21.04.2024
Salmo 108 (NVT)
Cântico; salmo de Davi.
1Meu coração está firme em ti, ó Deus;
por isso te cantarei louvores com todo o meu ser.
2Despertem, lira e harpa!
Quero acordar o amanhecer com a minha canção.
3Eu te darei graças, SENHOR, no meio dos povos;
cantarei louvores a ti entre as nações.
4Pois o teu amor é mais alto que os céus;
a tua fidelidade chega até as nuvens.
5Sê exaltado, ó Deus, acima dos mais altos céus;
que a tua glória brilhe sobre toda a terra!
6Agora, livra teu povo amado;
responde-nos e salva-nos por teu poder.
7Deus, em seu santuário, prometeu:
“Com alegria dividirei Siquém
e medirei o vale de Sucote.
8Gileade é minha, e também Manassés;
Efraim é meu capacete,
e Judá, meu cetro.
9Moabe é minha bacia de lavar;
limparei os pés sobre Edom
e darei um grito de triunfo sobre a Filístia”.
10Quem me levará à cidade fortificada?
Quem me guiará até Edom?
11Acaso nos rejeitaste, ó Deus?
Não marcharás mais com nossos exércitos?
12Ajuda-nos contra nossos inimigos,
pois todo socorro humano é inútil.
13Com o auxílio de Deus, realizaremos grandes feitos,
pois ele pisará os nossos inimigos.
COMO EXPERIMENTAR O AMOR DE DEUS? A gente sabe que Deus nos ama, mas por vezes a gente não sente o gosto do amor de Deus. Já passou por isto? Sabe com a cabeça a respeito, mas não sente com o coração o amor de Deus. Sente-se assim? Não são poucas as pessoas que convivem com esta experiência. Elas não sentem o amor de Deus. É o seu caso? Aliás, deixe-me dar um passo atrás, você já experimentou o amor de Deus alguma vez na vida? Provou, mas agora não sente mais? Como experimentar o amor de Deus? De que modo o seu saber sobre Deus pode descer na forma de amor provado no seu coração? Você sabe responder? Bem, é sobre isto – sobre como experimentar o amor de Deus – que aprenderemos com esta exposição no Salmo 108 – que é um Cântico; salmo de Davi, conforme se lê no cabeçalho do salmo, em itálico.
Como eu nunca fui lá muito bom em fazer surpresas, vou já te dar um spoiler, vou te contar como é possível experimentar o amor de Deus: é pela fé. É PELA FÉ QUE SE EXPERIMENTA O AMOR DE DEUS.
“Onde a razão não consegue caminhar, lá a fé é capaz de nadar.” — escreveu Thomas Watson (1620–1686), um dos mais preciosos pregadores e autores puritanos ingleses do século XVII — “Onde a razão não consegue caminhar, lá a fé é capaz de nadar.” E é com esse tipo de fé, fé que é capaz de nadar de braçadas onde a razão nem consegue caminhar ou caminha com dificuldade, é com essa fé, fé inabalável, que nós seremos capazes de experimentar o amor de Deus. Minha oração é para que [1.] você experimente o amor de Deus, talvez pela primeira vez; ou que [2.] você prove de novo do amor de Deus, estando você atravessando um deserto espiritual; ou que [3.] você acentue inda mais o gosto do amor de Deus no paladar de seu coração.
Charles Spurgeon, comentando o Salmo 108, chamou-o de “O Cântico Matinal do Guerreiro”, e argumentou que com este cântico o salmista adora o seu Deus e fortalece o seu coração antes de se apresentar para as lutas do dia. Trata-se de uma canção de louvor e uma invocação de ajuda ou um apelo ao seu Deus, ao passo que o salmista também ergue sua bandeira de fé em nome do SENHOR.
NOTE O SEGUINTE: o Salmo 108 é composto de porções de dois salmos lá do livro 2 (42—72) de Salmos. Salmo 108.1-5 é um copia e cola [um control-c, control-v] de Salmo 57.7-11, enquanto Salmo 108.6-13 é um copia e cola [um control-c, control-v] de Salmo 60.5-12 – todos eles de Davi. Nós, portanto, poderíamos caracterizar o Salmo 108 como um híbrido, um salmo formado do cruzamento de dois salmos diferentes.
Com efeito, por ser composto assim, do cruzamento de trechos de dois outros salmos de Davi, a maioria dos comentarista bíblicos ou não comenta o Salmo 108 ou, com poucas palavras, contextualiza o leitor e o remete aos comentários dos Salmos 57 e 60. Uma pena! João Calvino, por exemplo, – até ele! – em seu Comentário Bíblico de Salmos, escreveu sobre o Salmo 108 tão somente o seguinte: “Em virtude deste Salmo ser composto de partes extraídas dos Salmos 57 e 60, seria supérfluo repetir, neste lugar, o que já afirmamos à guisa de exposição naqueles Salmos.” Uma pena, realmente! E não será assim que trataremos este salmo, remetendo vocês aos Salmos 57 e 60.
Seguiremos a linha de Charles Spurgeon que, na introdução do comentário ao Salmo 108, escreveu o que segue:
A ser cantado de modo jubiloso, como um hino nacional, ou de modo solene como um salmo sagrado. Nós não vemos como descartar este salmo, simplesmente enviando o leitor a Salmos 57.7-11 e então a Salmos 60.5-12, embora vejamos, imediatamente, que estes dois trechos das Escrituras são praticamente idênticos aos versículos diante de nós no Salmo 108. É verdade que muitos dos comentaristas fizeram isto, e não somos tão presunçosos a ponto de questionar a sua sabedoria, mas nós acreditamos que as palavras não teriam sido repetidas se não houvesse um propósito para fazer isto, e este propósito não teria sido alcançado se cada ouvinte tivesse dito: “Ah, nós já ouvimos isto antes, e por isto não precisamos meditar sobre isto outra vez”. O Espírito Santo não conta com uma quantidade tão pequena de expressões a ponto de precisar se repetir, e a repetição não pode ter o mero objetivo de encher o livro de Salmos: deve haver alguma intenção na colocação de duas declarações divinas anteriores em uma nova conexão; se conseguimos descobrir qual é esta intenção, já é outra questão. Pelo menos devemos nos empenhar em fazê-lo, e podemos esperar a assistência divina nesta tarefa.
Pois é isto o que faremos: buscaremos descobrir, pela iluminação do Espírito, a intenção do autor sagrado (o qual pode ter sido o próprio Davi ou algum editor que tomou os dois salmos anteriores de Davi e deles extraiu o conteúdo do salmo em tela). O que descobriremos, já te adianto, é que a fé, a fé inabalável, é a única maneira de se provar o leal amor de Deus. Minha tese, portanto, é que para este fim o Salmo 108 está aqui: para nos mostrar como a fé inabalável é o meio divino de provarmos do amor divino.
Outra coisa importante, em termos de introdução e contextualização, os salmos que fornecem os extratos para a composição do Salmo 108, ou seja: os Salmos 57 e 60 são dois dos apenas treze salmos do Saltério cujos cabeçalhos relembram eventos históricos específicos da vida de Davi. O cabeçalho do Salmo 57 é este:
Ao regente do coral: salmo de Davi sobre a ocasião em que ele fugiu de Saul para a caverna. Para ser cantado com a melodia “Não destruas!”.
O pano de fundo histórico do Salmo 57 é, provavelmente, o episódio de 1Samuel 22–24.
E o cabeçalho do Salmo 60 traz o seguinte:
Ao regente do coral: salmo de Davi, útil para o ensino, sobre a ocasião em que Davi lutou contra Arã-Naaraim e Arã-Zobá, e Joabe regressou e matou doze mil edomitas no vale do Sal. Para ser cantado com a melodia “Lírio do testemunho”.
O contexto histórico do Salmo 60 está em 2Samuel 8.1-14.
Ambos os salmos, tanto o Salmo 57 como o 60, trazem elementos de súplica e de louvor. Entretanto, ao combinar no Salmo 108 os Salmos 57 e 60, os lamentos ou clamores das duas composições anteriores, com os quais se iniciaram os salmos, foram omitidos, e apenas a exaltação e a confiança de Davi em Deus foram fundidas, para formar o Salmo 108. POR ISSO É QUE SUSTENTO QUE o tema central, a grande ideia deste salmo, é a fé inabalável em Deus. Em outras palavras, por conter uma porção dupla de fé inabalável em Deus, o poderoso Salmo 108 fornece encorajamento para a alma que confia em Deus ou que precisa aprender a confiar em Deus – e desse modo, somente desse modo, pela fé em Deus, a alma provará e se deliciará d’O LEAL AMOR DE DEUS.
Observe que estou fazendo questão de usar o título do Salmo 107, que estudamos no último domingo. Você se recorda? Pois bem, o Salmo 108 está posto onde está porque o salmista quer que você não tenha dúvida a respeito de como é possível provar e preservar no coração o sabor doce do leal amor de Deus. Quer ver uma coisa? Tome nota de como terminou o salmo anterior:
Salmo 107.43 (NVT)
Quem é sábio levará tudo isso a sério;
perceberá como tem sido leal o amor do SENHOR.
Quem é sábio levará a sério o que se registrou a respeito da salvação, tanto a poderosa salvação em si como também de onde ou do quê se foi salvo. Então o salmista completa: E será somente assim: consciente de tudo, informado de tudo, que se “perceberá como tem sido leal o amor do SENHOR.”
O leal amor de Deus se prova e se preserva no coração pela fé alimentada dos grandes feitos de Deus, da fidelidade da aliança de Deus e da descrição de quem é Deus. E o Salmo 108 vem a seguir ao Salmo 107 para deixar isto ainda mais claro. Veja, observe como o salmista traz de volta o tema do leal amor de Deus neste salmo, o 108:
Salmo 108.4 e 6 (NVT)
4Pois o teu amor é mais alto que os céus;
a tua fidelidade chega até as nuvens.
[…]
6Agora, livra teu povo amado;
responde-nos e salva-nos por teu poder.
Percebeu?
O salmista estava buscando, pela inspiração de Deus, cultivar a fé do povo que havia acabado de sair da Babilônia e estava de volta à terra de Jerusalém, 70 anos mais tarde, totalmente destruída! Em face de tudo, poderiam então indagar: “Será que Deus realmente nos ama? Se Deus nos ama, por que ele deixou isto acontecer? Veja o estado em que estamos! Veja o estado de Jerusalém! Por que Deus deixou chegar a este ponto? Por que demorou tanto?” Para se certificar de que essas coisas não apenas passavam pela cabeça do povo na era pós-exílica, como também eram ditas publicamente pelas pessoas, ouça o que um dos profetas pós-exílicos teve de tratar com o povo de Deus:
Malaquias 1.1-2 (NVT)
1Esta é a mensagem que o SENHOR anunciou a Israel por meio do profeta Malaquias.
2“Eu sempre amei vocês”, diz o SENHOR.
Mas vocês perguntam: “De que maneira nos amou?”.
E o SENHOR responde: “Foi desta maneira: […]
Então – nos versículos 3b-5 – o profeta recontou as formas como Deus tratou seus inimigos, a exemplo de como ele tratou Edom, descendente de Esaú, que sempre foi um protótipo de hostilidade para com Israel e arrogância para com Deus.
O salmista, portanto, não queria que seus primeiros leitores ficassem com dúvida a respeito do leal amor de Deus; não queria que eles perdessem no coração o sabor doce do leal amor de Deus; e isto só seria possível pela fé: [1.] fé alimentada pela lembrança da tão grande salvação do SENHOR Deus (Sl 107), em resposta ao clamor do povo (Sl 106) e [2.] fé alimentada também pelos louvores de Davi (Sl 108) que, uma vez tendo passado pelo vale árido e estreito do sofrimento, provou de novo da bondade de Deus e cantou com louvor em seus dois Salmos anteriores: o 57 e o 60.
Davi, com efeito, padeceu muitas vezes sob a maldade de Saul (Sl 57) e Davi também padeceu sob a ameaça de Edom (Sl 60), mas em todas essas batalhas ele foi vitorioso. — Por quê? Por causa do leal amor de Deus. — E o povo pós-exílico, a exemplo de Davi, também seria vitorioso, afinal, já haviam sido libertados do cativeiro babilônico. O que eles mais precisavam fazer, portanto, era buscar ter de volta ao paladar o sabor do leal amor de Deus. E isto só seria possível pela fé, a fé inabalável, que é o tema, ao meu ver, do Salmo 108.
Spurgeon, como eu já disse, chamou este salmo de O Cântico Matinal do Guerreiro, com o qual ele adorava o seu Deus e fortalecia o seu coração com fé no leal amor de Deus antes de entrar nos conflitos do dia. É verdade! Temos isso claramente posto neste salmo, e nós o estudaremos com esta divisão: [1.] A Forma Assumida pela Fé (vs. 1-5); [2.] O Fundamento Seguro da Fé (vs. 6-9); e [3.] A Fraqueza Latente na Fé (vs. 10-13).
1. A Forma Assumida pela Fé (Sl 108.1-5)
A razão pela qual Spurgeon intitulou este salmo de O Cântico Matinal do Guerreiro está em que o salmista, independentemente do que o dia guardava para ele, independentemente do que o esperava lá fora, lá no horário comercial, por assim dizer, o salmista – começando deste modo o salmo – revela para nós a forma assumida pela fé em sua própria vida. VEJA: é uma fé que está segura e que canta louvores, independentemente do futuro, apesar dos problemas, em que pese todos os temores; o salmista se apresenta seguro e cantando louvores. — Por quê? Como? De onde vinha tanta segurança para conseguir viver e de onde vinham tantos motivos para conseguir cantar? — Leiamos:
Salmo 108.1-5 (NVT)
Cântico; salmo de Davi.
1Meu coração está firme em ti, ó Deus;
por isso te cantarei louvores com todo o meu ser.
2Despertem, lira e harpa!
Quero acordar o amanhecer com a minha canção.
3Eu te darei graças, SENHOR, no meio dos povos;
cantarei louvores a ti entre as nações.
4Pois o teu amor é mais alto que os céus;
a tua fidelidade chega até as nuvens.
5Sê exaltado, ó Deus, acima dos mais altos céus;
que a tua glória brilhe sobre toda a terra!
A forma assumida pela fé de Davi se apresentou com estabilidade ou firmeza diante dos problemas (v. 1), disposição ou alegria para louvar apesar de tudo (v. 2), e consciência da missão de exaltar a Deus acima de tudo e sobre toda a terra mesmo quando tudo não está bem (vs. 3-5). Portanto: estabilidade, adoração ou disposição para louvar e missão, a missão de espalhar a supremacia de Deus sobre todas as coisas, para a alegria de todos os povos. Era assim que a fé de Davi se apresentava. Era essa a sua forma.
Mas veja. A fé de Davi não era um salto no escuro. Não era emocionalismo sem sedimentação. Não era sentimento sem conteúdo. Não era força de vontade. Não era pensamento positivo. A fé de Davi se apresentava assim estável, alegre e disposta a adorar, e cônscia de sua missão por esta razão: ERA UMA FÉ CENTRADA EM DEUS – no caráter ou nos atributos de Deus, na beleza de Deus e na supremacia de Deus. Veja mais uma vez o texto. Leia com toda atenção:
Salmo 108.1-5 (NVT)
Cântico; salmo de Davi.
1Meu coração está firme em ti, ó Deus [o caráter ou os atributos de Deus];
por isso te cantarei louvores com todo o meu ser.
2Despertem, lira e harpa!
Quero acordar o amanhecer com a minha canção [não haveria tanta poesia se não se tivesse provado de tanta beleza, a beleza de Deus].
3Eu te darei graças, SENHOR, no meio dos povos; [o nome do Deus da aliança: Y ̂ehovah; em Sl 57.9, o nome empregado para Deus foi ’Adonay: Senhor]
cantarei louvores a ti entre as nações.
4Pois o teu amor é mais alto que os céus [mais uma vez, atributos de Deus, neste caso, o atributo do amor e, na parte de baixo, da lealdade; a aliança de Deus];
a tua fidelidade chega até as nuvens.
5Sê exaltado, ó Deus, acima dos mais altos céus;
que a tua glória brilhe sobre toda a terra! [aqui, a supremacia de Deus]
O que o trecho inicial deste salmo nos ensina é que toda estabilidade espiritual, toda disposição para louvar e adorar a Deus e todo sentimento e impulso para a missão se sustentam ou desmoronam na proporção da medida da visão que se tem de Deus. Quanto mais centrada em Deus for a visão, tanto mais estável a fé, tanto mais disposto o coração para louvar e tanto mais prontos os pés e as mãos e os lábios para se cumprir a missão de espalhar a glória de Deus na multiplicação de discípulos de Cristo.
NA ESPIRITUALIDADE CRISTÃ, estabilidade, louvor ou adoração e cumprimento da missão não são dependentes das circunstâncias, posses ou condições físicas. E este salmo pós-exílico está posto aqui, nesta forma (Sl 108.1-5), eliminando o clamor inicial do salmista em Salmos 57.1-6, pulando diretamente para o seu cântico de louvor em Salmos 57.7-11 – como forma de iniciar o Salmo 108.1-5 – para dizer isto: quem tem o coração centrado em Deus acha estabilidade espiritual, canta louvores com disposição e cumpre a missão recebida do SENHOR. Essa pessoa terá ânimo para acordar bem cedo, acordando a manhã, para cantar e louvar com alegre disposição.
Agora, a julgar pelo quadro que se vê na vida dos crentes contemporâneos, nos quais falta tanta estabilidade ou firmeza, falta tanta disposição para louvar e adorar, e falta tanto a consciência de missão e intencionalidade da missão, penso que se poderá concordar com David F. Wells [no livro: Sem Lugar para a Verdade], quando descreveu o cenário evangélico sem uma visão centrada na glória de Deus. Ouça [tradução livre]:
É este Deus, majestoso e santo no seu ser, este Deus cujo amor não conhece limites porque sua santidade não conhece limites, é esse Deus que tem desaparecido do mundo evangélico moderno. Ele foi substituído em muitos lugares por um Deus que é fofinho e frouxo, cujos propósitos morais tornaram-se meros conselhos de um tiozão que nós podemos desconsiderar ou negociar como acharmos conveniente, cuja palavra é um brinquedo para aqueles que desejam apenas escutar a si mesmos, cuja igreja é um shopping em que religiosos, com seus bolsos cheios de moedas de necessidades, fazem seus negócios. Buscamos felicidade, não justiça. Queremos ficar contentes, não completos. Estamos interessados em satisfação, não em santa insatisfação com tudo o que está errado.
É por isto que nós precisamos de reforma em vez de reavivamento. Os hábitos do mundo moderno, agora onipresentes no mundo evangélico, precisam ser mortificados, não revividos. Eles precisam ser erradicados, não simplesmente embrulhados com novo entusiasmo religioso. E eles estão neste ponto tão invencíveis que nada menos do que a intrusão de Deus [da glória de Deus] será suficiente.
Achando-se sábios, mas na verdade agindo como loucos, evangélicos modernos rejeitaram o conhecimento da glória de Deus e recorreram à glória do “eu”. Lesslie Newbigin estava coberto de razão quando diagnosticou o nosso estado. Ele disse:
De repente, vi que alguém poderia usar a linguagem costumeira da cristandade evangélica e ainda assim no centro de tudo ser o eu, a minha necessidade de salvação [seja lá do que for]. E Deus ser simplesmente o auxílio para tal […] Também vi que grande parte da cristandade evangélica pode facilmente errar, que pode tornar-se centrada no eu e na sua necessidade de salvação e não da glória de Deus!
É por isso, por se ter perdido a visão centrada na glória de Deus, como a que tinha o salmista, que se acham tantas pessoas instáveis, fracas, indispostas e omissas, inclusive nas igrejas evangélicas. Diante deste cenário, John Piper fez a seguinte indagação: “Onde estão as igrejas, hoje, nas quais a experiência predominante é o peso da glória de Deus?” Parecem estar em extinção, para a nossa tragédia.
Como nós precisamos da mensagem do salmista, o qual, independentemente de qualquer circunstância ou situação pessoal, pôde entoar O Cântico Matinal do Guerreiro – e esta é a forma que a fé deve assumir:
Salmo 108.1-5 (NVT)
Cântico; salmo de Davi.
1Meu coração está firme em ti, ó Deus;
por isso te cantarei louvores com todo o meu ser.
2Despertem, lira e harpa!
Quero acordar o amanhecer com a minha canção.
3Eu te darei graças, SENHOR, no meio dos povos;
cantarei louvores a ti entre as nações.
4Pois o teu amor é mais alto que os céus;
a tua fidelidade chega até as nuvens.
5Sê exaltado, ó Deus, acima dos mais altos céus;
que a tua glória brilhe sobre toda a terra!
Prova de que a fé de Davi não era um salto no escuro está nos versículos que compõem a segunda seção do salmo, a qual traz uma súplica a Deus por salvação, socorro e libertação, provavelmente das garras dos edomitas (Sl 108.6 = Sl 60.5). O versículo 6 será seguido pela resposta de Deus na forma de um oráculo ou resposta profética (Sl 108.7-9 = Sl 60.6-12). Isto reforçará que a fé do salmista tem como fundamento seguro a palavra de Deus. Leia:
Salmo 108.6-9 (NVT)
6Agora, livra teu povo amado;
responde-nos e salva-nos por teu poder.
7Deus, em seu santuário, prometeu:
“Com alegria dividirei Siquém
e medirei o vale de Sucote.
8Gileade é minha, e também Manassés;
Efraim é meu capacete,
e Judá, meu cetro.
9Moabe é minha bacia de lavar;
limparei os pés sobre Edom
e darei um grito de triunfo sobre a Filístia”.
O verbo “prometer”, no versículo 7, está no passado, indicando que a sua mensagem e a dos versículos seguintes não são uma resposta de Deus aos pedidos de Davi no salmo, mas que foi proclamada por Deus anteriormente. Se é assim, as afirmações desses versículos remetem ao fato de a terra de Canaã ter sido dada aos israelitas sob a liderança de Josué, mas também antecipam os contínuos conflitos do povo de Deus com seus inimigos. Em outras palavras: o que está sustentando a fé do salmista e deveria sustentar a fé do povo recém chegado da Babilônia eram as promessas da palavra revelada de Deus.
Basta você ler O RELATO DE SAMUEL SOBRE A VIDA DE DAVI, como eu fiz esta semana, do início ao fim da vida do homem segundo o coração de Deus, em 1 e 2 Samuel e 1Reis 1–2, para descobrir uma coisa: se havia algo que Davi não tinha – e jamais teve por longos períodos de tempo – era estabilidade entre as nações inimigas, em seu coração mesmo, dentro de sua própria casa e no seu reino. Onde então Davi achou firmeza e estabilidade? Como obteve disposição para adorar e vontade de prosseguir com a missão de Deus para a vida dele enquanto rei? Ora, de sua visão centrada em Deus, conforme a revelação da palavra de Deus. Por mais que as nações se agigantassem diante de seus olhos, sua fé já estava sustentada na promessa da palavra de Deus.
É por isso que se tem listado em Salmo 108.7-9 o nome das nações pagãs que constantemente guerreavam contra o povo de Deus. Siquém e Sucote foram lugares pagãos onde Jacó passou, do lado de lá do Jordão; foi a primeira escala dos hebreus, ao saírem do Egito. Gileade e Manassés eram tribos próximas destas regiões. O povo de Deus precisava saber que eles eram, de fato, povo de Deus. Não havia, portanto, o que temer diante desses povos. Efraim era a maior tribo do Norte, e Judá, a maior do Sul. Compunham o capacete e o cetro divinos. Moabe era a bacia onde Deus se lavava. Um objeto impuro. Edom era inimigo de Israel e de Judá (cf. Obadias).
O que Deus prometeu fazer com esses inimigos? Deus jogaria neles o seu sapato ou a sua sandália (gesto de desprezo e reivindicação de posse), que na NVT foi traduzido assim, no versículo 9: “darei um grito de triunfo sobre a Filístia”. Ou seja: DEUS TOMA POSIÇÃO CONTRA OS INIMIGOS DO SEU POVO. Então, meu povo, por que temermos o mundo? Entreguemos o mundo a Deus! E se o mundo está contra você, saiba que Deus já se posicionou contra o mundo. Esta foi a palavra do profeta, aos exilados na Babilônia (e que valem tanto mais ainda para nós):
Zacarias 2.6-10 (NVT)
6O SENHOR diz: “Saiam! Fujam da Babilônia, na terra do norte, pois eu os espalhei aos quatro ventos. 7Saia, povo de Sião exilado na Babilônia!”.
8Depois de um período de glória, o SENHOR dos Exércitos me enviou contra as nações que saquearam vocês e disse: “Quem lhes faz mal, faz mal à menina dos meus olhos. 9Levantarei minha mão para esmagar essas nações, e seus próprios escravos as saquearão”. Então vocês saberão que o SENHOR dos Exércitos me enviou.
10O SENHOR diz: “Cante e alegre-se, ó bela Sião, pois venho habitar em seu meio.
O fundamento seguro da fé terá de ser a palavra de Deus.
Quando você olha para a parábola do semeador e a lê (em Mt 13.1-9), e lê depois a explicação que foi dada pelo próprio Jesus, você descobre que, de todos os tipos de pessoas, aquelas que permaneceram firmes e frutificaram foram as que absorveram com compreensão a palavra de Deus. Leia com atenção:
Mateus 13.18-23 (NVT)
18“Agora, ouçam a explicação da parábola sobre o lavrador que saiu para semear. 19As sementes que caíram à beira do caminho representam os que ouvem a mensagem sobre o reino e não a entendem. Então o maligno vem e arranca a semente que foi lançada em seu coração. 20As que caíram no solo rochoso representam aqueles que ouvem a mensagem e, sem demora, a recebem com alegria. 21Contudo, uma vez que não têm raízes profundas, não duram muito. Assim que enfrentam problemas ou são perseguidos por causa da mensagem, cedo desanimam. 22As que caíram entre os espinhos representam outros que ouvem a mensagem, mas logo ela é sufocada pelas preocupações desta vida e pela sedução da riqueza, de modo que não produzem fruto. 23E as que caíram em solo fértil representam os que ouvem e entendem a mensagem e produzem uma colheita trinta, sessenta e até cem vezes maior que a quantidade semeada”.
O fundamento seguro da fé é a palavra de Deus.
Vocês que me ouvem falar de FÉ INABALÁVEL, de uma fé que assumiu a forma de estabilidade, disposição para adorar e sentido de missão para prosseguir para a glória de Deus (Sl 108.1-5), uma fé que tem como fundamento seguro a palavra de Deus (Sl 108.6-9), POR FAVOR, não me ouçam dizer que a fé não tem lá suas fraquezas. Ela tem.
O trecho final do Salmo 108 está aqui para demonstrar que a fé tem sim a fraqueza em latência no coração, e a única maneira de vencê-la é continuar alimentando a fé na palavra de Deus, com súplica constante, oração incessante. Leia. E note que os inimigos latentes na fé são, concomitantemente, o temor do homem e a fé nos homens:
Salmo 108.10-13 (NVT)
10Quem me levará à cidade fortificada?
Quem me guiará até Edom?
11Acaso nos rejeitaste, ó Deus?
Não marcharás mais com nossos exércitos?
12Ajuda-nos contra nossos inimigos,
pois todo socorro humano é inútil.
13Com o auxílio de Deus, realizaremos grandes feitos,
pois ele pisará os nossos inimigos.
Foi reforçando pela palavra de Deus a certeza de que a vitória, em última análise, pertence ao Senhor – uma vez que Davi se manteve na palavra de Deus e na oração a Deus – foi assim que o rei recobrou as esperanças e terminou este salmo com um brado de vitória (v. 13): “Com o auxílio de Deus, realizaremos grandes feitos, pois ele pisará os nossos inimigos.” A fraqueza latente na fé é vencida com a palavra de Deus e a oração.
Algumas coisas a gente experimenta tocando, cheirando, comendo ou bebendo, mas O LEAL AMOR DE DEUS a gente só experimenta ouvindo e vendo; ou seja: o leal amor de Deus a gente experimenta crendo nele, e a fé só vem de se ouvir ou de se ler a palavra de Deus. Portanto, para provar do leal amor de Deus você terá que ter fé – obter e cultivar a fé pela BÍBLIA. Peça a Deus fé. Busque uma fé centrada na glória de Deus.
Sem uma fé focada em Deus você continuará instável e “inconstante em todos os seus caminhos” (Tg 1.8); não terá disposição para se achegar a Deus e o louvar; tampouco se colocará à disposição para cumprir a missão de fazer discípulos de Cristo.
Apenas uma fé que te permita provar do leal amor de Deus poderá salvar a sua vida do pecado e do juízo de Deus, e sustentar você nesta vida até o dia de sua morte ou o dia do SENHOR.
Portanto, como se apropriar deste salmo, do Salmo 108?
Há pelo menos duas maneiras, bem práticas.
PRIMEIRA, busque conhecer a palavra de Deus e saiba aplicá-la às suas mais diversas circunstâncias. Foi isto, afinal, que fez o salmista aqui no Salmo 108. Ele pegou o 57 e o 60 e os aplicou ao contexto pós-exílico, sem, contudo, distorcer o sentido original do texto sagrado. Você precisará aprender a fazer isto, SE DESEJAR obter e nutrir fé inabalável no leal amor de Deus, E SE NÃO QUISER viver de comer ou de beber de segunda mão fria e mal cozida a palavra de Deus.
SEGUNDA, você e eu não somos reis. Não temos batalhas militares para travar. Nunca vimos um edomita. No entanto, nós, como cristãos, temos batalhas espirituais. Somos membros do reino do Senhor Jesus Cristo e a nossa tarefa é promover o seu reino neste mundo espiritualmente hostil. O apóstolo Paulo falou desta batalha em Efésios, explicando (em Ef 6.12) que “nós não lutamos contra inimigos de carne e sangue, mas contra governantes e autoridades do mundo invisível, contra grandes poderes neste mundo de trevas e contra espíritos malignos nas esferas celestiais.” Ora, comparada com a conquista dessas forças espirituais hostis, a vitória sobre Edom e a derrubada de sua fortaleza nas montanhas, Petra (capital de Edom), foi fácil.
Como podemos obter essa vitória maior?
Não será sozinhos, nem mesmo apenas com a ajuda de outros cristãos. Nesta batalha, de fato, “todo socorro humano é inútil”, escreveu o salmista (Sl 108.12). Precisamos que Deus mesmo lute conosco e por nós. Portanto, precisamos pedir ajuda a Deus, como faz o salmista. Tiago diz: “não têm o que desejam porque não pedem.” (Tg 4.2), e Jesus, expressando positivamente as palavras de Tiago, disse: “Peçam, e receberão. Procurem, e encontrarão. Batam, e a porta lhes será aberta.” (Mt 7.7).
Peçam o quê?
Sua fé inabalável fará você experimentar do leal amor de Deus, na salvação e na santificação, até o dia de sua glorificação.
Colossenses 3.1-4 (NVT)
1Uma vez que vocês ressuscitaram para uma nova vida com Cristo, mantenham os olhos fixos nas realidades do alto, onde Cristo está sentado no lugar de honra, à direita de Deus. 2Pensem nas coisas do alto, e não nas coisas da terra. 3Pois vocês morreram para esta vida, e agora sua verdadeira vida está escondida com Cristo em Deus. 4E quando Cristo, que é sua vida, for revelado ao mundo inteiro, vocês participarão de sua glória.
S.D.G. L.B.Peixoto
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