28.06.2020
[Filemom] 1Eu, Paulo, prisioneiro de Cristo Jesus, escrevo esta carta, junto com nosso irmão Timóteo, a Filemom, nosso amado colaborador, 2à irmã Áfia, a Arquipo, nosso companheiro na luta, e à igreja que se reúne em sua casa. 3Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo lhes deem graça e paz. 4Sempre dou graças a meu Deus por você em minhas orações, 5pois ouço com frequência de sua fé no Senhor Jesus e de seu amor por todo o povo santo. 6Oro para que você ponha em prática a comunhão que vem da fé, à medida que entender e experimentar todas as coisas boas que temos em Cristo. 7Seu amor, meu irmão, tem me dado muita alegria e conforto, pois sua bondade tem revigorado o coração do povo santo. 8Por isso, ainda que pudesse exigir em Cristo que você faça o que é certo, 9prefiro pedir com base no amor — eu, Paulo, já velho e agora prisioneiro de Cristo Jesus. 10Suplico que demonstre bondade a meu filho Onésimo. Tornei-me pai dele na fé quando estava aqui na prisão. 11Onésimo não lhe foi de muita utilidade no passado, mas agora é muito útil para nós dois. 12Eu o envio de volta a você, e com ele vai meu próprio coração. 13Gostaria de mantê-lo aqui comigo enquanto estou preso por anunciar as boas-novas; assim ele me ajudaria em seu lugar. 14Mas eu nada quis fazer sem seu consentimento. Meu desejo era que você ajudasse de boa vontade, e não por obrigação. 15Ao que parece, você perdeu Onésimo por algum tempo para ganhá-lo de volta para sempre. 16Ele já não é um escravo para você. É mais que um escravo: é um irmão amado, especialmente para mim. Agora ele será muito mais importante para você, como pessoa e como irmão no Senhor. 17Portanto, se me considera seu companheiro na fé, receba-o como receberia a mim. 18Se ele o prejudicou de alguma forma ou se lhe deve algo, cobre de mim. 19Eu, Paulo, escrevo de próprio punho: Eu pagarei. E não mencionarei que você me deve sua própria vida. 20Sim, meu irmão, faça-me essa gentileza no Senhor. Reanime meu coração em Cristo! 21Escrevo esta carta certo de que você fará o que lhe peço, e até mais. 22Por favor, prepare um quarto para mim, pois espero que minhas orações sejam respondidas e eu possa voltar a visitá-lo em breve. 23Epafras, meu companheiro de prisão em Cristo Jesus, manda lembranças. 24Marcos, Aristarco, Demas e Lucas, meus colaboradores, também enviam saudações. 25Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo esteja com o espírito de vocês.
2020: O Ano Que Não Terminará
2020 entrará para a história como o ano que não terminou. As feridas abertas neste período serão por muitos anos ainda sentidas, em todos os níveis – pessoal, econômico e social. Dificilmente esqueceremos, e gerações futuras ainda atestarão: 2020 marcou profundamente a história do século XXI. Quem viver verá.
A pandemia do novo coronavírus – causando tristeza pela centena e meia de milhares de vítimas da COVID-19 até agora, impondo medo, gerando crise econômica e provocando desarranjos sociais – ficará para sempre na memória daqueles que estão (ainda!) atravessando este temporal. Sem contar os conflitos familiares irreparáveis que o isolamento (a quarentena que não acaba mais) desencadeou em outros tantos milhares. Ocorre que ao determinar que todos se confinassem para desacelerar ou conter o avanço da doença, impedindo assim o colapso dos sistemas de saúde, criou-se outras doenças igualmente letais.
Forçados a conviver sem o ritmo e as distrações da “vida normal”, não foram e não estão sendo poucos os casos de discussões, brigas, violência, abusos, estupros e separações nos lares e famílias em todo mundo. Será que essas fraturas um dia serão saradas? As doenças mentais aumentaram e seguem impressionando pelos números. Serão contidas ou curadas nalgum momento? Outra coisa que está deixando cicatriz profunda neste período é o aumento do consumo de álcool e drogas como forma de escape desse caos. Será, algum dia, revertido esse quadro?
Paralelo a tudo isso, algo mais está acontecendo lá fora (mas não é tão lá fora assim): a sociedade está efervescente; e não é somente aqui no Brasil. O mundo parece, mais uma vez, ter se dividido entre direita e esquerda. Todos estão exaltados, dos familiares nos grupos de WhatsApp – que brigam por política e não voltam a conversar – aos manifestantes nas ruas que quebram tudo e xingam todos sem o menor pudor; e ainda passando pelas baixarias das redes sociais, chegando até aos líderes supremos da nação (em todos os poderes) com os seus surtos e momentos de explosão.
A situação é lamentável, posto que agora não é apenas o medo da COVID-19 e de suas consequências que aperta o coração das pessoas, estão todos com medo de perder, além de saúde ou emprego, perder também as liberdades. Não é verdade? Todos se dizem pela democracia e pela liberdade de expressão, tanto um lado como o outros (os destros e os canhotos da política), mas as palavras e as práticas de ambos os extremos revelam a mesma disposição exaltada e violenta de fazer alguma coisa para “garantir” a liberdade.
O ambiente ficou ainda mais tempestuoso a partir da noite de segunda-feira, 25 de maio, quando George Floyd, negro de 46 anos, morreu algemado e com o pescoço prensado no chão pelo joelho de um policial branco no Estado de Minnesota nos Estados Unidos. As imagens e a voz estremecida de Floyd – “I can’t breathe!” ou “Eu não consigo respirar!” – foram registradas por uma pessoa que passava pelo local. O vídeo viralizou na internet e a cena chocantemente desprezível desencadeou protestos pelo mundo todo, não apenas nos Estados Unidos. Inflamados pela morte de Floyd, ativistas trouxeram para os protestos os casos também indecorosos das mortes de outros dois negros americanos, de novo causadas por policiais brancos, lá em 2014: Eric Garner e Michael Brown. O grito dos protestos se traduziu em uma frase: “Black Lives Matter” ou “Vidas Negras Importam”.
Todas essas feridas abertas – seja pela pandemia, pelos desgovernos, pelas ideologias, pela violência, pelo abuso de autoridade ou pelo racismo – certamente farão com que 2020 não termine tão cedo. Como sararemos essas feridas?
Precisamos de Mudança
A questão é ainda mais séria e não vem de hoje. Veja como o mundo precisa de mudança, mudança profunda (e que certamente não serão promovidas pelas armas das ideologias dos ativistas, mesmo que muito bem-intencionados):
Considere por um instante algumas das barbaridades, dos crimes contra a vida que ninguém destaca nas manchetes ou dá qualquer visibilidade, mas que são igualmente repulsivos – afinal, não são apenas vidas negras que importam, todas as vidas, TODAS – NEGRAS, BRANCAS, PARDAS E TODAS AS OUTRAS, de fato, importam.
Por exemplo: 260 milhões de cristãos (estamos falando de minorias!) vivem atualmente em 50 países onde mais se persegue por causa da fé em Jesus Cristo – em alguns desses lugares – especialmente no Oriente Médio, a perseguição chega a números próximos de genocídio, isso mesmos, GENOCÍDIO. Mas você já ouviu a mídia falar em cristofobia? Claro que não! Então vidas cristãs não importam? Negros cristãos não importam?
O jornal inglês The Guardian, em maio de 2019, publicou um relatório que documentou algo estarrecedor, e que não me recordo de ter sido veiculado nas mídias brasileiras, pelo menos não na grande mídia. Ouça:
Milhões de cristãos na região [Oriente Médio], além de serem discriminados [o que é corriqueiro], foram arrancados de suas casas e muitos foram mortos, sequestrados e presos […] [Destaca-se] a discriminação no sudeste da Ásia, na África subsaariana e no leste da Ásia [China, por exemplo] – frequentemente motivada pelo autoritarismo do Estado. “A verdade inconveniente”, conclui o relatório, é “que a esmagadora maioria (80%) dos crentes religiosos perseguidos são cristãos” [ou seja, uma minoria perseguida, brutalmente perseguida: brancos, negros e pardos, com os quaais o mundo parece não se importar].
*Fonte: https://www.theguardian.com/world/2019/may/02/persecution-driving-christians-out-of-middle-east-report.
O mesmo jornal, em junho de 2019, publicou que “Na China, estão fechando igrejas, prendendo pastores – e até reescrevendo as Escrituras”. Noticiou o The Guardian:
O partido comunista da China está intensificando a perseguição religiosa à medida que a popularidade do cristianismo cresce. Uma nova tradução da Bíblia, promovida pelo Estado, estabelecerá um “entendimento correto” do texto [sagrado].
*Fonte: https://www.theguardian.com/world/2019/jan/13/china-christians-religious-persecution-translation-bible.
Não é apenas a vida de cristãos que parece não ter importância. Vida de crianças não-nascidas também parece não ter qualquer valor. Segundo a OMS, todos os anos no mundo há cerca de 40 a 50 milhões de abortos, ou seja, aproximadamente 125.000 abortos por dia. Os números deste ano deverão ser ainda maiores, uma vez que em diversos países liberaram a prática do aborto por causa da COVID-19. Afinal, quem se importa com vidas não-nascidas?
E a vida das mulheres negras da Nigéria, quem se importa? A BBC News no Brasil divulgou em outubro de 2019 uma matéria estarrecedora, narrando a indecente história das “desumanas ‘fábricas de bebês’ na Nigéria, que engravidam mulheres sequestradas para vender seus filhos”. Lê-se na matéria o seguinte:
Na operação mais recente contra tráfico de seres humanos na Nigéria, a polícia libertou 19 mulheres e quatro bebês que eram mantidos em cativeiro no que eles chamam de “fábrica de bebês” em Lagos, a maior cidade do país africano. De acordo com as autoridades, essas mulheres foram enganadas – prometeram um emprego a elas “com o objetivo de engravidá-las e depois vender os bebês.” A polícia afirma que as crianças seriam traficadas, mas ainda não está claro quem são ou de onde são seus potenciais compradores. As meninas seriam vendidas por US$ 830 e os meninos por US$ 1,4 mil.
*Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-49917739.
Tráfico de seres humanos, sequestros, estupros e escravização sexual são comuns naquela região. Para se ter uma ideia, na Nigéria, 48 mulheres são estupradas a cada hora. Vocês acham mesmo que a COVID-19 parou com tudo isso (já que ninguém está mais noticiando essas barbaridades)? Claro que não! Por detrás dessa cortina da pandemia, todas essas maldades continuam sendo praticadas, não tenha dúvida disto.
Meus Deus! Poderíamos prosseguir, mas o tempo não nos permite. Mas está claro e cristalino: nós vivemos em um mundo contaminada pela injustiça, um mundo massacrado pela dor. Se contemplarmos o bastante os vídeos ou as imagens, se pararmos para ler e considerar com seriedade sobre o estado da sociedade ao nosso redor, sentiremos profundamente o corte e a dor da maldade, do erro e da injustiça que imperam com todas as forças no mundo ao nosso redor. Vivemos, de fato, em um mundo caído no pecado.
Em 2020 essas verdades parecem ter ficado estampadas de forma ainda mais aparente. Políticos tratando a pandemia de maneira politizada, de um lado e do outro ideologizados ao extremo. A mídia tocando o terror. E a perversidade de forma geral correndo solta. O mundo precisa de mudança, de uma mudança profunda, uma mudança poderosa, e que certamente não virá do ativismo político-ideológico, mesmo que encabeçado por cristãos.
O poder do amor para mudar o mundo
De todas as mudanças que o mundo precisa, na séria de mensagens que iniciaremos hoje na carte de Paulo a Filemom, meu desejo é destacar a mudança do coração, que se traduzirá, dentre outros, na forma como nós tratamos as pessoas: a forma como nós tratamos quem nos persegue, fere, magoa ou machuca; a forma como nós tratamos quem nos trai ou nos defrauda; a forma como nós tratamos quem pensa diferente da gente; a forma como nós tratamos quem tem outra visão política, outra religião, outra cor de pele ou nacionalidade, outra posição social, outro nível cultural, outro patamar econômico; a forma como nós tratamos aqueles que nos governam (ou desgovernam); a forma como nós tratamos autoridades; enfim, a forma como nós tratamos uns aos outros. Isto porque a carta de Paulo a Filemom tem como mensagem a forma como nós devemos tratar uns aos outros, especialmente aqueles que pecaram contra nós.
Agora, é preciso que se reforce que o cristianismo – a mensagem do cristianismo – não se resume a posturas, costumes ou políticas públicas. Cristianismo não se concentra em definições de certo e de errado. A mensagem do cristianismo não é o moralismo.
Cristianismo é sobre corações transformados que se comprovam por práticas piedosas. O alvo do cristianismo, ouça bem, NÃO É, principalmente, primordialmente, o comportamento, MAS o coração. Em outras palavras, alguém que teve o coração transformado pela graça de Deus, por meio da fé em Jesus Cristo – promovida pelo poder do Espírito Santo – agirá, pelo mesmo Espírito, de forma piedosa, inclusive na maneira de tratar as outras pessoas (confira o fruto do Espírito em Gálatas 5.22-23). A mensagem do cristianismo, portanto, é “Jesus Cristo e este crucificado” (1Co 2.2).
No curso Membresia Importa, oferecido pela nossa igreja aos novos membros e candidatos aos batismos, aprendemos que (p. 29, 30):
Um cristão é alguém que, antes e acima de tudo, foi perdoado de seu pecado e reconciliado com Deus, o Pai, por meio de Jesus Cristo. Isso acontece quando a pessoa, levada pelo Espírito Santo, arrepende-se de seus pecados e coloca sua fé na vida perfeita, na morte substitutiva e na ressurreição de Jesus Cristo, o Filho de Deus. […] Cristo satisfez à ira de Deus e o cristão é agora declarado justo diante dele, chamado a uma vida de retidão, plena da esperança de um dia estar diante da majestade de Deus no céu.
Essa, portanto, é a mensagem central do cristianismo. Mas tem mais: “o cristão é alguém que, pela virtude de sua reconciliação com Deus, foi reconciliado com o povo de Deus”. Lê-se assim na apostila do curso de membresia de nossa igreja (p. 31):
Ser reconciliado com Deus por meio de Cristo, portanto, significa ser reconciliado com todos aqueles que estão reconciliados com Deus. É claro que esta reconciliação precisa afetar de alguma forma todos os nossos relacionamentos, inclusive com os não-cristãos, mas somente no ambiente do corpo de Cristo ela se torna plena e verdadeira, pois consiste na relação entre duas ou mais pessoas que são feitas família pela ação sobrenatural do Espírito por meio da fé em Jesus Cristo, o Filho eterno de Deus.
Isto se comprova pelas palavras de Paulo aos crentes de Éfeso (Ef 2.14-16):
14Porque Cristo é nossa paz. Ele uniu judeus e gentios em um só povo ao derrubar o muro de inimizade que nos separava. 15Ele acabou com o sistema da lei, com seus mandamentos e ordenanças, promovendo a paz ao criar para si, desses dois grupos, uma nova humanidade. 16Assim, ele os reconciliou com Deus em um só corpo por meio de sua morte na cruz, eliminando a inimizade que havia entre eles.
Reconciliação, portanto, é o alvo da fé cristã: reconciliação “com Deus em um só corpo [com os demais filhos de Deus] por meio de sua morte [de Cristo] na cruz, eliminando a inimizade que havia entre eles”. Ô meu Deus, como isso é relevante – pessoal e socialmente relevante! QUANDO O CRISTÃO SE CONCENTRA NAQUILO PARA O QUE ELE, DE FATO, FOI CHAMADO, ELE DESENCADEIA O VERDADEIRO PODER PARA MUDAR O MUNDO.
O poder para mudar o mundo virá do amor de Cristo derramado em nosso coração pelo Espírito, amor que nos reconcilia com o Pai e uns com os outros no corpo de Cristo. Tudo isso é fruto do evangelho de Jesus Cristo.
A CARTA DE PAULO A FILEMOM É UM TRATADO de como isso se dá na prática. Em outras palavras, o apóstolo apresenta o que a cruz de Cristo, tendo nos reconciliado com Deus, gera em nós em termos de como devemos tratar aqueles que pecam contra nós, seja de que forma for.
Hernandes Dias Lopes, resumindo a mensagem dessa carta preciosa, escreveu que “o cristianismo não é apenas um sistema de doutrinas; é sobretudo, relacionamento, com Deus e com o próximo” (Tito e Filemom, p. 143). Paulo, escrevendo a Filemom, nos ensina que uma vez reconciliados com Deus por meio de Cristo nós buscamos, pelo Espírito, a reconciliação com todos, especialmente com os irmãos. Hernandes prosseguiu em sua descrição do texto paulino que nós temos em tela (p. 143):
Essa carta é um manual de relacionamento. Trata de amor, perdão, restituição e reconciliação. Embora essa tenha sido escrita há quase vinte séculos, seus ensinos continuam vivos, atuais e absolutamente oportunos.
E o fundamento de tudo, como veremos, o poder capaz de mudar o mundo é o amor, o amor de Cristo que nos transforma e nos constrange a não viver mais para nós mesmos, mas para Cristo (2Co 5.14-15). Sobre o poder do amor de Cristo que nos transforma para mudar o mundo, Paulo escreveu em Romanos 13.8-10:
8Não devam nada a ninguém, a não ser o amor de uns pelos outros. Quem ama seu próximo cumpre os requisitos da lei de Deus. 9Pois os mandamentos dizem: “Não cometa adultério. Não mate. Não roube. Não cobice”. Esses e outros mandamentos semelhantes se resumem num só: “Ame o seu próximo como a si mesmo”. 10O amor não faz o mal ao próximo, portanto o amor cumpre todas as exigências da lei de Deus.
Como nós precisamos desse amor! Esse amor, apenas esse amor, será capaz de nos ajudar a encarar e a reagir da maneira que glorifica a Deus, enaltece o evangelho de Cristo e abençoa verdadeiramente as pessoas em face de tanta injustiça que assola o mundo ao nosso redor e a nós particularmente. Por exemplo, de forma cristã:
Como encarar e reagir aos desgovernos dos nossos governantes?
Como encarar e reagir à alguma ideologia ou cosmovisão que parece me ameaçar?
Como encarar e reagir à brutalidade de policiais brancos, matando negros?
Como encarar e reagir ao problema do aborto?
Como encarar e reagir à escravidão sexual na Nigéria?
Como encarar e reagir àquele ou àquela que de alguma forma me defraudou?
Precisamos de respostas cristãs, respostas cristocêntricas às questões dessa ou de qualquer natureza. A carta de Paulo a Filemom, conquanto não apresente respostas diretas ou mesmo detalhadas, como talvez gostaríamos de obter, apresenta-nos o grande fundamento, o princípio fundante para todas as questões que envolvem relacionamentos, necessidade de reconciliação, perdão, restituição ou mesmo transformação social.
Essa carta não nos guiará apenas no que diz respeito ao que fazer, mas também sobre como nós, enquanto cristãos, devemos agir no que tange aos problemas de relacionamento e também político-sociais. O QUE TEMOS DIANTE DE NÓS, PORTANTO, É UM TRATADO SOBRE O PODER DO AMOR PARA MUDAR O MUNDO.
A fonte de poder do amor
Amor: o poder para mudar o mundo. Quem não acredita no poder do amor? Todo mundo fala do amor e do poder do amor. Mas de que amor nós estamos falando?
O amor que tem poder para, de fato, mudar o mundo é o amor que está estampado no evangelho de Cristo e que escorre dele mesmo. O evangelho é a fonte de poder do amor.
Paulo deixa isso muito claro na carta que ele escreveu a Filemom, como veremos ao longo do nosso estudo nas próximas mensagens. Antes, porém, de mergulharmos neste documento, que é uma joia rara de inestimável valor, faremos bem em destacar o evangelho como a fonte de poder do amor, já que não estamos falando de qualquer amor, de sentimentalismo ou algo do tipo.
O evangelho (o evangelho de Cristo, as boas-novas da vida e da obra de Cristo) é a fonte de poder do amor. Como assim? Vejamos:
Resumindo as maravilhas do evangelho, estampadas nas palavras de Paulo, Hernandes escreveu que (p. 139):
A carta a Filemom mostra de forma eloquente a vitória do evangelho. O pecado afasta, o evangelho aproxima. O pecado destrói relacionamentos, o evangelho reconcilia. O pecado traz prejuízo, o evangelho faz restituição. O pecado produz tristeza e decepção, o evangelho promove alegria e contentamento. O pecado torna as pessoas prisioneiras, o evangelho as faz livres.
A fonte de poder do amor é o evangelho de Cristo. As pessoas pensam que não, mas o evangelho de Jesus tem um valor social poderoso e que é inigualável. Hernandes escreveu de forma eloquente, fazendo-nos lembrar de que (p. 140):
O cristianismo venceu a escravidão não pela revolução das armas, mas pelo poder do amor. […] a escravidão era uma dolorosa realidade. Os escravos não tinham direitos legais. Pela mínima ofensa eles podiam ser açoitados, mutilados, crucificados ou entregues às feras. Não lhes era permitido matrimônio permanente, mas somente uniões temporais que podiam ser rompidas segundo a vontade do seu dono. Porém, a conversão a Cristo uniu na mesma família da fé e na mesma igreja senhores e servos. Senhores e escravos foram unidos no Espírito de Cristo e nessa união foram extintas todas as distinções sociais (Gl 3.28).
Ah! O poder do amor que brota do evangelho: a única força capaz de verdadeiramente mudar o mundo! Oro para que o nosso estudo desta carta traga luz ao nosso entendimento e promova amor no nosso coração – o tipo de amor que tem poder para mudar o mundo – o amor que brota do evangelho de Jesus Cristo.
O valor eterno da carta a Filemom
De tudo o que se pode destacar, o principal é que a carta a Filemom nos apresenta algumas imagens notáveis da salvação, como bem observou Hernandes (p. 141):
[O que temos:] Onésimo abandonando o seu amo. Paulo encontrando-o, intercedendo em seu favor, identificando-se com ele. O seu oferecimento [do próprio Paulo] de pagar a dívida; e a recepção de Onésimo por Filemom por causa de Paulo; a restauração do escravo solicitada pelo apóstolo “[…] com base no amor” (v. 9). Todas essas figuras lançam luz acerca da nossa grande salvação em Cristo.
Nas palavras de Paulo a Filemom: “prefiro pedir [que perdoe e liberte Onésimo] com base no amor – eu, Paulo, já velho e agora prisioneiro de Cristo Jesus.” ESSE É O PODER DO AMOR, O PODER DO AMOR PARA MUDAR O MUNDO.
Você já provou desse amor, do amor de Jesus? Já foi salvo por esse amor?
Você age “com base no amor” de Jesus? O que te move ou constrange a agir?
Você busca que tipo de mudança nas pessoas? É “com base no amor”?
Só o evangelho pode produzir verdadeiro amor, o tipo de amor que muda realmente, verdadeiramente, profundamente o mundo, começando pelo novo coração que recebemos do próprio Deus – quando nos arrependemos e cremos em Cristo para a salvação.
Portanto, crente, milite com base no amor para espalhar o amor de Jesus. Pegue a visão, crente (Fm 9):
prefiro pedir [que perdoe e liberte Onésimo] com base no amor [não por lei ou por obrigação] – eu, Paulo, já velho e agora prisioneiro de Cristo Jesus.
S.D.G. L.B.Peixoto
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