11.12.2022
[Habacuque 1.2-11] [A queixa de Habacuque] 2Até quando, SENHOR, terei de pedir socorro? Tu, porém, não ouves. Clamo: “Há violência por toda parte!”, mas tu não vens salvar. 3Terei de ver estas maldades para sempre? Por que preciso assistir a tanta opressão? Para qualquer lugar que olho, vejo destruição e violência. Estou cercado de pessoas que discutem e brigam o tempo todo. 4A lei está amortecida, e não se faz justiça nos tribunais. Os perversos são mais numerosos que os justos e, com isso, a justiça é corrompida. [A resposta do SENHOR] 5“Observem as nações ao redor; olhem e admirem-se! Pois faço algo em seus dias, algo em que vocês não acreditariam mesmo que alguém lhes contasse. 6Estou levantando os babilônios, um povo cruel e violento. Eles marcharão por todo o mundo e conquistarão outras terras. 7São conhecidos por sua crueldade e decidem por si mesmos o que é certo. 8Seus cavalos são mais velozes que leopardos e mais ferozes que lobos ao anoitecer. Seus cavaleiros atacam, vindos de longe; como águias, lançam-se sobre a presa para devorá-la. 9“Todos eles vêm prontos para agir com violência; seus exércitos avançam como o vento do deserto, ajuntando prisioneiros como se fossem areia. 10Zombam de reis e príncipes e desprezam todas as suas fortalezas. Constroem rampas de terra contra seus muros e as conquistam. 11Passam com rapidez, como o vento, e desaparecem. Sua culpa, porém, é grande, pois têm como deus sua própria força.”
Na estrada da fé, três coisas atribularam o coração de Habacuque: a inação de Deus, a iniciativa de Deus e o instrumento de Deus.
1. A inação de Deus!
Hoje cedo nós estudamos sobre a inação de Deus. A Habacuque, Deus parecia apático porque não respondia seus clamores nem agia para fazer alguma coisa. Estava em silêncio. Imóvel. Inativo. Mas Deus saiu do silêncio. O silêncio de Deus sempre precede ações poderosas. Não perca, portanto, a fé e a esperança.
Fiódor Dostoiévski, famoso pelos seus clássicos da literatura mundial – Os Demônios, Crime e Castigo, Os Irmãos Karamazov, dentre outros – , foi preso por por quatro ou cinco anos em prisão russa de segurança máxima na Sibéria – primeiro em Tobolsk, depois em Omsk. Fora acusado de conspirar contra a vida do Czar russo Nicolau I. Na prisão, só era permitido a leitura da Bíblia – que se tornou leitura diária do grande romancista – muitas vezes interrompendo suas atividades diárias para ler alguma passagem bíblica aleatória. Esse período, somado ao seu estudo das Escrituras, converteu Dostoiévski de revolucionário a conservador. Em carta, pouco antes de sair da prisão, escrita à Natália Fonvízina (a mulher que lhe presenteou com a Bíblia no cárcere), testemunhou algo sobre cristo que vale a pena se conhecer. Escreveu assim um de seus biógrafos, Virgil Tanase:
A galé [os trabalhos forçados executados por prisioneiros agrilhoados na Sibéria] o fatigou, naturalmente, de certa maneira, como confessa em uma carta a Natália Fonvízina pouco antes da libertação. Mas é “na adversidade que a verdade aparece” e é no sofrimento que Dostoiévski diz ter encontrado a fé. Precisava dela como “a relva seca” precisa de água [escreveu Dostoiévski]:
“Nesses momentos, forjei em mim um Credo em que tudo me parece límpido e sagrado. Esse Credo é extremamente simples: crer que não há nada de mais belo, mais profundo, mais fraterno, mais racional, mais viril e mais perfeito do que Cristo. Não só não há nada parecido como penso com amor repleto de zelo que não poderia haver nada parecido. Até mais: se alguém pudesse me provar que Cristo está fora da verdade, e se a verdade estivesse realmente fora de Cristo, eu preferiria ficar antes com Cristo do que com a verdade.”
O silêncio de Deus sempre precede ações poderosas!
2. A iniciativa de Deus!
Depois de experimentar a aparente inação de Deus, Habacuque ficou desconcertado com a iniciativa de Deus. O profeta descobriu, como bem expressou Martyn Lloyd-Jones, “que Deus, às vezes, dá respostas inesperadas às nossas orações”. Se o silêncio de Deus é capaz de nos atribular, sua iniciativa pode ser ainda mais perturbadora:
Habacuque 1.5-6 [A resposta do SENHOR] 5“Observem as nações ao redor; olhem e admirem-se! Pois faço algo em seus dias, algo em que vocês não acreditariam mesmo que alguém lhes contasse. 6Estou levantando os babilônios, um povo cruel e violento. Eles marcharão por todo o mundo e conquistarão outras terras.
Ora, meu povo, é certo que Habacuque esperava uma iniciativa divina, ele orava por isso, ele pedia e clamava, pedindo socorro e salvação (foi o que lemos no inicio de sua queixa, preservada para nós na forma de oração no versículo 2 — “Até quando, SENHOR, terei de pedir socorro? Tu, porém, não ouves. Clamo: ‘Há violência por toda parte!’, mas tu não vens salvar.”). Habacuque, portanto, esperava sim por alguma iniciativa de Deus. Ele queria ver a nação sendo reavivada para Deus: Habacuque 3.2 — “Ouvi a teu respeito, SENHOR; estou maravilhado com tuas obras. Neste momento de tanta necessidade, ajuda-nos outra vez, como fizeste no passado.” O profeta também desejava que Deus fizesse justiça no meio do seu povo; afinal, o estado da nação era deplorável:
Habacuque 1.3-4 3Terei de ver estas maldades para sempre? Por que preciso assistir a tanta opressão? Para qualquer lugar que olho, vejo destruição e violência. Estou cercado de pessoas que discutem e brigam o tempo todo. 4A lei está amortecida, e não se faz justiça nos tribunais. Os perversos são mais numerosos que os justos e, com isso, a justiça é corrompida.
Habacuque esperava uma iniciativa de Deus, e para tanto ele orava: “Faça justiça, ó Deus! Aviva-nos como no passado, ó Deus!”. E Deus respondeu sua oração: Habacuque 1.5 “Observem as nações ao redor; olhem e admirem-se! Pois faço algo em seus dias, algo em que vocês não acreditariam mesmo que alguém lhes contasse.”
Do versículo 6 ao 11 Deus mesmo descreverá o que fará e com qual tipo de instrumento ele agirá. Habacuque, porém, não gostará do que ouvirá. Ao final da resposta de Deus, o profeta iniciará sua segunda queixa do seguinte modo: Habacuque 1.12 — “Ó SENHOR, meu Deus, meu Santo, tu que és eterno certamente não planejas nos exterminar!”; e arrematará com estas palavras: Habacuque 2.1 — “Subirei até minha torre de vigia e ficarei de guarda. Ali esperarei para ver o que ele diz, que resposta dará à minha queixa.”
Habacuque estava atribulado com o estado espiritual e moral da nação e ficou perturbado com a inação de Deus. Só que quando Deus, em resposta a sua oração, revelou-lhe a iniciativa que tomaria para disciplinar seu povo, fazer justiça e avivar sua obra, o profeta não gostou do que ouviu; ele ficou perplexo.
É sempre assim, meu povo! [A seguir: Uma teologia da oração]
Iguaizinhos a Habacuque, todos nós temos a tendência de prescrever a Deus as repostas que desejamos para as nossas orações. A Bíblia nos ensina, entretanto, que algumas vezes Deus responderá às nossas orações de um modo que as coisas piorarão (aos nossos olhos), antes que possam melhorar. MAS NÃO SE ESQUEÇA de que “se vocês, que são maus, sabem dar bons presentes a seus filhos, quanto mais seu Pai, que está no céu, dará bons presentes aos que lhe pedirem!” (Mt 7.9). Continue, portanto, pedindo, buscando e batendo, continue orando e clamando a Deus (Mt 7.7-8). Deus jamais dará pedras e cobras aos seus filhos; Deus jamais fará seus filhos tropeçarem ou pecarem. Apenas que tudo o que Deus nos dá em resposta às nossas orações tem como alvo aquilo que ele mesmo disse na sequência do texto sobre oração que acabamos de ler:
Mateus 7.13-14 13“Entrem pela porta estreita. A estrada que conduz à destruição é ampla, e larga é sua porta, e muitos escolhem esse caminho. 14Mas a porta para a vida é estreita, e o caminho é difícil, e são poucos os que o encontram.”
Tudo o que Deus nos dá em resposta às nossas orações é para nos afastar do caminho espaçoso e da porta larga que nos levam para a destruição. De fato, o SENHOR fará de tudo para nos fazer entrar pela porta estreita e trilhar o caminho apertado ou difícil que desemboca na vida eterna. O SENHOR, resumindo, fará de tudo para completar a boa obra de salvação que ele começou em nós no ato de nossa conversão. Isso se chama santificação. Preste atenção em como as orações de Paulo seguiam essa lógica: a da obra de Deus em nós, fazendo-nos santos para o SENHOR:
Filipenses 1.3-6 3Todas as vezes que penso em vocês, dou graças a meu Deus. 4Sempre que oro, peço por todos vocês com alegria, 5pois são meus cooperadores na propagação das boas-novas, desde o primeiro dia até agora. 6Tenho certeza de que aquele que começou a boa obra em vocês irá completá-la até o dia em que Cristo Jesus voltar.
De fato, Paulo sabia bem dessas coisas – sabia que Deus faz de tudo para completar a obra de santificação em nossa vida — e por isso ele escreveu aos coríntios, narrando seu sofrimento e o propósito para o qual tudo aquilo serviu:
2Coríntios 1.9 De fato, esperávamos morrer. Mas, como resultado, deixamos de confiar em nós mesmos e aprendemos a confiar somente em Deus, que ressuscita os mortos.
Será que Paulo não orou durante aquelas tribulações? Claro que orou! Deus não o respondeu? Claro que o respondeu! Só que não respondeu do jeito convencional. Deus não livrou Paulo da tribulação, mas o sustentou em meio à tribulação? Por quê? Para que Paulo deixasse de confiar em si mesmo e aprendesse a confiar somente em Deus. — Os arrogantes e os perversos são quem confiam em si mesmos, os justos vivem pela sua fé em Deus que ressuscita os mortos (cf. Hc 2.4 e 2Co 1.9). — Desse modo, Paulo orou e Deus não deu pedra nem cobra a Paulo. Deus o preservou crente e o ensinou a viver pela fé na graça de Deus que é capaz até de ressuscitar os mortos. Paulo orou e Deus agiu para arrancar as escamas da arrogância e da perversão do apóstolo.
Outra vez Paulo orou a Deus. E Deus o respondeu. De novo, só não o respondeu do jeito convencional, mas Deus respondeu sim a oração de Paulo:
2Coríntios 12.8-10 8Em três ocasiões, supliquei ao Senhor que o removesse, 9mas ele disse: “Minha graça é tudo de que você precisa. Meu poder opera melhor na fraqueza”. Portanto, agora fico feliz de me orgulhar de minhas fraquezas, para que o poder de Deus opere por meu intermédio. 10Por isso aceito com prazer fraquezas e insultos, privações, perseguições e aflições que sofro por Cristo. Pois, quando sou fraco, então é que sou forte.
Deus respondeu a oração de Paulo. Não o livrou do sofrimento, das fraquezas, dos insultos, das provações, perseguições e aflições… não o livrou de nada disso, mas Deus o respondeu. E com todo aquele sofrimento Paulo estava sendo ensinado a confiar apenas na graça e no poder de Deus; Paulo estava aprendendo a viver para Deus. Afinal, eis no que consiste a salvação: 2Coríntios 5.15 — “Ele morreu por todos, para que os que recebem sua nova vida não vivam mais para si mesmos, mas para Cristo, que morreu e ressuscitou por eles.”
Portanto, a exemplo de Habacuque e da vida de oração de Paulo, para responder nossas orações, Deus poderá muito bem tomar uma iniciativa inesperada e indesejável. Seu propósito, porém, sempre será bom, perfeito e agradável: a porta estreita, o caminho apertado e, por fim a vida eterna em Cristo Jesus. Tenha fé.
DOMINGO QUE VEM, na parte 3 desta mensagem, eu quero falar do instrumento de Deus que atribula a alma. Depois, ainda na parte 3, sobre a alma chocada e sendo ensinada. Tudo isso para se aprender a arte de ter fé… quando a alma está atribulada.
S.D.G. L.B.Peixoto
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