26.04.2020
Lucas 23.44-49
44Já era cerca de meio-dia, e a escuridão cobriu toda a terra até as três horas da tarde. 45A luz do sol desapareceu, e a cortina do santuário do templo rasgou-se ao meio. 46Então Jesus clamou em alta voz: “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito!”. E, com essas palavras, deu o último suspiro. 47Quando o oficial romano que supervisionava a execução viu o que havia acontecido, adorou a Deus e disse: “Sem dúvida este homem era inocente”. 48E, quando toda a multidão que tinha ido assistir à crucificação viu isso, voltou para casa entristecida e batendo no peito. 49Mas os amigos de Jesus, incluindo as mulheres que o seguiram desde a Galileia, olhavam de longe.
O TESTAMENTO DE JESUS
Jesus nos deixou um rico e belo testamento — rico pelo que nos legou: salvação eterna na gloriosa comunhão com o Pai (1Pe 3.18), e belo por causa da forma (comprado com o sangue do Filho, 1Pe 1.18-19) e do conteúdo (revelação do coração do Pai, 1Pe 1.20-21). O testamento é breve, contém apenas sete frases com as últimas palavras de Cristo antes de morrer na cruz, e pode ser compilado através dos registros dos quatro Evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João. Note como elas revelam a beleza do caráter de Deus, além dos benefícios da salvação possível ao homem:
As palavras de Jesus na cruz foram acompanhadas de quatro acontecimentos sobrenaturais, os quais autenticavam as verdades reveladas pelo testamento de Jesus. Lucas relata apenas dois desses acontecimentos: trevas cobriram a terra e o véu do santuário se rasgou pelo meio, de alto a baixo. Mateus detalha-os todos:
Lucas ainda relata a reação de três grupos distintos de pessoas:
Diante das palavras tão persuasivas de Jesus, autenticadas por acontecimentos sobrenaturais tão poderosos, as reações desses três grupos de pessoas descritas por Lucas são tão distintas quanto interessantes. Faremos bem em observá-las:
A que grupo você pertence? A que grupo você pretende se juntar? Vejamos o texto, em maiores detalhes, depois tome a sua decisão.
1 As palavras da cruz produziram convicções profundas (v. 47)
Quando o oficial romano que supervisionava a execução viu o que havia acontecido, adorou a Deus e disse: “Sem dúvida este homem era inocente”.
Tendo ouvido atentamente cada palavra de Jesus: “Pai perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem”, “Eu lhe afirmo que hoje mesmo estarás comigo no paraíso”, “Maria, vá morar com João, de agora em diante ele será seu filho; João, receba Maria, de agora em diante você cuidará dela como se fosse sua mãe”, “Deus meu, estou só, por que me abandonaste”, “Tenho sede”, “Está consumado”, “Pai, receba o meu espírito em suas mãos” — e testemunhado com temor e tremor a todos os acontecimentos do calvário —, o centurião não achou outra alternativa possível, a não ser glorificar a Deus e confessar a divindade de Jesus Cristo (Lc 23.47):
Quando o oficial romano que supervisionava a execução viu o que havia acontecido, adorou a Deus e disse: “Sem dúvida este homem era inocente”.
Mateus, escrevendo aos judeus, usa um termo do Antigo Testamento para descrever a mesma cena (Mt 27.54):
O oficial romano e os outros soldados que vigiavam Jesus ficaram aterrorizados com o terremoto e com tudo que havia acontecido, e disseram: “Este homem era verdadeiramente o Filho de Deus!”.
As palavras da cruz produziram no centurião: louvores e ações de graça; temor e contrição; confissão da divindade e santidade de Cristo. É isso o que as palavras da cruz devem produzir em nosso coração:
As palavras da cruz devem produzir convicções profundas.
2 As palavras da cruz provocaram emoções passageiras (v. 48)
E, quando toda a multidão que tinha ido assistir à crucificação [literalmente: tinha se reunido para esse espetáculo] viu isso, voltou para casa entristecida e batendo no peito.
As multidões estavam ao redor da cruz reunidas para um espetáculo — do grego: theōria. Elas, de fato, tiveram um grande espetáculo: Jesus proferiu palavras profundas e tocantes, portou-se de maneira encantadora e comovente face àquele bruto sofrimento, a terra tremeu, o dia tornou-se noite, mortos reviveram e o véu do templo se rasgou de alto a baixo. Espetáculo completo!
Quando tudo terminou, as multidões saíram lamentando, com comoção e tudo mais: “voltou para casa entristecida e batendo no peito” (v 48). Só que com enorme diferença da comoção do centurião. Aquelas multidões voltaram para Jerusalém para continuarem o ritual da Páscoa. Darrell Bock, famoso estudioso do Novo Testamento e professor-pesquisador no Seminário Teológico de Dallas, observou que Lucas não diz que as multidões retornaram para casa. Diz apenas que elas retornaram, dando a idéia de que retornaram para o que estavam fazendo antes.
É certo que eles lamentaram. É-nos dito também que elas se comoveram. Lemos, inclusive, que eles até choraram e bateram no peito. Só que voltaram para a mesma vida de antes. Como tudo aquilo era possível? Cenas fortes e palavras comoventes são capazes de mover qualquer coração, sem, contudo, transformá-lo. Quanta gente assim em igrejas!
Muitos, ainda hoje, ouvem as palavras da cruz e ficam sensibilizados apenas por um tempo, mas logo depois voltam para a vida de antes. A verdade da palavra de Deus, o culto na reunião da igreja, o testemunho e a mensagem que ouvem, não passam de números de um mesmo espetáculo comovente, quando muito, verdades sensibilizantes que não penetram ou transformam o coração.
Se você não aplicar à sua vida o conteúdo das palavras da cruz — entendendo e meditando e buscando praticar, você não conseguirá ir além de mera emoção passageira. Continuará como antes. Voltará para a vida de antes. Não pode ser assim. Cabe bem, neste ponto, as palavras de Jesus, explicando a parábola do semeador, Mateus 13.18-22:
18“Agora, ouçam a explicação da parábola sobre o lavrador que saiu para semear. 19As sementes que caíram à beira do caminho representam os que ouvem a mensagem sobre o reino e não a entendem. Então o maligno vem e arranca a semente que foi lançada em seu coração. 20As que caíram no solo rochoso representam aqueles que ouvem a mensagem e, sem demora, a recebem com alegria. 21Contudo, uma vez que não têm raízes profundas, não duram muito. Assim que enfrentam problemas ou são perseguidos por causa da mensagem, cedo desanimam. 22As que caíram entre os espinhos representam outros que ouvem a mensagem, mas logo ela é sufocada pelas preocupações desta vida e pela sedução da riqueza, de modo que não produzem fruto. 23E as que caíram em solo fértil representam os que ouvem e entendem a mensagem e produzem uma colheita trinta, sessenta e até cem vezes maior que a quantidade semeada”.
As palavras da cruz, qualquer das palavras de Jesus, não podem provocar meras emoções passageiras.
3 As palavras da cruz promoveram reações piedosas (v. 49)
As mulheres que tinham seguido Jesus eram aquelas que o sustentaram com seus bens durante todo o seu ministério terreno e, talvez, somadas de algumas outras mulheres. Elas estavam sofrendo muito com tudo o que tinham visto Jesus sofrer, e apesar de tudo, agindo como ele agia e dizendo o que ele dizia. O que elas fizeram? Lucas 23.49:
Mas os amigos de Jesus, incluindo as mulheres que o seguiram desde a Galileia, olhavam de longe.
Elas não tinham para onde ir, somente Jesus tinha palavras de vida eterna! Colocaram-se a postos, atentas, mesmo que “de longe”. Diante da primeira oportunidade, puseram-se a servir, como sempre fizeram (elas e os amigos de Jesus). Lucas 23.50-24.1:
50Havia um homem bom e justo chamado José, membro do conselho dos líderes do povo, 51mas que não tinha concordado com a decisão e os atos dos outros líderes religiosos. Era da cidade de Arimateia, na Judeia, e esperava a vinda do reino de Deus. 52 José foi a Pilatos e pediu o corpo de Jesus. 53Desceu o corpo da cruz, enrolou-o num lençol de linho e o colocou num túmulo novo, escavado na rocha. 54Isso aconteceu na sexta-feira à tarde, no dia da preparação, quando o sábado estava para começar. 55As mulheres da Galileia seguiram José e viram o túmulo onde o corpo de Jesus foi colocado. 56Depois, foram para casa e prepararam especiarias e perfumes para ungir o corpo. No sábado, descansaram, conforme a lei exigia. 24.1No primeiro dia da semana, bem cedo, as mulheres foram ao túmulo, levando as especiarias que haviam preparado,
As palavras de Cristo e da cruz devem promover no crente reações piedosas: desejo de não perdê-lo de vistas (23.49, 55); disposição para servi-lo diante da primeira oportunidade que encontrarem — com vida (23.55; 24.1), com recursos (23.56), com dons e talentos (23.56; 24.1).
RESPOSTA ÀS ÚLTIMAS PALAVRAS DE JESUS
Com as palavras de Jesus na cruz ressoando em nossos ouvidos — palavra de perdão, palavra de salvação, palavra de compaixão, palavra de submissão, palavra de aflição, palavra de consumação, palavra de consolação — eu te pergunto:
A que grupo você pertence?
Espero que ao de convicções profundas: convicção do pecado do seu coração, convicção do perdão que há em Cristo.
Fuja do grupo daqueles que vivem de emoções passageiras: sensibilizam-se com a mensagem, choram com as histórias, gostam do “espetáculo”, da “teoria” dos evangélicos, mas não põem nada em prática na vida e voltam sempre a viver como antes.
Povo de Deus, oro para que todos, uma vez salvos que somos — pela graça e por meio da fé em Cristo —, vivamos como as mulheres (e os amigos de Jesus): com reações piedosas — com o desejo de não perder Jesus de vistas, com a disposição de servi-lo sempre e em qualquer circunstância (na igreja, no trabalho, na escola, na vida do outro).
Tendo ouvido as últimas palavras de Jesus lá da cruz, como você reagirá?
S.D.G. L.B.Peixoto
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