14.10.2018
RIOS DE ÁGUA VIVA
João 7.25-39
25Alguns do povo, que moravam em Jerusalém, começaram a perguntar uns aos outros: “Não é este o homem a quem procuram matar? 26Aqui está ele, porém, falando em público, e não lhe dizem coisa alguma. Será que nossos líderes acreditam que ele é o Cristo? 27Mas como pode ser este homem? Sabemos de onde ele vem. Quando o Cristo vier, ninguém saberá de onde ele é”. 28Enquanto ensinava no templo, Jesus disse em alta voz: “Sim, vocês me conhecem e sabem de onde eu venho. Mas não estou aqui por minha própria conta. Aquele que me enviou é verdadeiro, e vocês não o conhecem. 29Mas eu o conheço, porque venho dele, e ele me enviou a vocês”. 30Então tentaram prendê-lo, mas ninguém pôs as mãos nele, porque ainda não havia chegado sua hora. 31Muitos entre as multidões no templo creram nele e diziam: “Afinal, alguém espera que o Cristo faça mais sinais do que este homem tem feito?”. 32Quando os fariseus ouviram que as multidões sussurravam essas coisas, eles e os principais sacerdotes enviaram guardas do templo para prendê-lo. 33Jesus, porém, lhes disse: “Estarei com vocês só um pouco mais. Então voltarei para aquele que me enviou. 34Vocês procurarão por mim, mas não me encontrarão. E não poderão ir para onde eu vou”. 35Os judeus se perguntavam: “Para onde ele pretende ir? Será que planeja partir e ir aos judeus em outras terras? Talvez até ensine aos gregos! 36O que ele quer dizer quando fala: ‘Vocês procurarão por mim, mas não me encontrarão’ e ‘Não poderão ir para onde eu vou’?”. 37No último dia, o mais importante da festa, Jesus se levantou e disse em alta voz: “Quem tem sede, venha a mim e beba! 38Pois as Escrituras declaram: ‘Rios de água viva brotarão do interior de quem crer em mim’”. 39Quando ele falou de “água viva”, estava se referindo ao Espírito que seria dado mais tarde a todos que nele cressem. Naquela ocasião o Espírito ainda não tinha sido dado, pois Jesus ainda não havia sido glorificado.
O desespero de viver sem água
O desespero de viver sem água no nordeste ficará eternizado em Vidas Secas, obra clássica de Graciliano Ramos publicada em 1938 (editora Record). O livro é inspirada em muitas histórias que Graciliano acompanhou na infância sobre a vida de retirantes. No enredo, o pai de família Fabiano e a cadela Baleia são considerados os personagens mais famosos da literatura brasileira. Leio, a seguir, um trecho inicial do capítulo 1, Mudança. Quero que tenhamos um vislumbre do desespero de viver sem água:
NA PLANÍCIE avermelhada os juazeiros [árvore típica do semiárido] alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas [cerca de 14,5 km]. Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da catinga rala [espaço geográfico, bioma, que ocupa cerca de 10% do território brasileiro].
Arrastaram-se para lá, devagar, Sinhá Vitória com o filho mais novo escanchado no quarto e o baú de folha na cabeça, Fabiano sombrio, cambaio [pernas tortas, fracas], o aió [capanga feita de fibras trançadas] a tiracolo, a cuia pendurada numa correia presa ao cinturão, a espingarda de pederneira [um tipo de cartucheira] no ombro. O menino mais velho e a cachorra Baleia iam atrás. Os juazeiros aproximaram-se, recuaram, sumiram-se. O menino mais velho pôs-se a chorar, sentou-se no chão.
— Anda, condenado do diabo, gritou-lhe o pai. Não obtendo resultado, fustigou-o com a bainha da faca de ponta. Mas o pequeno esperneou acuado, depois sossegou, deitou-se, fechou os olhos. Fabiano ainda lhe deu algumas pancadas e esperou que ele se levantasse. Como isto não acontecesse, espiou os quatro cantos, zangado, praguejando baixo.
A catinga estendia-se, de um vermelho indeciso salpicado de manchas brancas que eram ossadas. O vôo negro dos urubus fazia círculos altos em redor de bichos moribundos.
— Anda, excomungado.
O pirralho não se mexeu, e Fabiano desejou matá-lo. Tinha o coração grosso, queria responsabilizar alguém pela sua desgraça. A seca aparecia-lhe como um fato necessário — e a obstinação da criança irritava-o. Certamente esse obstáculo miúdo não era culpado, mas dificultava a marcha, e o vaqueiro precisava chegar, não sabia onde.
Tinham deixado os caminhos, cheios de espinho e seixos [fragmentos de rochas], fazia horas que pisavam a margem do rio, a lama seca e rachada que escaldava os pés.
Pelo espírito atribulado do sertanejo passou a idéia de abandonar o filho naquele descampado. Pensou nos urubus, nas ossadas, coçou a barba ruiva e suja, irresoluto, examinou os arredores. Sinhá Vitória estirou o beiço indicando vagamente uma direção e afirmou com alguns sons guturais que estavam perto. Fabiano meteu a faca na bainha, guardou-a no cinturão, acocorou-se, pegou no pulso do menino, que se encolhia, os joelhos encostados no estômago, frio como um defunto. Aí a cólera desapareceu e Fabiano teve pena. Impossível abandonar o anjinho aos bichos do mato. Entregou a espingarda a Sinhá Vitória, pôs o filho no cangote, levantou-se, agarrou os bracinhos que lhe caíam sobre o peito, moles, finos como cambitos. Sinhá Vitória aprovou esse arranjo, lançou de novo a interjeição gutural, designou os juazeiros invisíveis.
E a viagem prosseguiu, mais lenta, mais arrastada, num silêncio grande.
Que desespero! Viver sem água é um desespero.
Beba da água da vida
Jesus sabe o quanto é desesperador viver sem água. Afinal, ele mesmo sentiu sede, sede desesperadora, para que nós pudéssemos matar nossa sede, a pior de todas as sedes, a sede da alma, sede de Deus (Sl 42.2). Ouça os últimos brados do Cordeiro de Deus, morrendo na cruz (Jo 19.28-30):
28Jesus sabia que sua missão havia terminado e, para cumprir as Escrituras, disse: “Estou com sede”. 29Havia ali uma vasilha com vinagre, de modo que ensoparam uma esponja no vinagre, a colocaram na ponta de um caniço de hissopo e a ergueram até os lábios de Jesus. 30Depois de prová-la, Jesus disse: “Está consumado”. Então, inclinou a cabeça e entregou o espírito.
Nas terras relativamente secas de Israel, a sede seria (e é) uma figura de linguagem mais do que apropriada para descrever a necessidade que todos temos de salvação e satisfação em Deus. Daí o convite público, em alto e bom som, feito pelo Senhor. Ouça, mais uma vez, o relato de João (7.37-39):
37No último dia, o mais importante da festa [dos tabernáculos; celebração da colheita], Jesus se levantou e disse em alta voz: “Quem tem sede, venha a mim e beba! 38Pois as Escrituras declaram: ‘Rios de água viva brotarão do interior de quem crer em mim’”. 39Quando ele falou de “água viva”, estava se referindo ao Espírito que seria dado mais tarde a todos que nele cressem. Naquela ocasião o Espírito ainda não tinha sido dado, pois Jesus ainda não havia sido glorificado.
Essa não era a primeira vez que Jesus, publicamente neste Evangelho, convidava pecadores a crer em seu nome (Jo 3.12-18; 5.24; 6.29, 35-36, 40 e 47); também não era a primeira vez que ele pintava a salvação como sendo beber de água viva. Ouça o que ele disse à mulher samaritana, três capítulos atrás (Jo 4.10-14):
10Jesus respondeu: “Se ao menos você soubesse que presente Deus tem para você e com quem está falando, você me pediria e eu lhe daria água viva”. 11“Mas você não tem corda nem balde, e o poço é muito fundo”, disse ela. “De onde tiraria essa água viva? […] 13Jesus respondeu: “Quem bebe desta água logo terá sede outra vez, 14mas quem bebe da água que eu dou nunca mais terá sede. Ela se torna uma fonte que brota dentro dele e lhe dá a vida eterna”.
Depois, à multidão faminta e sedenta que o seguia por causa de pão, ele disse (Jo 6.35):
Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim nunca mais terá fome. Quem crê em mim nunca mais terá sede.
O Senhor Jesus Cristo, o Filho eterno de Deus (Jo 1.1), quando se fez carne e habitou entre nós (Jo 1.14), vivendo sem pecados (Hb 4.15), cumprindo a lei de Deus em nosso lugar (Mt 5.17), sendo obediente ao Pai até o final da vida na terra e, por fim, morrendo na cruz (Fl 2.8), o justo no lugar do injusto para salvar o pecador da ira de Deus (Rm 5.6-9) e, no terceiro dia após seu sepultamento, ressuscitando vitorioso sobre a morte (1Co 15.3-4), esse Cristo proporcionou-nos a única condição para a nossa salvação(ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, Jo 1.29) e a nossa plena satisfação em Deus (ele é o pão da vida e a água vivado céu, Jo 4.10; 6.35).
O nosso texto trata de como receber e beber da água da vida, mas, hoje, vejamos alguns obstáculos que impedem as pessoas de receberem a transposição da graça de Deusem seu coração, trazendo direto do trono de Deus para dentro de quem crê em Jesus (ou seja: fazendo brotar do interior do crente) “Rios de água viva” —i.e.,o fluir do Espírito Santo de Deus que faz jorrar vida, gozo e satisfação plenas em Deus (Jo 7.39), através da revelação do evangelho da glória de Deus na face de Jesus Cristo (Jo 16.13-14; 2Co 4.4, 6).
Portanto, quais obstáculos, geralmente, interpõem-se à transposição da graça de Deus, trazendo Rios de água viva para o coração das pessoas? Veremos dois: cegueirae controle.
1. A obstinada cegueira da incredulidade (Jo 7.25-27)
A cegueira obstinada da incredulidade fazia os moradores de Jerusalém pressionarem suas autoridades, bradando contra Jesus: “Calem logo esse herege! Prendam-no! Matem-no! Não aguentamos mais essa perturbação! Será que nossos líderes agora creem nele? Não pode ser! Afinal, faltam a esse homem todas as credenciais divinas necessárias.”É o brado da intolerância, da cegueira espiritual, do coração que não consegue conviver com a verdade de Deus. Ouça o relato de João (vv. 25-27):
25Alguns do povo, que moravam em Jerusalém, começaram a perguntar uns aos outros: “Não é este o homem a quem procuram matar? 26Aqui está ele, porém, falando em público, e não lhe dizem coisa alguma. Será que nossos líderes acreditam que ele é o Cristo? 27Mas como pode ser este homem? Sabemos de onde ele vem. Quando o Cristo vier, ninguém saberá de onde ele é”.
São duas informações mentirosas (v. 27), duas fake news.
Primeiro, como bem argumentou J. C. Ryle, quando eles dizem “Sabemos de onde ele vem” (Jo 7.27), sem dúvida queriam dizer que Jesus nasceu em Nazaré e, consequentemente, era galileu. Essa naturalidade o desqualificaria como Messias. A verdade, porém, é que Jesus nasceu em Belém (Mt 2.1-6), pertencia à tribo de Judá, e Maria e José faziam parte da linhagem de Davi (Mt 1.1-17). Jesus nasceu em Belém de Judá, mas foi criado em Nazaré (Mt 2.23) e, quando iniciou seu ministério, aos 30 anos, passou a morar em Cafarnaum (Mt 4.23), ambos na Galileia; e tudo para que se cumprisse profecias do Antigo Testamento. Seria, portanto, espantoso imaginar que os judeus não teriam descoberto essas coisas ou delas não soubessem. Inda mais eles, tão preocupados com genealogias (vide introdução de Mateus, capítulo 1) e histórico de famílias judaicas. “Sabemos de onde ele vem”, no mínimo, era meia verdade ou verdade distorcida, era fake newspara não terem que lidar frente a frente com a verdade.
Segundo, os moradores de Jerusalém também estavam errados ao afirmarem: “Quando o Cristo vier, ninguém saberá de onde ele é” (Jo 7.27). Como assim? Claro que saberiam! Havia uma profecia bem conhecida entre os judeus, segundo a qual o Cristo viria da cidade de Belém (Miquéias 5.2). Tanto sabiam dessa profecia que alguns homens daquela mesma multidão em Jerusalem afirmaram que o Messias viria de Belém (Jo 7.42). Ademais, quando Herodes ficou perturbado com a história do nascimento do menino, dito rei dos Judeus, consultando os seus sábios conselheiros, “os principais sacerdotes e os mestres da lei”, foi informado por eles que o Cristo nasceria (Mt 2.5-6):
5[…] “Em Belém da Judeia, pois assim escreveu o profeta: 6‘E você, Belém, na terra de Judá, não é a menor entre as principais cidades de Judá, pois de você virá um governante que será o pastor do meu povo, Israel’”.
Seria absurdo pensar que haviam se esquecido dessa profecia! 1Sabiam, sim, de onde viria o Messias: de Belém. 2Sabiam, sim, que Jesus nasceu em “Belém, na terra de Judá”, depois foi criado em Nazaré e, então, exerceu seu ministério com residência fixa ou à partir de Cafarnaum. Todos sabiam disso. Se não todos (por mera desinformação ou desinteresse sobre a pessoa de Jesus, ou por causa da confusão e da distorção das fake news), no mínimos os líderes e mais bem informados judeus sabiam, sabiam tanto da profecia de Miquéias como da verdade do nascimento de Jesus Cristo.
O problema é que, tanto ontem como hoje, as pessoas, pela dureza do coração, preferem viver de fatos distorcidos, desinformadas da verdade, de mentiras criadas, arranjadas ou organizadas ao bel-prazer. Geralmente, as pessoas não querem ter suas verdades e seus absolutos confrontados pela verdade de Deus na pessoa de Jesus Cristo. É a obstinada cegueira da incredulidade. Por isso que Paulo adverte os Colossenses, escrevendo (Cl 2.8):
Não permitam que outros os escravizem com filosofias vazias e invenções enganosas provenientes do raciocínio humano, com base nos princípios espirituais deste mundo, e não em Cristo.
E à Timóteo, ele exortou (2Tm 4.3-5):
3Pois virá o tempo em que as pessoas já não escutarão o ensino verdadeiro. Seguirão os próprios desejos e buscarão mestres que lhes digam apenas aquilo que agrada seus ouvidos. 4Rejeitarão a verdade e correrão atrás de mitos. 5Você, porém, deve manter a sobriedade em todas as situações. Não tenha medo de sofrer. Trabalhe para anunciar as boas-novas e realize todo o ministério que lhe foi confiado.
Por causa da obstinada cegueira da incredulidade é que precisamos da intervenção tanto graciosa como milagrosa do Espírito Santo, regenerandoo coração do pecador e iluminandosua mente para a verdade. Adiante, Jesus disse assim (Jo 16.8-14):
8Quando ele vier [o Consolador, o Espírito Santo], convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo. 9Do pecado, porque o mundo se recusou a crer em mim; 10da justiça, porque eu voltarei para o Pai e não me verão mais; 11do juízo, porque o governante deste mundo já foi condenado. 12“Há tanta coisa que ainda quero lhes dizer, mas vocês não podem suportar agora. 13Quando vier o Espírito da verdade, ele os conduzirá a toda a verdade. Não falará por si mesmo, mas lhes dirá o que ouviu e lhes anunciará o que ainda está para acontecer. 14Ele me glorificará porque lhes contará tudo que receber de mim.
A obstinada cegueira da incredulidade requer a regeneração graciosae a iluminação milagrosado Espírito Santo no coração do pecador orgulhoso.
2. A incansável tentativa de controle (Jo 7.28-36)
Não conseguindo calar a voz da verdade, incrédulos cegos e obstinados agem na tentativa de escrever a história ao seu próprio modo e gosto. Veja o que esses moradores de Jerusalém tentaram fazer com Jesus; note, ainda, o que eles ouviram do Senhor:
28Enquanto ensinava no templo, Jesus disse em alta voz: “Sim, vocês me conhecem e sabem de onde eu venho. Mas não estou aqui por minha própria conta. Aquele que me enviou é verdadeiro, e vocês não o conhecem. 29Mas eu o conheço, porque venho dele, e ele me enviou a vocês”. 30Então tentaram prendê-lo, mas ninguém pôs as mãos nele, porque ainda não havia chegado sua hora.
Jesus disse ao povo mais religioso do mundo de sua época (sem exagero!) que eles distorciam fatos para prevalecer seus desejos e verdades, quando, na verdade, eles não conheciam Deus (vv. 28). Indignados por terem sido desmascarados pela verdade e ouvido que ele, o Senhor Jesus, não só conhecia Deus, como também fora por Deus enviado para revelá-lo aos homens (v. 29), tentaram prendê-lo. Mas ouçam a nota de rodapé de João, mais uma vez (v. 30):
30Então tentaram prendê-lo, mas ninguém pôs as mãos nele, porque ainda não havia chegado sua hora.
Queriam escrever a história do seu próprio jeito, intentavam parar o ministério de Jesus antes da hora estabelecida por Deus, tinham a intenção declarada de matar o Senhor da glória. E o que aconteceu? J. C. Ryle escreve assim: “Todavia, por causa de uma invisível restrição, vinda do alto, não tinham poder para isso.”Adiante, aqui mesmo em João, houve um diálogo entre Pilatos e Jesus que merece nossa atenção neste ponto:
Jo 19.9-12 |9Levou Jesus de volta para dentro do palácio e lhe perguntou: “De onde você vem?”. Jesus, porém, não respondeu. 10“Por que você se nega a falar comigo?”, perguntou Pilatos. “Não sabe que tenho autoridade para soltá-lo ou crucificá-lo?” 11Jesus disse: “Você não teria autoridade alguma sobre mim se esta não lhe fosse dada de cima. Portanto, aquele que me entregou a você tem um pecado maior”. 12Então Pilatos tentou libertá-lo, […]
De volta ao nosso texto (Jo 7.30): “mas ninguém pôs as mãos nele, porque ainda não havia chegado sua hora”. J. C. Ryle faz um belo comentário sobre essas palavras de João. Merecem o nosso destaque:
São preciosas as verdades contidas nesse versículo e merecem uma análise cuidadosa. Mostram nitidamente que tudo quanto Cristo sofreu foi por sua própria e livre vontade. Foi crucificado não porque era incapaz de evitá-lo [não foi mártir; escolheu ser Salvador]. Ele morreu não porque a sua morte era inevitável. Judeus, gentios, fariseus, saduceus, Caifás, Anás, Herodes e Pôncio Pilatos — ninguém poderia ferir o Senhor Jesus, a menos que do alto lhes fosse concedido poder para isso. Tudo o que eles fizeram estava sob o controle e a permissão do Pai. A crucificação fazia parte dos eternos conselhos da Trindade. A paixão de nosso Senhor não poderia ter o seu início antes do momento designado por Deus. É um grande mistério, mas é verdadeiro.
Ah! se entendêssemos essa verdade; se de fato crêssemos que os planos e decretos de Deus são eternos e homem nenhum é capaz de frustrá-los, modificá-los ou anulá-los; se crêssemos, de fato, que o amor de Deus Pai e a graça de Deus Filho levaram Jesus à cruz; que até a maldade dos homens, na verdade, a pior de todas elas (ou seja: a paixão e a crucificação horrendas de Cristo), Deus mesmo transformou no maior e melhor de todos os bens para nós, os seus filhos; se realmente acreditássemos que habitamos em um mundo que não está desgovernado, mas onde Deus mesmo governa sobre os acontecimentos, as épocas e o coração dos líderes governantes, onde nada acontece sem que ele queira, permita ou decrete; enfim, como essas verdades, se de fato cridas e sentidas no coração, nos trariam paz, descanso e condição de amar, amar sem medo de amar!
Povo de Deus, até os fios de cabelo das pessoas estão todos contados. Tristeza, enfermidade, pobreza ou perseguição nunca poderão atingir-nos, a menos que Deus ache conveniente. Creia nisto. Confie em Deus. Entregue-se a Cristo. Viver na incansável tentativa de obter e manter controle sobre tudo e sobre todos, inclusive sobre os planos de Deus (achando que você controla ou dosa o tempo de Deus), assim como viviam os moradores de Jerusalém, irá secar sua alma no desespero, na ansiedade, no medo sem cura. Quando e se você acordar, poderá ser tarde demais. Ouça (Jo 7.31-36):
31Muitos entre as multidões no templo creram nele e diziam: “Afinal, alguém espera que o Cristo faça mais sinais do que este homem tem feito?”. 32Quando os fariseus ouviram que as multidões sussurravam essas coisas, eles e os principais sacerdotes enviaram guardas do templo para prendê-lo. 33Jesus, porém, lhes disse: “Estarei com vocês só um pouco mais. Então voltarei para aquele que me enviou. 34Vocês procurarão por mim, mas não me encontrarão. E não poderão ir para onde eu vou”. 35Os judeus se perguntavam: “Para onde ele pretende ir? Será que planeja partir e ir aos judeus em outras terras? Talvez até ensine aos gregos! 36O que ele quer dizer quando fala: ‘Vocês procurarão por mim, mas não me encontrarão’ e ‘Não poderão ir para onde eu vou’?”.
J. C. Ryle, sobre esse texto, escreveu assim:
Com muita frequência, o homem esquece que a verdade pode, realmente, ser descoberta muito tarde. Pode haver convicção de pecados, reconhecimento de sua ignorância, anseio por paz, inquietações sobre o céu, temores quanto ao inferno, mas tudo isso quando já for tarde demais.
Gente, o ensino das Escrituras a esse respeito é claro e objetivo. O Livro de Provérbios, por exemplo, afirma o que segue (1.24-31):
24“Muitas vezes eu os chamei [a sabedoria, Cristo], mas não quiseram vir; estendi-lhes a mão, mas não me deram atenção. 25Desprezaram meu conselho e rejeitaram minha repreensão. 26Por isso, rirei quando estiverem em dificuldades; zombarei quando estiverem em apuros, 27quando a calamidade lhes sobrevier como a tempestade, e a desgraça os envolver como o furacão, e a angústia e a aflição os dominarem. 28“Quando clamarem por socorro, não responderei; ainda que me procurem, não me encontrarão. 29Porque detestaram o conhecimento e escolheram não temer o SENHOR. 30Rejeitaram meu conselho e ignoraram minha repreensão. 31Portanto, comerão os frutos amargos de seu estilo de vida e engasgarão em suas próprias intrigas.
Não é mesmo pavoroso pensar na possibilidade de gritar pelo socorro de Deus e ser tarde demais? Duro, mas é a verdade. Outro texto. A parábola das dez virgens, onde lemos sobre a tragédia que sobreveio às cinco insensatas. Ouça (Mt 25.10-13):
10“Quando estavam fora comprando óleo, o noivo chegou. Então as cinco que estavam preparadas entraram com ele no banquete de casamento, e a porta foi trancada. 11Mais tarde, quando as outras cinco voltaram, ficaram do lado de fora, chamando: ‘Senhor! Senhor! Abra-nos a porta!’. 12“Mas ele respondeu: ‘A verdade é que não as conheço’. 13“Portanto, vigiem, pois não sabem o dia nem a hora da volta.”
Por mais horrível que pareça, é possível chegar ao ponto de perder a própria alma, após se rejeitar continuamente a luz e as exortações do evangelho. Isso é terrível, mas verdadeiro.
Rios de água viva
Não deixe, portanto, que a obstinada cegueira da incredulidadee a incansável tentativa de controlecontinuem escravizando você. Aplique essas lições à sua vida para que você não continue pecando, segundo o exemplo dos moradores incrédulos e controladores de Jerusalém. Tão religiosos, tão zelosos, tão entusiasmado com Deus, mas sem entendimento, sem salvação, sem a vida de Deus na alma deles.
Tampouco deixe para buscar o Senhor Jesus, como seu Salvador, apenas quando for muito tarde. As comportas da misericórdia ainda se encontram abertas; Rios de água viva ainda poderão jorrar do seu interior. O trono da graça continua aguardando por mim e por você. No dia que se chama hoje, procure se certificar de que você seja realmente salvo. É melhor nunca ter nascido do que ouvir o Filho de Deus um dia ter que te dizer: “Não poderás ir para onde eu vou” (Jo 7.36).
Ouça o convite de Jesus e creia. Beba da água da vida.
37[…] “Quem tem sede, venha a mim e beba! 38Pois as Escrituras declaram: ‘Rios de água viva brotarão do interior de quem crer em mim’”. 39Quando ele falou de “água viva”, estava se referindo ao Espírito […]
Semana que vem, Deus permitindo veremos a transposição dos Rios de água viva. Ou seja: como receber, como desfrutar e como manter jorrando os Rios de água viva do Espírito Santo dentre de nós?
Por ora, no entanto, peça a Deus que derrame sobre você o Espírito Santo de Deus; que o Espírito te abra os olhos para a verdade do evangelho da glória de Jesus; que o Espírito encante o seu coração com a glória da graça de Deus em Jesus; que o seu coração desfrute da alegria de existir ou de viver em Jesus Cristo.
Rios de água viva brotarão do coração de quem crer em Jesus. Arrependa-se e creia. Agora. Não deixa para depois. Clame pelos Rios de água viva. Já.
S.D.G. L.B.Peixoto
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