26.01.2025
[Nesta ocasião, examinaremos os capítulos 9 e 10 de Levítico. Para começarmos, convido vocês a lerem comigo o seguinte texto:]
Levítico 10.1-3 (NVT)
1Nadabe e Abiú, filhos de Arão, colocaram brasas em seus incensários e as salpicaram com incenso. Com isso, trouxeram fogo estranho diante do Senhor, diferente do que ele havia ordenado. 2Por isso, fogo saiu da presença do Senhor e os devorou, e eles morreram diante do Senhor.
3Então Moisés disse a Arão: “Foi isto que o Senhor declarou:
‘Mostrarei minha santidade
entre aqueles que se aproximarem de mim.
Mostrarei minha glória
diante de todo o povo’ ”.
E Arão ficou em silêncio.
Imagine alguém invadindo sua casa e, com desdém, destruindo ou desrespeitando os objetos que você mais preza. Não me refiro apenas a itens de valor financeiro — como peças de arte e joias —, mas àqueles carregados de significado: uma fotografia de família, uma carta de um ente querido, um presente de um momento especial ou, até mesmo, as cinzas do corpo de uma pessoa amada, cremado e guardado com carinho. Como você se sentiria? Provavelmente, indignação, tristeza e até raiva, pois esses objetos não são apenas “coisas”. Eles representam uma extensão de suas memórias e do que você ama. Quando algo tão precioso é tratado com tal descaso ou irreverência, a dor é pessoal, porque aquilo que consideramos sagrado foi desonrado.
O sacrilégio, no contexto espiritual, carrega um peso semelhante, mas em uma dimensão ainda mais profunda. Não é apenas uma ofensa a objetos ou rituais religiosos, mas um desrespeito direto a Deus e ao que ele consagrou como santo. É como se alguém adentrasse o espaço onde o Criador imprimiu sua marca e o tratasse com desdém, roubando-lhe a glória. Assim como sentimos dor ao ver algo precioso ser desprezado, o sacrilégio fere o coração de Deus, pois é uma afronta àquilo que ele santificou e declarou digno de reverência. Essa analogia nos ajuda a compreender a seriedade desse ato e a refletir sobre como tratamos em nossas vidas o que Deus declarou sagrado.
O sacrilégio é definido como o ato de profanar ou tratar com irreverência algo considerado sagrado, seja um objeto, lugar, rito ou prática relacionada a Deus e ao culto. O termo deriva do latim sacrilegium, que significa “roubo de coisas sagradas”. No âmbito religioso, representa uma violação da santidade de Deus ou de algo consagrado a ele, podendo se manifestar de diversas formas.
Entre essas manifestações de sacrilégio está o desrespeito intencional, como a depreciação, zombaria, deboche e até a destruição de símbolos sagrados, incluindo a Bíblia, a cruz, imagens, as ordenanças ou sacramentos e locais de culto. Outra forma ocorre no uso impróprio de objetos sagrados, quando itens destinados ao culto são empregados para finalidades banais ou irreverentes. Há ainda os ritos profanados, quando celebrações bíblicas são realizadas sem o devido zelo ou de maneira desrespeitosa. Por fim, a conduta inadequada de líderes ou fiéis, que desonram seus compromissos espirituais ou a dignidade exigida no serviço a Deus, também configura sacrilégio.
Na teologia cristã, o sacrilégio é reconhecido como um pecado gravíssimo, pois ofende diretamente a santidade de Deus e aquilo que ele próprio separou para fins sagrados. Essa verdade encontra eco no texto de Levítico 9–10, que traz uma mensagem profundamente relevante para a geração atual. Vivemos em tempos caracterizados pela irreverência e pelo desrespeito generalizado, nos quais, em nome de uma suposta liberdade de expressão, muitos marcham em passeatas ostentando, com orgulho, paixões e práticas que nada mais são do que pecados expostos sem qualquer pudor.
Embora o sacrilégio tenha marcado a história da humanidade, parece que nunca houve uma geração tão orgulhosa em exibir seu desprezo pelo sagrado. A mensagem de Levítico 9–10 apresenta um alerta poderoso, enfatizando a seriedade e a reverência necessárias ao lidar com o que é santo. Este texto é extremamente relevante para os dias atuais, pois nos desafia a reconsiderar o valor da santidade em um mundo que frequentemente a despreza.
Regras para o Viver e o Serviço a Deus
RECAPITULANDO: Em Gênesis, Deus, Criador dos céus e da terra, estabeleceu uma aliança com Abraão e sua descendência. Em Êxodo, ele redimiu esse povo do Egito e consolidou a aliança ao entregar a lei a Moisés no Sinai. O livro de Êxodo encerra-se com a construção do tabernáculo (Êx 35–40). Em seguida, tem início Levítico, que, nos capítulos 1 a 7, apresenta um manual detalhado sobre os sacrifícios a serem realizados no local sagrado — o tabernáculo. Na sequência, o Senhor entrega a Moisés instruções específicas para o serviço sacerdotal no tabernáculo (Lv 8–10).
Em Levítico 8, já estudado na última exposição bíblica deste livro, encontra-se a narrativa sobre o ato de consagração de Arão e sua descendência para o ministério sacerdotal. Os dois capítulos seguintes — Levítico 9 e 10 — descreverão, respectivamente, a realização do primeiro serviço sacerdotal e a violação das regras associadas a esse ministério.
O que vimos na semana passada:
1) A consagração para o serviço — Levítico 8
Então, a conclusão do capítulo:
Levítico 8.35-36 (NVT)
35Agora, permaneçam à entrada da tenda do encontro dia e noite por sete dias e cumpram todas as exigências do SENHOR. Se não o fizerem, morrerão, pois foi isso que o SENHOR me ordenou”. 36Arão e seus filhos fizeram tudo que o SENHOR tinha ordenado por meio de Moisés.
Concluímos a exposição passada dizendo que o sacerdócio não foi uma invenção humana ou uma conveniência sociológica, mas uma instituição divina para aqueles chamados a interceder entre Deus e o seu povo. Aqueles que hoje ocupam funções similares no serviço cristão — e, em Cristo, todos somos! — são igualmente chamados a obedecer ao Senhor com o mesmo zelo e reverência.
1Pedro 2.4-5 (NVT)
4Vocês têm se aproximado de Cristo, a pedra viva. As pessoas o rejeitaram, mas Deus o escolheu para lhe conceder grande honra.
5E vocês também são pedras vivas, com as quais um templo espiritual é edificado. Além disso, são sacerdotes santos. Por meio de Jesus Cristo, oferecem sacrifícios espirituais que agradam a Deus.
Que privilégio!
Prossigamos através do livro de Levítico.
2) A realização do serviço
Feita a consagração para o serviço (cap. 8), agora terá início o serviço sacerdotal propriamente dito — a inauguração do sacerdócio (cap. 9).
O sacerdócio aarônico foi inaugurado com a primeira série de sacrifícios realizados em favor do povo, conforme descrito em Levítico 9.1-24.
Observe que já no início do capítulo, as instruções de Moisés a Arão exigiam uma série completa de sacrifícios e continham a promessa de que o SENHOR se manifestaria ao povo (9.1-4). Moisés também explicou à assembleia os procedimentos sacrificiais, reiterando que Deus se manifestaria aos israelitas (9.5-6).
Levítico 9.1-6 (NVT)
1No oitavo dia, depois da cerimônia de consagração, Moisés reuniu Arão, seus filhos e os líderes de Israel 2e disse a Arão: “Escolha um bezerro para a oferta pelo pecado e um carneiro para o holocausto, ambos sem defeito, e apresente-os ao Senhor. 3Depois, diga aos israelitas: ‘Escolham um bode para a oferta pelo pecado e um bezerro e um cordeiro, ambos de um ano e sem defeito, para o holocausto. 4Escolham também um boi [Ou uma vaca] e um carneiro para a oferta de paz, além de farinha misturada com azeite para a oferta de cereal. Apresentem todas essas ofertas ao Senhor, pois hoje o Senhor aparecerá a vocês’ ”.
5O povo trouxe todas essas coisas à entrada da tenda do encontro, conforme Moisés tinha ordenado. Assim, toda a comunidade se aproximou e permaneceu em pé diante do Senhor. 6Então Moisés disse: “É isto que o Senhor ordenou que façam para que a glória do Senhor lhes apareça”.
Observe que, servir ao SENHOR, como nação de sacerdotes que somos, requer:
A primeira oferta realizada por Arão consistiu em uma oferta pelo pecado (v. 2) e um holocausto (v. 3) oferecidos em favor dele mesmo, simbolizando sua necessidade de purificação antes de interceder pelo povo — porque servir e adorar a Deus requer, antes de tudo, propiciação pelos pecados, derramamento de sangue — o sangue do Cordeiro de Deus, Jesus Cristo:
Levítico 9.7-14 (NVT)
7Em seguida, Moisés disse a Arão: “Venha até o altar e apresente sua oferta pelo pecado e seu holocausto para fazer expiação por si mesmo e pelo povo. Apresente as ofertas do povo para fazer expiação por eles, conforme o Senhor ordenou”.
8Arão foi até o altar e matou o bezerro como oferta pelo pecado por si mesmo. 9Seus filhos lhe trouxeram o sangue, e Arão molhou o dedo nele e o colocou nas pontas do altar. O restante do sangue ele derramou na base do altar. 10Queimou no altar a gordura, os rins e o lóbulo do fígado da oferta pelo pecado, conforme o Senhor havia ordenado a Moisés. 11A carne e o couro, porém, queimou fora do acampamento.
12Então Arão matou o animal para o holocausto. Seus filhos lhe trouxeram o sangue, e ele o derramou em todos os lados do altar. 13Entregaram-lhe cada um dos pedaços do holocausto, incluindo a cabeça, e ele os queimou no altar. 14Lavou os órgãos internos e as pernas e os queimou no altar junto com o restante do holocausto.
Em seguida, houve uma oferta pelo pecado, um holocausto, uma oferta de cereais e uma oferta pacífica, todas realizadas em favor do povo, demonstrando a intercessão sacerdotal em nome deles (é Cristo crucificado que devemos oferecer às pessoas — 1Coríntios 2.2, NVT: “Pois decidi que, enquanto estivesse com vocês, me esqueceria de tudo exceto de Jesus Cristo, aquele que foi crucificado.”):
Levítico 9.15-21 (NVT)
15Em seguida, Arão apresentou as ofertas do povo. Matou o bode do povo e o apresentou como oferta pelo pecado deles, como havia feito com a oferta por seu próprio pecado. 16Depois, apresentou o holocausto e o ofereceu de acordo com a forma prescrita. 17Apresentou também a oferta de cereal e queimou no altar um punhado dela, além do holocausto da manhã.
18Arão matou o boi e o carneiro para a oferta de paz do povo. Seus filhos lhe trouxeram o sangue, e ele o derramou em todos os lados do altar. 19Depois, pegou a gordura do boi e do carneiro, incluindo a gordura da parte gorda da cauda e a gordura que envolve os órgãos internos, bem como os rins e o lóbulo do fígado de cada animal, 20colocou as porções de gordura sobre o peito dos animais e as queimou no altar. 21Arão moveu o peito e a coxa direita dos animais para o alto como oferta especial para o Senhor, conforme Moisés havia ordenado.
Após o cumprimento dessas ofertas, Moisés e Arão abençoaram o povo enquanto a oferta pacífica ainda não tinha sido queimada (9.22-23a).
Finalmente, a aceitação divina do sistema sacrificial foi confirmada pela manifestação da glória do Senhor e pela queima completa do sacrifício pelo fogo, um sinal visível de que as ofertas haviam sido aceitas por Deus (9.23b-24).
Levítico 9.22-24 (NVT)
22Por fim, Arão ergueu as mãos na direção do povo e o abençoou. Depois de apresentar a oferta pelo pecado, o holocausto e a oferta de paz, desceu do altar. 23Então Moisés e Arão entraram na tenda do encontro e, quando voltaram, abençoaram o povo novamente, e a glória do Senhor apareceu a todo o povo. 24Fogo saiu da presença do Senhor e consumiu o holocausto e a gordura no altar. Quando eles viram isso, gritaram de alegria e se prostraram com o rosto no chão.
Nesse evento climático, o Senhor demonstrou que aceitou tanto os sacerdotes quanto o povo. Essa manifestação não apenas confirmava a aprovação divina do sistema sacerdotal, mas também simbolizava a presença íntima de Deus com o seu povo, tal como havia prometido lá no Sinai.
Êxodo 29.42-46 (NVT)
42“Esses holocaustos devem ser oferecidos todos os dias, de geração em geração. Ofereça-os à entrada da tenda do encontro, na presença do SENHOR; ali eu virei ao encontro do povo e falarei com você. 43Eu me reunirei ali com os israelitas, no lugar santificado por minha presença gloriosa. 44Sim, consagrarei a tenda do encontro e o altar e consagrarei Arão e seus filhos para me servirem como sacerdotes. 45Então viverei no meio dos israelitas e serei seu Deus, 46e eles saberão que eu sou o SENHOR, seu Deus. Eu os tirei da terra do Egito a fim de viver no meio deles. Eu sou o SENHOR, seu Deus.”
Foi por isso que, “Quando eles viram isso, — quando viram o fogo saindo da presença do Senhor e consumindo o holocausto e a gordura no altar… quando viram isso — gritaram de alegria e se prostraram com o rosto no chão.” (Lv 9.23-24).
Portanto, Levítico 9 funciona como uma continuidade do evento no Sinai. Assim como Deus desceu no monte para entregar a sua aliança, agora ele desce sobre o altar, indicando que, por meio do tabernáculo, sua presença habitaria de maneira próxima e contínua com os israelitas. Melhor ainda: a nós, nestes últimos dias (Hb 1.1), Deus desceu e habitou entre nós, fez-se tabernáculo entre nós, em Jesus Cristo — João 1.14 (NVT): “Assim, a Palavra se tornou ser humano, carne e osso, e habitou entre nós. Ele era cheio de graça e verdade. E vimos sua glória, a glória do Filho único do Pai.”
3) A violação das regras para o serviço
Após a consagração dos sacerdotes em Levítico 8 e a realização do primeiro serviço no tabernáculo em Levítico 9, o capítulo 10 nos confronta com uma flagrante violação das regras para o serviço. Um sacrilégio imperdoável.
Recorde-se de que, no encerramento do capítulo anterior, o fogo que “saiu da presença do Senhor e consumiu o holocausto e a gordura no altar” (Lv 9.24) foi um sinal da aprovação divina, simbolizando a aceitação do sacrifício e a presença gloriosa de Deus entre o povo. Em contraste, no início de Levítico 10, os filhos de Arão, Nadabe e Abiú, introduzem “fogo estranho” à presença de Deus, um ato de desobediência grave e arrogante.
Esse fogo não autorizado, que não havia sido ordenado pelo Senhor, provocou um trágico resultado: o mesmo fogo que anteriormente demonstrou a aceitação divina agora saiu da presença do Senhor e os consumiu, trazendo juízo imediato sobre eles (Lv 10.1-2). Esse evento ressalta a seriedade da santidade de Deus e a necessidade de obediência cuidadosa às suas instruções, especialmente no serviço sacerdotal.
Levítico 10.1-3 (NVT)
1Nadabe e Abiú, filhos de Arão, colocaram brasas em seus incensários e as salpicaram com incenso. Com isso, trouxeram fogo estranho diante do Senhor, diferente do que ele havia ordenado. 2Por isso, fogo saiu da presença do Senhor e os devorou, e eles morreram diante do Senhor.
3Então Moisés disse a Arão: “Foi isto que o Senhor declarou:
‘Mostrarei minha santidade
entre aqueles que se aproximarem de mim.
Mostrarei minha glória
diante de todo o povo’ ”.
E Arão ficou em silêncio.
O que teria provocado a ira e o julgamento do Senhor em relação ao ato de Nadabe e Abiú? Embora seja possível conjecturar diversas razões, é mais prudente nos atermos ao texto bíblico.
PRIMEIRO, Levítico 10.3 indica que, de alguma forma, a glória do Senhor estava sendo usurpada ou roubada pelos filhos de Arão. Ao invés de direcionarem a atenção do povo para o Senhor — seguindo à risca os rituais, tal como prescrito por Deus, e, ao final, aguardar com fé —, eles estavam chamando a atenção para si mesmos. Isso demonstra uma postura de arrogância e desrespeito, incompatível com o serviço sagrado.
3Então Moisés disse a Arão: “Foi isto que o Senhor declarou:
‘Mostrarei minha santidade
entre aqueles que se aproximarem de mim.
Mostrarei minha glória
diante de todo o povo’ ”.
E Arão ficou em silêncio.
SEGUNDO, Levítico 10.9 contém uma advertência direta: “Você [Arão] e seus descendentes jamais deverão beber vinho ou qualquer outra bebida fermentada antes de entrar na tenda do encontro.” Esse alerta, dado imediatamente após o incidente, sugere que Nadabe e Abiú estavam embriagados ao realizarem suas funções sacerdotais. Tal condição teria comprometido seu discernimento e reverência, levando-os a agir de maneira imprópria ou sacrílega diante da santidade de Deus.
TERCEIRO, a oferta rebelde de Nadabe e Abiú revela um coração desobediente. Ao apresentarem “fogo estranho”, eles se recusaram a seguir as instruções de Deus e a se aproximar dele “diferente do que ele havia ordenado” (Lv 10.1). Em Levítico 9.24, é relatado que o próprio Deus enviou fogo do céu para consumir a oferta no altar, simbolizando a sua aprovação e presença. Esse fogo deveria ser mantido continuamente e usado exclusivamente nos rituais sagrados (Lv 6.12-13). A ação de Nadabe e Abiú, ao oferecerem fogo estranho — algo trazido deles e por eles mesmos (seus próprios incensários, cf. Lv 10.1), foi uma transgressão grave, pois desrespeitou essa ordem divina e o caráter sagrado do fogo do Senhor.
Destaque-se que esse ato de desobediência não foi apenas um erro técnico, mas uma falha espiritual profunda, demonstrando desprezo pela autoridade divina, além de um coração embriagado de seus próprios prazeres na glória dos homens. Essa narrativa ecoa a resposta de Samuel a Saul:
1Samuel 15.22-23 (NVT)
22Samuel respondeu: “O que agrada mais ao SENHOR: holocaustos e sacrifícios ou obediência à voz dele? Ouça! A obediência é melhor que o sacrifício, e a submissão é melhor que ofertas de gordura de carneiros.
23A rebeldia é um pecado tão grave quanto a feitiçaria, e persistir no erro é um mal tão grave quanto adorar ídolos. Assim como você rejeitou a ordem do SENHOR, ele o rejeitou como rei”.
Nadabe e Abiú desconsideraram que a verdadeira adoração exige 1) um coração cheio do Espírito, e não de vinho ou bebida forte; 2) submisso à vontade de Deus revelada nas Escrituras, e não às suas próprias vontades, ainda que bem intencionadas; e 3) um cultivo diário da chama de Deus no coração, e não uma atitude mecânica. Além disso, faltou-lhes um coração e uma conduta genuinamente preocupados em exaltar a glória de Deus, e não em atender a desejos pessoais ou obter reconhecimento próprio.
Após a tragédia, Moisés instruiu os sacerdotes sobre os procedimentos adequados para lidar com a morte dos dois homens e como reagir à situação, assegurando que as normas de santidade fossem respeitadas:
Levítico 10.4-7 (NVT)
4Moisés chamou Misael e Elzafã, primos de Arão e filhos de Uziel, tio de Arão, e lhes disse: “Venham cá e levem o corpo de seus parentes da frente do santuário para um lugar fora do acampamento”. 5Eles se aproximaram e os puxaram pelas roupas para fora do acampamento, conforme Moisés havia ordenado.
6Então Moisés disse a Arão e a seus filhos Eleazar e Itamar: “Não deixem o cabelo despenteado nem rasguem suas roupas em sinal de luto. Se o fizerem, morrerão, e a ira do Senhor ferirá toda a comunidade de Israel. Mas outros israelitas, seus parentes, poderão ficar de luto porque o Senhor destruiu Nadabe e Abiú com fogo. 7Não saiam da entrada da tenda do encontro, ou morrerão, pois foram ungidos com o óleo da unção do Senhor”. E fizeram conforme Moisés ordenou.
O Senhor também comunicou a Arão a necessidade de abstinência entre os sacerdotes. Eles deveriam abster-se de vinho e bebida forte para desempenharem suas funções adequadamente (10.8-9). Essa abstinência era indispensável para que os sacerdotes julgassem corretamente e ensinassem a Lei de Deus com precisão (10.10-11).
Levítico 10.8-11 (NVT)
8Então o Senhor disse a Arão: 9“Você e seus descendentes jamais deverão beber vinho ou qualquer outra bebida fermentada antes de entrar na tenda do encontro. Se o fizerem, morrerão. Essa é uma lei permanente para vocês e deve ser cumprida de geração em geração. 10Façam distinção entre o que é santo e o que é comum, entre o que é impuro e o que é puro, 11e ensinem aos israelitas todos os decretos que o Senhor lhes deu por meio de Moisés”.
Em seguida, Moisés reforçou as instruções sobre a porção sacerdotal nas ofertas apresentadas pela nação, garantindo que fosse feita conforme as prescrições divinas, mesmo em um dia marcado por tragédia:
Levítico 10.12-15 (NVT)
12Moisés disse a Arão e aos filhos que lhe restaram, Eleazar e Itamar: “Peguem o que sobrar da oferta de cereal depois que uma porção tiver sido apresentada como oferta especial para o Senhor e comam-na junto do altar. Não deverá conter fermento, pois é santíssima. 13Comam-na num lugar sagrado, pois foi dada a vocês e a seus descendentes como sua porção das ofertas especiais apresentadas ao Senhor. Foram essas as ordens que recebi. 14Quanto ao peito e à coxa que foram movidos para o alto como oferta especial, poderão comê-los em qualquer lugar cerimonialmente puro. Essas são as partes que foram dadas a você e a seus descendentes como sua porção das ofertas de paz apresentadas pelos israelitas. 15Movam para o alto o peito e a coxa como oferta especial para o Senhor, junto com a gordura das ofertas especiais. Essas partes pertencerão a vocês e a seus descendentes como direito permanente, conforme o Senhor ordenou”.
Contudo, Eleazar e Itamar não obedeceram as instruções de Moisés, o que o irritou. Moisés, então, confronta Arão. Só que, ao perceber o sofrimento do sumo sacerdote pela perda de seus outros dois filhos, sua ira foi abrandada, revelando sensibilidade diante da dor alheia:
Levítico 10.16-20 (NVT)
16Depois, Moisés procurou cuidadosamente pelo bode da oferta pelo pecado. Quando descobriu que tinha sido queimado, ficou furioso com Eleazar e Itamar, os filhos que restaram a Arão, e lhes disse: 17“Por que não comeram a oferta pelo pecado no lugar sagrado? É uma oferta santíssima! O Senhor a deu a vocês para remover a culpa da comunidade e fazer expiação por ela. 18Uma vez que o sangue do animal não foi levado ao lugar santo, vocês tinham a obrigação de comer a carne no lugar sagrado, conforme eu ordenei!”.
19Arão respondeu a Moisés: “Hoje meus filhos apresentaram ao Senhor sua oferta pelo pecado e seu holocausto. E, no entanto, esta tragédia aconteceu comigo. Será que o Senhor teria se agradado se eu tivesse comido a oferta pelo pecado do povo num dia como este?”. 20Quando Moisés ouviu isso, deu-se por satisfeito.
Esses eventos enfatizam a gravidade de tratar com descaso a santidade de Deus, a importância de obediência absoluta tanto na vida como no ministério cristãos e a necessidade de equilíbrio entre justiça e compaixão no serviço ao Senhor.
Paulo, em sua carta aos coríntios, encorajou os crentes a um serviço pleno e dedicado a Deus com palavras que capturam de maneira apropriada a lição extraída deste trágico episódio de Nadabe e Abiú. Ele escreveu, em 2Coríntios 7.1 (NVT): “Amados, visto que temos essas promessas, purifiquemo-nos de tudo que contamina o corpo ou o espírito, tornando-nos cada vez mais santos porque tememos a Deus.”
Essa exortação reflete a necessidade de abordar o serviço a Deus com pureza, reverência e submissão, reconhecendo a santidade como essencial para uma vida que glorifica o Senhor.
Somos chamados a nos consagrar a Deus, em Cristo Jesus, dedicando nossas vidas para servi-lo em santidade e amor. Esse chamado nos lembra da importância de abordar a adoração cristã com reverência e integridade, evitando qualquer atitude ou prática que a profane. Servir a Deus exige um coração cheio do Espírito, comprometido com sua glória e alinhado à sua vontade, conforme revelada nas Escrituras.
Efésios 5.15-20 (NVT)
15Portanto, sejam cuidadosos em seu modo de vida. Não vivam como insensatos, mas como sábios. 16Aproveitem ao máximo todas as oportunidades nestes dias maus. 17Não ajam de forma impensada, mas procurem entender a vontade do Senhor. 18Não se embriaguem com vinho, pois ele os levará ao descontrole. Em vez disso, sejam cheios do Espírito [Ou: “Que a mensagem a respeito de Cristo, em toda a sua riqueza, preencha a vida de vocês.”— Cl 3.16], 19cantando salmos, hinos e cânticos espirituais entre si e louvando o Senhor de coração com música. 20Por tudo deem graças a Deus, o Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo.
Nesta época marcada por tantos sacrilégios cometidos contra Deus, contra o próximo e, inclusive, contra o próprio corpo — entregue ao descontrole, à prostituição e à mutilação sob a influência da revolução transsexual —, o texto de Levítico nos adverte: jamais devemos levar fogo estranho diante de Deus. Antes, devemos entregar nosso corpo a Deus como sacrifício vivo, santo e agradável, em resposta a tudo que ele fez por nós no corpo do próprio Cristo. Essa é a verdadeira forma de adorá-lo. Não devemos imitar o comportamento e os costumes deste mundo, mas permitir que Deus nos transforme por meio da renovação da mente, para que possamos experimentar sua boa, agradável e perfeita vontade (cf. Rm 12.1-2).
Imagine-se em uma viagem ao coração do Oriente Médio, onde o passado conversa com o presente em tons de poeira e pedra. A cidade é um esqueleto do que já foi, ruínas ecoando histórias de uma civilização que há muito deixou de existir. Entre os destroços, um templo se ergue, desafiando o tempo. A arquitetura, apesar de gasta, ainda exibe detalhes que falam de grandiosidade e devoção. Você entra, com passos lentos, quase cerimoniais.
Lá dentro, a penumbra contrasta com o calor do sol lá fora. As paredes são adornadas com ícones e imagens de deuses, cada uma representando uma força, um desejo, uma esperança. Olhos esculpidos em pedra parecem observar o intruso; figuras mitológicas congeladas em expressões de poder e divindade. Ali, tudo que era temido ou admirado pelos antigos se tornou objeto de adoração. Deuses feitos de barro, pedra e imaginação, guardados em um templo que prometia proximidade com o divino.
Agora mude o cenário. Feche os olhos e abra-os novamente, não nas ruínas, mas no Éden. O ar é puro e os sons são suaves, como um cântico contínuo da criação. O Éden é um templo vivo, não erguido por mãos humanas, mas feito pelas próprias mãos do Criador. Em vez de paredes de pedra, árvores que dançam ao vento; no lugar de ícones, uma paisagem perfeita, refletindo a glória de quem a criou.
Nesse templo sagrado, não há imagens esculpidas do divino. Mas há algo muito maior: Adão e Eva. Eles são a imagem de Deus, não em pedra ou barro, mas em carne e espírito, feitos com a semelhança do Criador. Homem e mulher, juntos, refletem a glória de Deus de maneira única, em uma beleza que nenhuma obra de arte poderia igualar.
Agora, retorne aos dias de hoje. Pense no corpo humano, feito para ser templo do Espírito, um reflexo vivo do Criador. Tratar esse corpo de maneira indigna ou desviar seu propósito é mais do que uma afronta à criação — é um sacrilégio. É roubar a glória de Deus que resplandece em cada fibra, em cada célula, na essência do que somos.
Nas ruínas do templo antigo, o vazio das adorações ecoa. No Éden, a plenitude da glória de Deus é refletida em nós. E hoje, o desafio permanece: viver como portadores dessa imagem, como templos vivos dedicados ao Criador — em santidade, não em sacrilégio.
É providencial que a segunda grande parte de Levítico (capítulos 11–27), que, se Deus permitir, iniciaremos na próxima semana, revele a maneira apropriada de andar na presença do Senhor. A presença santa do SENHOR no meio de seu povo adorador (capítulos 1–10) exige tanto a separação de toda forma de impureza quanto a consagração obediente de toda a vida a Ele (capítulos 11–27). Após ensinar o povo como adorar, Moisés, inspirado por Deus, ensinará como eles devem andar diante de seu Deus.
S.D.G. L.B.Peixoto
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