses 2.3-8 3Não sejam egoístas, nem tentem impressionar ninguém. Sejam humildes e considerem os outros mais importantes que vocês. 4Não procurem apenas os próprios interesses, mas preocupem-se também com os interesses alheios. 5Tenham a mesma atitude demonstrada por Cristo Jesus. 6Embora sendo Deus, não considerou que ser igual a Deus fosse algo a que devesse se apegar. 7Em vez disso, esvaziou a si mesmo; assumiu a posição de escravo e nasceu como ser humano. Quando veio em forma humana, 8humilhou-se e foi obediente até a morte, e morte de cruz.
Pois bem, passemos agora à cena de Jesus no cenáculo, antes da última ceia com os discípulos; vamos assisti-lo demonstrando com seu próprio exemplo o que significa servir – e é exatamente assim que devemos servir como representantes de Cristo nessa batalha pelo evangelho. Vamos dividir o nosso texto em cinco passos – os passos do servo de Jesus Cristo: [1] a consciência do servo; [2] o comportamento do servo; [3] o coração do servo; [4] o comissionamento do servo; e [5] o contentamento do servo.
O servo tem consciência de algumas coisas fundamentais. Atente-se para o texto, veja que Jesus sabia de pelo menos quatro coisas imprescindíveis para servir – João 13.1-3:
[1] que a hora de sofrer, morrer e ressuscitar havia chegado (v. 1a)
Antes da festa da Páscoa, Jesus sabia que havia chegado sua hora de deixar este mundo e voltar para o Pai.
[2] que foi o amor que o moveu até àquele ponto de seu ministério e continuaria movendo-o até o fim de tudo (v. 1b)
Ele tinha amado seus discípulos durante seu ministério na terra, e os amou até o fim.
[3] que o diabo estava como leão ao derredor para o tragar, que a luta não era contra carne ou sangue, mas contra o diabo mesmo (v. 2)
Estava na hora do jantar, e o diabo já havia instigado Judas, filho de Simão Iscariotes, a trair Jesus.
[4] que a glória de sua divindade deveria brilhar em atos humildes de serviço e de entrega (v. 3)
Jesus sabia que o Pai lhe dera autoridade sobre todas as coisas e que viera de Deus e voltaria para Deus.
Esse é o tipo de consciência que nós devemos ter para agir com humildade se quisermos impactar o mundo com a mensagem transformadora do evangelho – [1] consciência da hora certa (falta pouco para nós neste mundo!); [2] consciência do que nos move (o amor de Jesus, que se renova de novo e de novo até o final); [3] consciência da batalha espiritual que nos cerca (o diabo vem à nossa mesa); [4] consciência de que é servindo com humildade que nós mais refletimos a glória do nosso Senhor Jesus:
Marcos 10.42-45 42Então Jesus os reuniu e disse: “Vocês sabem que os que são considerados líderes neste mundo têm poder sobre o povo, e que os oficiais exercem sua autoridade sobre os súditos. 43Entre vocês, porém, será diferente. Quem quiser ser o líder entre vocês, que seja servo, 44e quem quiser ser o primeiro entre vocês, que se torne escravo de todos. 45 Pois nem mesmo o Filho do Homem veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por muitos”.
Isso nos leva ao próximo passo: o comportamento do servo.
A consciência de Jesus – do tempo e do momento, da motivação do amor, da batalha envolvida e do serviço humilde – afetou o seu comportamento, moveu-o a ação:
João 13.4-5 4Assim, levantou-se da mesa, tirou a capa e enrolou uma toalha na cintura. 5Depois, derramou água numa bacia e começou a lavar os pés de seus discípulos, enxugando-os com a toalha que estava em sua cintura.
Como nos falta esse tipo de comportamento, povo de Deus! Faltam servos entre nós – gente com boa teologia, sã doutrina, mas que se levanta da mesa, tira a capa, enrola a toalha na cintura, derrama água na bacia e começa a lavar os pés dos outros. A atitude de Jesus nos ensina pelo menos três lições sobre o tipo de comportamento que devemos ter como servos:
[1] É preciso AÇÃO para servir. Observe que a toalha, a bacia e a jarra com água estavam ali – o tempo todo – disponíveis a todos. O lavar os pés era necessário, mas ninguém tomou a iniciativa, exceto Jesus. Há pessoas na igreja que indicam os serviços que precisam ser feitos, outros que ensinam como os serviços devem ser feitos, mas poucos são os que são capazes de pôr a mão na massa. Não servimos, mas queremos ser servidos. Não será assim entre nós – “Quem quiser ser o líder entre vocês, que seja servo” (Mc 10.43).
[2] É preciso HUMILDADE para servir. No contexto da época, lavar os pés dos visitantes era uma tarefa para os escravos, ou para as pessoas consideradas sem importância social. Jesus, no entanto, revela toda a sua humildade ao lavar os pés dos seus discípulos. Ele se torna um escravo humilde (Fp 2.5-8).
[3] É preciso AMOR para servir. Você pode até servir sem amar, mas, você jamais poderá amar sem servir. O amor, o amor de Cristo, nos faz servir. Ao lavar os pés aos discípulos, Jesus demonstra o seu amor. Quem ama serve.
O servo se comporta com ação, humildade e amor – traduzidos na forma de serviço ao próximo; às vezes, rebaixamento mesmo para servir. Imagine a cena: levantar-se da mesa, tirar a roupa de cima, cingir-se de toalha na cintura, pegar a bacia, a jarra de água, encher a bacia de água e se ajoelhar para lavar pés mau-cheirosos. Mas esse é o comportamento do servo de Jesus Cristo, uma vez que foi o do próprio Cristo.
A camada de cima do texto deixa claro para nós a lição: os representantes de Jesus têm consciência e comportamento de servo. Mas há algo mais, uma camada mais abaixo neste texto e que é muitíssimo importante. O CORAÇÃO DO SERVO. Como deve ser?
Quando a gente para e pensa: por que Jesus escolheu lavar os pés dos discípulos, uma vez que ele veio abolir os rituais religiosos e as práticas cerimoniais da lei judaica? Por que lavar os pés? Bem, penso que há pelo menos duas razões: [1] o coração orgulhoso dos discípulos e [2] os pés sujos mesmo.
[1] O coração orgulhoso. Lucas nos dá uma informação bastante esclarecedora: nesta mesma ocasião, enquanto ceavam e ouviam Jesus falar, os apóstolos estavam com a cabeça noutro lugar – benefício próprio:
Lucas 22.23-24 23Os discípulos perguntavam uns aos outros qual deles faria uma coisa dessas [trair Jesus]. 24Depois, começaram a discutir entre si qual deles era o mais importante.
[2] Os pés sujos. Jesus nota os pés judiados e bem sujos dos discípulos, por causa das longas andanças. É quando ele vê uma oportunidade de encerrar aquele argumento sem noção entre eles, ao passo que aproveita para ensiná-los uma lição que jamais esqueceriam: uma lição que tocaria não apenas os pés, mas igualmente o coração dos apóstolos. William Barclay:
As estradas da Palestina não eram pavimentadas nem limpas. No tempo seco, ficavam fundas de poeira, e nas chuvas, atoladas de lama. Os calçados que as pessoas comuns usavam eram sandálias, simplesmente feitas de solas presas por tiras aos pés. Elas ofereciam pouca proteção contra a poeira ou a lama das estradas. Por isso, sempre havia grandes potes de água na porta de uma casa; e um servo estava lá com uma jarra e uma toalha para lavar os pés sujos dos convidados quando eles entravam. A pequena companhia de amigos de Jesus não tinha servos. Os deveres que os servos executariam em círculos mais ricos, eles deveriam ter compartilhado entre si. Pode muito bem ser que na noite desta última refeição juntos eles tenham sido tomados de tal estado de orgulho competitivo que nenhum deles aceitou o dever de providenciar para que a água e as toalhas estivessem ali para lavar os pés deles mesmos ao entrarem na casa; e Jesus corrigiu a omissão da maneira mais vívida e dramática possível.
Portanto, a lavagem dos pés dos apóstolos, no fundo, apontava para o coração dos apóstolos, para a necessidade constante de arrependimento do pecado – do orgulho – e fé que a santificação progressiva requer do cristão. Ouça:
João 13.6-11 6Quando Jesus chegou a Simão Pedro, este lhe disse: “O Senhor vai lavar os meus pés?”. 7Jesus respondeu: “Você não entende agora o que estou fazendo, mas algum dia entenderá”. 8“Lavar os meus pés? De jeito nenhum!”, protestou Pedro. Jesus respondeu: “Se eu não os lavar, você não terá comunhão comigo”. 9Simão Pedro exclamou: “Senhor, então lave também minhas mãos e minha cabeça, e não somente os pés!”. 10Jesus respondeu: “A pessoa que tomou banho completo só precisa lavar os pés para ficar totalmente limpa. E vocês estão limpos, mas nem todos”. 11Pois Jesus sabia quem o trairia. Foi a isso que se referiu quando disse: “Nem todos vocês estão limpos”.
Judas não estava limpo. Mas os onze estavam limpos. Eles tomaram banho e estavam limpos. Ou seja, eles nasceram de novo. Eles creram em Jesus. Eles tinha vida eterna. Eles passaram da morte para a vida. Eles se tornaram filhos da luz – filhos de Deus. Eles eram suas ovelhas e ninguém poderia arrancá-los de suas mãos. Eles não se perderiam nem poderiam ser perdidos. E isso incluía Pedro. Apenas Judas estava excluído no versículo 10. Pedro estava limpo. “Banho completo”! Ele era salvo – justificado, para usar a linguagem de Paulo.
Então, o que Jesus quis dizer no versículo 8b, “Se eu não os lavar, você não terá comunhão comigo”? Eis o que creio: quando uma pessoa crê em Jesus, ela é completamente limpa. Ela está limpa diante de Deus. Jesus diz no versículo 10: “A pessoa que tomou banho completo só precisa lavar os pés para ficar totalmente limpa”. A LAVAGEM REPETIDA DOS PÉS REPRESENTA NOSSA CONFISSÃO DIÁRIA DE PECADO E NOS VOLTARMOS A JESUS PARA A APLICAÇÃO CONTÍNUA DO QUE ELE REALIZOU NA CRUZ – NOSSA PURIFICAÇÃO E PERDÃO. Isso é exatamente o que João ensinou:
1João 1.8-10 8e afirmamos que não temos pecados, enganamos a nós mesmos e não vivemos na verdade. 9Mas, se confessamos nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar nossos pecados e nos purificar de toda injustiça. 10Se afirmamos que não pecamos, chamamos Deus de mentiroso e mostramos que não há em nós lugar para sua palavra.
Esse texto de 1João é uma imagem do erro de Pedro. O que ele falhou em perceber foi que, embora estivesse “totalmente limpo” (Jo 13.10) – isto é, mesmo tendo sido justificado e ser nova criatura em Cristo – havia pecados que diariamente precisavam de confissão e perdão a ser recebido – i.e, lavagem espiritual diária dos pés. A compra definitiva de seu perdão na cruz precisava de aplicação diária.
E se continuarmos dizendo que não precisamos ou não queremos que Jesus nos lave os pés, então mostramos que não fomos salvos, que não fomos “totalmente limpos”. Paulo disse assim em 1Coríntios 5.7: “Livrem-se do fermento velho [isto é, deixe Jesus lavar os seus pés], para que sejam massa nova, sem fermento, o que de fato são.” Você realmente está totalmente limpo, Pedro. Mas a marca dos discípulos totalmente limpos é que eles odeiam suas deficiências diárias, seus pecados corriqueiros e recorrentes, e vão a Cristo para a limpeza diária (lava-pés). Se você confessar seus pecados, ele é fiel e justo e vai perdoar e limpar você.
Para representarem Jesus, os servos de Jesus Cristo, têm consciência, comportamento e coração de servo – a humildade e a pureza de coração comprovadas diante dos homens são pré-requisitos indispensáveis. E é desse modo que o Senhor os (nos) envia:
João 13.12-16 12Depois de lavar os pés deles, Jesus vestiu a capa novamente, retornou a seu lugar e perguntou: “Vocês entendem o que fiz? 13Vocês me chamam ‘Mestre’ e ‘Senhor’, e têm razão, porque eu sou. 14E uma vez que eu, seu Senhor e Mestre, lavei seus pés, vocês devem lavar os pés uns dos outros. 15Eu lhes dei um exemplo a ser seguido. Façam como eu fiz a vocês. 16Eu lhes digo a verdade: o escravo não é maior que o seu senhor, nem o mensageiro é mais importante que aquele que o envia.
Há pelo menos duas lições importantes neste comissionamento:
[1] humildade inclui servir uns aos outros, não apenas ao SENHOR; e
[2] humildade que se traduz em serviço, na prática, é rebaixamento aos olhos dos homens.
E se Jesus se rebaixou, nós também devemos nos rebaixar. O nosso comissionamento é: rebaixem-se para servir. —Pastores, rebaixem-se. Líderes, rebaixem-se. Chefes de família, rebaixem-se. Líderes de pequenos grupos, diminuam-se. Presidentes de empresas, proprietários, supervisores, gerentes, patrões, rebaixem-se. Mamãe e papai, rebaixem-se. Irmãos e irmãs mais velhos, rebaixem-se. Alunos “nota 10”, rebaixem-se. Bons atletas, rebaixem-se. Adolescentes lindos(as), rebaixem-se para servir. Cristão, rebaixe-se para representar seu Salvador, para conhecer sua alegria, sobretudo porque você está totalmente limpo.
Há um tipo de alegria, verdadeira alegria, que só é provada quando nós nos rebaixamos para servir, representando Jesus Cristo. Somente os representantes de Jesus, os que foram totalmente limpos e lavam seus pés diariamente na graça de Deus, e que se rebaixam para servir provam dessa felicidade. Veja:
João 13.17-20 17Agora que vocês sabem estas coisas, serão felizes se as praticarem.” 18“Não digo estas coisas a todos vocês; conheço os que escolhi. Mas isto cumpre as Escrituras que dizem: ‘Aquele que come do meu alimento voltou-se contra mim’. 19Eu lhes digo isso de antemão, para que, quando acontecer, vocês creiam que eu sou aquele de quem falam as Escrituras. 20Eu lhes digo a verdade: quem recebe aquele que envio recebe a mim, e quem recebe a mim recebe o Pai, que me enviou”.
Judas não provou dessa felicidade. Ele se voltou contra Jesus. Amou mais suas 30 moedas de prata do que o Senhor do ouro e da prata. Pedro e os demais, no entanto, na medida em que diariamente confessavam seus pecados e se agarravam à obra da cruz, na medida em que diariamente deixavam Jesus lavar seus pés e se rebaixavam para servir como Jesus, representando-o diante dos homens, experimentavam da verdadeira felicidade, do contentamento do servo de Jesus Cristo: imitar o seu Senhor, representar o seu Senhor, servir aos que precisam da graça do Senhor.
Jesus estava entrando em guerra, e desejava preparar os seus discípulos para a batalha. Tranca-se com eles no cenáculo. E à mesa, identifica o pecado do orgulho no coração deles – quem se sentará no lugar de honra do reino?, indagavam eles! Então, o Senhor se levanta da mesa e se coloca na posição de servo.
Usos:
Avalie-se:
Jesus nos serviu vindo ao mundo para cumprir a lei em nosso lugar e morrer como substituto pelo nosso pecado na cruz. Veio para servir e dar sua vida em resgate de muitos – o resgate do pecado. Arrependa-se e receba-o pela fé.
Na batalha pelo evangelho, a espada do discípulo é a Bíblia e a sua farda é a toalha cingida à cintura para servir como representante de Jesus Cristo. O alistamento para esse combate é para todos os cristãos, é obrigatório: “Qualquer cristão é um soldado e se deve à defesa e divulgação do evangelho”; “Qualquer cristão é um servo e se deve à servir em nome de Jesus Cristo”.
S.D.G. L.B.Peixoto
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