10.02.2016
A PRIMAZIA DA PALAVRA
Salmo 1
1 Como é feliz aquele que não segue o conselho dos ímpios, não imita a conduta dos pecadores, nem se assenta na roda dos zombadores! 2 Ao contrário, sua satisfação está na lei do Senhor, e nessa lei medita dia e noite. 3 É como árvore plantada à beira de águas correntes: Dá fruto no tempo certo e suas folhas não murcham. Tudo o que ele faz prospera! 4 Não é o caso dos ímpios! São como palha que o vento leva. 5 Por isso os ímpios não resistirão no julgamento, nem os pecadores na comunidade dos justos. 6 Pois o Senhor aprova o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios leva à destruição!
O prefácio dos Salmos
Como todo bom livro, os Salmos também têm sua apresentação, que são os Salmos 1 e 2. O editor do Saltério, sob a direção de Deus, escolheu a dedo os salmos para o prefácio. Por que os Salmos 1 e 2?
O Salmo 1 destaca a primazia da Palavra e o Salmo 2 descreve a supremacia de Cristo. Não haveria melhor maneira de se introduzir o Tehilim (do heb. “hinos” ou “louvores”) ou Psalmoi (do gr. “músicas”) do que pelo prisma da Lei e do Messias prometido.
Os Salmos são bibliocêntricos e cristocêntricos, como deve ser nossa espiritualidade, nossa vida, nossa adoração, nossas orações, nossos lamentos, nossos louvores – bibliocêntrico e cristocêntrico – tendo a Palavra como fonte e Cristo como foco. A Bíblia deve ter a primazia e Cristo deve ter a supremacia em tudo o que somos e fazemos.
Em Cristo, pela Palavra é que nós encontramos a verdadeira felicidade. Note como começa o Salmo 1 e como termina o Salmo 2.
Sl 1.1 | Como é feliz aquele que [tem prazer na Palavra!]
Sl 2.12 | Como são felizes todos os que nele se refugiam!
Feliz é quem encontra Cristo na Palavra! Esse será o tema dos Salmos. Cristo no coração, pela Palavra.
A primazia da Palavra
Por que o Salmo 1 introduz os Salmos?
Por que destacar a primazia da Palavra de Deus?
Não há outra forma de se adorar a Deus, não existe outro jeito de se viver na presença de Deus, não tem outra forma de alguém prosperar e ser feliz nesse mundo criado por Deus se alguém não abraçar, amar e se alegrar na Palavra de Deus, vivendo-a a cada instante. Encontrando nela a fonte da vida – Jesus Cristo.
Aqueles que cantam os Salmos e oram os Salmos e recitam os Salmos e memorizam os Salmos e meditam nos Salmos e encontram forças para seguir a vida lendo os Salmos são os indivíduos que abraçaram como vida a Palavra que inspirou os Salmos.
Sl 119.54 – Os teus decretos são o tema da minha canção em minha peregrinação.
Então, de que forma a Palavra deve ter primazia na vida dos justos? Há três lições para nós nesse primeiro Salmo: [1] A Palavra dirige os passos do justo (Sl 1.1-2); [2] Ela define a postura do justo (Sl 1.3-4); e [3] Ela distingue a posição do justo (Sl 1.5-6).
1. A Palavra dirige os passos do justo (Sl 1.1-2)
O justo não é dirigido pelo mundo, mas pela Palavra:
Sl 1.1-2 – 1 Como é feliz aquele que não segue o conselho dos ímpios, não imita a conduta dos pecadores, nem se assenta na roda dos zombadores! 2 Ao contrário, sua satisfação está na lei do Senhor, e nessa lei medita dia e noite.
O justo é feliz. Muito feliz. Ele é bem-aventurado. Sabe por quê? A felicidade não é o objetivo principal da vida dele. A felicidade é um subproduto de sua atitude para com a Palavra de Deus. A felicidade é fruto daquilo que ele não faz para fazer o que ele deve fazer.
O que o justo não faz?
[Ele] não segue o conselho dos ímpios, não imita a conduta dos pecadores, nem se assenta na roda dos zombadores.
Perceba que para mostrar a felicidade do justo, o salmista apresenta primeiro o que o justo não faz. Por quê esse negativismo?
O Salmo 1, como todo o restante da Bíblia, começa onde todos estão. Ele traça antes um diagnóstico perfeito do pecador.
Em busca da felicidade, o mundo segue o conselho dos ímpios, imita a conduta dos pecadores e se assenta na roda dos zombadores. O problema do mundo é que todos pensam que a felicidade está em fazer estas coisas. Mas, contrariando a multidão, o salmista revela que a felicidade está em não fazer estas coisas para fazer outra.
O que o justo faz?
Sua satisfação está na lei do Senhor, e nessa lei medita dia e noite.
O prazer está em conhecer e meditar, em ler e praticar a Palavra de Deus. A Palavra dirige os passos do justo. Nesse caminho, ele encontra a felicidade. Já o ímpio…
Ele vai progredindo em perversidade – ímpios (impiedade contra Deus), pecadores (praticante do mal), zombadores (prazer no pecado).
Ele vai piorando em posturas – anda, para, assenta. O pecado vai paralisando aos poucos. Anda. Anda e para. Para de vez.
Ele vai piorando como pessoa – seguir o conselho (implica segredo), imitar a conduta (implica abertura), assentar na roda (implica orgulho).
Ele piora até se tornar uma palha. Que é uma palha? Algo sem valor. Ela já não tem mais o grão. Ela perdeu sua função, sua vida, sua virtude. Ela vive de um lado para o outro até ser despedaçada ou queimada.
O justo é feliz porque a Palavra dirige os seus passos. Ele não segue o fluxo dos ímpios, mas se satisfaz na lei e nela medita dia e noite.
Jim Elliot, ilustra muito bem este ponto ao dizer:
Não é tolo quem abre mão do que não pode reter [o conselho dos ímpios, o caminhos dos pecadores e a roda dos zombadores] para ganhar o que não pode perder [o prazer de Deus].
A “torá” (lei) são palavras de Deus que atingem o centro da condição humana. Eugene H. Peterson observa que o substantivo “torah” vem de um verbo (“yarah”), que significa “lançar algo, no caso uma lança, que alcança, que tinge o alvo”. Daí ele comenta:
A palavra que atinge esse alvo é “torah”. Em linguagem viva, as palavras são lanças arremessadas de uma mente à outra. A palavra lançada sai de uma pessoa e penetra na outra. [Sai de Deus e penetra no homem.] (…) A palavra de Deus possui essa pretendida natureza pessoal e intencional.
Mas, o que fazer com essa palavra de Deus que penetra o coração do justo? Deve-se meditar nela. Eugene Peterson disse assim:
No momento que nos tornamos conscientes de que Deus fala conosco, o deleite é espontâneo. Os Salmos são palavras que absorvemos, designadas para moldar uma nova vida em nós, para alimentar as energias de salvação. Este deleite desenvolve-se em meditação na Torá. Meditar (gr. hagah) é uma ação física, pois envolve murmurar e resmungar, assumindo um tipo de prazer físico em produzir sons e palavras, sentindo o significado delas à medida que as sílabas são formadas pela laringe, língua e lábios. Isaías usou esta palavra “meditar” (hagah) para o “rugido” (hagah) que um leão dá diante de sua presa (Is 31.4). Um leão diante de sua caça e uma pessoa diante da Torá agem de maneira similar. Eles murmuram e rugem em prazerosa expectativa que antecede possuir o que os tornará mais completos, fortes, ágeis, vivos e satisfeitos… Meditação é mastigação.
A palavra dirige os passos do justo. Ele não ouve os ímpios (escuta, mas não ouve), ele não se identifica com os pecadores (esbarra, mas não os segue), ele não se torna um escarnecedor (no mundo, mas não do mundo).
2. A Palavra define a postura do justo (Sl 1.3-4)
Os versos 1 e 2 do Salmo 1 demonstram que a Palavra dirige os passos do justo, mas os dois versos a seguir demonstram que a Palavra define a postura do justo.
Sl 1.3-4 – 3 [Ele] É como árvore plantada à beira de águas correntes: Dá fruto no tempo certo e suas folhas não murcham. Tudo o que ele faz prospera! 4 Não é o caso dos ímpios! São como palha que o vento leva.
Observe quatro traços da postura do justo:
A Palavra de Deus, portanto, define a postura do justo. Nela, ele vive para se fortalecer, crescer, florescer e frutificar para Deus e pelo próximo.
3. A Palavra distingue a posição do justo (Sl 1.5-6)
Nos dois últimos versos, o Salmo 1 revela a distinção que há entre o justo e o injusto.
Sl 1.5-6 – 5 Por isso os ímpios não resistirão no julgamento, nem os pecadores na comunidade dos justos. 6 Pois o Senhor aprova o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios leva à destruição!
O justo é feliz e frutifica, já os ímpios…
Por isso os ímpios [inimigos de Deus] não resistirão no julgamento,
nem os pecadores [praticantes do mal] na comunidade dos justos.
Pois o Senhor aprova o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios leva à destruição!
A PRIMAZIA DA PALAVRA
O Salmo 1 introduz os Salmos, destacando a primazia da Palavra. Ele nos revela que todo homem pode escolher um de dois caminhos: o caminho dos justos ou o caminho dos ímpios.
* O caminho dos justos é o caminho da Palavra de Deus.
** O caminho dos ímpios são seus próprios pensamentos, prazeres e posturas.
* O justo é feliz e frutifica.
** Os ímpios não são justificados, não desfrutam de comunhão e, no final, serão condenados.
Que caminho você seguirá?
Opte pela primazia da Palavra de Deus.
Cristo é o justo
Quem consegue ser justo?
Ninguém! Apenas Cristo conseguiu.
Então, o que fazer?
Refugiar-se, pela fé, em Cristo Jesus.
Há uma história interessante, que foi contada por James Montgomery Boice…
No início do século XX, um homem chamado Joseph Flacks (penso que era embaixador americano) foi visitar a Palestina. Ele teve a oportunidade de falar a um grupo misto, composto de judeus e de árabes. Sua escolha foi pelo Salmo 1.
Ele leu o primeiro salmo em hebraico e discutiu toda a gramática do texto com aqueles estudiosos das línguas semíticas. Terminada a discussão, ele perguntou: “Quem é esse homem bem-aventurado descrito no Salmo 1? Vemos que ele nunca andou segundo o conselho dos ímpios nem imitou a conduta dos pecadores nem se assentou com os zombadores. Ele foi um homem absolutamente sem pecados! Que é ele?”
Ninguém respondeu.
Flacks perguntou: “Teria sido ele o nosso pai Abraão ou Moisés ou Davi?”
Um senhor bem idoso retrucou: “Nenhum deles, pois Abraão mentiu sobre a sua esposa, Moisés matou um homem e Davi adulterou e depois matou.”
Todos ficaram em silêncio.
De repente, outro senhor se levantou e disse: “Meus irmãos, eu tenho um pequeno livro aqui comigo; ele é chamado de Novo Testamento. Tenho lido-o regularmente. Posso atestar-lhe o seguinte, se esse livro estiver correto, eu diria que esse justo descrito no Salmo 1 não é outro senão Jesus de Nazaré.”
De fato, Jesus Cristo é o justo. Ele cumpriu toda a justiça.
Refugiando-nos nele, encontramos perdão e recebemos poder para viver a primazia da palavra de Deus – dirigidos pela Palavra, definidos pela Palavra e distintos pela Palavra.
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